Boa notícia: bancos voltam a emprestar



Passado o pior momento da crise internacional, os bancos colocam novamente o pé no acelerador e começam a flexibilizar as condições de crédito para tentar para trazer de volta o consumidor, que continua retraído. As instituições financeiras apostam em ampliação dos prazos e queda das taxas de juros, como forma de aumentar o acesso dos clientes aos empréstimos.

Primeiro, foi o Itaú-Unibanco que  anunciou a volta dos planos de financiamento de veículos de 72 meses (6 anos), que, depois de setembro, tinham sumido do mapa. Em 22 de maio a Aymoré Financiamentos (do Grupo Santander-Real) seguiu o mesmo caminho.

No dia 25 de maio foi a vez de Bradesco e Banco do Brasil (BB). Depois de restringirem os empréstimos, a partir de setembro, quando a crise global se aprofundou, os bancos brasileiros efetivamente voltam a brigar mais agressivamente pelo crédito.

Movimentação do BB
O mais ousado, até agora, foi o BB, que, seguindo orientações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, informou que elevará em R$ 13 bilhões os recursos disponíveis para financiamentos às pessoas físicas. Desse total, R$ 3 bilhões deverão ser aplicados ainda este ano. A medida elevará a possibilidade de tomada de empréstimos de cerca de 10 milhões de pessoas que já têm relacionamento com o BB, ou seja, cerca de um terço do total de clientes que a instituição tem no segmento de Pessoas Físicas.

Na prática, os clientes que forem selecionados por meio de critérios de risco de crédito terão seus limites máximos de empréstimo ampliados, caso a caso. Em média, haverá uma elevação de 5,25% no teto do crédito dos clientes beneficiados. Outra medida, a qual valerá para todos os clientes pessoa física, envolve a redução das taxas de juros cobradas de nove linhas de crédito, como a de crediário geral. O aumento de limites e a queda dos juros já estão em vigor, garantiram ontem integrantes da cúpula do BB ao anunciar o pacote de crédito.

O BB afirma que as mudanças foram aplicadas sem nenhuma interferência política, embora no começo de abril o governo tenha promovido a troca na presidência da instituição. Antônio Lima Neto caiu por ser resistente aos apelos do presidente Lula para o BB baixar juros e reduzir spreads (diferença entre a taxa de captação dos bancos e a de repasse dos recursos). Foi substituído por Aldemir Bendine, que oficialmente tomou posse em 23 de abril e trocou nove nomes das 12 vice-presidências do Banco do Brasil. Ainda segundo o BB :"Não há decisão aqui com conotação política. É uma decisão autônoma, baseada nas práticas bancárias". Uma semana antes, entretanto, o BB também havia sido envolvido em críticas por conta das taxas de juros que estava cobrando.

Política ou não, a decisão do BB aumenta a oferta de crédito disponível e, assim, dá força para o consumo. Esse roteiro coincide com a estratégia do Palácio do Planalto, que cobra ação mais forte dos bancos públicos nos empréstimos para amenizar os efeitos da crise. Há um mês, quando anunciou que Altemir Bendine iria substituir Antônio Lima Neto na presidência do BB, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que esperava que o banco aumentasse o crédito e a reduzisse os juros.

Bradesco aposta no crédito imobiliário
O Bradesco anunciou a ampliação, de 25 para 30 anos, do prazo de pagamento dos empréstimos para a compra da casa própria. A instituição divulgou, ainda, a redução da taxa de juros cobrada no segmento de imóveis até R$ 120 mil, de 10% para 8,9% ao ano. A intenção é ampliar a participação no segmento de famílias que ganham entre três e dez salários mínimos, dentro do Sistema Financeiro da Habitação (SFH).

Na nova tabela do Bradesco, um financiamento de R$ 51 mil terá prestação de R$ 443 o que, de acordo com a instituição, é inferior a um aluguel e acessível para as famílias com faixa de renda de até três salários mínimos (R$ 1.395). O Bradesco eplicou que, seguindo a linha de atuação do governo — que incentiva a produção de imóveis para a faixa de renda de até 10 mínimos, inclusive com a redução de impostos em diversos materiais de construção — o Bradesco também vem desenvolvendo projetos específicos para essa faixa de renda.

O Bradesco tem R$ 5,5 bilhões para aplicar em financiamento imobiliário este ano. Desse total, cerca de R$ 1,8 bilhão é para pessoa física. Os recursos restantes serão dirigidos às construtoras e incorporadoras, no chamado plano empresário. A instituição acredita que os financiamentos para as famílias com renda de até 10 mínimos vão saltar de uma participação de 29% para 45%.

