Desenvolvimento Sustentável: Utopia ou Realidade



RESENHA CRÍTICA

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UTOPIA OU REALIDADE

1 Rita de Cássia Pires Rodrigues

2 Suzy de Fátima Pires da Silva

3 DIEGUES, A. C. Desenvolvimento sustentado, gerenciamento geoambiental e o de recursos naturais.

Cadernos FUNDAP, Ano 9, nº 16. São Paulo, jun./1989, p. 33-45.

CAMPOS, A. M. N. O ecoturismo como alternativa de desenvolvimento sustentável.

Caderno Virtual de Turismo, v. 5, nº 1, 2005, p. 1-6.

O primeiro artigo aborda o gerenciamento geoambiental e o de recursos naturais como um dos meios para se chegar ao desenvolvimento sustentável. Já o segundo, enfatiza o ecoturismo como um dos instrumentos necessários para se atingir esse desenvolvimento.

No primeiro artigo DIEGUES discute, em três capítulos, sobre o que é desenvolvimento sustentado, abordando o meio ambiente e suas funções ecológicas e econômicas, as bases ecológicas do desenvolvimento sustentado, os ecossistemas naturais e o gerenciamento geoambiental e, ainda, aponta os instrumentos para os gerenciamentos geoambiental e de recursos naturais, citando como exemplo de gerenciamento geoambiental, o gerenciamento costeiro.

No capítulo introdutório discorre sobre a crise ambiental global, apontando os principais problemas vivenciados atualmente, enfatizando a necessidade de se planejar e organizar a utilização dos recursos naturais a fim de conseguir o equilíbrio entre estes e a humanidade. Ainda, faz um breve levantamento histórico do processo de surgimento da crise ambiental, suas causas e o aparecimento de organizações cujo objeto de discussão foram os problemas ambientais e o objetivo foi apresentar propostas que viessem solucionar tais problemas.

No segundo capítulo busca definir os temas abordados, estimulando uma reflexão sobre os problemas ambientais e a necessidade de a humanidade se desenvolver em harmonia com o ambiente. Nesse contexto, apresenta alguns instrumentos que contribuem para o processo de desenvolvimento sustentado a fim sanar as limitações e obstáculos que a temática possui.

Como instrumentos, apresenta os gerenciamentos geoambiental e dos recursos naturais. O primeiro busca harmonizar e compatibilizar a utilização dos recursos naturais utilizando-se de técnicas de zoneamento que resultam em um plano de ocupação do espaço e dos recursos. A relevância desse plano está no estabelecimento do potencial de uso dos vários recursos e áreas, na avaliação dos impactos de cada atividade econômica sobre os mesmos, nos custos e benefícios de cada alternativa de uso e nas medidas para prevenir e mitigar os impactos negativos, considerando também, os fatores sócio-políticos. Como exemplo, o autor cita o gerenciamento da zona costeira, formada por uma variedade de ecossistemas. Seu planejamento ordena o espaço costeiro e seus ecossistemas e os recursos naturais são utilizados de modo sustentável. O patrimônio histórico, étnico e cultural são protegidos em benefício das populações.

O segundo objetiva utilizar adequadamente os recursos naturais e os ecossistemas, respeitando a capacidade de reprodução, carga e utilização de forma sustentável. O manejo dos recursos naturais complementa o gerenciamento geoambiental, uma vez que, definida a forma de uso considerável do espaço, torna-se mais fácil administrá-los e/ou manejá-los.

Nesse sentido, DIEGUES cita os parâmetros utilizados no manejo dos recursos naturais renováveis. Os parâmetros biológicos define a quantidade de recursos naturais a ser utilizada, desde que não comprometa a reprodução das espécies. Os parâmetros econômicos determina o rendimento máximo econômico e, os parâmetros sociais define o máximo benefício social.

Os três parâmetros devem ser trabalhados em conjunto para que obtenham êxito.

