CRISE



 

 

CRISE

 

É inútil negar. Tivemos um longo período de  bons ventos.

Quanto tempo? Vinte, trinta anos, talvez.

Estou falando em linha geral, naturalmente.

 Existe sempre aquele que tropeça na escada, ou que leva uma cotovelada ou fica doente.  Faz parte da vida. Mas a enorme maioria ficou contente, saiu bem.

 Neste tempo, Beto, você  passou da TV colorida de 20” para uma plasma de 45”; comprou um home theater uma playstation, celular para todos, dois micros, um note book. Trocou de carro, de apartamento, de geladeira e de fogão.

Matriculou as crianças numa boa escola particular, visto que a escola pública, segundo a voz do povo, não presta.

Oh, ia esquecendo: Você viajou para a Argentina com a esposa   e a sua criançada foi para a Disney.  Puxa, você nem lembrava disso tudo, não é, Beto!.....

Isto é, pelo menos,  o que mostram os números do Brasil. São bons, não é?

Sempre falando no geral.

Os pobres, os que não conseguem tirar o pé da lama, não entram nas estatísticas. 

O que iria guardar na geladeira, um pobre?

O que iria cozinhar em um fogão novinho?

O que iria fazer, na Disney ?

E depois, zero não soma, não subtrai, não divide e principalmente não multiplica nada.  Fora das estatísticas!

 

Mas agora, um vento gelado do norte trouxe más notícias. 

Eles fizeram besteiras por lá e nós estamos começando a pagá-las por aqui.   

Para nós, homens comuns, de pouca inteligência, as causas não fazem diferença.

Só lidamos com as conseqüências; e vamos ter que mexer no orçamento.

Você poderá ser dos que vão continuar no emprego.

Parabéns. Porém esqueça o aumento, os prêmios, o carro e o plano de saúde.

Procure uma vaga para as crianças na escola pública, que vai ficar lotada.

E comece a procurar no supermercado os produtos mais baratinhos, sacrificando um pouco na qualidade de sua comida.

Enfim troque,  no seu sanduíche, o presunto por mortadela. Não é desdouro algum.

É fácil ser rico, onde todos são ricos. O difícil é conservar a dignidade onde todos empobreceram, o espírito amesquinhou, os horizontes encolheram.  

Força, Beto!

Se você pertence como eu à enorme legião dos que estão perdendo o emprego – e não haverá nenhum político que nos salve -  é hora de humildade e coragem.

Junte a família e explique que as coisas terão que mudar. Eles vão entender.     

E quer saber de uma coisa?   A incompetência dos que estão lá em cima, acabou produzindo uma coisa boa, que todos queriam, mas não sabiam como conseguir.

Tornou todos um  pouco mais pobres, aproximando o palacete da favela.

Ainda falta muito, muito mesmo, nesta estrada; mas se deixarem que aqueles caras continuem, daqui a pouco seremos todos pobres.

O que quer dizer, que voltaremos a ser irmãos, de verdade, amando-nos e ajudando-nos uns aos outros, com o pouco que tivermos. 

Nunca Deus escreveu tão  certo, por linhas tão tortas...

É claro que estou sonhando; apesar de ser poético, nunca dormiria num barraco com  telhado de zinco, com estrelas ou sem estrelas.

Não este ano, pelo menos. O ano que vem,.... bem,  Deus é quem sabe....


Autor: Romano Dazzi


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