Pesquisa de campo no bairro de Bento Ribeiro



Pesquisa de campo no bairro de Bento Ribeiro

Justificativa:

O presente trabalho tem como objetivo apresentar o processo histórico de formação do bairro de Bento Ribeiro, no subúrbio do Rio de Janeiro a partir da inauguração da estação ferroviária de mesmo nome, tendo em vista que este acontecimento foi o fator fundamental para o surgimento do bairro.

Introdução:

A pesquisa de campo de geografia será para um grupo de alunos do 5º. Ano do ensino fundamental, a partir de uma abordagem sócio-histórica do bairro de Bento Ribeiro. O tempo total da aula será de uma hora e trinta minutos

Para melhor elaborar a pesquisa levei em consideração o capítulo "Estrutura, Processo, função e Forma como Categorias do Método Geográfico" do livro "Espaço e Método" de Milton Santos; como base para uma "leitura geográfica do bairro", o livro "As Ruas do Rio" de Brasil Gérson, para colher material sobre a história da formação do bairro e o livro de João do Rio "A Alma Encantadora das Ruas" para apreender o bairro com um olhar poético e aprender o que é flanar e notar as mudanças ocorridas com a modernidade.

"flanar é a distinção de perambular com inteligência." ( Do Rio, p.51)

Portanto levarei as crianças a um passeio em que elas possam notar as mudanças ocorridas no bairro, fazê-los notar o que o passado representa e notar as pinceladas modernas que o bairro recebeu ao longo do tempo.

Em relação ao texto de Milton Santos, as definições de forma, função, processo e estrutura foram essenciais para o entendimento do nascimento e das mudanças ocorridas no bairro ao longo dos anos.

Em um rápido passeio pelo bairro para poder encontrar o melhor trajeto para a pesquisa, pode-se notar a presença de prédios antigos e novos coexistindo harmonicamente lado a lado nas imediações da estação ferroviária, pólo comercial do bairro.

A construção de novas formas não implica na destruição das formas antigas, isso posto leva-nos a crer que mesmo com a necessidade da implantação de novas funções não urge a necessidade de construção de novas formas o que ocorre é a imposição de novas funções a velhas formas e essas estruturas co-habitarão o mesmo espaço sem prejuízo para a evolução do espaço.

Santos:

"Assim sendo, resta-nos tão-somente uma

mistura de formas novas e velhas, de estruturas criando novas formas mais adequadas

para cumprirem novas funções ou se adequando a formas velhas, criadas

em instâncias passadas." (p.55)

A formação do bairro

O advento da linha férrea, em 1858, trouxe para a região ares de modernidade, contudo a estação só foi inaugurada em 1914, a pedidos de moradores da região. À época, o presidente do Brasil era O Marechal Hermes da Fonseca, que deu seu nome à estação vizinha, inaugurada em 1913, no ano seguinte, a pedidos de moradores da localidade, seria inaugurada a estação de Bento Ribeiro, pelo então prefeito, o General Bento Ribeiro.

Portanto o bairro surgiu e cresceu em volta da linha férrea que cortava a região, dividindo-a em dois lados, assim como os demais bairros, sejam da linha da Central, sejam do ramal da Leopoldina, característica muito peculiar dessas localidades e que não existe em bairros da zona norte, como Tijuca e Grajaú, zona sul, zona oeste, como os bairros de Jacarepaguá.

No século XIX, a região onde se encontram os bairros de Bento Ribeiro e Oswaldo Cruz chamava-se Rio das Pedras em virtude de ser cortada pelo rio das Pedras, que nasce no morro do Valqueire e desemboca no rio Acari, que por sua vez é afluente do rio Meriti que deságua na baía de Guanabara.

No final do Século XIX, existiam na região algumas estradas que serviam às fazendas da localidade. A principal era estrada do Sapê, que ligava a região à Estrada Real de Santa Cruz, após a inauguração da linha férrea a estrada foi cortada ao meio e de um lado mudou de nome para estrada Henrique de Melo, em homenagem ao dono daquelas terras, e do outro permaneceu o antigo nome.

Outra estrada de grande importância era a estrada do Queimado, que ligava a estrada do Sapê, na altura onde hoje tem o nome de Henrique de Melo ao Largo do Sapê. Essa estrada também foi cortada pela ferrovia e hoje, do lado esquerdo, em direção a Santa Cruz, é Rua do Queimado e do lado direito é José de Queiroz. Terceira em importância, a estrada Sapopemba perdeu a maior parte de seu longo percurso com os loteamentos feitos na localidade.

Ainda no final do século XIX, foram abertas junto à ferrovia as Ruas João Vicente e Carolina Machado, essa do lado direito, aquela do lado esquerdo da ferrovia.O político Luiz Manoel Machado Júnior, de grande influência na freguesia de Irajá, a qual pertencia à região de Rio das Pedras foi o incentivador desse empreendimento.

