Dr. Dimitri - N° 07



Ronyvaldo Barros dos Santos

Dr. Dimitri

N°07

Parte I – Do que se conta sobre o desaparecimento de uma gloriosa atriz

A atriz Kristin James fora vista pela última vez pelo seu advogado, o Sr. Fernando Montreal. Conta-se que minutos após a divulgação do seu desaparecimento, o investigador Dimitri Kosovski, o Dr. Dimitri, como era conhecido pelo público, fora o primeiro a convocar uma equipe com o único intuito de procurá-la.

O Sr. Kosovski comandou as buscas à senhorita James que, segundo ele, era uma gloriosa atriz. Ele havia suspeitado que ela poderia ter sido a assassina de Wesley da Silva, um bárbaro homicida; pois segundo pensava o detetive, ela queria vingança pela morte do seu sobrinho Júnior, um jovem prodígio que fora cruelmente assassinado à sua visão. Não obstante, Dimitri já tinha uma melhor teoria quanto ao assassínio do bandido. O desaparecimento da atriz fora decisivo para este fato principal.

Segundo pensava o investigador, Kristin James poderia ter tido um caso amoroso com Wesley da Silva, o que admitiria as informações passadas pela única testemunha. Todavia gostaria que isso fosse inverídico e apostava nesta possibilidade.

O que é certo é que a atriz provavelmente se relacionou de alguma forma com a vítima e, por isso, fora vista no local do crime.

Parte II – Uma visita inusitada

Julius havia acabado de levantar-se da cama quando escutou um ruído à porta. Após abrir o acesso, avistou uma pequenina figura, uma menina de olhos claros e de postura juvenil. A garota, que parecia ter os seus quinze anos de idade, sorriu para o aprendiz e perguntou se era ali que morava o tio Nicolas. O aprendiz percebeu que o nome não lhe era comum, por isso respondeu que não conhecia o sujeito, ao passo que Dimitri neste momento se aproximou e reconheceu a menina. Surpreso, o Sr. Kosovski perguntou à jovenzinha:

— O que fazes aqui, pequena Isabel, a esta hora, em minha casa?

— Mamãe pediu que viesse aqui ficar alguns dias, ela lhe escreveu esta carta, tio Nicolas — a menina entregou-lhe um envelope selado, ao que o abriu Dimitri, pegou um pequeno papel em que estavam escritas algumas recomendações, como: "Cuide bem desta preciosidade."

O investigador não pôde acreditar em tais letras, e em tão intocável responsabilidade que lhe dera a irmã. Pediu à sobrinha que entrasse e que lhe trouxessem as trouxas. Tratou imediatamente de telefonar para a mãe da menina, porém ninguém atendia a ligação. Em seguida disse Isabel:

— Não tem grilo. Posso ficar em algum quarto e juro que não perturbarei ninguém, tio Nicolas.

O Sr. Kosovski fitou a pequena com olhos pensativos. Refletia sobre o caso da senhorita James, reprovando a visita da sobrinha, pois não lhe poderia haver distrações.

Isabel tinha uma maneira singular ao discorrer, a sua voz era muito formosa e utilizava de gírias, além de falar de uma maneira mais sossegada. Ela mirava os olhos de todos ao pronunciar palavra. Gostava de tocar uma mão, de aproximar-se, de enunciar o nome. Era única a pequena Isabel. Não obstante, Dimitri não lhe conhecia muito bem e nunca havia dialogado com ela, achando-lhe assaz pueril. Não acreditava na hipótese de cuidar da sobrinha, por isso disse a Julius que tratasse de contatar a mãe da menina urgentemente. Enquanto isso, Isabel ficaria sozinha e, às vezes, aos cuidados de Julius, que brevemente voltaria à sua casa.

Quanto ao caso que envolvia Kristin James, Dimitri sabia que o seu desaparecimento estava envolvido com a morte de Wesley da Silva. Segundo havia descoberto, a senhorita tinha conhecimento do local em que se encontrava o assassino do seu sobrinho Júnior. Deste modo, visitou o local algumas vezes, numa delas foi em companhia de uma amiga chamada Ernestina, quem havia confirmado esta suspeita do nosso herói. Assim sendo, a atriz havia mentido em relação à ideia de que não conhecia o local do crime e que nunca havia se aproximado dali.

