Ponto Frio: bastidores da aquisição



O presidente do conselho do Pão de Açúcar, Abilio Diniz, abriu ontem (dia 08 de junho) a reunião plenária, que recebe mais de 300 gerentes e diretores do grupo às 7h30 das segundas-feiras, anunciando que tinha duas boas notícias:

"A primeira é que o nosso time [o Pão de Açúcar Esporte Clube] passou à segunda divisão [do Campeonato Paulista de futebol]", disse Diniz. "A outra é que, por ser importante persistir, inconformar e perseguir os objetivos, nós compramos o Ponto Frio."

As respostas foram sonoros aplausos, num clima de torcida organizada.

Após um ano de negociações, a compra foi assinada na madrugada de domingo para segunda-feira. A demora foi causada pelo fato de Lily Safra e os representantes legais de seu filho, Carlos Monteverde, morarem em Londres e Genebra, onde foram feitas as assinaturas finais.

"Foi um caso em que as três partes ganharam: os acionistas tiveram a liquidez que queriam, o Pão de Açúcar conseguiu atender a estratégia de buscar a liderança na área e o Ponto Frio passa a ter a vantagem de pertencer ao grupo que entende do setor", diz Manoel Amorim, presidente do Ponto Frio.

Ainda na manhã de ontem, Claudio Galeazzi, diretor-presidente do grupo Pão de Açúcar, reuniu-se com a equipe do Ponto Frio no Rio de Janeiro. O time de transição terá três funcionários de cada lado. Amorim será um deles e, pelo Pão de Açúcar, estarão os diretores Jorge Herzog, Orivaldo Padilha (que comanda a equipe de fusões e aquisições) e Marise Araújo (que foi diretora de marketing do próprio Ponto Frio).

Segundo Diniz, a rede não deverá ser voltada a públicos específicos. Ele afirma que as vendas e a rentabilidade da Extra Eletro são maiores que as do Ponto Frio e que não será necessário um reposicionamento da marca.

Histórico
Fundado em 1940, o Pão de Açúcar abriu o capital em 1995, quando passou a ter ações negociadas em Bolsa. Em 2003, associou-se à rede Sendas, líder no Rio de Janeiro. Desde então, as duas mantêm uma relação nem sempre marcada pela cordialidade, de acordo com especialistas do setor.

Em 2005, foi criada uma nova holding e o controle do Pão de Açúcar passou a ser dividido igualmente entre Abílio Diniz e o grupo francês Casino. A associação, vista inicialmente pelo mercado como um primeiro passo para a desnacionalização da rede, assegurou ao grupo o fôlego necessário para buscar novas aquisições.

Ao anunciar a operação, o empresário Abilio Diniz confirmou o objetivo por trás da compra do Ponto Frio: o domínio do varejo de eletrodomésticos, considerado há cinco anos como prioritário para o grupo. A operação representa passo decisivo para consolidar a estratégia.

A partir da aquisição do Ponto Frio, os eletrodomésticos vão responder por 26% das vendas totais do grupo – antes era 10%. Já os alimentos, que tinham 76%, agora respondem por 62% do faturamento.

A vingança do Pão de Açúcar
Voltar a ser a maior varejista do Brasil, posto conquistado com a aquisição do Ponto Frio (Globex), tem certamente um sabor de vitória para os controladores do grupo Pão de Açúcar, Abilio Diniz e o grupo francês Casino. Desde que o consultor Claudio Galeazzi assumiu presidência executiva da varejista, há um ano e meio, a empresa passou por um jejum de investimentos e um austero programa de corte de custos, o que a levou a recuar enquanto os seus maiores concorrentes, o Carrefour e o Wal-Mart, avançavam no país.

A empresa assistiu, em 2007, a ascensão do Carrefour, que assumiu a liderança do varejo brasileiro com a aquisição do Atacadão, maior rede do país de "atacarejo", modelo que mistura atacado e hipermercado. Comenta-se que a perda do negócio para o rival francês teria desagradado, e muito, o Casino.