Luiz Machado era filho de Carolina Machado e batizou a rua prestigiando a sua mãe e a Rua João Vicente recebeu esse nome em homenagem ao Médico português João Vicente Martins, pioneiro da homeopatia no Brasil

Carolina Machado era viúva de Luiz Machado e dona das terras em que hoje ficam o bairro de Campinho e parte do bairro de Madureira, nas suas terras os escravos foram libertos no início da década de 1880, por influência de seu filho, que pertencia ao partido republicano. Portanto antes da assinatura da Lei Áurea.

Apesar de a ferrovia existir desde 1858, o muro só foi construído em 1918, acabando por dividir o bairro de vez. Para as pessoas transitarem de um lado a outro do bairro foi feita uma abertura no muro na altura da estrada do Queimado. Somente em meados da década de 20 foi construída uma ponte, que recebeu prontamente o nome de Vermelha pelos moradores, pois a mesma era pintada dessa cor. Até hoje os moradores a chamam por esse nome.

Em julho de 1930, foi inaugurado o viaduto para a passagem de carros, denotando mais um aspecto da modernidade, esse viaduto era chamado pelos populares de "ponte de cimento armado". Em 2000, no mandato do prefeito Luiz Paulo Conde foi inaugurado outro viaduto, o novo, em virtude do viaduto velho, assim são chamados os dois viadutos atualmente, não suportar mais a demanda de carros em mão dupla. O viaduto Velho tem, hoje, mão da Rua João Vicente para a Rua Carolina Machado e o Viaduto Velho a mão inversa.

Com isso devemos notar a forma e sua significação social, na adaptação do viaduto velho. Santos:

"A cada mudança, fruto de novas determinações

de parte da sociedade, não se pode voltar

atrás pela destruição imediata e completa

das formas da determinação precedente. Tal

destruição não só é por vezes indesejável e dispendiosa,

como ainda é de fato impossível." (p.55)

Uma curiosidade em relação à construção do viaduto Novo é que ele começou a ser construído no final de 1995, final do mandato do Prefeito César Maia e só foi inaugurado em 2000, final do mandato do Prefeito Luiz Paulo Conde, ambos pertenciam ao mesmo partido, o PFL, e o próprio César Maia sucedeu ao Conde no mandato seguinte.

Em Bento Ribeiro existem duas igrejas católicas a de Santa Isabel e a de São Sebastião. Em 1917, moradores católicos se reuniram a fim de fundarem uma igreja em homenagem a Santa Isabel, por existir na região uma estrada com esse nome, hoje ruas Paracuru e Pacheco da Rocha, essa estrada terminava no largo do Sapê.

O terreno doado para a construção ficava na esquina da Rua João Vicente e Estrada de Santa Isabel, a capela ficou pronta no mesmo ano. Em 25/4/1934 a capela foi elevada a categoria de matriz e em 1964, foi transferida para a Rua Leopoldina Seabra. A igreja de São Sebastião foi fundada em 18/8/1931 na Estrada de Santa Isabel, hoje Rua Pacheco da Rocha, a Igreja era subordinada à paróquia de Santa Isabel, a partir de 1934 tornou-se paróquia própria. Em 1985 a paróquia foi transferida para a Praça Manágua, onde havia as ruínas do antigo mercado COCEA, uma cooperativa de alimentos. Uma característica desses novos tempos é o surgimento de hiper-mercados que acabaram por motivar a extinção de muitos dos pequenos mercados de bairro. No lugar onde ficava a Igreja na Rua Pacheco da Rocha, funciona até hoje o colégio João XXIII, onde será o ponto de partida do nosso passeio.

Todos os dias 20 de janeiro, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, uma procissão toma as ruas do bairro, arrastando uma verdadeira multidão de fiéis e curiosos para acompanhar a imagem do santo. A procissão termina na própria Praça Manágua onde dezenas de barraquinhas aguardam os fiéis com comidas e bebidas diversas.

Outro aspecto dos novos tempos é o desaparecimento dos cinemas do bairro, o cine Bento Ribeiro (1925-67), situado à Rua João Vicente, 1.167 e o cine Caiçara (1957-82), que ficava ao lado do Bento Ribeiro, no número 1.143, nos prédios hoje funcionam igrejas protestantes, fenômeno que ocorre em toda a cidade. Os cinemas, hoje, funcionam dentro de Shopping Centers, limitando o acesso à cultura de parte da população.

Nesse ponto podemos fazer a leitura de Santos.

