Contexto Sócio-político Da Educação Atual



A educação tem sido muito utilizada em nosso país principalmente em época de eleições, como campanha eleitoral, fato que se explica pelo grito que nossa população tem liberado em busca de um direito que lhe é constitucional.
O princípio de que a educação é dever do Estado, não implica no imobilismo da população e de cada indivíduo: a educação é também dever de todos, pais, alunos, comunidade. Com essa mobilização da população em defesa do ensino público, é possível pressionar ainda mais o Estado para que cumpra o seu dever de garantir a educação pública, gratuita e de bom nível para toda a população. Uma população acostumada a receber um bom serviço se mobilizará para continuar a tê-lo. (GADOTTI, 1995: 7-8)
Novamente, o tema é alvo de especulação política, onde uma necessidade para a viabilização do desenvolvimento do país se resume em promessas miraculosas de campanha. Nesse aspecto Darcy Ribeiro em seu texto publicado como prólogo da Revista “carta: falas, reflexões memórias” (1995), Educação e a Política, afirma que,
A rica direita brasileira, desde sempre no poder, sempre soube dar, aqui ou lá fora, a melhor educação a seus filhos. Aos pobres dava a caridade educativa mais barata que pudesse, indiferente à sua qualidade (...). (RIBEIRO, 1995:2)
É fato, que para conseguirmos alcançar a solução de diversos problemas enfrentados em nosso país, é necessário que se façam investimentos reais no processo educacional, mas a situação é muito mais complexa do que se pensa, pois não se implanta uma política de educação investindo somente em ensino superior, sendo que a realidade que mais afeta o país nesse sentido está na qualidade do ensino dispensado ainda no processo de escolarização básico, e em quantos alunos concluem esse ensino.
Assim, embora a redefinição de políticas de financiamento e alocação de recursos para a educação brasileira seja urgente e necessária, é preciso pensar de forma articulada num conjunto de indicadores que permita configurar uma escola e um ensino de qualidade numa perspectiva que abranja insumos, clima e cultura organizacional e avaliação. Ou seja, é preciso pensar numa política de melhoria da qualidade de ensino que articule insumos e processos. (OLIVEIRA & ARAÚJO, 2005:20)
A abertura de mais vagas em faculdades, e a disponibilização de bolsas para o ensino superior, abre portas para uma discussão que deveria ser a maior preocupação de nossos representantes, se o ensino público básico, fundamental e médio fosse realmente de qualidade seria necessário um processo separado de abertura de vagas para os alunos que concluem essas etapas no ensino público? Se fosse de qualidade eles não poderiam concorrer em igualdade com alunos provenientes de ensino privado?
A baixa qualidade de nossa educação pode ser observada sob diversos aspectos, onde o principal personagem, é o aluno, que vive a margem da discriminação social por depender de uma escola pública que não satisfaz a necessidade de escolarização para sua inserção de forma igualitária na sociedade, que cada dia tem se tornado mais competitiva. A realidade das instituições públicas de ensino é assustadora, visto que, em muitas instituições nem profissionais preparados para professarem o ensino possuem, e quando os tem não valorizam nem o tempo que é dispensado para o exercício de sua profissão, quanto mais a qualidade daquilo que ensinam. Salários baixos, conteúdos retrógrados, falta de infra-estrutura, são algumas das dificuldades enfrentadas pela educação brasileira, e que entra governo e sai governo continua no mesmo patamar de desenvolvimento. Simplesmente acabar com o analfabetismo não resolve o problema, pois visão crítica de mundo não se adquire assinando o nome ou fazendo contas, se desenvolve através de discussões mais maduras sobre a realidade que acontece a sua volta, mas penso que o problema está justamente no medo da conscientização.
Diante disso, cabe uma discussão sobre o atual padrão de atendimento no ensino brasileiro, bem como uma reflexão sobre alguns aspectos do padrão de qualidade que almejamos para assegurar o direito à educação não apenas do ponto de vista do acesso. (OLIVEIRA & ARAÚJO, 2005:17)
É louvável que se invista em inserção do jovem no ensino superior, mas a grande parte deles não consegue concluir no ensino fundamental, pois precisam colocar o pão em casa, e a necessidade fala mais alto do que a vontade de continuar na escola, mesmo porque a escola nem sempre traz consigo atrativos para a permanência de seus alunos, e isso pode ser observado pelo grande número de menores em idade escolar envolvidos em situações de violência e criminalidade, sem contar a expansão do uso de drogas na realidade vivida por eles.
Com efeito, os números apresentados indicam que, apesar da ampliação do acesso à etapa obrigatória de escolarização observada nas últimas décadas, o direito à educação tem sido mitigado pelas desigualdades tanto sociais quanto regionais, o que inviabiliza a efetivação dos dois outros princípios basilares da educação entendida como direito: a garantia de permanência na escola e com nível de qualidade equivalente para todos. (OLIVEIRA & ARAÚJO, 2005:13)
Diante da realidade que nossa sociedade vive e dos resultados que estamos colhendo em nosso dia-a-dia, é evidente que a educação tão discutida não está sendo tão priorizada, pois a cada dia estamos perdendo ainda mais nossos valores morais, o que pode ser observado por tantos escândalos políticos, que também estão sendo vivenciados por nossos jovens, investir em educação é muito mais do que abrir vagas, é ter responsabilidade com a formação de um novo cidadão que integrará o processo social, e será o principal personagem na busca pelo desenvolvimento e transformação da realidade vergonhosa que nosso país tem vivido, e esse investimento só trará frutos se for feito a partir da semente, ou seja, a educação é um todo, e só alcançará sua finalidade se valorizada em sua totalidade.
Sobre esse assunto, Paulo Freire enfatiza bem a verdadeira condição da escolarização democrática vivida pela sociedade atual, onde afirma que,
Um desses sonhos para que lutar, sonho possível mas cuja concretização demanda coerência, valor, tenacidade, senso de justiça, força para brigar, de todas e de todos os que a ele se entreguem, é o sonho por um mundo menos feio, em que as desigualdades diminuam, em que as discriminações de raça, de sexo, de classe sejam sinais de vergonha e não de afirmação orgulhosa ou de lamentação puramente cavilosa. No fundo, é um sonho sem cuja realização a democracia de que tanto falamos, sobretudo hoje, é uma farsa.
(FREIRE, Paulo. Política e Educação, 2001.)






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREIRE, Paulo. Política e Educação, 2001

GADOTTI, Moacir. Educação e Política algumas reflexões atuais. II Congresso Sul-Brasileiro da Qualidade na Educação. Joinville-SC. 02 de maio de 2005.

OLIVEIRA, Romualdo Portela de. ARAÚJO, Gilda Cardoso de. Qualidade do Ensino. Revista Brasileira de Educação, n.º 28. São Paulo: 2005

RIBEIRO, Darcy. A educação e a Política. Revista Carta: falas, reflexões, memórias, n.º 15. São Paulo: 1995

Autor: LIVIA ALVES BRANQUINHO


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