Economia de pobre



38 - ECONOMIA DE POBRE

de Romano Dazzi

 

Desde setembro do ano passado,  sofro para entender o que está acontecendo.

 

Começou com os bancos,  que depois de anos com lucros altíssimos de repente encontraram perdas altíssimas   (só sei o que vejo nos jornais)

 

Continuou com notícias sobre fechamentos de fabricas,  demissões em massa,  colapso do sistema financeiro e industrial.

A orquestra que tocava uma valsa, de repente iniciou um barulhento e desafinado galope.

Sou um homem  comum e raciocino só  sobre o que me informam. 

Tento aprender hoje, para usa-lo amanhã, se conseguir.

Minha primeira lição foi  que  dinheiro não  se encontra na rua.

E do mesmo jeito não se perde. Não aparece do nada  e nem some atas da esquina.

Nem na mão dos ladrões. Sempre acaba reaparecendo.

Contar que milhões, bilhões, trilhões desapareceram., é conversa fiada.

Se desapareceram, é porque existiam. E se existiam, estavam nos bolsos de alguém.

Ou não era dinheiro?

Eram ações, obrigações, direitos, promessas, títulos, enfim papéis, simples papéis, – e não, de forma alguma,  dinheiro.

Com esses papéis alguém compra algo de um terceiro, e empenha-se em pagar mais tarde.

Tudo se resume na  compra e venda. 

Eu vendo ao meu cliente uma casa por 100.000 porque acho que amanhã ela valerá só 50.000

O meu cliente  compra essa casa por 100.000, porque acha que amanhã ela vai valer 150.000

O assunto só interessa a mim e a ele.  

Que problemas podem acontecer ?

 

1) Eu recebo o dinheiro e gasto-o à-toa. Fico sem casa e sem dinheiro.  

    Problema meu, Ninguém tem nada com isso.

 

2) O meu Cliente não tem o dinheiro; ele pede emprestado para me pagar.

    A casa é cedida ao  banco, que emprestou  os 100.000, mais juros, ou seja,     

    170.000   O meu Cliente não vai ganhar nada, porque a casa nunca vai valer o que     

    ele deve ao banco.

    Problema do meu Cliente. Ele entrou numa fria

 

3) O banco cobra o meu Cliente, que não paga.

    O banco toma a casa, mas não sabe o que fazer com ela.   

    Não é negócio dele.

    Tenta vender a casa a qualquer preço, para não perder  mais.

    Problema do banco.

 

4) Quando estas circunstâncias se multiplicam, logo sobram casas no mercado, porque todos os bancos querem se livrar delas.

     O preço das casas cai.

     E agora o problema é de todos!!!!!

 

 

Moral 1: Não compre nada que não possa pagar.

Imoral 2: Ou então, compre muitas, muitas casas.

Assim terá um prejuízo tremendo, mesmo que não tenha pago nada por elas.

É prejuízo escritural. Está aí. Ninguém pode dizer que não existe.

O governo lhe empresta por 30 anos, sem juros.

Você tapa o rombo e no fim, quem vai  pagar por essas casas todas, sou eu.  

 

Agora, a segunda parte do jogo:

Eu não tenho casa alguma, nem quero ter.

Mas acho que negócio de casas é bom.

Vou na bolsa e compro uma casa (virtual) a 100.000, que me entregarão (e pagarei) em 2010.

Porque eu compro?

por que acho que em 2010 a casa vai valer 150.000

E porque o outro vende?

por que acha que ela vai valer só 50.000

somos  apenas dois especuladores;

jogamos com a informação, a contra informação, a espionagem, os boatos, as mentiras, implantadas aqui e acolá.

eu vou tentar vender a tal casa (virtual)  por mais de 100.000  e o outro tenta comprar uma outra (virtual) por menos  de 100.000

conforme o tempo passa, ficamos envolvidos e nervosos, percebendo que podemos enfrentar uma grande perda.  

Mas foi apenas uma especulação!

Ambos tentamos ganhar mais, correndo riscos maiores.

 

A bolsa é hoje, mais do que nunca, um grande jogo de banco imobiliário

Estendido a muitas “commodities”, este jogo faz com que  de repente se comprem e vendam quantidades dez vezes maiores que a produção real.

Claro que um vai perder, porque outro vai ganhar...; ganha quem é mais preparado, mais rápido,  melhor informado

Mas é tudo virtual. Os produtos nunca vão aparecer....nunca vão existir.

Todo o mundo colocou nos negócios o dinheiro que não tinha, mas que esperava ganhar. E no fim, não ganhou.

Estes ganhos e perdas são também apenas virtuais...

Muito tempo atrás negociei  ações do Mappin; com o dinheiro de 1000 ações (1000 reais, digamos)  o Mappin comprava uma máquina de escrever  – que passava logo a valer só 500 reais; mas a ação subia  e chegava a ser comprada  a 20 vezes seu valor nominal. Isto porque as pessoas acreditavam que o mercado era firme, a administração honesta, os produtos bons, a lucratividade razoável; portanto o risco era pequeno.

Mas já se viu negócio de risco pequeno dar lucro grande?

Quando maior o lucro, maior o risco.

Quanto mais alto subiu, maior o tombo.

Nem economia, é: é física.

 

Um conceito tem que ser deixado claro: o prejuízo não pode ser socializado.

Assim como o lucro. São resultados individuais e beneficiam ou castigam quem apostou. Repassar o resultado negativo a terceiros é imoral. Tanto quanto ficar com o resultado positivo, sem pagar imposto.

 

Existe ainda uma grande dúvida; como é que, com todos os meios de análise, de troca de  informações, de controle, ninguém percebeu nada, até a grande bomba estourar?

Estas são as minhas hipóteses:

a)      Os meios de análise existem, mas ninguém perde muito tempo atrás disso.

b)      Os dados são furados,  incompletos ou não dão uma visão clara do que acontece; interpretá-los é uma tarefa estafante, ingrata e insegura.

c)      As informações trocadas entre as várias instituições carecem de fundamento ou de credibilidade; ou são  tendenciosas ou mentirosas e se destinam a enganar quem as lê ou quem acredita nelas.

d)      Os órgãos públicos e oficiais (bancos centrais, inspetorias, auditorias, ministérios etc.)  não executam nenhuma das tarefas mais importantes  para as quais foram criados.

e)      Quem está nesse ramo, nesta altura, só pode ser:

 -  incompetente e incapaz

 -  desinteressado e desligado

 -  desonesto e mal intencionado

f) ou então, este ramo é tão complexo, tão surpreendente, que nenhum computador nenhum programa dos mais modernos,  ainda conseguiu descobrir  sua essência e 

aprender seus segredos.

 

Com certeza, o dinheiro que está fazendo uma falta danada nos bolsos de muitos, deve ter entrado nos bolsos de poucos.  Porque dinheiro não some. Só muda de mão.

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Autor: Romano Dazzi


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