Pastoral Social



Joacir Soares d'Abadia

A Comissão Representativa da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunida entre 18 a 24 de novembro de 1975 tratou sobre, dentre outros, da reestruturação e orientação concreta dos organismos no setor da Pastoral Social.

Ficou definida que a Pastoral Social é a aplicação do pensamento social à evangelização da sociedade concreta em que vivemos. Ela, assim, pervade toda a vida do homem no sentido de uma conversão profunda (metanóia) que o transforme em apóstolos do reino de Deus na humanidade.

Ela teve êxito, e ainda tem algum, quando consegue ressoar ao nível da consciência e orientar o agir social do homem ao o agir do homem em sociedade. Essa fase é a da Pastoral Social Clássica. Onde foram elaboradas: a) as categorias de justiça e b) caridade social.

Desse modo, o problema central da Pastoral Social se desloca para o próprio contexto social.

Capítulo I. Orientações Sociais da Igreja

O título mesmo da Doutrina Social da Igreja é hoje como um título inadequado. É preferível usar expressões mais flexíveis e menos definitivas como Pensamento Social Cristão.

O tema tem o movimento de fundo que conduziu a algumas das formulações definitivas.

A Rerum Novarum (1891) de Leão XIII foi o grande marco oficial da Igreja sobre a questão social. Contudo, Leão XIII percebe a gravidade da situação que inclusive ameaçava introjectar para dentro da Igreja e procura assim definir uma linha média, equidistante dos extremos que se afrontavam.

O pensamento social de Pio XI se explicita 40 anos depois num contexto histórico profundamente modificado. O socialismo já não era uma simples doutrina ou ideologia. Era um sistema organizado, que fazia sua formidável experiência histórica na URSS e se infiltrava como partido militante em todos os países ditos democráticos. Seu pensamento se orienta no sentido não apenas de apontar uma linha equidistante, mas de elaborar um modelo eqüidistante dos extremos dos totalitarismos socialistas e do liberalismo capitalista. Ele, com efeito, propõe o Corporativismo Cristão, o qual privilegia os grupos intermediários. No entanto, este corporativismo Cristão foi tragado com o modelo facista no cataclismo da II Guerra Mundial.

Mas a ideia central resistiu e reaparece erudita no pensamento de Pio XII, para ser reassumida, mais tarde, prática e simples, com João XXIII: a importância decisiva dos grupos intermediários para o equilíbrio social. Esse, que irrompe, no pensamento oficial da Igreja, a questão social em sua dimensão planetária. Já não se trata apenas de tensões entre classes sociais, mas também das tensões de consequências incomparavelmente mais sérias entre povos desenvolvidos e povos subdesenvolvidos.

Entretanto, com Paulo VI, o pensamento social cristão dá uma guinada, mal percebida aliás, mas muito importante, e preparada pela orientação já esboçada com João XXIII. Paulo VI renuncia explicitamente, na Octogesima Adveniens, à preocupação de definir um modelo cristão equidistante. Para ele, a tarefa de elaborar modelos cabe às comunidades nacionais em resposta aos desafios diferenciados com que cada uma se defronta.

Porém, o repúdio imprudente da doutrina social da Igreja tem levado muitos a subestimar as contribuições do ensino social da Igreja. Mas, a verdade é que a Igreja continua a ensinar e o faz de maneira solene, pelo Concilio Vaticano II (1962-1965) na Constituição Pastoral Gaudium et Spes.

Capitulo II. A Igreja como fermento da transformação social

A Igreja como fermento da transformação social é chamada a atuar em três frentes: a) a animação das comunidades de base; b) a pastoral dos grupos de influência; c) a cristianização da cultura.

A animação das comunidades de base

Os das comunidades crescem eclesialmente na fé, na esperança e no amor, e seu próprio crescimento foi para muitos a ocasião da redescoberta do sentido de seu sacerdócio e de sua consagração religiosa.

A pastoral dos grupos de influência

Os grupos de influencias podem ser distinguidos em duas categorias: os grupos homogêneos e heterogêneos. Os primeiros são constituídos por membros que se desempenham uma mesma função ou exercem uma profissão na sociedade. A segunda categoria, portanto, não visaria a criar nenhuma organização, mas atingir as pessoas que pertencem a grupos de influencia, nas próprias organizações pastorais, das quais eventualmente participem, para que essas pessoas exerçam influencia nos respectivos meios.

