NO ALTAR PROFANO DA TEVÊ POLÍTICOS DÃO A LARGADA PARA 2010



A liberdade de expressão é um imprescindível direito constitucional (Art. 5, IX), portanto, indiscutível. Comunicar-se, um direito inalienável de todo ser vivo. Reverberar idéias, uma decisão pessoal. "Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão. Esse direito inclui a liberdade de receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios, sem interferências e independentemente de fronteiras" diz-nos o artigo dezenove da Declaração universal do direito do homem (1948).

A propaganda em si é, então, o recurso que se tem para tornar comum a muitas pessoas "princípios, idéias, conhecimentos ou teorias", e traz implícito também o significado de "atravessar o espaço ou um corpo; transmitir-se". Assim, fazemos propaganda sempre que nos deslocamos para o exterior, nos pronunciamos, transmitimos nossos conceitos e opiniões. Importa, no entanto, lembrar que toda comunicação se inicia na mídia primária, ou seja, no corpo. Desse modo, antes de transmitirmos nossas mensagens, transmitimo-nos a nós mesmos, por nosso olhar, gesto, voz, postura. Por isso, sempre falaremos mais do que intentamos expressar. Do conflito entre o que pensamos dizer e o que realmente dizemos (mesmo sem saber), redundam os mal-entendidos, ou a deturpação do que se pensou (mas não se disse) transmitir; os ruídos na comunicação que, muito mais vezes do que imaginamos, a tornam impossível. Costuma ser bastante reveladora a simples observação dessa mídia primária como filtro (quase infalível) da informação propagada, pois, mesmo as intenções que pensamos ocultar evidenciam-se e, evidenciando-se, expõe-nos sem retoques.

Não há como negar; somos mesmo o povo do gingado inigualável, do drible surpreendente e inimaginável, da ardilosidade e do ufanado "jeitinho brasileiro". E assim, se há lei que possa ser (mal) interpretada (e burlada), por que não usar a criatividade e dar-se um "jeitinho"?

A Lei Eleitoral em vigor veda a propaganda política, em período pré-eleitoral (artigo 44 e 45) no ano da eleição, mas, nada diz se esse período anteceder ao ano eleitoral. O que faz o "jeitinho brasileiro", então? Simplesmente, programas televisuais permanentes, diários, ou semanais, antecedentes ao ano e período eleitoral. Simples assim: repentinamente, surgem do nada (R$!) "novos profissionais" de tevê, novos apresentadores, sempre dispostos a "dialogar" com seus eleitores (ops! telespectadores!). Porque, partindo da premissa de que a exposição midiática de si mesmos e de suas opiniões sobre tudo (?!) mantém aquecida a imagem no consciente das pessoas, descobriram seus talentos e julgam-se capazes de exercerem uma nova profissão: a de apresentadores de programas televisivos. As emissoras estão aí mesmo disponíveis - nesses tempos de crise – e até, carentes de recursos humanos e financeiros. Com isso, eles aparecem, no profano altar da TV, com seus ritos e sua proféticas verdades, iniciando suas campanhas políticas um ano antes do prazo estipulado por lei. É aí que entra a criatividade e o jeitinho brasileiro de ser. Como a lei se refere à vedação da propaganda, apenas, em período pré-eleitoral no ano da eleição, tudo se pode fazer antes de 1º. de julho do ano eleitoral, ou seja, já agora, em 2009.

De certo que a utilização de mensagens (de políticos) descabidas, desproporcionais, abusivas e infratoras veiculadas nos outdoors (também vedado no período eleitoral) e a gremilização de programas televisivos, tendo, como âncoras, velhos (e novos) personagens políticos e que, obviamente, buscarão no pleito de 2010 suas eleições e reeleições, são estratégias de atuação em cima do tempo que a lei eleitoral não regula. É lícito? É. É ético? Não, não é. Além da imposição da propaganda eleitoral fora de hora, áreas profissionais são invadidas, receptores desses programas (nós) são submetidos ao evidente despreparo profissional dessas pessoas para o exercício de uma profissão regulamentada (Sindijor; Sintercom/MS, alô!) e nossa - já tão pobre - grade de programação regional é poluída com bobagens e redundâncias sem fim.

É certo que a mídia eletrônica é e sempre será a grande vitrine para todo tipo de exposição, mas, vale lembrar que a mídia primária vai sempre traduzir e dizer mais do que se pensa ou que se quer dizer e, sob essa perspectiva, exposição demais pode ser fatal.

Alguns dos nossos futuros candidatos, afoitos que são, não querem esperar 2010 que está muiiiiiiiito longe! Se é permissivo, por que não começar logo suas campanhas? Candidatos (sem $), eleitores, TRE, "eles" - com seus jeitinhos, alguns, com suas faltas de talento e todos com suas campanhas já deram a largada. Sobre essa questão, o chargista de um jornal local traduziu muito bem o senso comum, metaforizando essa invasão midiática: travestidos de super-heróis, alguns já foram identificados. Contudo, proteja-se, eleitor, porque, se é fato que não conseguimos nos esquivar dos outdoors, nossos aparelhos de rádio e nossas tevês podem, devem e merecem ser desligados. E, não nos esqueçamos, se observarmos bem, por intermédio de suas mídias primárias, suas intenções poderão ser identificadas e suas figuras inesquecíveis, para 2010. Simples questão de saúde mental e cidadania. Exercitemos.

Maria Ângela Coelho Mirault Pinto – doutora e mestre em Comunicação e Semiótica
http://mamirault.blogspot.com


Autor: maria angela mirault


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