O delegado Roberto dizia-se entendido sobre o assassínio e declarava à mídia que não havia como se provar o contrário sobre o envolvimento da senhorita James neste caso em particular, o que não admitia o Dr. Dimitri. Ele apostava na inocência da atriz, mas estava concentrado nas pistas do seu desaparecimento.

Kristin James desaparecera um dia após a visita do Sr. Dimitri Kosovski. Ele havia-lhe questionado sobre o seu álibi, confiando que ela era efetivamente inocente. Logo após escutar a fã, Dimitri passou a acreditar que ela seria a assassina.

Ao amanhecer do dia seguinte, o Sr. Kosovski tratou de tomar o seu periódico chá das sete e em seguida partiu para a delegacia. Ali, em torno das oito e meia da manhã, ficara sabendo do sumiço da amada senhorita James. Acreditara o Sr. Roberto da Silva e Mello que a mulher havia fugido para outro país qualquer, porém todos os seus amigos anunciaram um sequestro.

Parte III – Uma Feliz Evidência

O Sr. Kosovski visitava o local do crime anterior, lugar em que ocorrera o assassinato de Wesley da Silva. Avistava toda a casa com minúcia. Percebera que no local em que dormia a vítima, o lençol estava jogado ao chão e encontrara ali um pingente áureo, ao que sabia se tratar de um objeto que pertencia à atriz Kristin James. Poderia ser coincidência, mas estava quase certo de que pertencia mesmo à senhorita. Deste modo, prestou mais atenção em todo aquele espaço e encontrou muitas evidências de que ali passara a moça. Percebera ainda que havia um vestígio de sangue no criado-mudo que jazia ao lado do leito. Analisou todo o cubículo e encontrou as respostas para as suas dúvidas principais.

Ao finalizar a perícia, o nosso herói sorriu e disse ao vice-delegado:

— Está mais que na hora de desenvolvermos o caso. Posso intuir, entrementes, que a nossa adorável atriz esteve neste local no dia do assalto ao homicida. Aqui estão evidências incontestáveis. Inclusive de que ela não é o nosso réu, definitivamente.

O vice-delegado Almeida Torres não compreendeu as palavras do mestre Kosovski. Achou-lhe ainda mais alienado e por isso não o contestou. Acreditava seguramente que a mulher era sim a assassina.

Aliás, estava na hora do chá da tarde e Dimitri estava com o humor reacendido.

Após ingressar na padaria do Sr. Vicente, pediu o seu tão apreciado chá. Tomou a bebida refletindo mais sobre o episódio. Estava preocupado com a senhorita James, porque ela poderia estar correndo perigo. Decidiu que assim que terminasse de tomar o chá da tarde, analisaria todas as pistas a fim de encontrar-se com a gloriosa atriz.

Algum tempo depois, estava junto ao comissário Batista. Este homem era muito arguto, a sua fisionomia inspirava confiança e sagacidade. Era média a sua estatura, tinha os olhos castanhos e sempre trajava um terno preto minuciosamente requintado. Dizia-lhe o nosso herói que havia pistas que ilustravam a inocência da senhorita James e que brevemente a encontraria.

O comissário Batista era, acima de tudo, grande fã do detetive Kosovski e, por isso, o escutava com toda a atenção possível.

Após aqueles relatos, Dimitri tratou de partir em busca de uma pista que o levasse imediatamente à senhorita James.

Parecia que a sorte estava prestes a compensar o nosso herói, ou seria um acaso, ou mesmo a pertinácia de Dimitri. Esperava-lhe na delegacia uma amiga da vítima, chamada Sônia. Disse ao detetive que havia recebido há duas horas um telefonema da atriz e ela relatou estar sendo maltratada e que se via num depósito abandonado que ficava perto de uma boate. Breve o Sr. Kosovski arquitetou a localização do tal depósito e imediatamente partiu para lá. A caminho, cogitou o estado da sua amada e prometeu que logo que o caso fosse resolvido, confessaria o seu amor à senhorita.

Uma equipe foi para o local apontado pelo Dr. Dimitri. Minuciosamente a equipe invadiu o depósito e redeu dois bandidos. Contudo a senhorita James não estava ali. Segundo os sequestradores, a moça havia sido levada daquele local há alguns minutos. Uma decepção para o nosso herói, que esperava vê-la naquele momento, e consolá-la.

