MAIO



Maio, quando ainda era maio, desnorteava esse confuso ser que de dúvidas e medos preenchia o vazio e solitário coração pulsante em silêncio, que por beta 1 ainda funcionava.
A espinha, de frio, gelava durante o amanhecer, e só fazia crescer a incompreensão: por que vivo, por quem vivo, vivo para que, será que vivo?
Sou mais um ser no mundo e, entre tantos bilhões, como me sinto tão só? Difícil sair de casa pensando assim, mas mesmo assim, coloco uma blusa e vou. O vento no rosto me diz: você está viva. Não desperdice seu tempo; viva sua vida. E lá vou eu, determinada.
Manhãs de maio devastam a alma pálida, a sombra ganha cor, a boca esboça sorrisos, a garganta arranha risos, os olhos cintilam, o corpo adquire movimento. Sinto prazer nas pequenas coisas; amigos me fazem bem, são quem me trazem felicidade, desejo de viver e o brilho no olhar.
Ao longo do dia tudo aquilo que sentia pela manhã nada mais seria do que senão passado. Mas, ao entardecer, quando o céu perde sua clareza e ganha tons avermelhados que se matizam para tornarem-se negros enegrecem minhas pupilas. De repente, tudo volta. As luzes da cidade, as estrelas, a lua não iluminam meu eu. Não sinto desejo, prazer, fome ou sede. Vegeto.
Nas noites de maio sou um profundo vazio numa cama, um corpo coberto sem calor. A alma flutuante em escassos pensamentos, uma dor por dentro, só sofrimentos. Porque... ainda estamos em maio. E maio não passa, não muda, não transforma, não vira junho, não pára, maio não acaba... é só maio... é sempre maio...


Autor: Marilis Shimano


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