Porcentagem



 

 

PORCENTAGEM

de Romano Dazzi

 

A porcentagem é uma das piores invenções da raça humana.

Fruto de uma mente doentia, ela revela, sob o seu aspecto racional,

uma intenção ilícita, desleal; pior: destruidora, vingativa.

Com certeza foi inventada por alguém muito, muito rico.

Alguém capaz de meter a mão do patrimônio do outro, apoderar-se dele, e ter pronta uma justificação matemática para o seu crime.

A porcentagem é apoiada em sólida teoria lógica, inteligente e desumana.

 

Imagine que você ganhe 1000 reais por mês; o seu chefe ganha 3000, naturalmente.

Os preços aumentam, tudo custa mais caro, a cada dia, ou a cada mês.

Alguém, lá em cima, calcula, recalcula, mede, controla, e decide:

Os preços aumentaram 100%.

Automaticamente (se tudo correr bem) seu salário sofre um aumento de 100% (normalmente dão apenas uns 60%, mas vamos ser otimistas).

Passa então de 1000 para 2000.

O do seu chefe, por uma questão de justiça, passa de 3000 para 6000.

 

Parece tudo igual, mas não é.

Ambos gastavam 400 para comer.

Do seu salário sobravam 600 ; no do o chefe , 2600

Agora gastam 800 .

Do seu salário sobram 1200; mas no do chefe, 5200

Quanto maior a distância inicial e quanto maior a porcentagem, maior o fosso, o buraco, a valeta que se forma entre os dois.

Resultado; você fica mais pobre e achatado, ele mais rico e abastado. 

É uma regra sem nenhuma moralidade.

O que deve ser considerado são as suas necessidades básicas.

Não interessa se o pão aumentou 30%, os iates só aumentaram 3%; e os Mercedes até baixaram de preço; não há nada que os associe, nada que possa ser usado como metro, entre os dois.

Então: as necessidades básicas aumentaram de 30% ?  Não:

Aumentaram de certo valor, não de uma porcentagem.

Quanto vale 30% no bolso de um trabalhador?  500 reais ? 

Este é o valor que cada um precisa receber a mais, para manter inalterado seu poder de compra das necessidades básicas.  

Um valor igual para todos; e nada mais.

 Ambos, o rapaz das entregas e o diretor do banco, vão receber um incremento de 500 reais e comprar com ele as mesmas coisas básicas de antes.

Inflação não é lucro, riqueza, patrimônio de ninguém.

É uma doença, uma febre.

São os que têm dinheiro, que provocam a inflação.

Se o mercado consegue vender hoje por 200 o que vendia ontem por 100, começa a inflação.

O pobre não vai comprar, claro, a não ser que pense em dar um calote.

Mas para o rico, coberto pela lei da porcentagem, não faz diferença alguma.

Estou errado?

 

                         


Autor: Romano Dazzi


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