Com o Ponto Frio, que faturou R$ 4,6 bilhões em 2008, o Pão de Açúcar passa a ser uma companhia com receita anual de R$ 26 bilhões e mais de 1.200 lojas, sendo 455 delas do Ponto Frio. A rede se torna a segunda maior do país em eletroeletrônicos, atrás da Casas Bahia. No total, serão 79 mil funcionários.

O Carrefour faturou no passado R$ 22,5 bilhões e o Wal-Mart, R$ 17 bilhões. É possível que ambos façam novas aquisições no Brasil, mas já não restam muitas empresas com vendas anuais de mais R$ 4 bilhões à venda.

A decisão do Pão de Açúcar de ampliar a sua participação em produtos não alimentícios foi tomada cinco anos atrás, disse Diniz. Ele observa que os não alimentos são indutores de vendas dos hipermercados. Além disso, com a volta do crédito e o deslanche da construção civil, o mercado de móveis e eletrodomésticos tem perspectivas favoráveis.

"Não vamos deixar de vender o feijãozinho e a batata. Continuaremos sendo merceeiros", ressaltou. Mas ele ponderou que o crescimento na casa de dois dígitos registrado pelas lojas do Extra Eletro no primeiro trimestre chamou a atenção. A companhia estima que esse segmento de eletroeletrônicos gire R$ 68 bilhões, cifra que pode chegar a R$ 134 bilhões até 2013. Desse total, a nova rede de eletroeletrônicos vai deter cerca de 10%, com faturamento de R$ 7 bilhões, atrás apenas das Casas Bahia, com R$ 14 bilhões.

Segundo Claudio Galeazzi, há uma grande sinergia entre as duas empresas - sinergia que, trazida a valores presentes, equivale a R$ 500 milhões. O número inclui ganhos de escala, parceria com fornecedores e união de serviços financeiros, entre outros. Ainda conforme Galeazzi, a sobreposição de lojas é muito pequena e a perspectiva de redução de quadro de pessoal também.

O papel de Galeazzi
A aquisição tem a marca de Galeazzi, para quem o varejo de eletroeletrônicos já é bastante familiar. O consultor foi responsável pela reestruturação da Lojas Americanas, processo que se transformou em uma espécie de cartão de visitas. Agora, porém, a bem-sucedida recuperação do grupo Pão de Açúcar parece ser um dos maiores trunfos do consultor.

Entre os analistas de investimentos, espera-se que Galeazzi consiga fazer, finalmente, a virada do Ponto Frio. E essa foi uma das principais promessas feitas ontem por Galeazzi e a equipe do Pão de Açúcar ao justificar a aquisição do Ponto Frio aos analistas.

Para Galeazzi, haverá resultados imediatos como os ganhos de escala, maior poder nas negociações com os fornecedores e nas compra de espaço para propaganda.

Uma equipe chefiada por três executivos do Pão de Açúcar - Orivaldo Padilha, Marise Araújo e Jorge Herzog - foi designada para cuidar da integração do Ponto Frio. Marise já foi diretora do Ponto Frio e Herzog foi um dos responsáveis pela recuperação da rede Sendas, no Rio.

Bastidores da aquisição
A engenharia financeira criada pelo Pão de Açúcar transformou a fraqueza de sua proposta inicial pelo Ponto Frio no diferencial que lhe deu a vitória na disputa pelo negócio: usar suas ações como parte do pagamento.

No total, incluindo os 30% dos acionistas minoritários, o Pão de Açúcar avaliou o Ponto Frio em pouco mais de R$ 1,1 bilhão. Desse montante, 70% ficarão com os controladores, exatos R$ 824,5 milhões.

Mas o máximo que a empresa de Abílio Diniz desembolsará em dinheiro é o valor de R$ 668 milhões, já considerando os minoritários - que têm direito a receber 80% do valor pago por ação aos controladores.

