Libero Badaró



Gio Batta Libero Badaró, genovês, médico liberal e grande jornalista, um dos mais combativos de sua época, segundo cronistas do passado, teria vindo para o Brasil como imigrado político, esperando encontrar aqui a liberdade que sua terra havia lhe negado.

Como apaixonado jornalista, Badaró, como era mais conhecido nos meios jornalísticos, no início de 1830 fundou em nossa capital o jornal "Observador Constitucional", órgão que, segundo o jornalista, estaria destinado a combater corruptos e prepotentes políticos da época, a conclamar pela liberdade da imprensa que era, na época, manipulada pelos "senhores do Império" e a liberdade de expressão e pensamento de cada indivíduo. Com sua pena brilhante, tornara-se o paladino dos oprimidos.

Foi um dos pródomos do nacionalismo liberal, cujas sementes vieram consolidar, anos mais tarde, a República. Durante os quatro anos em que aqui viveu, Libero Badaró não fez outra coisa senão desfraldar, com ardor e entusiasmo, a bandeira da liberdade.

Foi na noite de 20 de novembro de 1830 (era um sábado), como sempre fazia, que Libero Badaró, logo que terminara seus afazeres na redação do jornal, impresso então na tipografia de José da Costa Carvalho, o Barão de Monte Alegre, proprietário do jornal "O Farol Paulistano", se dirigiu para a casa de um de seus amigos onde se distraia por algumas horas jogando cartas. Seriam aproximadamente dez horas da noite quando, levantando-se da mesa de jogo, despediu-se dos amigos e partiu em direção à sua casa, que ficava na então rua Nova de São José (atual Libero Badaró), quase em frente à antiga Ladeira de Santo Antônio, hoje Ladeira Dr. Falcão. O jornalista, ao por os pés fora da casa em que estivera antes, depois de abotoar o paletó para se prevenir da fria aragem que fazia no momento, olhou em direção ao firmamento e divisou por entre milhares de estrelas o esplandecente clarão da lua que se espalhava por sobre o casario e pelas estreitas ruas da Paulicéia de entranho.

Como era de praxe, nas noites em que havia luar, os lampiões que se achavam espalhados por toda a acidade eram conservados apagados. Tudo era silêncio...Badaró divisou, a poucos passos dali, alguns grupos esparsos de estudantes, que, por ser véspera de domingo, como sempre faziam, aproveitavam para, nesses encontros, reverem amigos e bater papo.

Sem ligar para esses fatos costumeiros, o jornalista iniciou a caminhada em direção de casa; enquanto isso, na esquina da atual Praça do Patriarca, com a antiga rua Nova de São José, dois vultos protegidos pela sombra da noite, espreitavam ao longe a chegada de Badaró. E enquanto este se aproximava da esquina, um deles, saindo da escuridão, se interpôs à sua frente e perguntou se estava falando com o jornalista Libero Badaró, este, depois de afirmar que sim, perguntou o que desejava o seu interlocutor, o qual lhe respondeu, em sotaque germânico, que era portador de um artigo para ser publicado contra o Ouvidor Japiaçu; ato continuo, o segundo vulto, que se achava escondido, apareceu de pistola em punho e, ao mesmo tempo, gritava a seguinte frase:

- O artigo é esse...

E rapidamente acionou o gatilho atingindo o baixo ventre do jornalista, que sem um movimento de defesa caiu, esvaindo-se em sangue. Enquanto os assassinos desapareciam na escuridão, diversos estudantes, que se achavam nas imediações, ao ouvirem o estampido, correram para socorrer o jornalista.

Reconhecido imediatamente pelos estudantes, estes o transportaram para sua casa, que distava dali poucos metros. Durante a intervenção cirúrgica a que estava sendo submetido pelos médicos, que tudo faziam para lhe salvar a vida, o jornalista acusara como mandante do crime o Ouvidor Geral da Comarca, Dr. Cândido Japiaçu, fato que veio se confirmar mais tarde, quando da prisão de um dos assassinos, ocorrida no próprio quintal da casa do Ouvidor. Esse, após a prisão, foi levado para o Rio de Janeiro e julgado pelo Tribunal da Justiça, que o absolveu por falta de provas.

Depois da intervenção cirúrgica, os médicos constataram ser muito grave o estado de saúde do jornalista, e esperavam, a qualquer instante, o seu desenlace. Rodeado por amigos e vários estudantes, Badaró, pouco antes de entrar em agonia, e antevendo o desfecho fatal, pode ainda balbuciar:

- Morre um liberal, mas não morre a liberdade.


Autor: Pedro Nastri


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