Dança Cênica: A Apropriação e a Desapropriação da Dança na Igreja Protestante



Falar da dança é falar do corpo e de toda a cultura presente na vida de tantos povos, é a expressão de uma comunidade, tanto nos momentos de lazer quanto nos momentos de adversidades, a dança é um canal de socialização, é fonte de lazer e também de Adoração. Para as pessoas que se deixam expressar através dela, há uma certeza: que a dança da vida deve ser celebrada, festejada em forma de agradecimento a quem a doa. Dentro do ritual religioso, a dança sagrada exige algo mais do que o próprio domínio corporal; exige também uma participação ativa da consciência, que simultaneamente se irá manifestar na seqüência dos movimentos. Aqui o artista não exprime algo que lhe é exterior: procura ser verdadeiro; o seu corpo é a oferenda e a sua consciência é o oficiante. Ele dança com o espírito, exaltando o corpo para sublimar, através do exercício religioso, da oração em movimento e do ritual da dança. O presente estudo pretende fazer uma análise em relação à apropriação da dança como expressão nos culto das igrejas cristãs, apontando discussões sobre esse processo e sua desapropriação num fenômeno contemporâneo muitas vezes junto ao Sagrado. As conclusões finais buscam conduzir a uma reflexão desse acontecimento presente, procurando também justificar essa importância através do embasamento teórico através das questões da cultura, do símbolo, do rito, da memória, da religião, e da linguagem corporal e sua função.

Os exercícios religiosos, através da oração em movimento e do ritual da dança, se uniram em uma síntese maior. No âmbito do cristianismo primitivo, a dança era de longe, uma das manifestações religiosas mais divulgadas, através dos cultos gregos, egípcios e sírio-asiáticos. Em várias passagens do Antigo Testamento a dança sagrada e a dança dos cultos israelitas eram mencionadas de forma positiva. Estes hábitos regionais das tradições anteriores à era cristã se mantiveram, em parte, por séculos, e se misturaram às tradições cristãs. Hoje em dia esses rituais vêm se manifestando cada vez mais forte dentro das cerimônias religiosas como uma espécie de retomada do espírito vivo original que no decorrer dos séculos houve uma série de mudanças proibições e retomada da dança sagrada. (Wosien, 2004).

No cenário protestante da atualidade, a dança se destaca como forma de louvor e adoração, se fazendo presente nos momentos de louvor durante as celebrações do culto a Deus. Além de possuir grupos musicais que dirigem a congregação em animados momentos de louvor e adoração, agora as igrejas também possuem grupos de dança com a mesma finalidade. A dança antes tida como algo pecaminoso e fora do contexto protestante tem sido canal de celebração para os cristãos evangélicos. Este movimento que tem acontecido nos últimos 15 anos, envolvendo igrejas neo-pentecostais, tradicionais e históricas, iniciou no Brasil no momento em que alguns bailarinos brasileiros que dançavam na festa dos Tabernáculos em Israel, pela Embaixada Cristã em Jerusalém, começaram a difundir pelo país a dança no culto. Vários grupos de dança, que já atuavam em igrejas evangélicas dançando, porém, como formas de apresentação para ilustrar pregações ou mesmo proclamar o evangelho tiveram a oportunidade de se apropriar da dança não somente como apresentação, mas como parte do culto a Deus. O movimento ganhou força e hoje a grande maioria das igrejas evangélicas possui certa abertura à dança, sendo assim, a procura de congressos que enfoquem o ensino da dança no culto tem crescido cada dia mais, sendo que o centro dos estudos é a Bíblia Sagrada. A forte presença da dança na cultura do povo hebreu, citada nos textos bíblicos, somada à valorização do corpo na contemporaneidade, legitima a dança no cristianismo evangélico da atualidade. (Coimbra 2003). 

O fenômeno da dança que é realizada no culto evangélico protestante se assemelha ao fenômeno da oração. O bailarino voluntariamente se expressa diante do

Sagrado em uma oração feita com movimentos. Por mais que no momento de sua dança, o bailarino se sinta arrebatado em sua expressão, a dança evangélica de adoração não leva o bailarino ao que chamaríamos de "transe". Tal característica ressalta a diferença desta dança de outras danças sagradas, onde a dança é uma busca do transe para incorporar as entidades, como por exemplo, no candomblé. (FÁTIMA, 2001).

  "Uma das principais características do culto público, seu ponto central é a possessão pela divindade: diferentemente das outras religiões praticadas no Brasil, as de origem africana se reconhecem pela possessão do crente pela divindade, que usa a pessoa como seu instrumento de ligação com os mortais" (FÁTIMA, 2001, p. 77).

O binômio bailarino - espectador mostra que a dança sagrada possui também um aspecto estético, que promove entre ambos a comunhão com o Sagrado. Mesmo não participando ativamente da dança, o espectador pode ter um sentimento profundo de comunhão com Deus simplesmente ao assistir um bailarino adorando a Deus com danças. A beleza, a estética da dança faz com que o fenômeno da dança sagrada se dê, não somente na vida do bailarino ao dançar, mas também no espectador que aprecia a dança.

   CONCLUSÃO

Conclui-se que no cristianismo primitivo havia a presença da dança das culturas grega e romana, que por sua vez foi influenciada por religiões egípcias, o que fazia com que a dança cristã primitiva estivesse misturada com a dança de outras crenças. Tal fato gerou uma pressão da igreja por parte de líderes cristãos, que mesmo a reconhecendo como possibilidade de adoração, acabaram se levantando contra sua prática dentro da igreja.

Essa dissertação procura considerar o tema dança como uma manifestação humana, como parte integrante da vida social, cultural e religiosa de uma sociedade, expressando, vivenciando e perpetuando seu ethos e sua cultura. A presença da dança desde o tempo dos povos primitivos nos revela a manifestação natural do ser humano, nas suas expressões mais autênticas, uma vez que, para o homem primitivo, não havia diferença entre ele mesmo e a natureza, entre a vida religiosa e a vida social. Sua religião era sua vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COIMBRA, Isabel. COIMBRA, Isabel. Louvai a Deus com danças. Belo Horizonte: Diante do Trono, 2003.

FÁTIMA, Conceição Viana de. Dança: Linguagem do transcendente. Dissertação           de Mestrado (Ciências da Religião) – Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2001.

WOSIEN, Maria Gabriele. Dança um caminho para a totalidade. São Paulo: Trion, 2004.


Autor: Sheila Blondin


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