Dr. Dimitri - N° 08



Parte I – Das estranhas ocorrências que na casa de Julius sucederam

 

Após uma reforma na residência de Julius Monteiro, aprendiz do Dr. Dimitri, ele notara que ali havia outrora uma mesa esguelha, que pendia ora pra um lado, ora para outro. Ela ficava na cozinha, ao lado de um refrigerador. Era uma mesa muito famosa na família, pois já estava em posse dela há quatro gerações e, estranhamente, não mais jazia ali.

O homem pensou logo que o objeto havia sido roubado. Contudo, no outro dia, ao despertar de um sono leve, avistou a velha mesa ao lado do refrigerador, como antanho lho havia. Cogitou que fosse imaginação sua, que a mesa nunca havia desaparecido. Não obstante, naquela mesma manhã, encontrara uma pistola sobre um sofá. Percebeu que ela não lhe pertencia. Começou então a examinar quem poderia estar ali e abandonar uma arma de fogo. Observou por detrás dos móveis e confirmou que ninguém jazia por ali. Passou-lhe então examinar a pistola para ver se estava munida, mas encontrara-lhe vazia. 

Após algum tempo escutara um barulho rijo que vinha do banheiro do seu quarto, adentrou no cômodo e observou que tudo estava tranquilo.

Julius achou tudo muito estranho, no entanto seguiu à delegacia de polícia.

 

 

Parte II – Eis que surgem muitas hipóteses acerca do Caso Wesley da Silva

 

A pequena Isabel afrouxava os nervos do Sr. Kosovski. Ela ficava todo o tempo escutando música, estava sempre animada e perguntava pela senhorita James. Dimitri não tinha muito ânimo para a pequena, mas sempre se recordava dela.

Kristin James não estava integralmente isenta das acusações acerca da indecifrável morte do famoso assassino Wesley da Silva. Questionava a acusação o motivo que o réu teria para sequestrar a atriz. Contudo o Dr. Dimitri defendia que a senhorita fora vítima do acaso e, encontrando-se com o assassino do seu sobrinho, tornou-se testemunha de um crime dito banal, mas que causara repercussão pelo desejo de vingança do réu, o Sr. Isaias, que, por má fé, sequestrara a gloriosa atriz.

O comissário Batista, mesmo apreciando a autoridade e instrução do Sr. Kosovski, acreditava que ele estava envolvido emocionalmente com a ré e entendeu que neste caso Dimitri não conseguiria êxito, porque para todos os que compreendiam o caso, a inocência da atriz era algo utópico. Assim sendo, o comissário marcou uma reunião com o detetive e o assunto, segundo anunciara, seria o sucesso do Caso Wesley da Silva.

Quando recebera a informação acerca da reunião, Dimitri tomava o seu chá da tarde fitando a sua sobrinha, que jazia em fronte. A menina sorria assistindo a um vídeo que era exibido num aparelho portátil.  Isabel balouçava a cabeça no ritmo da música que tocava. O seu tio não podia escutá-la, porém compreendia os gestos. Disse-lhe que ela deveria continuar naquela companhia, pois tinha uma tarefa urgente. Entrementes a menina insistiu para que fosse junto ao nosso herói. Ele não aceitaria se não fosse por uma questão de preservação da sua morada, já que sabia que a jovem trataria de convidar alguns dos seus amigos para uma patuscada juvenil.

Ao chegar à delegacia acompanhado da pequena, o Sr. Kosovski deixou a jovem em companhia de John, grande especialista em falsificação. Logo adentrou na sala do comissário Batista com uns olhos concentrados, fitando o comissário e pedindo que lhe informasse que reunião se desenrolaria. Começou, no entanto, o Sr. Batista:

— Sabes que lhe estimo muito, não é Sir. Dimitri Kosovski? Por isso o que vos irei falar fica entre nós, e leve tudo ao profissionalismo, como deve ser. É sobre o Caso Wesley da Silva... — interrompeu Dimitri: — Pois bem, é sobre este caso que gostaria de discorrer. — Não poderia ser sobre outro caso — prosseguiu o comissário em sua prática. — Diga-me, neste ínterim, o que lhe causa apoquentação acerca do assassínio. Permita-me citar a ré, a senhorita Kristin James. Temos muitas evidências que a coloca como a culpada pelo assassínio, e como não encontramos a arma do crime e o sequestrador não quer cooperar, estamos diante de um caso já consumado. Resta-nos encontrar provas que evidenciam o que é mais provável.

