MEUS ADMINISTRADORES



OS MEUS ADMINISTRADORES

De Romano Dazzi

 

 

Sou um mero trabalhador

Custo para encontrar trabalho e para manter meu orçamento.

Faço tudo o que posso, aceito o que me oferecem para fazer.

Tento pagar minhas contas em dia e levo a vida como dá.

Com tantas tarefas, não me sobra muito tempo para acertar minhas contas:

a escola das crianças, as consultas médicas, o vigilante da rua .... 

 

Umas pessoas prestativas e simpáticas se ofereceram  para me ajudar .

Achei muito bom, porque a proposta é simples:

Deixo com eles um terço do que ganho e eles administram minhas obrigações.

 

Meu dinheiro, disseram,  corre perigo: o País está cheio de ladrões,

camuflados em administradores.

Mas estes, não; estes  são diferentes e vão pôr os  malandros para correr.

Aceitei sem pestanejar.

   

Aí, explicaram que não trabalham sozinhos; só  em conjunto, em bando.

Aceitei, mas desta vez pestanejei um pouquinho.

 

Eu queria assinar um contrato de trabalho, como com qualquer empregado.  

Um trato simples, mas honesto:

Se eles não estiverem satisfeitos comigo, pedem a conta e vão embora;

Se eu não estiver contente com eles, pago os direitos e rua.

Não aceitaram.

 

Tive que assinar um contrato por quatro anos, tive que renunciar ao recurso da “justa causa” (que se aplica quando o empregado não aparece no serviço, ou chega sempre atrasado, ou bêbado, ou se comporta mal no trabalho – ou fora dele; ou pior, quando é pego metendo a mão no dinheiro).

Nada disso: eles sabem o que fazem, não precisa se preocupar...

 

Era o mês de setembro  -  e eles avisaram que só viriam trabalhar em janeiro.

- Paciência !- pensei – pelo que me falaram, são competentes e honestos.

Agora não posso dar para trás. Dei minha  palavra. Vamos ver no que dá!...

 

Quiseram férias em dobro; três dias livres por semana; eles definiram o horário de trabalho;  disseram que trabalhariam melhor em casa...

 

Se eu não estiver de acordo com o que eles decidem e fazem entre si, com o meu dinheiro, devo calar a boca, por enquanto.

Só vou poder abri-la daqui a quatro anos, quando terminar o contrato.

 

Mas sugeriram que não me incomode, não: vários deles trabalham fiscalizando os outros, e com esse controle, nada pode sair errado.

 

Peguei leve, com paciência, mesmo porque não tenho tempo de olhar todos esses pormenores.

 

Vi então que, além das suas obrigações comigo, eles ainda têm muitos outros  interesses e seus próprios negócios; que compram e vendem vacas, usinas, terras e concessões, trocam, destrocam, juntam, redistribuem.... a assessoram, orientam, ajudam muitas outras pessoas, firmas, cartéis..

 

E a noite, vão jantar todos juntos, justamente com aqueles que – segundo diziam – são ladrões disfarçados; os do bando de lá e os do bando de cá, com muita amizade, camaradagem e respeito – salvo quando  brigam, lavando roupa suja – mas eu acho que é tudo teatro.

 

Conclui que, com certeza, nunca vão encontrar um tempinho para administrar o meu dinheiro; ah, o meu pobre dinheirinho!....

 

Pois bem: agora descobri que não pagaram direito as minhas contas: não estão dando um salário decente ao professor, nem ao policial, nem ao médico.

 

Esses, então,  viraram feras e descontam em cima de mim; a escola fecha, o médico faz manifestações, o policial  faz corpo mole.

 

Bem, estou arrependido; daqui a quatro anos, vai ser a minha vez.

Vou escolher outros, melhores, mais interessados em mim.

Mas quem, meu Deus?

São todos pássaros da mesma raça, tem um apetite imenso,  mudam de galho em galho, mas estão na mesma árvore e comem do mesmo prato - o meu.

E o pior, quem está embaixo da árvore, sou eu.

E sabe o que cai na cabeça de quem está em baixo da árvore, quando tem um montão de pássaros lá em cima?  

Adivinhe! ....

  

 


Autor: Romano Dazzi


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