Há, porém, complexidade de sobra nos movimentos societários que permitirão esse resultado.

Inicialmente, Lilly Safra, principal acionista do bloco de controle do Ponto Frio, só queria receber dinheiro pela venda da companhia. Já para o grupo de Abílio Diniz era um fator crucial poder pagar pelo menos parte da operação em ações. Desde o começo, suas propostas tinham uma mistura de dinheiro e ações.

Apesar dessas divergências iniciais, o modelo desenvolvido ofereceu consenso, após uma dura e intensa negociação que fez com que Abílio Diniz decidisse ampliar sua oferta no fim da semana passada. Ainda assim, o preço total do Ponto Frio na operação ficou um pouco abaixo do valor de mercado, que pelo fechamento de sexta-feira era de R$ 1,2 bilhão.

A estrutura desenhada permitiu, ao mesmo tempo, que o grupo de Abílio Diniz pudesse ser mais agressivo na proposta financeira, pois só uma parte será paga em dinheiro, e ainda que fosse garantido o lucro de Lilly Safra, reduzindo parte do risco da parcela paga com ações.

No pagamento pelos 70% das ações do controle, apenas R$ 373,4 milhões serão pagos à vista, em dinheiro - ou 45,3%.

Os minoritários do Ponto Frio terão acesso rigorosamente às mesmas condições que Lilly Safra - na proporção de 80% conforme garante a Lei das Sociedades por Ações. Poderão receber R$ 7,58 por ação, sendo 45,3% pagos à vista e o restante em quatro anos, mais CDI. Ou poderão usar essa fatia restante de 54,7% para comprar PNB no aumento de capital. Nesse caso, terão o prêmio de 10%, mas não a garantia na conversão desses papéis em PNA de ter em mãos o equivalente a R$ 40 mais correção por ação.

Caso nenhum dos minoritários aceite, o Pão de Açúcar terá uma dívida de R$ 168 milhões com os acionistas para pagar em quatro anos. Mas se todos aceitarem, o desembolso total na operação cai de R$ 668 milhões para R$ 500 milhões, referentes às parcelas à vista do bloco de controle e dos minoritários.

O pagamento em ações livrou o Pão de Açúcar de se endividar para fazer a aquisição. Trazia, porém, um inconveniente: se essas ações fossem vendidas rapidamente, fariam despencar o valor dos papéis do grupo. Para evitar isso, a solução foi determinar que as ações só podem ser vendidas em etapas: 6 meses, 12 meses e 18 meses. Se as ações subirem no período, Lily Safra terá um ganho. Se caírem, ela garante a rentabilidade no período igual ao dos juros bancários, o CDI. O contrato foi costurado pelo escritório de fusões e aquisições Estáter, de Pércio de Souza, e pelo escritório de advocacia Souza, Cescon pelo Pão de Açúcar, e Goldman Sachs e Mattos Filho, pelo Ponto Frio.

O processo de aquisição foi agitado, com muitas idas e vindas. "Começamos o diálogo [com o Ponto Frio] um ano atrás, mas enfrentamos inúmeras dificuldades", afirmou Abilio Diniz, presidente do conselho do Pão de Açúcar. A crise no fim de 2008 atropelou o processo de venda, que foi retomado mais intensamente pelo Ponto Frio nos últimos quatro meses.

E os outros interessados? 
Até a última sexta-feira (dia 05 de junho), o Magazine Luiza, da empresária Luiza Trajano, ainda tinha chances concretas de vencer a disputa em torno da aquisição da rede Ponto Frio, controlada por Lily Safra e seu filho, Carlos Monteverde. A empresária estava empenhadíssima em concretizar a compra e meses atrás havia se deslocado até a Europa para uma reunião cara a cara com Lily. Mesma iniciativa teve o empresário Abílio Diniz, do grupo Pão de Açúcar.

