O PROFESSOR ALFABETIZADOR NO CONTEXTO DA ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL



Para alfabetizar e melhor sistematizar o ensino, o professor necessita ter um bom conhecimento do sistema oral e gráfico da Língua Portuguesa. Este estudo nasce da necessidade de compreender o papel desse professor alfabetizador diante da realidade no Brasil. A alfabetização tem sido uma questão bastante discutida pelos estudiosos da Educação, já que, há muitas décadas, se observam as mesmas dificuldades de aprendizagem, as inúmeras reprovações e a evasão escolar.Observou-se que os professores alfabetizadores nesse contexto vem acompanhando e interagindo adaptando seus estudos sobre a aprendizagem tanto do ponto de vista psicológico, lingüístico ou sociológico contribuindo fundamentalmente para a compreensão do significado da alfabetização e de como ela se processa.
Palavras-chave: Alfabetização, Conhecimento Lingüístico, Alfabetizador.

INTRODUÇÃO

Nos dias de hoje, ser alfabetizado, isto é, saber ler e escrever, tem se revelado condição insuficiente para responder adequadamente às demandas da sociedade. Há alguns anos, não muito distantes, bastava que a pessoa soubesse assinar o nome, porque dela, só interessava o voto. Hoje, saber ler e escrever de forma mecânica não garante a uma pessoa interação plena com os diferentes tipos de textos que circulam na sociedade. É preciso ser capaz de não apenas decodificar sons e letras, mas entender os significados e usos das palavras em diferentes contextos.

Afinal, o que falta a uma pessoa que sabe ler e escrever? Por que muitos terminam a Educação Básica e não conseguem entender uma bula de remédio ou redigir uma simples carta? Para Moacir Gadotti apud Vargas (2000: 14):

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1 - Trabalho apresentado ao Curso de Pedagogia da UNIASSELVI, na disciplina de Fundamentos e Metodologia da Alfabetização no ano de 2009.

2- Graduado em Educação Física pela Universidade do Sul de Santa Catarina no ano de 2009.

O ato de ler é incompleto sem o ato de escrever. Um não pode existir sem o outro. Ler e escrever não apenas palavras, mas ler e escrever a vida, a história. Numa sociedade de privilegiados, a leitura e a escrita são um privilégio. Ensinar o trabalhador apenas a escrever o nome ou assiná-lo na carteira profissional, ensiná-lo a ler alguns letreiros na fábrica como perigo, atenção, cuidado, para que ele não provoque algum acidente e ponha em risco o capital do patrão não é suficiente... Não basta ler a realidade. É preciso escrevê-la. [Grifo da autora].

A preocupação com o analfabetismo funcional (terminologia que a Unesco recomendara nos anos 70, e que o Brasil passou a usar somente a partir de 1990, segundo a qual a pessoa apenas sabe ler e escrever, sem saber fazer uso da leitura e da escrita) levou os pesquisadores ao conceito de "letramento" em lugar de "alfabetização". O conceito de alfabetização tornou-se insatisfatório. Segundo Soares (2000a: 1), "Se uma criança sabe ler, mas não é capaz de ler um livro, uma revista, um jornal, se sabe escrever palavras e frases, mas não é capaz de escrever uma carta, é alfabetizada, mas não é letrada".

Assim, nas sociedades letradas, ser alfabetizado é insuficiente para vivenciar plenamente a cultura escrita e responder às demandas da sociedade de hoje. Mas, o que é letramento? Letrar é melhor que alfabetizar? O que é uma pessoa letrada? Quais as diferenças entre alfabetizar e letrar? Quando se pode dizer que uma criança ou um adulto estão alfabetizados? Quando se pode dizer que estão letrados? É possível alfabetizar letrando?

Mesmo que não consigamos responder a todas essas questões, somos conscientes de que é preciso um novo olhar, um jeito diferente de caminhar, a fim de conduzirmos o processo ensino-aprendizagem da leitura e da escrita de modo significativo tanto para crianças como para jovens e adultos.

