COMEÇO DE NOITE
COMEÇO DE NOITE
De Romano Dazzi
A noite vem.
Estou sentado em um banco de rua, esperando o nada.
Diante de mim, campos verdes, amplos, planos, até onde a vista pode alcançar.
O calor da tarde cede lentamente o seu espaço a uma leve brisa, morna, úmida, quase molhada.
Suavemente, sem pressa, um véu transparente, de um azulado indefinido, avança pelo céu e começa numa mágica a transformar objetos em sombras.
A noite vem.
E com ela, os mil pensamentos estranhos do fim do dia.
Vem vontade de rezar; de rever os que se foram, de refazer direito, melhor, o que se fez errado; de pedir desculpas; de dar e receber um carinho; de soltar livremente as lágrimas, sejam de dor, de tristeza, de comoção, de alegria.
Lágrimas que são gotas de chuva, no chão seco da alma; que purificam e fazem brotar flores novas; que reavivam as cores desbotadas; que cicatrizam as rachaduras – aquelas doloridas feridas, que as estações secas deixaram.
A noite vem.
Lentamente, sem que se perceba como, vai mudando a forma, o volume, a textura, o próprio cheiro das coisas.
Traz o alívio, o conforto, a paz que lhe pedimos.
Os pássaros se calam, as folhas deixam de vibrar.
É o universo que se recolhe, que descansa.
Sob o olhar das primeiras estrelas, a lua é a guardiã invejosa do nosso silêncio.
É noite.
Autor: Romano Dazzi
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