O fruto do vosso ventre



o fruto do vosso ventre

duma bolinha redonda nasci

que alegria, a vida me iniciava

          eu começava a ser gente.

Lentamente fui  crescendo, eu me vi

era uma flor que então desabrochava

          eu germinava em semente.

 

Eu começava a crescer, que alegria!

Eu iria ser gente brevemente

          Ah! Quanta felicidade!

Qualquer hora iria ver o dia

a isto eu aspirava ardentemente

          seria toda bondade.

 

Os meus pobres braços logo cresceram

engrossaram-se, bem grandes ficaram

          oba! Que imenso prazer!

Os meus pais com carinho me zelaram

eu queria ser bonita, deixaram

          sozinha então eu crescer.

 

Eu criei pernas, ó quanta beleza!

Pela treva do espírito lancei-me

          eu ainda estava só

era tão grande minha sutileza

e sorrindo muito, uma vez sentei-me

          da mamãe eu tinha dó.

 

Debalde que exauriu-me o desalento

eu cantava em oração - nosso Senhor

          nascia o coração.

Vivia ao corpo da mamãe adentro,

mas lá no fundo eu já sentia o amor

          eu fui uma solução.

                            

A minha pele altiva e serena

eu sentia nascê-la lentamente

          eu era só um objeto

com espírito já soava agora

a vida já seria eternamente

          eu já era um ser concreto.

 

De sangue materno então eu vivia

tinha sede de um sol, a luz eu ver

          eu  tinha já uma vida

então sozinha eu muito sorria

era toda uma ilusão do meu ser

          eu estava enternecida.

 

E nos fulgores os meus pés cresceram

pernas criaram, coração também

          muito alegre eu rezava

os meus órgãos todos apareceram

aos bons anjinhos eu dizia amém,

          pois eu tanto os amava.

 

De mamãe, eu já queria sair

era nova, nasceria ao tempo

          eu teria que nascer

como a flor eu teria que florir

e mostrar minhas pétalas ao vento

          então iria crescer.

 

Queria ver o sol e o firmamento

e pular com as crianças pelo mundo

          uma então eu seria

eu sonhava tão ainda em fragmento

já sentia uma vida em profundo

          que bom! Logo nasceria.

 

Nasceria dum corpo e um espírito

eu vivia num mundo idolatrado

          eu vivia na ilusão.

Eu teria uma sombra, o perispírito

de alma pura, porém bem trabalhada

          mas u’a vida de ação.

 

Minha pele era doce e aveludada

era um ninho de amor e de carinho,

          pois eu  tinha já amor

tinha já minhas mãos tão delicadas

do mundo já me via no caminho

          eu não temia a dor.

A mente começava a trabalhar

e fisicamente eu já era um ser

          mas ninguém me conhecia

ansiosa pois, que nome iam dar

para mim que na vida iria ser

          uma amor de criancinha?

 

Meu corpo bonito cresceu tão grande,

porém eu vivia em um grande escuro

          muito embora já vivia

do tempo passado, tinha saudade

atrapalhava-me a frente, o muro

          que para nada servia.

 

Ah Eu vivia na mamãe, pulando

ela, talvez, nem mesmo pressentia,

          mas eu agora lá estava.

Muitas vezes via a mamãe cantando,

mas quando mamãe chorava eu sofria

          e assim eu me magoava.

         

Queria comer só coisa gostosa

fazia em mamãe um grande desejo

          e ela então muito comia

e eu ficava então toda prazeirosa,

mas eu então tinha um grande desejo

          e da mamãe eu sorria.

 

Às vezes via algo tocar em mim

tinha medo, pois eu era tão pura

          e eu tudo me envergonhava,

mas via minha mãe sorrir assim

eu estava mesmo era tão insegura

          ah! Só então eu chorava.

 

O meu alegre corpinho só crescia

sentia uma grande felicidade,

          pois eu tinha já uma vida

queria olhar o infinito, sorria

ó eu queria ser só bondade,

          mas eu não era querida.

 

Pois assim, quando eu menos esperava

quando bem eu sorria alegremente

          assim quando eu já amava

recebi tudo que não desejava

assim e muito triste e pesadamente

          o meu ser já declinava.

 

 

No útero, e no seio materno

dose de veneno então recebi

          toda a minha bela sorte

fechada em um cubículo interno

agonizei-me tanto, eu sofri

          a mamãe deu-me a morte.


Autor: Henrique Araújo


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