Assessorado pelo banco JP Morgan, o Magazine tinha tudo certo para uma proposta de pagamento 100% em dinheiro, com preferiam os vendedores. O fundo americano Capital, que já é sócio do Magazine, faria uma injeção de capital. Um empréstimo bancário também já estava fechado para ajudar a financiar a compra. O Unibanco, sócio na financeira LuizaCred (e também parceiro financeiro do Ponto Frio), estava disposto a colaborar no pacote ao ampliar o valor pago pela parceria. O aporte de capital do fundo americano diluiria Luiza Trajano no negócio, mas esse não era um obstáculo.

O banqueiro André Esteves havia desistido de tentar adquirir o Ponto Frio depois de acertar a recompra do Banco Pactual e, com isso, a rede nordestina Insinuante perdera seu parceiro e ficara sem o fôlego financeiro necessário. Logo, a concorrência havia diminuído.

Depois de conversas que pareceram promissoras na sexta-feira, o Goldman Sachs, assessor financeiro de Lily Safra na transação, silenciou durante o fim de semana. A equipe do Magazine Luiza não sabia, embora pudesse desconfiar, mas a explicação para o silêncio é que os vendedores haviam decidido fechar com o Pão de Açúcar. Goldman Sachs e e o escritório de advocacia Mattos Filho, que também assessorou os vendedores, trabalharam sem parar no sábado e no domingo para concluir a operação anunciada ontem.

O Magazine Luiza foi atropelado pelo Pão de Açúcar, que nos últimos dez dias acelerou as negociações, disposto a levar a rede de eletroeletrônicos.

Como foi fechada a operação
A operação foi fechada no domingo (dia 07 de junho) de forma bastante inusitada para uma aquisição desse porte. Com os controladores morando na Europa e não dispostos a se deslocar até o Brasil para a assinatura dos contratos, o jeito foi fazer tudo de forma remota, com auxílio da internet. Se optassem por enviar os documentos à Europa, o fechamento da operação poderia ser retardado em até uma semana. Esse era um risco que ninguém estava disposto a correr, especialmente o comprador.

Os representantes do Pão de Açúcar e seus advogados do escritório Souza Cescon reuniram-se no domingo na sede da boutique de assessoria financeira Estáter, que costuma trabalhar para a rede de varejo nessas operações, e lá fizeram a assinatura dos contratos. Do outro lado do Atlântico, os vendedores assinaram os documentos na Suíça e enviaram, por e-mail, as cópias em formato PDF. A troca dos originais devidamente assinados só ocorrerá nos próximos dias.

Controladores afastados do dia-a-dia da operação
As negociações para a venda da rede Ponto Frio foram marcadas por outro aspecto bastante inusitado. Embora controlassem a rede Ponto Frio, Lily Safra e Carlos Monteverde não tinham nenhuma participação na gestão da empresa. A completa falta de ingerência dos controladores ficou clara, em março, no episódio em que a companhia optou por revelar, à revelia deles, a existência das negociações para venda do controle. Fatos como esse levaram alguns interessados a supor que a gestão da empresa estava alinhada com algum dos grupos compradores. A companhia tinha, inclusive, um escritório de advocacia independente dos controladores na negociação, o Barbosa, Müssnich & Aragão.

A segregação afetou profundamente as negociações, gerando boa dose de estresse. Principalmente porque os controladores não quiseram se responsabilizar por eventuais problemas ou contingências que pudessem ser encontrados posteriormente pelo eventual comprador, algo comum em qualquer aquisição. O argumento dos vendedores era que não podiam responder por atos praticados pela diretoria do Ponto Frio.

A situação exigiu extrema cautela dos compradores e pode ter sido decisiva para o Pão de Açúcar vencer a disputa. Com um sócio americano a seu lado, menos familiarizado com o mercado brasileiro e os riscos envolvidos, o Magazine Luiza tinha menos flexibilidade para a elaboração dos contratos nos termos em que queriam os vendedores.

