Como construir um solo de derbaque dinâmico



Por meio do acrônimo SHIMMY FEST, criado por Michelle Morrisson, diretora do Farfesha Bellydance Troupe de Albuquerque (Novo México-EUA) no Festival Amaya's Oriental Potpourri, uma poderosa apresentação de solo de percussão pode ser elaborada.

S (de sharp) – seco, preciso

É necessário mover-se percussivamente, para isso o desenvolvimento das técnicas básicas de dança torna-se fundamental.

1 – Tremido e ximes: são os movimentos mais apreciados e vibrantes da dança.

O tremido é a base do trabalho de solo de percussão (tanto gravado quanto ao vivo). Seja fluente e mantenha uma variedade deles.

Um bom exercício é executar o tremido de modo suave e relaxado, utilizando somente os joelhos e depois contrair os glúteos, os quadríceps, e mesmo os abdominais, enquanto você desliza o peso de um lado para o outro.

Tal treinamento permitirá a execução de movimentos secos, precisos e pontuados.

Um movimento seco é aquele em que há uma forte ênfase em seu final, dando um sentido percussivo. Isso poderá ser percebido no modo como o xale de quadril se move: moedas ou crochê vão vibrar durante o tremido suave, mas deverão literalmente pular durante as marcações.

Alguns ximes a desenvolver são: xime em L, xime frente/trás.

2 – Marcações de abdome, de tronco, de ombros ou mesmo de cabeça.

3 – Explosões: tanto a pelve quanto o tronco permitem a execução de explosões, que são perfeitas para marcar os acentos da música.

4 – Batidas: tanto a pelve quanto o tronco permitem a execução de batidas, que são perfeitas para marcar os acentos da música, como básicos secos para cima e para baixo, batida pélvica, twist de quadril seco.

5 – Paradas.

6 – Divisão de movimentos ondulatórios: uma ondulação de tronco pode ser articulada em quatro pontos secos (frente, arco, descida posição 1, descida posição 2) ou quando alcança-se o alto do círculo (arco), faz-se uma descida enfática de tronco. Igualmente a ondulação de braços pode ser articulada, fazendo-os parecerem robotizados. Erga um ombro de forma seca. Ele deverá cair assim que o cotovelo subir. Solte-o, descendo a mão reta para baixo ao mesmo tempo. Volte a mão para trás. Mude a ação usando o outro braço.

H (de hips) – quadris:

Os quadris são a base para uma boa apresentação de solo de tabla.

  • pratique grandes e pequenos movimentos de quadril, variações de velocidade (rápido e devagar);
  • trabalhe na divisão de movimentos grandes em pequenos e precisos (como o realizado com a ondulação de tronco e de braços; tente com os oitos, com os redondos);
  • amplie seu tremido e depois deslize de um lado a outro, transferindo seu peso de um pé para o outro;
  • junte um tremido a qualquer outro movimento como o camelo para fora ou um oito. Isto é particularmente efetivo quando surge no solo uma espécie de som que parece estar enrolando ou quando a percussão é tão rápida que você não tem condições de pegar todas as batidas;
  • tente colocar boa parte do peso na perna de base, liberando o quadril da outra perna para executar básicos, batidas, círculos, oitos verticais. Isto focalizará a atenção da audiência em um ponto específico e permitirá que você respire apesar dos tremidos!
  • outra técnica envolve começar um movimento suave no seu quadril direito (como o oito maia), mas logo mudando para um movimento seco (como uma descida seca) quando você move seu quadril esquerdo. Muito eficaz quando o derbaque realiza uma batida suave seguida por uma ou duas explosões secas.

I (de isolations) – isolamentos:

Esta dança basea-se sobre o controle do corpo e o isolamento de diferentes partes dele. Os isolamentos são cruciais porque permitem a marcação de diferentes sons na música. Eles pode ser secos, mas às vezes podem ser suaves.

Mantenha a parte superior mais parada, enquanto seus quadris e pernas se movem e vice-versa. Em outras palavras, não deixe seu tronco se mover quando é esperado somente trabalho de quadril.

