O Cantarilho Do Largo São Francisco



Andando pelas ruas de São Paulo, sempre me deparei com situações incrivelmente inusitadas. Não somente por se tratar da maior cidade da América Latina e por esse motivo atrair tanta diversidade cultural que é característica dessa cidade, mas, principalmente, pelos artistas anônimos que tem a capital paulistana como pano de fundo para seus espetáculos.

No último dia 20, em uma tarde ensolarada, estava andando pelo Largo São Francisco, especificamente na Rua Benjamin Constant, em direção à Praça da Sé, quando me impressionei com a igreja de São Francisco.

Naquele momento em que meus olhos se direcionaram para igreja, não sabia o porquê, talvez fosse a estrutura da Catedral que estava em reformas ou, até mesmo, pelo fato de nunca ter passado naquela região do centro antes, mas, em poucos segundos, depois que meu ouvido assumiu o controle da situação, e deixei de olhar aquela paisagem para ouvir uma voz suave penetrante ecoando no meio das buzinas e cirenes.

O som que propagava no ar me intrigou e direcionei-me à frente da igreja. Chamou-me atenção aquele som puro vindo de uma música que parecia ter um tom ingênuo e apaixonante.

Ao me aproximar-me da calçada tive a certeza daquilo que minha mente já havia desenhado. Deparei com um “Cantarilho”. Sentado em um banquinho, debaixo de um guarda sol, e uma viola que parecia bem judiada pelo tempo. Um homem bem simples cantando uma música de raiz à frente de uma igreja na capital financeira do país. Um cenário ambíguo.

Eu não tive dúvida em me aproximar dele para conhecer-lo pessoalmente. Depois de alguns minutos de “prosa” – assim ele definiu nossa conversa, enxerguei um representante da cultura sertaneja na cidade do cimento e asfalto.

Seu nome é Antônio Conceição da Costa, 63 anos, destes, 17 em São Paulo. Nasceu em Marília, onde começou a tocar e cantar desde os 6 anos de idade quando descobriu a paixão pela música. Casou-se com Maria Aparecida Silva, falecida há 2 anos e com quem teve 4 filhos, todos vivos. Com ela fez parceria na música no qual gravou 2 CD’s. Mora com o filho mais velho no Bairro do Jaraguá.

Sobre os CD’s, fez questão de me mostrar. Tanto o primeiro quanto o segundo, na capa, esta ele e sua esposa. “Já cantei na câmara e no baile feito pela prefeitura. E no final de setembro sai o terceiro CD, se Deus quiser é claro”, disse Antônio com um sorriso imenso nos lábios mostrando ao mesmo tempo uma felicidade por aquilo que fazia e uma saudade da companheira de música e vida que havia lhe deixado.

Ouvindo aquele homem dizendo tudo aquilo no intervalo de suas músicas, me fez viajar por um caminho de esperança. A cada dia de rotina dessa megalópole, nos encontramos em de desespero. Parece que tudo o que construímos não tem valor ou utilidade. Pior que isso, é que dá impressão que atropelamos o passado e jogamos no lixo nossa história.

Autor: WILLIANS RIBEIRO


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