O PROFESSOR ALFABETIZADOR

"A expressão alfabetização tem um significado ambíguo, pois muitas vezes fica confinada no âmbito dos componentes mais básicos e mecânicos de leitura que tecnicamente é chamado de reconhecimento de palavras" Emílio Sanches-professor de psicologia evolutiva e da educação na universidade de Salamanca(Espanha).(pág.13)Revista Pátio-Fev/Abril 2005.

O professor Emílio no artigo, empregou o termo alfabetização como domínio da linguagem escrita e, portanto ,vinculado a capacidade de utilizar a leitura e a escrita como instrumento de comunicação com os demais e com nós mesmos. Pátio,2005. Diante disso, cabe ao professor alfabetizador introspectivamente refletir sobre tão complexa e importante a tarefa de promover o uso comunicativo dos textos, e de todo o resto; reflexão, compreensão, automatização, enfim, da promoção de experiências educadoras de natureza distintas, invariavelmente segmentadas para os conteúdos observáveis e em conformidade com o planejamento.Emília Ferreiro aponta que; "Ao ingressar na série onde começa a ocorrer o ensino sistemático das letras a criança já detém uma grande competência lingüística que não é considerada." Construtivismo de Piaget a Emília Ferreiro- 3ª ed.1994. O que acontece ,no âmbito do ensino de alfabetização e séries iniciais do Distrito de Barrgem Leste, comunidade aonde observamos durante alguns anos esta relação de trabalho em educação, é que temos definido proposições sem uma análise profunda relativa ao processo sistemático de alfabetização.

Precisamos tornar ou eleger a alfabetização como uma base de sustentação para o prosseguimento de uma vida escolar. Parece ambicioso alocar recursos e direcioná-los as séries iniciais. Mas é um fato, que não estamos conseguindo atingir aos objetivos propostos nos planejamentos de ensino, para a alfabetização ,e dói saber que estamos fomentando uma corrente de analfabetos. Em nossas escolas temos professores cada vez mais escravos da filosofia da "pedagogia do exemplo" ao contrário. Estamos incoerentemente tentando montar um quebra-cabeça faltando peças. Resta um compromisso maior de todos os educadores no sentido de restabelecer um redirecionamento para o entendimento da condução realista ao enfocar que o domínio da linguagem e escrita não são facilmente canalizáveis e, portanto precisamos enfrentar esta barreira. Segundo a educadora Argentina Dela Lerner "A participação na cultura escrita deverá começar muito antes de concluída a aprendizagem da própria escrita. As crianças cujos pais lêem histórias para elas ou que presenciam comentários sobre notícias de jornal está aprendendo muito sobre linguagem escrita.

Nova Escola-Setembro, 2006 (pág. 13.) Pressupondo e refletindo que o professor alfabetizador sistematiza o domínio da linguagem escrita e utiliza-a como instrumento de comunicação,Celso Antunes defende: "Constitui insubstituível função do professor, trabalhando ou não com projetos,ser um decodificador de símbolos,isto é, um profissional que interpreta textos,analisa gráficos,explora mapas,perscruta fotografia, inventa ilustrações e ,enfim traz para o aluno as mensagens ocultas dos diferentes símbolos presentes nas múltiplas linguagens."Um método para o ensino fundamental: o projeto.pág. 21-Editora Vozes.Petrópolis RJ-2001. vejo como incoerente o discurso prático que distancia o alfabetizando desta máxima,considerando que temos professores que apresentam dificuldades desta compreensão,até porque, precisamos ampliar a participação dos professores da rede municipal, distrito de barragem leste,nos cursos de graduação, e nas capacitações para que não mais usar este discursso onde se coloca o qualificado mínimo como referência negativa nos contextos acima.Temos pais que não acompanham atividades/tarefas,não tem compromisso com a educação dos seus e etc. Ainda assim, a prática da pedagogia do exemplo inversa está cada vez mais viva. Como promover a competência da leitura, sem que haja um respaldo,uma razão prática,demonstração, interesse e etc. de minha parte como pais responsáveis?

