O inferno astral de Gordon Brown



Minha avó sempre disse: “Desgraça pouca é bobagem”.

Mas o que está acontecendo com o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, é exagero. Ele parece viver um inferno astral ininterrupto. Não bastasse a grave recessão, com desemprego crescente e a nacionalização de vários bancos, o país mergulhou numa crise política em pleno ano pré-eleitoral. Agora, o mais novo golpe sobre o governo trabalhista veio com o risco de perder o rating de crédito máximo AAA, diante da explosão da dívida pública, após os esforços para estimular a economia.

POde parecer piada, mas no dia 12 de maio um funcionário da Downing Street (residência do primeiro-ministro) esqueceu dentro de um táxi, em Londres, uma nota que explica ao primeiro-ministro Gordon Brown como ele deve fazer caso precise se maquiar sozinho, antes de uma aparição na TV. As informações são do jornal El País.

De acordo com o "manual", primeiro é preciso aplicar uma espuma transparente em todo o rosto. Em seguida, deve-se espalhar um creme para disfarçar as rugas embaixo dos olhos. Depois, é preciso aplicar a maquiagem "de forma equilibrada por todo o rosto, como se pintasse um muro, incluindo as orelhas". Por último, aplica-se "com o pincel escuro pó terracota Guerlain".

Para esse artigo não se estender muito, vamos ficar apenas nos tópicos, digamos mais urgentes: os escândalos e o rebaixamento de rating.

Esse filme nós já vimos  
De uma ilha para patos até a limpeza de uma piscina, passando por uma cadeira de massagens e comida para cachorros, os reembolsos de gastos reivindicados pelos representantes de Sua Majestade encobriram com um manto de suspeita o venerável Parlamento britânico.

A lista diária dos gastos excessivos requeridos pelos legisladores britânicos - que o jornal conservador Daily Telegraph começou a publicar no início de maio já chega a 170 deputados de todos os partidos - assusta e provoca indignação entre os contribuintes britânicos, que enfrentam a pior crise econômica desde a II Guerra Mundial. A credibilidade do Parlamento em seu conjunto está em xeque e, diante disso, os três grandes partidos estão de acordo que é inevitável reformar o sistema de gastos dos deputados.

Segundo a BBC Brasil, entre as denúncias reveladas pelo Daily Telegraph estão as de que políticos usaram o auxílio-moradia para reformar a própria casa e pagar prestações de imóveis. Além disso, ganharam destaques denúncias de despesas curiosas: parlamentares e ministros, por exemplo, usaram dinheiro público para pagar filmes pornográficos, cadeiras de massagem, churrasqueiras e coroas de flores para soldados mortos.

O próprio Gordon Brown ficou envergonhado com relatos de que pagou a seu irmão, Andrew, cerca de US$ 9.800 de dinheiro público por serviços de limpeza entre 2004 e 2006, antes de se tornar primeiro-ministro. A divulgação dos gastos enfureceu a população e ameaça afetar os resultados das eleições locais previstas para o próximo mês.

O escândalo atingiu todos os principais partidos políticos, mas afeta diretamente o Trabalhista, que está no poder há 12 anos.

Parlamentares britânicos recebem um salário anual de aproximadamente US$ 96.430 e uma ajuda de custo para cobrir despesas de escritório, custos para manter uma residência adicional e gastos com transporte, entre outras despesas. De acordo com os últimos dados disponíveis, que são de outubro de 2007, os parlamentares britânicos receberam reembolsos anuais de, em média, US$ 206.600.

Apenas como curiosidade, no Brasil, o salário anual dos deputados federais é de pouco mais de R$ 200 mil (cerca de US$ 95 mil) - maior do que na Grã-Bretanha. Para gastos adicionais, porém, os brasileiros dispõem de uma verba de cerca de R$ 1 milhão (US$ 480 mil) - mais do que o dobro da recebida pelos colegas britânicos -, além do dinheiro extra para passagens aéreas.

Os últimos acontecimentos no país enfureceram a opinião pública. Já muito descontente com os bilhões de libras gastos para impedir a quebra dos bancos, a população acompanha, chocada, à onda de escândalos no Parlamento.