Como está o Ponto Frio
O Pão de Açúcar demonstrou interesse em preservar o modelo de negócio do Ponto Frio, que será mantido como uma empresa separada, e avançar na venda de eletroeletrônicos e móveis, ao contrário do que se especulava no mercado. Alguns consultores apostavam que o grupo pretendia converter as lojas do Ponto Frio na bandeira Extra Perto.

Segundo Diniz, num primeiro momento não serão feitas demissões e as operações serão mantidas independentes, bem como as marcas Ponto Frio e Extra Eletro. A expectativa dos ganhos de sinergia é estimada em R$ 500 milhões, nos próximos 12 meses.

No segmento de varejo de eletrônicos (linha marrom) e eletrodomésticos (linha branca), o Pão de Açúcar passa a ter participação próxima a 10% das vendas, o que o coloca na segunda posição, atrás da Casas Bahia, cuja fatia é estimada em 16%. Esse setor teria movimentado R$ 68 bilhões no ano passado e, pelas estimativas do Pão de Açúcar, deve atingir R$ 134 bilhões em cinco anos. Expansão que estaria ancorada no aumento da renda e ao crescimento do mercado imobiliário.

A aquisição significará a incorporação de 455 lojas à rede do Pão de Açúcar, que passará a 1.050 pontos de venda. O grupo paulista também passa a ter lojas em quatro novos estados (SC, RS, MT e ES).

Os ganhos de escala, logística, e nas áreas de serviços financeiros, também serão imediatos. Essa sinergia deve representar ganhos de R$ 500 milhões nos próximos 12 meses. Diniz evitou falar em cortes, mas admitiu que a integração pode resultar em demissões no alto escalão. A expectativa é de que poucas lojas do Ponto Frio sejam fechadas, com a preservação da marca e das operações da rede.

Apesar do desgaste nos últimos anos, pelo desinteresse dos acionistas, o Ponto Frio é marca forte ainda em certas regiões: — A Casas Bahia distanciou-se muito desse segmento nos últimos anos e, com a compra, o Pão de Açúcar passa a ter um braço forte para concorrer. O que é bom para o mercado, fornecedores e consumidores.

A compra do Ponto Frio vai assegurar ao Pão de Açúcar a condição de um dos principais varejistas na área de eletroeletrônicos do país, com presença em 18 Estados e no Distrito Federal. A grande vantagem, de acordo com consultores do setor, é que o grupo passa a operar em estados nos quais não estava presente, como Espírito Santo, Mato Grosso, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Concentração
A compra do Ponto Frio pelo Grupo Pão de Açúcar terá que passar por uma análise detalhada dos órgãos de defesa da concorrência. Depois do anúncio do negócio, as empresas têm prazo de até 15 dias úteis para apresentar o primeiro informe sobre as bases da operação. O documento precisa ser encaminhado, ao mesmo tempo, ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), à Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça; e à Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda.

Tanto a SDE quanto a Seae vão apresentar ao Cade, em 30 dias, seus pareceres. Neles, o enfoque será o mercado relevante onde a nova companhia vai atuar - no caso o mercado de varejo de eletrônicos e eletrodomésticos. Desta análise, constarão aspectos técnicos e econômicos da fusão.

As primeiras análises apontam que o resultado dessa fusão será a recolocação do Pão de Açúcar na liderança do varejo brasileiro. O faturamento anual do grupo após a fusão é estimado em de cerca de R$26 bilhões.

A escolha do conselheiro do Cade com a função de relator do processo é por sorteio. Além dos pareceres da Seae e da SDE, o relator recebe também exames oriundos da Procuradoria do Cade e do Ministério Público Federal.

O relator tem prazo de 60 dias para analisar a operação. Porém, este prazo pode ser suspenso se ele quiser mais informações. Isto significa que a contagem recomeçará novamente.

Após concluído o estudo do relator, ele apresenta seu voto ao plenário do Cade que pode aprová-lo, mas também outro conselheiro pode pedir vista do processo. O conselho pode aprovar a operação com restrições.