Por outro lado, ainda temos socialmente camadas paupérrimas das comunidades que creditam apenas a escola à tarefa de criar e formar",leitores.Nesta concepção, acreditar que é humanamente possível o professor,promover a aprendizagem dos alunos, considerando-o o responsável, principalmente pelos insucessos,seria uma grande injustiça.

ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL

Segundo dados estatísticos a alfabetização escolar no Brasil vem apresentando dificuldades principalmente com relação aos anos iniciais, o fracasso escolar, expresso na repetência e na evasão escolar tem se tornado um fenômeno recorrente.

Reconhecemos que os problemas referentes à alfabetização fazem parte de um conjunto maior, que vão da economia à política social: desigualdades sociais, prioridades de investimentos, formação de professores, gestão educacional e escolar, entre outros.

Mas, reconhecemos também que a alfabetização, tem recebido contribuições significativas, nas últimas décadas, tanto da Pedagogia como de outras áreas do conhecimento, principalmente, da Psicologia e da Lingüística e estes conhecimentos provavelmente, podem ter influenciado o cotidiano dos professores alfabetizadores das escolas .

CONSTRUINDO A ALFABETIZAÇÃO

Não importa, em verdade, a linha pedagógica adotada pelo professor, seja ele um progressista ou um conservador, existem saberes necessários que ambas as linhas de pensamento devem seguir. Todo processo que vise o desenvolvimento de um modelo de ensino deve, basicamente, considerar também a direção dada à aprendizagem. Assim, o professor ensina e aprende ao mesmo tempo, não apenas no formato acadêmico, mas também na própria base de formação da ação.

Ao educador cabe instaurar o rigorismo do método, em função de despertar no educando a curiosidade aquela que busca o conhecimento, portanto insubmissa, e então, por extensão da idéia, formadora do senso crítico. Aprender criticamente é, em suma, formar a autonomia. Não é jamais, um estado de apropriar-se do conhecimento do mestre, mas um ato de formação e de interação da própria capacidade cognitiva do indivíduo com o meio. Assim, o mestre provém o aluno dos instrumentos apenas, do ferramental para a perfectibilização da formação crítica no indivíduo enquanto aluno.

Neste ato de formação da capacidade autônoma do indivíduo, surge uma das principais tarefas de importância do professor, qual seja, a de, considerando a visível importância do aprendizado e da execução de uma leitura crítica, em razão de ser ela a porta para todo o restante do processo de crescimento humano, fomentar o aprofundamento da consciência desse mesmo indivíduo em construção, no sentido de ele vir a capturar o significado de tal importância em sua particular existência.

Segundo palavras de Freire (id. p. 32), Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Não se trata, segundo ele, de uma qualidade do professor, tampouco de uma metodologia de ensino, mas sim, deve inserir-se em um projeto maior e de mais alcance, ou seja, deve se dar um verdadeiro acompanhamento de todo o processo que é e que envolve a vida daquele indivíduo que vem junto a si aprender. Neste sentido, é básico que o modelo escolar como um todo seja construído no rumo da administração de uma conduta respeitosa quanto aos saberes inerentes ao meio social do indivíduo. Ao ensinar os conteúdos, o professor deve ser capaz de apresenta-los com elementos e subsídios saídos do cotidiano daquele que aprende, o que, por si só, já é um dínamo facilitador do aprendizado.

Não só o ato de aprender necessita da existência de senso crítico, mas também o ato de ensinar o exige, uma vez que se busque o rigor e a exatidão, na tentativa de ministrar os conceitos e os conteúdos, os atos e as demonstrações educativas. Baseado no rigorismo e na exatidão pode o professor administrar a curiosidade do aluno, conduzindo-o à inquietação e, portanto, à própria criatividade resolutiva de situações e desenvolvimento da autonomia.