Os escândalos já derrubaram o subsecretário de Estado da Justiça, Shahid Malik, e o presidente da Câmara dos Comuns, o trabalhista Michael Martin, que renunciou ao cargo esta semana, algo que não ocorria desde 1695. O líder da oposição, David Cameron, chegou a pedir a convocação de eleições.

Calote no Reino Unido?
O governo britânico recebeu uma dura advertência quando a agência de classificação de risco Standard & Poor"s afirmou que o país pode perder sua cobiçada nota de crédito AAA. Por enquanto, a nota não mudou, mas a perspectiva sobre o futuro da economia britânica deixou de ser "estável" para ser "negativa", segundo relatório da agência divulgado ontem. Ao mesmo tempo em que indicou uma possível queda na nota, a S&P afirmou que, no longo prazo, os britânicos mantiveram o AAA e, no curto, o A-1+ (melhores avaliações possíveis).

A Standard & Poor’s avisou que o país tem probabilidade de um terço (ou 33%) de sofrer um rebaixamento da nota de crédito, num momento em que a dívida do país se aproxima de 100% do Produto Interno Bruto (PIB). A libra teve a maior queda do último período de quatro semanas no câmbio com o dólar, o Índice FTSE 100 caiu até 2,8% e o custo de assegurar títulos britânicos contra o calote subiu.

A advertência - a primeira vez em que a nota de crédito máxima do Reino Unido passou a ser ameaçada desde que a S&P começou a avaliar o país, em 1978 - é outro golpe para o primeiro-ministro Gordon Brown antes das eleições que devem ocorrer até junho de 2010. Um rebaixamento iria exacerbar as dificuldades financeiras do Reino Unido, cujo déficit público tem aumentado, obrigando o governo a pagar juros mais altos para futuros empréstimos. Seria um grande revés para um país que nunca deixou de pagar suas dívidas desde 1693, e cuja moeda já foi a preferida do comércio mundial.

Se a mudança da nota se concretizar, o Reino Unido será o quinto país ocidental da União Europeia (UE) a perder classificação devido à crise econômica, depois de Irlanda, Grécia, Portugal e Espanha.

O endividamento britânico será de 66,9% do PIB no ano que vem, ultrapassando os 29,1% do Canadá e os 58,1% da Alemanha, segundo projeções de 22 de abril do FMI.

O Reino Unido precisa vender um valor recorde de £ 220 bilhões (US$ 349 bilhões) em bônus no ano fiscal a encerrar-se em março de 2010, diante da contração da economia e da previsão do Ministério da Fazenda britânico, de que o déficit público alcançará £ 175 bilhões (US$ 227,7 bilhões), ou 12,4% do PIB do país.

Analistas dizem que a advertência da S&P ao Reino Unido pode prenunciar coisas semelhantes para outros países cujas dívidas públicas estão crescendo a níveis não vistos desde a Segunda Guerra Mundial. A S&P prevê que a proporção entre dívida e PIB do governo americano vai subir para 77% até 2013, ante 44% em 2008. No Japão, subirá de 110% para 120%, e na Itália de 102% para 116%.

Ela prevê que na França e na Alemanha o endividamento aumentará mais devagar, para 69% e 72% do PIB, respectivamente, até 2013.

A S&P informou que a dívida pública do Reino Unido vai provavelmente quase dobrar, e chegar a 97% da produção econômica anual do país até 2013. É um nível que, se sustentado, seria inconsistente com a classificação AAA, e que contrasta com a estimativa governamental de uma proporção entre dívida e PIB de 79% no fim do ano fiscal de 2013-14.

A S&P prevê que o custo do socorro britânico aos bancos pode chegar a quase três vezes a estimativa do governo de 50 bilhões de libras (US$ 78,76 bilhões).

Para finalizar, outra da minha avó: “Pimenta nos olhos dos outros é refresco”.

Bibliografia
Jornal do Brasil de 20 de maio de 2009
Jornal Valor Econômico de 22 de maio de 2009
Jornal Gazeta Mercantil de 22 de maio de 209
Jornal O Estado de S. Paulo de 22 de maio de 2009
Jornal O Estado de S. Paulo de 23 de maio de 2009

Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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