Em média, uma fusão desse porte leva 130 dias para ser analisada pelos órgãos de defesa da concorrência. No Cade, têm sido gastos cerca de cem dias, além dos 30 dias nas secretarias dos Ministérios da Fazenda e da Justiça.

Expectativas para o futuro
Com a aquisição, o Pão de Açúcar prevê conquistar 10% de participação no varejo de eletroeletrônicos, que movimenta R$ 65 bilhões por ano. De acordo estimativas do grupo, a Casas Bahia detém uma participação de mercado de 16%. O Magazine Luiza possui outros 3% de participação.

Além do varejo convencional, a aquisição também aumenta o poder de fogo do Pão de Açúcar na internet, passando a ser também a segunda maior varejista online do país, atrás apenas da B2W. As duas pontocom - Extra e Ponto Frio - continuarão separadas neste primeiro momento.

Apesar de passar à frente do Carrefour, o concorrente que mais deve sentir o impacto da aquisição é a Casas Bahia, maior rede especializada em eletroeletrônicos do país. Pela primeira vez, a varejista terá um competidor na vice-liderança capaz de ameaçá-la.
 
O crescimento do poder aquisitivo das classes B e C e a perspectiva de expansão do crédito imobiliário foram alguns dos motivos que levaram o Pão de Açúcar a fechar a compra, negociada durante o último ano.

Na estimativa do grupo, as vendas de eletroeletrônicos deverão dobrar em cinco anos, com crescimento anual de 15% ao ano, e atingir R$ 134 bilhões em 2013. Com a compra, o Pão de Açúcar passa a deter 10% desse mercado. Segundo a consultoria Accenture, a Casas Bahia é dona de 16% das vendas totais, de acordo com números de 2007.

Outro motivo para a compra do Ponto Frio foi o fato de que a maioria das vendas é feita em lojas especializadas. Hoje, cerca de 10% dos consumidores vão a hipermercados na hora de comprar eletrodomésticos e eletroeletrônicos, enquanto mais de 85% vão a redes que só vendem esses produtos. Ao adquirir a rede e seus pontos de venda, o Pão de Açúcar pode avançar na maior fatia desse mercado.

Estratégias
Do ponto de vista estratégico, o Pão de Açúcar teria algumas razões para concretizar esta compra do Ponto Frio: a alta competitividade na área de supermercados, onde as inovações não são frequentes e as vantagens competitivas ficam mais ou menos do jeito que estão. Dificilmente alguém vai ganhar uma participação de mercado muito maior, e os movimentos estratégicos são facilmente limitados: se o Pão de Açúcar abrir uma loja nova, o Carrefour abre outra.

Então, deve ser uma estratégia para diversificar os negócios, uma vez que existe alguma possibilidade de algum tipo de sinergia entre as duas redes: o Pão de Açúcar já opera nos segmentos de linha branca – geladeiras, freezers, máquinas de lavar – e de linha marrom – equipamentos de áudio e TV –, que já são os focos do Ponto Frio. Como o Pão de Açúcar já apresenta alguma expertise, a operação seria uma forma não só de diversificar o negócio numa atividade correlata, como também de estender para o Ponto Frio uma filosofia empresarial que já faz parte do escopo do Pão de Açúcar.

Seria uma extensão da loja de eletrodomésticos do supermercado. E isto dentro de um quadro em que o Brasil é mercado potencialmente muito interessante para a comercialização desse tipo de bem, porque existem classes sociais mais baixas, que anseiam por isso, se houver meios de financiamento. É um mercado que hoje é suprido, basicamente, pelas compras nos próprios supermercados e nas Casas Bahia e Ricardo Eletro, que são os grandes players concorrentes. Então, comprando uma rede que já existe e é tradicional, em vez de fazer uma marca nova, já se parte de uma certa vantagem competitiva. Com isso, aumenta o poder de barganha junto aos fornecedores, porque já é um grande comprador. É uma oportunidade e uma opção estratégica bastante interessante, que deve movimentar os mercados de alguma forma dentro de alguns anos. E melhorar a competitividade, também do ponto de vista do consumidor.