Melhore os movimentos lentos! Ao contrário do que um solo de derbaque inicialmente sinaliza, ele não precisa ser somente batidas e paradas. As ondulações ou os oitos podem ser usados em um momento suave.

Pratique o seguinte:

  • redondos, oitos, deslizamentos com o quadril;
  • redondos, oitos, deslizamentos com o tronco;
  • mantenha-os separados.

A superposição permite a você seguir as diferentes partes do solo – os dums, os taks, os saks. É a técnica pela qual você utiliza dois movimentos simultaneamente. Você pode realizar um movimento em uma parte do corpo e outro na outra parte, ou você pode juntar dois movimentos em uma única área. Por exemplo, um trabalho lento de braços com um rápido xime frente/trás, ou um xime de quadril enquanto executa um suave maia.

Algumas superposições para treinar:

  • deslizamentos com xime;
  • oitos com xime;
  • xime
  • de ombros e ondulação de tronco;
  • ondulação de braços com xime choo-choo

Para melhor isolar as partes do seu corpo, tenha certeza de que você tem os músculos bem alongados – especialmente os que ficam ao longo do seu torso. Se somente é possível fazer um alongamento antes da apresentação, curve-se para um lado com a mão acima da cabeça, depois para o outro. Isto alonga das costelas até os quadris e realmente solta todo o tronco. Quando esses músculos estão "duros", é quase impossível isolar sua parte superior da inferior. Ao passo que, quando esses músculos estão bem alongados, seu tronco não vibra durante a realização de um choo-choo e seus quadris são uma rocha abaixo do seu tronco oscilante. Alongue-se, alongue-se e alongue-se para alcançar isto!

Outra técnica a empregar é o encaixe de postura:

  • inspire profundamente, enchendo completamente seus pulmões e sentindo seu tronco subir naturalmente;
  • expire, mas deixe a caixa torácica levantada;
  • a distância entre a caixa torácica e a pelve foi aumentada em cerca de duas polegadas. Apesar de suas costelas essencialmente repousarem sobre sua pelve, você agora tem um bom espaço (sua cintura) entre o tronco e a parte inferior para trabalhar.

M (de movement) – movimento:

A natureza deste tipo de música pede um pouco mais de atenção.

Usualmente a execução de um solo de percussão é fixa no lugar, entretanto pode haver um pouco de deslocamento.

Pratique tipos de deslocamentos que você possa realizar de maneira rápida, bem como giros e pequenos passos rápidos. As pausas ou os momentos suaves da música são boas oportunidades para deslocar ou girar.

Tente mover-se em posições diferentes – de costas, de lado, ou na diagonal - para a audiência.

M (de mind/body) – mente e corpo:

Sua mente tem que estar ativamente envolvida não apenas em lembrar seu repertório de dança, mas em conhecer a música por dentro e por fora, pois com um solo, não há como fingir.

Tente ouvir além do derbaque.

Cante o solo do seu jeito (dum-tá-dum-dum-tá-tá,dum-tá-dum-dum, aumentando e abaixando a voz) e ouça a melodia da percussão.

Ouça todas as pausas e o nível do derbaque (suave ou alto).

Sinta o humor da música.

Enquanto a maioria dos solos são bastante energéticos, alguns permitem brincar. Uns são festivos; outros, apaixonados. Há ainda outros que somam todas as características.

Y (de yowza factor) – improvisação:

Devido à espontaneidade e à improvisação do solo de percussão, pode-se optar por não coreografá-lo. Entretanto tente planejar algumas combinações dinâmicas para as partes especiais.

Por exemplo, se a música tem uma longa e rápida suavização seguida de vários dum-dum-dums secos, tente um twist com xime e então acerte os acentos com uma batida de pelve ou de abdome, ou uma explosão de tronco (então o movimento seco ecoa por seu corpo). Com boas combinações é possível acrescentar peso à improvisação, além de desobrigar a apresentar algo novo sempre.