Análise do mercado
Todas as mudanças são baseadas em uma visão menos pessimista das condições econômicas e a constatação de que a inadimplência, se ainda não melhorou, pelo menos começou a desacelerar.

Segundo analistas, a movimentação dos bancos é explicada por duas razões, uma conjuntural e outra estrutural. A primeira diz respeito à melhora do ambiente internacional, refletida nas expressivas altas das bolsas nas últimas semanas.

Um levantamento feito pela Austin Rating  revela o tamanho do impacto da crise na concessão de empréstimos. O saldo da carteira de crédito dos bancos privados (resultado das novas concessões menos amortizações) cresceu apenas 5,2% entre agosto (antes, portanto, da piora da crise) e março. Nos bancos públicos, houve expansão de 22,6% no mesmo período.

A razão estrutural está relacionada à queda da taxa básica de juros brasileira (Selic) para os níveis mais baixos da história. Não tem outro jeito: quando o juro cai, os bancos têm de compensar (a perda de receita) com o aumento do volume de empréstimos. Desta forma, o foco das instituições daqui para a frente serão as pessoas físicas e as pequenas e médias empresas, onde a margem de lucro é maior.

O que ainda não mudou é o nível de exigência dos bancos, que continua elevado. Esse aperto nos critérios de concessão, que começou antes mesmo de a crise se agravar, é visto pelas instituições como o responsável pela melhora na qualidade do crédito das safras mais recentes. Os empréstimos concedidos em 2007 são apontados como os responsáveis pelos altos índices de atrasos das carteiras registrados desde o início do ano, especialmente para a compra de automóveis. É dessa época a proliferação das concessões sem entrada e com prazos de até 99 meses.

Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), os indícios de que o crédito estaria voltando a irrigar a economia devem ser vistos com cautela e não sinalizam uma volta do crédito aos patamares do período anterior à crise.

Conforme a Anefac, os empréstimos que estão voltando à praça são justamente os que oferecem maior rentabilidade e segurança para os bancos: "Como os juros ainda estão elevados e o cenário que se desenha para os próximos 12 meses é uma queda na taxa Selic, é lucrativo para os bancos ofertarem crédito a juros prefixados nesse momento. Além disso, com a queda na básica de juros, os bancos tendem a compensar a perda de receita com o crescimento no número de empréstimos. "Esse movimento é saudável para a economia, mas está longe de ser uma retomada."

Na avaliação da Anefac, o crédito está voltando nas operações de menor risco de inadimplência - caso dos empréstimos consignados, com desconto em folha de pagamento, que são uma das modalidades mais seguras. O mesmo ocorre com os financiamentos imobiliários, que estão atrelados a um planejamento maior por parte do tomador. O alongamento dos prazos para financiamento de veículos, que em alguns bancos voltou a ser de 72 meses (6 anos), também reflete uma situação de menor risco para as instituições.

A projeção da Anefac é que existe a real possibilidade de que a taxa de juros Selic chegue a um patamar de 9%, com inflação abaixo de 4% ao mês, ao final de 2010. Mas os juros em queda e uma inflação sob controle não significam, necessariamente, uma economia a pleno vapor: “Há um cenário otimista, de um País estável e em crescimento, mas também existe a perspectiva de que a economia se mantenha desaquecida e de uma inflação baixa por falta de demanda. Por isso, é preciso destravar o crédito produtivo."

A Anefac acredita que a verdadeira retomada do crédito se dará quando um volume maior de recursos estiver disponível para as pequenas e médias empresas, que são as mais impactadas pela retração dos financiamentos: "Essas operações trazem mais riscos aos bancos, mas têm um efeito mais duradouro para a economia como um todo".

Como as pequenas e médias empresas são grandes empregadoras, estimular o crédito produtivo serviria para manter postos de trabalho em todo o País e atenuaria os efeitos da queda da renda sobre o consumo: "Talvez em um segundo momento os bancos se voltem para as pequenas e médias. Por enquanto, a preocupação é com a lucratividade das operações."

Bibliografia
Jornal O Estado de S. Paulo de 26 de maio de 2009
Jornal Valor Econômico de 26 de maio de 2009
Jornal Gazeta Mercantil de 26 de maio de 2009
Jornal do Brasil de 26 de maio de 2009
Jornal O Globo de 26 de maio de 2009
Jornal Correio Braziliense de 26 de maio de 2009

Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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