— Ora, caro comissário Jorge Batista, não poderei questioná-lo acerca do que confias, porque és mais arguto que eu. No entanto, não posso deixar de confiar nesta grata atriz, aquela mesma que cooperara com a tragédia de Shakespeare — mencionava uma peça teatral intitulada “Antônio e Cleópatra” da qual encenava a atriz num anfiteatro, em Medley. — Confio que ela seja vítima do acaso.

— Sinto muito, caro amigo, mas o meu dever é tirá-lo do caso, uma vez que estará aqui brevemente o detetive Meirelles.

Dimitri não pôde acreditar que o seu maior inimigo cuidaria do caso. Meirelles era um eterno galã e um oponente imediato. A sua reação foi refrear o seu chefe, mas felizmente refletiu e disse simplesmente:

— Posso estar fora do caso, todavia continuarei a buscar pistas que provem o contrário do que todos pensam.

O comissário tentou aludir todo o episódio ao investigador Kosovski:

— Pense, meu amigo. O pingente que encontrara, a cama bagunçada, o sequestro tão estranho... Essas evidências comprovam o que as probabilidades admitem. Não deveria confiar tanto nesta mulher, ela me provoca arrepios, ainda por ser tão encantadora.

As palavras fizeram com que Dimitri lembrasse do caso da Condessa de Medley. Conhecera Daiane Lopez e apaixonara-se pela figura, contudo logo se decepcionara em alto grau. Mas admitia que a atriz nunca o trairia assim, ela não lhe parecia sorrateira. Apesar de outrora ter questionado a credibilidade da senhorita, agora mais do que nunca confiaria na tão aclamada atriz.

— Ouço mil palermices de uma só vez. Estou a serviço da senhorita Kristin James e não posso fazer abandonar-se a confiabilidade. Vá, antigo amigo comissário, ponha ao topo o meu velho opositor para que lhe venha uma resposta imediata do caso!

Batista deu de ombros e não disse mais nada. E então Dimitri se foi soltando fogo pelas ventas.  

 

 

Parte III – Julius e o perigo iminente

 

Julius foi à procura do nosso herói. Encontrou-lhe com os nervos à flor da pele. Dimitri recebeu-lhe friamente e então o aprendiz começou a falar:

— Desculpe incomodá-lo, senhor, mas estão acontecendo coisas estranhas em minha casa. Não posso compreender que fantasmas me assolam em tão bons tempos.

— Ora, és tolo, mas não sabia que o eras a ponto de crer em fantasmas, bom camarada — disse o detetive quase que protestando.

— Não é o caso, senhor. Estou em apuros porque aparecem e desaparecem coisas em minha casa. Sinto a presença de alguém que se esquiva furtivamente à minha visão.

O Sr. Kosovski não prestou muita atenção no que dizia o companheiro. Pensava no caso que envolvia a sua amada que, aliás, iria visitá-lo dali a três horas. Todavia, para não fingir adverso, disse:

— Estou muito ocupado, Julius; depois nos falamos acerca destes episódios.

O aprendiz estava alarmado com as ocorrências que sucederam e, por isso, insistiu de tal maneira que o investigador acabou aceitando ir até a sua residência. Ao que chegaram ao local, avistaram um vulto que perpassava por detrás da casa. O Sr. Kosovski tratou de averiguar o que estava sucedendo. Sacou uma arma que jazia num coldre que estava oculto por debaixo da sua calça, em torno da coxa esquerda e partiu pelos fundos da residência de Julius. O aprendiz resolveu então não seguir o mestre.