Ao coreografar, procure um solo em que o derbaque principal toque frases distintas, visando assim estruturá-lo por inteiro. Isso ajuda a visualizar o corpo do solo e a tocar o tema e a variação dentro dos movimentos elaborados para que a continuidade e o interesse sejam mantidos, além de evitar que tudo seja previsível ou monótono.

Experimente alegria ao conectar seus movimentos às elaborações do derbaque principal, enquanto respeita constantemente o ritmo. Diversifique o tremido, mas não complique demais, ou ocorrerá o risco de perder a ligação com a música.

É importante que a audiência identifique seus movimentos. Não se esqueça, às vezes os momentos mais dramáticos são aqueles nos quais você não marca tudo!

Embora a percussão seja empolgante, a riqueza e a complexidade dos outros instrumentos são bastante valiosas. O solo se tornará muito mais rico se não seguir-se o derbaque ad eternum.

F (de fun) – alegria, divertimento

A audiência percebe que certamente há alegria ao dançar.

Apesar do nervosismo, é importante a apreciação da música e da dança.

A expressão facial permite a conexão com o público e a manutenção de sua atenção, além de marcar a diferença em como será a resposta à sua dança.

Embora não seja obrigatório sempre sorrir, é importante praticar o sorriso, do mesmo modo como é feito com o tremido.

Utilize movimentos inusitados como levantar uma das sobrancelhas em uma marcação do derbaque, ou pareça surpresa com a explosão do próprio tronco – a audiência particularmente gosta disso, porque não se sente constrangida ao olhar sua movimentação se você os faz rir.

E (de energy) – energia

Treine no sentido de colocar seu coração e sua alma em seus movimentos. O derbaque parece uma serra? Deixe que a audiência perceba isso em sua face e na força do movimento de seus quadris.

Um solo hipnótico, como um transe, deve ser desenvolvido com atitude e energia completamente diferentes, mas essas características precisam perpassar toda a apresentação da música escolhida.

A audiência sabe apreciar o árduo trabalho e a técnica empregada em uma performance de tabla solo e demonstra com sorrisos, piscadas e assobios.

S (de stamina) – preparação

Preparação é crucial!

É importante estar fisicamente preparada para realizar um solo de percussão, ou a exaustão aparecerá e seus movimentos se tornarão vagos justo quando eles precisam ser marcados. Isto é válido para qualquer música que se deseje apresentar, mas especialmente para a intensidade dos solos.

É importante não deixar a cargo da adrenalina carreada pela apresentação.

A presença no palco deve manter a energia e o sorriso na face. Mas é difícil terminar a música, se os músculos simplesmente não ajudam.

É recomendado treinar um solo de cinco minutos no mínimo quatro vezes seguidas, porque se todos os detalhes forem apanhados na última vez do mesmo modo do que na primeira, o melhor pode ser atingido na performance.

Realize diariamente exercícios de respiração profunda:

  • inspire devagar e profundamente, sentindo suas costelas alongarem com a respiração;
  • segure por alguns segundos;
  • expire lentamente.

Repita pelo menos duas vezes mais. Habitue-se a fazê-lo pelo menos três vezes por dia. Isso condicionará os pulmões para o trabalho de alta intensidade que é o solo de percussão.

Bom para a saúde cardiovascular bem como para a preparação para a performance!

T (de time) – tempo

É recomendável que o solo tenha um tempo de até cinco minutos. Esse é o tempo máximo para a bailarina dançar e para a audiência ouvir.

Aventure-se!

Além dos tópicos abordados no Shimmy Fest, outros pontos específicos devem ser enfatizados sobre a dança com percussão ao vivo:

1 - Um solo de derbaque ao vivo é na realidade um dueto. Juntos, a bailarina e o derbaquista criam uma peça especial de apresentação. É necessário conscientizar-se de que não se está só no palco e que o parceiro não deve ignorado. Posicione-se de modo que você possa facilmente ver o derbaquista. Use o contato visual e contato de olho-mão para se comunicar (quer dizer, esteja apta a ver o que as mãos dele estão fazendo – os seus olhos vêem as mãos dele);

