FALANDO DE CORRUPÇÃO



FALANDO DE CORRUPÇÃO

De Romano Dazzi

 

Falando de corrupção, calculo que devam existir muito mais corruptores que corruptos.

 

A simples existência de uma obrigação, seja ela qual for, enseja, provoca e instiga a vontade de se liberar dela da melhor maneira.

 

Na escola, quando você aceitava do seu colega de carteira duas figurinhas carimbadas em troca de três respostas da prova de matemática, isto era corrupção.

 

Quando você paga àquele alegre cidadão por dois ingressos,  conseguidos ninguém sabe como, na porta do estádio, antes que os guichês abram,  isto é corrupção.

 

No ministério, quando a verba da merenda escolar não sai  e você, prefeito sério e responsável , oferece um modesto valor para acelerar a solução, isto é corrupção.

 

O Fiscal, que não controla direito a qualidade do leite;  o policial, que relaxa uma prisão a seu arbítrio, até  o padre, que absolve o pecador, sem ter certeza que ele esteja sinceramente arrependido, são corruptos.

 

Todos os que se subtraem ao dever de seu ofício, os que recebem uma remuneração e não cumprem a obrigação correspondente, ou que a cumprem sem honrar seu compromisso,  são corruptos.

 

Vista assim, a humanidade é composta de 80% ou 90% de corruptos, e o termo adquire um peso menor, menos ofensivo.

É  como um mundo de caolhos, no qual você, que enxerga pelos dois olhos, é visto como uma exceção, uma raridade, um objeto para estudos,  para ser mostrado em barracão  de feira.

Vai se sentir mal, porque a sua seriedade não é vista com admiração e  respeito; mas como um fenômeno, uma aberração, um desvio da normalidade.

 

Meus antepassados tinham que atravessar diariamente um rio,  para vender seus queijos na outra margem.

Na ponte deviam pagar um pedágio. Injusto, caro, insuportável tributo. Os guardas embolsavam metade da renda. A outra metade ia ao  Duque, dono da ponte.

Porém, recebendo por baixo do pano um par de ovos,  deixavam passar sem cobrar. Seria corrupção? Ativa, ou passiva? Medieval,  renascentista ou barroca?

Logo os meus resolveram o caso: fizeram uma barcaça, que ia e voltava com as carroças de queijo. Claro, que houve brigas, facadas e até tiros de arcabuz.

Por fim, quando uma das pontes ruiu e a outra se tornou pouco confiável, eles aperfeiçoaram as barcas - e  agora eram eles que cobravam o pedágio, em nome do Duque; e por três ovos, que não iam ao Duque, transportavam qualquer um;  mas esta era uma taxa de serviço, não um imposto....

 

A corrupção tem vários estágios: 1) A que existe e ninguém vê; 2) a que é descoberta e tolerada;  3) a que é julgada e perdoada; 4) a que é condenada; 5) e a que paga.

Tudo funciona na lei de um quarto: um quarto da que existe é descoberto, e assim vai.

No fim, apenas um por mil do que existe, paga o pato.

E aposto que são sempre os menos expertos....

 

Mas mesmo assim, prefiro ser um fenômeno de barracão, a perder meu segundo olho, que felizmente vai continuar enxergando o que os outros não vêem ou fingem não ver.   

 

 

 


Autor: Romano Dazzi


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