Dentre os recursos que apresenta o mestre, é básico que demonstre aos seus alunos a coerência em sua postura humana e em suas idéias. O que diz precisa, necessariamente, andar casado com os exemplos que dá aos alunos. Assim, a formação moral, para que seja transmitida com toda uma base específica ou com todo um fundamento ético, necessita de um aprofundamento não só naquilo que se transmite, mas na própria atuação particular do professor. Esse aprofundamento necessário, no tocante à moral do educador, é exatamente o fator que poderá permitir-lhe uma participação livre do medo e do risco de expor suas idéias e seus conceitos, bem como isenta-o de uma atuação discriminatória quando é o outro indivíduo que se expõe. Trata-se de uma certeza no modus vivendi servindo de base ou de modelo indireto à formação de outro indivíduo.

Muita confusão se faz ainda, tanto nos meios como nos modelos escolares a respeito da questão da autoridade. Pessoas há que definem de forma confusa os limites entre a autoridade e o autoritarismo e, por extensão, da licenciosidade com a liberdade. Não é preciso que se utilize de elementos autoritários, a conseguir a adesão do educando ao modo de condução do processo escolar como um todo, tampouco na condução mais particular de sala de aula, mas que se possa dispor sempre, isto sim, do bom senso, da lógica construtiva e de um engajamento profundo, na busca da construção da pretendida autonomia.

CONCLUSÃO

Este trabalho buscou apresentar qual o papel do professor alfabetizador no contexto da alfabetização no Brasil,visando seus conhecimentos lingüísticos, estabelecendo o nível de seu conhecimento metodológico, psicopedagógico, sócio-linguístico e outros, além da sua interação com a alfabetização no total. E que este é fundamental nesse processo de alfabetização.

Quando se fala em alfabetização, trata-se de um tema que a bastante tempo vem sendo discutido por estudiosos e especialistas que se preocupam com a aprendizagem da leitura e da escrita. A alfabetização envolve um conjunto de comportamentos que se caracterizam por sua variedade e complexidade e engloba um amplo leque de conhecimentos, de habilidades, de técnicas e valores, de usos sociais e de funções. Além disso, varia histórica e espacialmente(SOARES,2003).

Diante do número cada vez mais crescente dos índices de exclusão, de evasão escolar e de repetência, faz-se necessário reavaliar a qualidade das práticas pedagógicas alfabetizadoras.
Cabe ressaltar mais uma vez que, além dos conhecimentos pedagágicos, metodológicos, psicológicos, entre outros, o professor que alfabetiza necessita saber como a língua oral e a escrita funcionam e que usos têm. Uma prática pedagógica que privilegie a união de todos esses conhecimentos, incluindo os lingüísticos, certamente trará resultados mais consistentes e efetivos à alfabetização.

Para concluir, é importante acrescentar que não foi o objetivo julgar ou desqualificar o sistema de ensino ou o aprendizado do professor. A idéia central que permeou as considerações tecidas é a de que, independente da realidade educional em que o professor alfabetizador atua, é fundamental que ele faça por si mesmo, aprofundando seus conhecimentos, buscando aperfeiçoamento e soluções, a fim de tornar sua prática pedagógica mais competente e eficaz, conduzindo assim, de forma agradável e produtiva, o processo de alfabetização.

REFERÊNCIAS

SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2003.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados, 1989.

––––––. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

POERSCH, José. Pode-se alfabetizar sem conhecimentos em lingüística? In: Suportes lingüísticos para a alfabetização. Porto Alegre: Sagra, 1990.


CARDOSO, Suzana Alice Marcelino. Diversidade e ensino do português. In: Estudos. n.14,p.127 – 140, dez. 1992.


Autor: VAMILSON SOUZA D`ESPÍNDOLA


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