A posição de Lily Safra
Ao vender o Ponto Frio para o Pão de Açúcar, Lily Safra, maior acionista individual da rede, conclui um projeto delineado há 10 anos por ela e o enteado Carlos Monteverde, que também tem importante participação na holding Globex. Lily atualmente vive em Londres, e já tinha uma fortuna pessoal estimada em R$ 1,6 bilhão pelo jornal Sunday Times, que lista anualmente os 100 moradores mais ricos do Reino Unido. Este ano, ela ocupava a 87ª posição nesse ranking.

Com a venda, a "completamente brasileira" Lily, como gosta de frisar, deu mais um passo no objetivo de preparar a sucessão dos filhos Adriana e Eduardo, nascidos de seu casamento com o empresário argentino Mario Cohen. O terceiro filho, Claudio, morreu em um acidente em 1989.

Lily já havia se desfeito de outro valioso ativo em agosto, quando protagonizou a maior transação imobiliária do mercado de alto luxo, ao vender sua casa na Cote D?Azur, na França, por 500 milhões (R$ 1,2 bilhão) para um bilionário russo. "Ela é uma pessoa exigente, criteriosa, pragmática e gosta das coisas bem feitas", conta um empresário próximo a ela quando era casada com Edmond Safra, um dos fundadores do Banco Safra. O banqueiro morreu em 1999, durante incêndio no apartamento em que vivia com Lily, em Mônaco.

Lily, hoje com 76 anos, é filha de imigrantes judeus russos e nasceu no Rio Grande do Sul. Apesar de modestos, os pais não economizaram em sua educação. Desde cedo, aprendeu a falar inglês e francês. Gostava de se vestir com elegância e frequentar festas. Foi numa delas que conheceu o primeiro marido, Cohen, com quem se casou aos 19 anos. Foi também numa festa que conheceu Alfredo Monteverde, dono da rede Ponto Frio, que já tinha um filho de outro casamento, Carlos.

Lily deixou Cohen para se casar com Monteverde. Em 1969, ele foi encontrado morto em casa, com um tiro no tórax. Investigações policiais concluíram se tratar de suicídio.
Havia pelo menos oito anos que a ex-controladora do Ponto Frio, a bilionária socialite e filantropa gaúcha Lily Watkins Cohen Monteverde Bendahan Safra queria se desfazer do controle do Ponto Frio e, após ensaios frustrados, em março anunciou nova tentativa, concretizada agora.

A gestão da rede sempre foi permeada por desavenças pessoais. Em 1998, a revista "Exame" noticiou que, à época, havia dez anos que Lily e o então sócio, Simon Alouan, não trocavam "sequer uma palavra". A ruptura ocorrera, segundo a revista, em 1989, com a morte do filho Cláudio num acidente de carro, após uma suposta discussão com Alouan. Lily não o perdoou.

Com fortuna estimada em US$ 1 bilhão, segundo a revista "Forbes", que lhe rende a posição de 701ª pessoa mais rica do mundo, Lily também é a única brasileira a aparecer entre os cem moradores mais ricos do Reino Unido, conforme o jornal britânico "Sunday Times".

Em um ano, ela passou do 156º para o 87º lugar no ranking dos mil habitantes mais ricos do país. Seu patrimônio não subiu, segundo o jornal. Seus "concorrentes" é que perderam bilhões na crise.
 
Bibliografia
Jornal Valor Econômico de 09 de junho de 2009
Jornal Folha de S. Paulo de 09 de junho de 2009
Jornal de Brasília de 09 de junho de 2009
Jornal do Brasil de 09 de junho de 2009
Jornal O Globo de 09 de junho de 2009
Jornal O Estado de S. Paulo de 09 de junho de 2009

 

 


 

 


Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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