Um dos setores que reclamam, com maior urgência, uma ação pastoral da Igreja, é certamente o meio político. Um programa neste sentido haveria de centrar-se num projeto de educação política, com os seguintes objetivos:

_ contribuir para a formação de uma consciência adulta de participação política no povo brasileiro;

_ motivar os cristãos a participarem, segundo o carisma década um, no processo político-partidario do país, superando o espírito de clientela eleitoral;

_ ajudar a população a participar de modo livre, consciente e responsável nas eleições, renunciando a buscar vantagens imediatas e egoístas.

No entanto, a pastoral dos grupos de influência tem os seus riscos. O primeiro risco é o de instrumentalização da Igreja; o segundo risco, talvez mais sutil, mas não menos real, seria quase o risco inverso, pelo qual, conscientemente, a Igreja procuraria poder contar com a influência desses grupos, em vista de determinados objetivos eclesiásticos.

A cristianização da cultura

Para se compreender o que vem a ser a cristianização da cultura tópicos faz-se necessário encaminhar a reflexão.

1. Cristianizar uma cultura significa penetrá-la de valores evangélicos. A Igreja, no passado, já viveu essa experiência: a Idade Média foi um extraordinário sucesso cultural cristão.

2. Penetrar hoje a cultura de valores cristãos significa fornecer-lhe os elementos indispensáveis para o equacionamento e a solução cristã dos problemas sociais e humanos criados por essa mesma cultura.

3. Acontece que a cultura tecnológica divide a humanidade: uns sucumbem ao fascínio do materialismo por esta cultura incentivado; outros procuram formas evasivas num espiritualismo alienante.

Assim, a Igreja enquanto anuncia a solidariedade na promoção o único caminha para a própria sobrevivência da espécie, ela se porta como este fermento da transformação social.

Capitulo III. Ação critico-profética da Igreja

A Igreja teve sempre consciência desta sua missão critico-profética e a exerceu através de pronunciamentos e de atitudes. Assim, com efeito, no exercício de sua missão profética, a Igreja entende a crítica no seu sentido nobre, próximo de sua raiz etimológica.

Contudo, é à luz do evangelho que a Igreja descobre, no pecado, a raiz ultima de toda iniquidade, inclusive da iniquidade social instalada nas estruturas e nas instituições. É à luz do Evangelho, numa palavra, que a Igreja se reveste de sua inalienável missão profética.

O exercício da missão profética da Igreja pode ser entendido a partir de duas formas. A primeira se opera de modo permanente, ao nível das consciências. A segunda, que pode revestir vários aspectos, se exerce de forma esporádica, ao nível da opinião pública.

Capitulo IV. Atividades sociais da Igreja

As atividades sociais da Igreja se manifestam, notavelmente, nos setores assistencial, promocional e educacional. É o conjunto imenso de instituições espalhadas por todos o Brasil, e das quais o CERIS vem fazendo um levantamento sistemático, pelas quais a Igreja assiste, promove e educa. Sejam instituições isoladas, nascidas do zelo de um bispo, de um sacerdote ou de leigos ou de religiosos para atender a uma necessidade local, sejam instituições integradas numa iniciativa de alcance internacional, como CÁRITAS, ou nacional, como o MEB, e tantos outros.

Esta atividade social da Igreja é impelida pela promoção social por três razoes:

a)a promoção social tem em si um dinamismo intrínseco que vai alem dela mesma: promover social e humanamente os homens;

b)a promoção social é um testemunho de amor que tem em si mesmo um alto poder evangelizador;

c)a manutenção dessas obras multiplica para a Igreja as ocasiões de transmitir a mensagem, de anunciar o Evangelho e exercer assim sua missão salvífica.

A Igreja tem direito de prestar esses serviço, especificamente no setor educacional, e analogicamente nos outros setores de ação social. Todavia, se ela tem esse direito, tem também direito aos meios necessários para o exercício desse direito: subvenções, concessões, isenções etc.

Em suma, a Pastoral Social da Igreja deve sempre mais se esforçar por realizar aquilo que lhe é própria: aplicar o pensamento social á Evangelização sociedade concreta em que vive o homem, com suas privações e anseios.

A Igreja nunca poderá abrir mão daquelas obras que são testemunhos vivos da caridade; entretanto, para poder garantir maior autenticidade a estas obras, como a toda ação subsidiaria da Igreja, seria necessários partir para uma programação progressiva destas atividades em âmbito nacional.

Bibliografia

Pastoral Social: estudos da CNBB. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 1978.

Conclusão do Sínodo dos Bispos, em 1971 e 1974.


Autor: Joacir Soares d'Abadia


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