Dimitri prontamente acareou os bandidos e questionou-lhes o local em que se encontrava a gloriosa atriz, ao que ambos responderam não saberem. Furioso, o investigador pediu para que metessem logo aqueles malfeitores por detrás das grades.

A sua próxima investida foi procurar por ali pistas acerca do desaparecimento da senhorita James. Questionou a todos que se retiravam da boate que ficava em frente ao galpão. Uma mulher que parecia uma meretriz relatou ao detetive que havia visto um carro preto se retirar do depósito e seguir rumo a um motel que ficava ali perto.

O homem encheu-se de esperança e respirou profundamente.

Parte IV – O ósculo grácil

Fica instituído que, à procura da sua prometida, Dimitri não ousou descansar até encontrá-la. Seguiu com minúcia cada pista que o levasse à senhorita.

Após tanto procurar a sua gloriosa atriz, o Sr. Kosovski ainda estava esperançoso em reavê-la viva e saudável. Procurou-lhe, pois, em todos os motéis, em todos os locais suspeitos e inquiriu muitas pessoas acerca deste sequestro. Até que, levado por uma inexplicável condição, pôs-se no mesmo local em que jazia ainda viva a sua amada atriz. Ela estava amarrada pelos pés e pelas mãos, abatida e alquebrada, em estado lastimável. Dimitri tratou de abraçá-la e de dizer-lhe palavras afetuosas.

O maníaco ali estava e agarrou o nosso herói pelo pescoço, querendo enforcá-lo a toda sorte. Contudo o investigador o deteve, derrubando-lhe ao chão e socando-lhe com todo o seu furor. Kristin James, ensanguentada, gritava e tentava acudir-se. Em seguida chegaram os policiais e prontamente prenderam o bandido.

Após tais episódios, a senhorita enlaçou o detetive e deu-lhe um beijo tão intenso que Dimitri não pôde respirar. Neste momento o Sr. Kosovski sentiu-se tão completo que ao terminar o primeiro beijo, meteu-lhe o segundo com ainda mais intensidade. E a isso todos se atentavam com sumo contentamento e espanto. Julius, que havia acabado de chegar, não conseguiu compreender o que se desenrolava; era o que lhe narrava o comissário Batista com regozijo, celebrando uma ocorrência surpreendente.

Kristin foi convidada para ir à casa de Dimitri, que disse que iria proteger-lhe de qualquer mal que sobreviesse. Ela agradeceu e aceitou de bom grado. Conhecera então a pequena e jocosa Isabel, que entendera o caso da senhorita, desejando-lhe sorte e felicidades.

A menina e a senhorita James conversaram durante toda a noite. Compreenderam ambas que eram muito parecidas, porém a menina tinha muito que aprender com a atriz e esta, por sua vez, com a pequenina notável.

No outro dia seria o julgamento da senhorita James e no tribunal o detetive provaria a inocência da moça que, aliás, elucidou ao Sr. Kosovski:

— Certo dia encontrei-me casualmente com o assassino do meu sobrinho. Lembrei-me bem do seu rosto cínico. Segui-o até aquele local em que fora encontrado morto, mas ele não havia me visto. No outro dia consegui uma arma e fui àquela casa disposto a matá-lo, mas não tive coragem de encará-lo. Logo ele percebeu da arma e ma tomou; todavia não me fez mal. Ele me contou sobre a sua vida. Ainda não sei o que o motivou a fazer tal coisa. Só sei que depois disso ele me beijou e por impulso eu me desviei abruptamente. As luzes se apagaram de repente e então o sequestrador apareceu e o matou sem pestanejar. Eu gritei, mas em seguida ele abafou o meu grito e disse que se eu contasse aquilo para a polícia ou para você, ele me mataria também. Perdoe-me por não ter lhe contado a tempo.

Dimitri apenas iniciou a sua prática dizendo:

— Eu entendo perfeitamente o porquê disso tudo, querida. Saiba que sempre confiei na senhorita e apenas em um momento duvidei movido por uma força incomum. Agora mais do que nunca eu quero que saiba da minha admiração por Vossa Senhoria. Sinto algo por ti e não posso mentir.

Kristin James se pôs a refletir um momento e em seguida abraçou o Dr. Dimitri com intensa satisfação.

Fim.


Autor: Ronyvaldo Barros dos Santos


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