Fim da linha para a GM



Após 101 anos no mercado, a General Motors, que já foi a maior montadora de veículos do mundo, deve entrar hoje com pedido de concordata na Justiça americana a partir de uma corte de Nova York, com separação da banda de ativos podres da que será recuperada pelo governo dos EUA.

Segundo informações do jornal Wall Street Journal, o pedido deve ser feito no Tribunal de Falências de Nova York. Al Koch é o executivo que deverá conduzir o processo. Diretor da consultoria AlixPartners e especialista em reestruturar empresas, Koch supervisionará a divisão da montadora em duas partes: a “nova GM” controlada pelo governo, e uma outra companhia que será liquidada.

No caso de uma “nova GM” ser criada serão vendidos os ativos da “velha GM” ( incluindo as marcas Saturn, Hummer, Saab e Pontiac). Koch ajudou a desenvolver os planos de viabilidade feitos pela GM, negociou com os acionistas e credores e preparou o esquema de venda dos ativos bons para a “Nova GM”.

AGM teve de recorrer à concordata porque chegou ao fim do prazo estabelecido pelo governo americano para apresentar um plano viável de reestruturação, sem conseguir reduzir suas dívidas que a Casa Branca exigia.

A concordata da GM será a maior de uma indústria na história - está atrás apenas do banco Lehman Brothers e da empresa de telecomunicações WorldCom. A GM tem US$ 91 bilhões em ativos no mundo todo, e seu passivo é de US$ 176,4 bilhões. A Chrysler, que pediu concordata no dia 30 de abril, declarou ter US$ 39 bilhões em ativos.

O principal objetivo da concordata, segundo fontes ligadas à Casa Branca, é fazer com que a GM seja lucrativa em um mercado com venda total de 10 milhões de veículos por ano nos EUA. No ano passado, só foram vendidos 9,5 milhões veículos no país.

Durante a concordata, funcionários e fornecedores continuam recebendo e trabalhando normalmente. As subsidiárias estrangeiras também não serão afetadas, a Casa Branca. As que precisam de capital terão de receber ajuda dos governos locais, como é o caso da GM Austrália, enquanto as saudáveis, como a brasileira, continuam operando de forma independente.

No dia 30 de junho foi anunciado que 54% dos credores aceitaram trocar US$ 27 bilhões de seus débitos por 10% da “nova GM”. Os credores têm autorização para comprar mais 15% posteriormente.

Assim como vem ocorrendo com a Chrysler, a expectativa é que todo o processo seja pavimentado por acordos prévios, evitando conflitos na Justiça. A projeção é que a empresa deixe a concordada até agosto.

A GM passa por um declínio prolongado - sua participação caiu de 48% do mercado americano em 1980 para 22% no ano passado. A montadora acumula US$ 88 bilhões em prejuízos desde 2004. A GM deixou de ser a maior montadora do mundo no ano passado, quando foi ultrapassada pela Toyota. Nos últimos dias, as ações da companhia perderam valor, fechando a US$ 0,71 na sexta-feira. Foi a cotação mais baixa desde 1916.

Depois de entrar em concordata pelo chamado Capítulo 11 da Lei de Falências norte-americana, a GM deverá se desfazer de uma série de negócios e marcas (como da deficitária Pontiac) e se concentrar na produção de veículos com maior penetração no mercado.

Segundo o plano de concordata, o Tesouro americano dará mais US$ 30 bilhões para a GM se reestruturar (já concedeu US$ 19,4 bilhões em empréstimos) e o governo canadense deve contribuir com US$ 9,5 bilhões. Na nova GM, inicialmente o Tesouro teria 60%, o governo canadense e o Estado canadense de Ontário ficam com 12,5%, um fundo de assistência médica do sindicato teria 17,5% e os credores, 10%. Mas os detentores de títulos poderiam comprar mais 7,5% depois que a nova GM atingir o valor de mercado de US$ 15 bilhões.

Depois que a montadora chegar aos US$ 30 bilhões, os credores podem exercer seu direito de ter mais 7,5% da montadora, chegando ao total de 25%. O sindicato pode elevar sua participação para 20%, mas somente quando a GM estiver valendo US$ 75 bilhões. Quando sindicato e credores tiverem atingido suas participações máximas, o Tesouro e o governo canadense terão participação reduzida.

Além dos credores que ficarão com 25% da nova GM, os principais sindicatos de operários da montadora, representados pela United Auto Workers, terão uma fatia de 17,5% em troca de concessões feitas e redução de benefícios -que fazem parte da reestruturação e visam o corte de custos.

O governo dos EUA acabará, portanto, como o maior acionista da General Motors, com uma fatia que poderá ultrapassar os 57%. Desde o final do ano passado, a GM recebeu quase US$ 20 bilhões do Tesouro norte-americano e poderá ter novos créditos de até US$ 50 bilhões durante a reestruturação. Parte do dinheiro virá do governo do Canadá, onde a montadora também opera.

Segundo o comitê dos credores da GM, no total 975 investidores deram apoio ao plano de troca de dívidas por ações, o que corresponde a 54% do total dos credores.

Alguns credores que não aceitaram a proposta esperam contestar a reestruturação na Justiça durante o processo de concordata. Será uma causa difícil, já que, normalmente em casos como esses, em que a maioria já concordou com o plano de reestruturação, o juiz tende a não considerar as queixas dos que ficaram de fora.

Durante o final de semana, o governo alemão também anunciou formalmente um acordo para a transferência da Opel (o braço europeu da GM) para um consórcio entre a canadense Magna International, fabricante de peças de automóveis, e o Sberbank russo. As operações da GM na Europa incluem ainda a britânica Vauxhall. Como parte do acordo, o governo alemão injetará cerca de US$ 2,1 bilhões na Opel para mantê-la viável durante uma reestruturação de suas atividades na Europa.

Bibliografia
Jornal Folha de S. Paulo de 01 de junho de 2009
Jornal Correio Braziliense de 01 de junho de 2009
Jornal O Estado de S. Paulo de 01 de junho de 2009

Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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