Os instrumentos utilizados nos gerenciamentos geoambiental e de recursos naturais parte inicialmente da coleta de informações gerais, onde todo o contexto social, político, econômico, ambiental e cultural é considerado. Também são utilizados mapas temáticos, sensoriamento remoto, imagens de satélites e técnicas cartográficas. Com base nessas técnicas é possível determinar o zoneamento, identificando as áreas situadas em zonas críticas, zonas únicas, zonas de uso múltiplo, zonas sem pressões atuais e zonas com alto potencial agroflorestal.

A temática ambiente e suas funções ecológicas e econômicas são analisadas levando em consideração os meios abióticos e bióticos e, também, as interações ecológicas entre estes e a sociedade. Uma vez que a sociedade depende dos recursos naturais para se desenvolver física, mentalmente e economicamente.

O problema é que as pessoas não reconhecem essa interdependência. Nesse sentido, DIEGUES propõe uma avaliação das funções ambientais para o bem estar da humanidade com intuito de demonstrar a relevância ecológica e sócioeconômica do ambiente a fim de viabilizar um uso mais sustentável do mesmo e de seus recursos.

No último capítulo, conclui que o gerenciamento ambiental e dos recursos naturais é um dos meios para se chegar ao desenvolvimento sustentado, tornando-se um "estilo de desenvolvimento". Definindo o que produzir, como produzir e como distribuir os benefícios gerados, respeitando o potencial e as limitações dos ecossistemas. O desenvolvimento sustentado é considerado amplo e abrange não só as dimensões ecológicas, tecnológicas e econômicas, mas também as dimensões culturais e políticas. Nesse sentido, a utilização dos recursos naturais ocorre de maneira equilibrada e harmônica, a fim de que esses recursos estejam disponíveis para as gerações atuais e futuras.

No segundo artigo, CAMPOS alterca, em quatro capítulos, sobre os conceitos de ecoturismo versus desenvolvimento sustentável e aponta atividades ecoturísticas que utilizam a alternativa do desenvolvimento sustentável.

No primeiro capítulo, o autor traça algumas considerações a cerca do ecoturismo e a forma como este é percebido, ou seja, como forma de obter lucros. O contexto cultural, social, natural e econômico do local onde se pretende desenvolver a atividade, normalmente, são esquecidos no momento do planejamento. CAMPOS atenta para a necessidade de se planejar a atividade ecoturística, considerando a forma mais adequada a fim de contribuir para a diminuição dos impactos ambientais.

No segundo capítulo, o autor confronta os conceitos de ecoturismo e desenvolvimento sustentável, analisando as diversas definições apresentadas por alguns autores. Todas as definições de ecoturismo e desenvolvimento sustentável apresentadas convergem para um mesmo caminho, isto é, a definição e o fim de ambos estão intimamente interligados, já que visam à utilização e conservação dos recursos naturais a fim de garantir o desenvolvimento econômico, social, cultural e político das populações atuais e futuras.

No terceiro capítulo, algumas atividades turísticas que utilizam a alternativa do desenvolvimento sustentável são citadas. Nesse sentido, tem-se o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que tem por objetivos promover o desenvolvimento sustentável em articulação com a população local e também conservar e preservar o meio ambiente amazônico na região do médio Solimões e a Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural, cujo objetivo é recuperar e conservar os estoques de peixes que estavam ameaçados pela pesca comercial. Ambas as atividades demonstram que com planejamento adequado, é possível utilizar os recursos ambientais sem agredi-los, servindo como estratégia de desenvolvimento sustentável.

No último capítulo, destaca que o ecoturismo, atualmente, tornou-se uma atividade econômica relevante. Uma vez que tem relação direta com o desenvolvimento sustentável, pois existe a interdependência entre os setores econômicos, sociais, ambientais e culturais. E enfatiza as contribuições de projetos pautados na sustentabilidade da sociedade em que atuam.

Os autores procuram altercar sobre os instrumentos viáveis a fim de conseguir o tão almejado desenvolvimento sustentável. Cada um apresenta um modelo a ser seguido e ambos concordam que para haver o desenvolvimento sustentável é preciso analisar, profundamente, fatores sociais, culturais, econômicos, políticos e ambientais.