"Cada forma sobre a paisagem é criada

como resposta a certas necessidadesou

funções do presente."(p.54)

Dessa maneira pode-se afirmar que para entendermos esse fenômeno temos que analisar o período histórico em que ocorreu a mudança. A construção de grandes centros de comércio, denominados de "shopping centers", no início da década de 1980, atraiu muitas pessoas em busca da facilidade e da segurança que esses locais ofereciam fez com que a crescente demanda proporcionasse uma maior oferta de serviços, portanto esses centros começaram a ter salas de cinema para seus freqüentadores que por sua vez não freqüentavam as salas de seus em seus bairros. Hoje em dia existem até grandes aglomerados de salas na Barra da Tijuca que atraem milhares de pessoas todos os fins de semana oriundos de todos os bairros da cidade.

As antigas salas, obviamente tiveram de fechar por falta de recursos e com o crescente número de fiéis das igrejas protestantes, os lideres dessas seitas conseguiram acumular mais dinheiro e então compraram as salas desocupadas para montarem seus templos e expandir sua fé.

Roteiro da pesquisa de campo:

O ponto de partida será no colégio João XXIII, na Rua Pacheco da Rocha, esquina com a Rua Teresa Santos. Antes de tudo pedirei aos alunos que assim como João do Rio, eles têm que olhar o bairro com inteligência, isto é, bastante atenção as diferenças existentes no bairro. Em relação a história de Bento Ribeiro, começarei explicando o antigo nome da Rua Pacheco da Rocha, Estrada de Santa Isabel e que nesta localidade funcionava a antiga igreja de São Sebastião. Logo em seguida, tomaremos a Rua Teresa Santos em sentido à Rua José de Queiroz, lá chegando pararemos para outra explicação toponímica, agora acerca do antigo nome dessa rua, antiga Estrada do Queimado e da sua importância, pois a via ligava o bairro à principal via do Rio de Janeiro, a Estrada Real de Santa Cruz, atual Estrada Intendente Magalhães, na vila Valqueire sem me furtar de dizer da importância da Estrada Real no que diz respeito ter sido ela a principal rota de viajantes e mercadorias para o interior, inclusive para São Paulo e Minas Gerais.

No final da Rua José de Queiroz, chegaremos à Rua Carolina Machado em frente à Ponte Vermelha, explicarei o motivo do nome da construção e a história da pessoa que dá nome à rua. Andaremos um pouco mais até chegarmos próximo ao viaduto velho e pedirei às crianças para olharem ao seu redor e perguntar se eles conseguem notar a coexistência de formas velhas e novas nas construções existentes, como por exemplo, as duas padarias que existem nesse trecho percorrido; ambas em prédios antigos, porém uma, recente (existe mais ou menos há dois anos) com seu interior moderno e a outra da década de 1940, com seu interior original preservado e que ainda podemos notar no seu exterior a permanência da chaminé, que outrora avisava aos moradores a hora do pão fresco. E ainda pode-se observar os viadutos.

Nesse ponto explicarei a eles a história da formação do bairro e todas as mudanças ocorridas até o momento. Não atravessaremos a linha férrea por motivo de segurança dos alunos, mesmo assim a aula não sofrerá prejuízos, tendo em vista que posso explicar a história das ruas sem atravessar. Dessa maneira nos colocaremos em uma posição que possamos ver os prédios do outro lado da ferrovia, já que o lado da Rua João Vicente é mais alto do que o lado em que se realiza o passeio e assim os alunos poderão observar as formas e compará-las.

Em seguida passaremos sob o viaduto em direção à Rua Antônio Raposo a caminho do ponto de chegada, a Praça Manágua. Ao longo do trajeto pedirei aos alunos que observem as construções por onde passamos e notem as diferentes arquiteturas. Um bom exemplo é atentarmos às formas das residências; as mais antigas têm o telhado revestido de telhas de cerâmica e as mais novas com telhas de amianto ou alumínio. No que tange o formato do telhado; as mais antigas possuem um telhado de cumeeira no qual uma trave, no alto do telhado, serve de apoio às extremidades superiores dos caibros e as mais novas com telhados de meia-água, onde o telhado é levemente inclinado para uma das extremidades da casa a fim de escoar a água. Em todo o percurso, o que nos ajudou muito foi que em muitas residências antigas possuem a data da construção no topo da fachada principal, além das inscrições muito comuns à época como "Deus proteja esta casa", Lar doce lar", "Lar de Maria" etc.

A chegada à Praça Manágua será após uma hora e quinze minutos. Serão reservados os minutos finais da aula-campo para explicar o que era o COCEA, o antigo mercado; a fundação da igreja de São Sebastião, na antiga Estrada de Santa Isabel, atual Rua Pacheco da Rocha, até sua transferência para a praça.

Referências bibliográficas:

DO RIO, João; A Alma Encantadora das Ruas; Organização Raúl Antelo. – Cia das Letras, 1997

GÉRSON, Brasil; as Ruas do Rio.

SANTOS, Milton; Espaço e Método – 4ª Ed.– São Paulo: Nobel, 1997


Autor: Daniel Martins


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