O que são Dogmas?



Antes de dar início ao artigo, interessante é que se medite por um instante na seguinte estória:

“Numa aldeia do deserto as frutas eram raras. Deus apareceu a um profeta e deixou um mandamento: ‘cada pessoa só pode comer uma fruta por dia.'
O costume foi obedecido por gerações.
O povo da aldeia irrigou o deserto, e plantou mais árvores. As frutas começaram a surgir em abundância - mas todos respeitavam o mandamento, e as frutas apodreciam no chão.
A lei continuava, pois o profeta que a recebera havia morrido.
Um novo profeta surgiu: ‘agora já podem comer quantas frutas quiserem', dizia ele.
Foi apedrejado.
As pessoas começaram a achar Deus ridículo, por permitir apenas uma fruta por dia. Os jovens abandonaram a religião, para comer o que queriam. E na igreja ficaram os que se achavam santos – mas na verdade eram pessoas que tinham pavor de mudar qualquer coisa.”
(Autoria desconhecida)

A religião sempre foi – e ainda o é - algo de grande utilidade para o homem no seu caminho de evolução espiritual desde as primeiras civilizações. Um problema, no entanto, se faz presente na imensa maioria das mesmas: o dogma que leva à fé cega. Será esse o único meio de se obter uma ligação com Deus? Não seria isso, a partir de um certo ponto, prejudicial ao próprio homem?

A tradição religiosa humana habituou-se em pregar verdades de forma dogmática desde os primórdios de sua iniciação. Apesar de ser facilmente aceito e justificável o fato de que tal natureza de afirmações inquestionáveis tiveram a sua necessidade em vários períodos da história, é lícito colocar-se em discussão se tal procedimento ainda encontra justificação nos dias atuais e vindouros.

Certamente os dogmas tiveram forte razão de ser quando o conhecimento humano encontrava-se muito limitado, tanto em ciência como filosofia, sendo, por isso, algumas discussões impossibilitadas de iniciação. Aqui, as revelações indubitáveis serviram como uma alavanca forçando alguns passos à frente. O questionamento das mesmas não encontraria sequer sementes para nascer na consciência da maior parte dos homens. Logo, dentro desse quadro, é justo dizer que os dogmas tiveram a sua utilidade.

No entanto, essa situação chegou a um ponto de abuso tamanho que os dogmas foram envolvidos em um nível de vulgaridade tal que o injustificável passou a ser de aceitabilidade obrigatória. O inaceitável passou a ser livre de justificação ou contestação. Na medida que os conhecimentos humanos progrediram, algumas “verdades” não mais eram passíveis de aceitação pelas mentes pensantes, e o que antes era uma fábrica de fiéis passou a ser uma indústria de materialistas.

O absurdo incontestável não mais poderia se fazer presente entre aqueles que tinham acesso aos livros, às informações atualizadas, enfim, às mais novas descobertas da ciência e idéias filosóficas humanas. Necessário era, nesse ponto, que explicações começassem a ser desenvolvidas, sob pena de, mesmo talvez no caso das “verdades” corretas, tornarem-se ridículas.

O homem atingiu então o ponto estacionário de evolução através dos dogmas religiosos. Os cientistas e filósofos queriam algo racional e lógico, que pudesse ser pensado e não imposto. Nesse momento os questionamentos fizeram surgir grande número de hereges. As explicações não vieram e, cada vez mais, algumas idéias iam diretamente de encontro ao ridículo, apesar de todo esforço feito por parte dos representantes de cada religião no intuito de mantê-las firmes. A característica de revelação sagrada conferia uma aura de imutabilidade aos dogmas de tal modo que, por mais que fossem destituídos de bom senso - como a criação do mundo em seis dias e há apenas alguns poucos milhares de anos; o Sol girar em torno da Terra, dentre outros -, ainda assim eram defendidos pelos clérigos e sacerdotes. O materialismo cresceu mais e mais entre os homens, uma vez que muitos preferiram em nada acreditar a aceitar algo que lhe era comprovadamente ilógico e absurdo.
Nesse contexto é que começou a tomar forma o Espiritismo. Através do trabalho árduo de Allan Kardec, em 1857 era publicada em Paris a primeira edição do Livro dos Espíritos. Aqui não mais a fé cega irracional e livre de indagações, mas sim a razão perscrutadora do homem a procurar as causas, razões, conseqüências e logicidades de todo e qualquer pensamento que era colocado em discussão. O homem percebeu então que idéias espiritualistas não eram algo absurdo e ilógico; que a ciência poderia sim caminhar junto da religião, uma vez que, tendo sido o Universo criado por Deus, o conhecimento verdadeiro, por parte dela, das leis que o regem, só poderia aproximar mais o homem de um maior entendimento do Divino.

Com a existência de algo espiritual sendo exposta de forma coerente e lógica, só restava à ciência, se não admitir, ao menos iniciar estudos acerca do plano sutil que foge à captura dos cinco sentidos vulgares humanos.

Aqui encontra-se talvez a maior força da doutrina espírita: sua não-imutabilidade, sua capacidade em absorver o novo e seguir adiante na senda do progresso humano sem medos, comprovando os seus acertos e admitindo os seus erros sempre que necessário, como em toda ciência que o homem já esteve envolvido em estudos.
O resultado das argumentações lógicas, das descobertas científicas e das discussões filosóficas em detrimento do aceite indiscutível dos dogmas já se vê atualmente. Cada vez mais físicos e cientistas das mais diversas áreas declaram, de forma racional, a existência de Deus e do princípio espiritual, ou no mínimo se colocam em uma posição de admissão da possibilidade de existência de algo em um nível transcendental, ainda inexplicado. Essa última alternativa já é, por si só, um progresso, frente ao caráter puramente materialista da ciência no passado.

O pensamento humano, saindo dos dogmas indiscutíveis e adentrando nos atributos da razão e do raciocínio, volta a dar seus passos no caminho da evolução, fortalecendo-se ainda mais no que acredita porque compreende, porque percebe as razões e conseqüências.

Caminhando nesse sentido chegará o dia em que negar a existência de Deus ou da alma, dentre outras coisas, será algo ridículo e inaceitável, assim como hoje o é afirmar a Terra como sendo o centro do Universo.
Autor: Francisco Amado


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