Pela amplitude dos gerenciamentos geoambiental e dos recursos naturais é possível afirmar que para a maioria da sociedade, esses instrumentos não passam de uma utopia, pois agregar tantos requisitos, em uma sociedade pautada única e exclusivamente no desenvolvimento econômico, realmente parece uma fantasia e algo difícil de conseguir e, principalmente, de atingir. Já a utilização do ecoturismo como facilitador do desenvolvimento sustentado, parece-nos, não a mais viável, mas a mais aceitável. Pois promove a junção do bem estar e de atitudes ecologicamente corretas a fim de conseguir esse bem estar.

Diante dos problemas ambientais, torna-se cada vez mais urgente a necessidade de se tomar uma atitude a fim de garantir a continuidade da vida na Terra. Seja qual for o modelo a ser seguido e praticado, é preciso começar, utopia ou realidade, o que não se pode negar é que os problemas são reais e merecem a consideração de todos. Qualquer proposta apresentada, viável ou não, fácil de ser colocada em prática ou não, deve ser discutida e analisada com intuito de se chegar a um denominador comum.

Os artigos têm por finalidade discutir alternativas que venham viabilizar o desenvolvimento sustentável, oferecendo sugestões de instrumentos para estudantes universitários e pesquisadores, a fim de que possam realizar, planejar e desenvolver suas próprias pesquisas. É de grande relevância, principalmente, para aqueles que desenvolvem trabalhos acadêmicos nas áreas de Educação Ambiental e Gestão Ambiental.

Cabe salientar, que não se trata de um manual, com passos a serem seguidos, mas de propostas que apresenta os fundamentos necessários a compreensão do desenvolvimento sustentável, nas ciências naturais, bem como diretrizes operacionais que contribuem para a mudança de hábitos e atitudes a fim de garantir a continuidade da vida de todos os organismos terrestres.

Antônio Carlos Diegues é professor do curso de Pós-Graduação em Ciência Ambiental e no Departamento de Economia e Sociedade Rural da UFRJ e Coordenador científico do Núcleo de Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileira (NUPAUB), da Universidade de São Paulo (USP). Publicou diversos artigos entre eles:

DIEGUES, A. C. Desenvolvimento Sustentável ou Sociedades Sustentáveis: da Crítica dos Modelos aos Novos Paradigmas. São Paulo em Perspectiva, nº 12, jan./jul., 1992.

___________.

A Construção de uma Nova Ciência da Conservação nos Trópicos. São Paulo: NUPAUB, 2001.

___________.

Aspectos Sócio-Culturais e Políticos do uso da Água. São Paulo: NUPAUB, 2005.

___________.

Para uma Aqüicultura Sustentável do Brasil. São Paulo: NUPAUB, 2006.

Ângelo Mariano Nunes Campos é Coordenador Científico do CEMAR, Bacharel em Turismo (UFPA, 2004), Pós-Graduação na Especialização Docência e Metodologia de Pesquisa em Turismo (UFPA, 2004 - 2005) e Professor do Curso de Turismo e Hospitalidade do CEFET/PA e da Faculdade de Belém (FABEL). Realizou diversas pesquisas na área de turismo, tais como:

CAMPOS, A. M. N. O turismo e a educação frente às novas tecnologias. Revista Espaço Acadêmico , nº 46, mar./2005.

____________. Turismo: a relação do ecoturismo e das trilhas interpretativas.

Revista Espaço Acadêmico , nº 57, fev./2006.

____________. A Prática de ensino dos docentes do Curso de Turismo do CEFET/PA – uma análise centrada na metodologia do ensino entre outros.

Revista Urutágua, nº 9. Maringá, 2006.

1 O Trabalho foi apresentado como exigência da disciplina Patrimônio Natural e Conservação da Biodiversidade do curso de Pós-Graduação (Latu Sensu) em Educação Ambiental do Instituto Araguaia de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão (IAPPE), em abril de 2009.

2 Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade de Cuiabá (UNIC). Cocalinho-MT, CEP: 78.680-000, email: [email protected].

3 Graduanda em Pedagogia – Educação Infantil – pela Universidade de Mato Grosso (UNEMAT). Cocalinho-MT, CEP: 78.680-000, e-mail: [email protected].


Autor: Rita de Cássia Rodrigues


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