Adeus Lenin



 

            O filme “Adeus Lênin” de Wolfgang Becker se passa na antiga Alemanha Oriental socialista no período da queda do muro de Berlin. Conta a história de uma família cuja mãe havia sido supostamente abandonada pelo marido, com isso ela se dedica inteiramente a causa social. Durante um protesto contra o socialismo ela vê seu filho Alex envolvido com os manifestantes e sofre um ataque cardíaco, entrando em coma profundo. Oito meses depois ela acorda em uma Alemanha unificada sob os moldes capitalistas, logo, Alex se lança na empreitada em esconder a verdade sobre a queda do Muro de Berlin, visto que o coração dela estava frágil e não podia sofrer nenhum choque. Ele transforma seu apartamento em um museu da Alemanha socialista resgatando vários produtos do antigo governo.

            Fazendo uma abordagem histórica, o filme mostra como o capitalismo se difunde rapidamente numa sociedade, onde ate mesmo o senso comum vai se transformando, modificando os valores das pessoas. A irmã de Alex, por exemplo, decide trabalhar numa rede multinacional de hambúrguer e se casa com um sujeito do lado ocidental cheio de vícios materialistas. Depois que a mãe volta para casa ela é obrigada a usar as roupas que vestia antes da queda do muro de Berlin e diz: “nem acredito que usava isto”; o que era muito comum numa Alemanha socialista virou coisa do passado ou mesmo de outro mundo. Quando Alex vai ao mercado procurar “produtos socialistas” para sua mãe ele é indagado de onde veio, como se estivesse em outro planeta um verdadeiro alienado no espaço em que vive. Durante uma discussão com o cunhado sobre os valores socialistas, este afirma que “vocês ocidentais se preocupam demais”, pois no mundo capitalista o sujeito deve se preocupar apenas consigo mesmo, os problemas que afligem camadas mais necessitadas não dizem respeito a vida do sujeito individual. Uma boa frase para definir a moralidade capitalista é: “Siga a sua vida que a dos outros não importa”.

            Segundo o diretor Wolfgang Becker, o amor que Alex tinha pela sua mãe a ponto de protegê-la com uma mentira é uma alusão a submissão das pessoas ao Estado, nas palavras do diretor: "Alex utiliza algo que o Estado usava o tempo todo, porque o próprio Estado era baseado em mentiras". Mas como a arte funciona sob a lógica da livre interpretação, foi discutido em sala que a medida que o personagem resgata produtos da antiga Alemanha, ele também passa a refletir sobre a moralidade socialista, onde a mesma se preocupa com o bem da maioria. Em se tratando de poder político o homem sempre será corrupto e mentiroso, mas quando um estado se baseia em valores individualistas ele acaba negligenciando a própria lógica de sua existência, pois um estado existe por que existe um grupo de pessoas que fazem parte de um meio e que irremediavelmente precisam conviver umas com as outras. Rousseau já dizia que propriedades privadas dizem respeito a interesses particulares, portanto um estado deve funcionar no sentido de preservar aquilo que a própria ciência democrática se baseia, que é o bem comum.


Autor: Walter Lira Soares


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