2 - Organize o cenário. Como será o início: no palco ou fora dele; devagar ou rápido; com o ritmo, com uma entrada espetacular;

3 - Decida o tema de sua apresentação: o que você quer dançar;

4 - Decida com seu derbaquista o tempo e a emoção. Isto ajudará a decidir o ritmo a escolher: o chiftitelli é excelente trabalhar com solos lentos, enquanto que o malfuf pode ser usado para um número rápido;

5 - Deseja mostrar a habilidade ao tremer ou destacar seus isolamentos. Isto também influenciará o que o derbaquista vai tocar (para variações de tremidos, você quererá muitas variações rápidas de batidas; para os isolamentos, o percussionista pode realmente tocar um pouco mais livre então você pode dançar a melodia);

6 - Divida a apresentação em partes: estabeleça se você deseja ralentar no meio, ter pausas, acelerar no final;

7 - Pretende destacar algo em especial: o derbaquista precisa saber para poder segui-la e implementar a finalização do show;

8 - Algumas inclusões podem ser feitas como: acessórios (espada, bengala, véus, leques), acompanhamento com snujs (tenha certeza que o derbaquista toque um ritmo que você possa tocar), trabalho de chão, cambrês ou aberturas (determine se você precisará de um ritmo ou de mudança de tempo para acomodar estes movimentos);

9 - Como terminará a apresentação? Isso será o que a audiência lembrará quando sair. Mesmo que o restante tenha sido realizado de modo aleatório, você deve amarrar o final. Se você não planejou o início da música com o derbaquista, esta parte deve ser programada. Coisas a serem estabelecidas são: devagar e vai abaixando ou rápido e impactante, acerte o ritmo ou caminho para o final, combine sinais para indicar a finalização (por exemplo, um gesto, uma palavra), programe uma pose final e permaneça nela (mesmo que o derbaquista se distraia e permaneça tocando – ele rapidamente parará e isso será melhor do que se você tentar recomeçar a dançar);

10 - Entre em sintonia com o derbaquista. Ele é seu parceiro nesta dança. Seria ideal se você pudesse ensaiar com ele antes da apresentação, mas algumas vezes isto não é possível.

11 - Desenvolva sincronicidade: observe as mãos dele (veja quando ele se prepara para tocar os dums ou os floreados), antecipe os modos da música dele (se você perder o primeiro dum-tak, esteja pronta para o segundo e, às vezes, para o terceiro e para o quarto), combine sinais (gestos, movimentos específicos que indicarão quando ralentar, acelerar ou terminar);

12 - Interaja com o derbaquista (use humor, expressão facial, piscadas) de modo que a audiência perceba o dueto.

13 - Planeje sua dança. Uma profissional sempre se prepara para toda a apresentação, mesmo que nessa performance a música diga como ela deve se mover;

14 - Evite muito deslocamento. Diferentemente da música gravada, onde você é solista e pode planejar grandes deslocamentos, a percussão ao vivo é imprevisível. Você não quer se perder completamente do derbaquista e tão pouco quer dançar a música ipsi sonoris (por exemplo, se você iniciou um giro através do palco de acordo com a marcação feita e ele muda repentinamente para uma parada seca);

15 - Tente ouvir todos os sons do derbaque (dums e taks), mas se não limite a somente marcá-los. Para uma parte, marque precisamente o ritmo; para outra, aplique um movimento suave que flua com o ritmo;

16 - Esteja aquecida e pronta para experimentar;

17 - Use as pausas a seu favor (a parada ajuda na mudança de posicionamento);

18 - Seja a música! Este é o mais importante e dinâmico momento para fazer seu corpo refletir a música que ele está ouvindo. Quando o percussionista suaviza e ralenta o ritmo, você faz o mesmo. Quando ele é seco e alto, você deve ser precisa e forte.

19 - Divirta-se! Se você ama dançar, relaxe e deixe acontecer. Não somente a audiência apreciará sua expressão emocional natural, mas também você experimentará uma elevação sem paralelos.


Autor: Luzimar Paiva


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