Dimitri Kosovski aproximou-se do encalço, mas ele desapareceu à sua visão, como que por encanto. Percebeu que o vulto era rápido demais e muito esperto. Voltou-se para Julius e disse-lhe:

— Caro camarada, estamos à beira de um precipício. Ali esteve a nossa aparição, que se foi. Não o vi o semblante, nem a fisionomia. Valha-me Deus!

O aprendiz pediu ao Dr. Dimitri que entrasse em sua casa; contudo disse-lhe o investigador que deveria se apressar, pois havia deixado a sua sobrinha na delegacia de polícia. E então Julius adentrou em sua residência com um ar pouco desconfiado. Averiguou toda a localidade e não avistou nada de estranho. Resolveu sentar-se sobre um canapé e se pôs a ler um livro intitulado “O Alienista”.

Após cerca de quarenta minutos Julius adormeceu sobre o canapé. A seguir aproximou-se dele uma figura incomum, que ousou prender-lhe as mãos e os pés, fazendo-lhe de forma tal que o homem não despertou ao ser executado a peripécia. Ao que o aprendiz abriu os olhos, eles foram ofuscados pelo vulto, que apontara-lhe ao mirar uma luz tão intensa que ele reagiu de imediato, gritando e baixando a cabeça de abrupto. Sentiu que as mãos estavam atadas e teve um súbito e passageiro estupor. O fantasma em seguida cortou-lhe o pulso direito, mostrando-se perigoso e cruel.

Principiou em Julius uma hemorragia intensa que não fora tratada pelo agressor. Muitas lágrimas podiam ser vistas declinarem dos olhos do aprendiz, que temia uma morte iminente.    

 

 

Parte IV – Dimitri e as novas especulações

 

Ali estava a senhorita James. Acabara de chegar de Medley. A justiça autorizou para que ela fosse à metrópole encerrar uma temporada da peça teatral baseada na obra de Shakespeare.

Ao chegar à Cidade do Brasil, encontrou-se com Dimitri, que estava em companhia da sua sobrinha Isabel. Ela recebeu o detetive com um gracioso abraço e a menina sorriu para ela proferindo:

— Gosto muito da senhorita, e gosto também do tio Nicolas. Sabe, querida, não gosto de chamá-lo como o chamam, Dimitri, ou doutor Dimitri; prefiro chamar-lhe tio Nicolas, porque não me parece ser russo.

— Que bom, Isabel, prometo que passarei a nomeá-lo Querido Nicolas — retrucou Kristin James com um belo sorriso no rosto.

Neste momento lembrou-se Dimitri do que lhe elucidara o comissário Batista acerca da credibilidade de Kristin. Cogitou a possibilidade de ela estar escondendo algo primordial. Pensando assim, após chegarem à casa do detetive, este indagou à senhorita quando os dois estavam sós:

— Poderia me esclarecer uma coisa, querida? — a atriz confirmou com um simples gesto. — Estava imaginando como foi que havia perdido o pingente de ouro, se não retratara isto à defesa. E o que queria o sequestrador ao realizar este crime? Ele não teria desaparecido? Sei que parece estranho, mas é necessário saber estas e outras coisas.

— Sinto muito, não me recordo do pingente, nem como o perdi. A verdade é que o infeliz queria uma coisa.

Dimitri fitava a atriz com um olhar fixo e desafiador e ela prosseguia:

— Ao me abordar, disse para que eu ficasse quieta, depois me levou a um depósito; lá me inquiriu acerca de uma bolsa em que continha a quantia de cinco milhões.

O Sr. Kosovski não poderia deixar de questionar à ré:

— E por que não me disseste isso? Por que não contara a ninguém? E sabes onde está localizada a bolsa?

A atriz respirou profundamente e respingou:

— Não posso responder a estas perguntas. Agora está claro para a Vossa Senhoria?

Dimitri confirmou com um ar ainda misterioso.

 

 

Continua.


Autor: Ronyvaldo Barros dos Santos


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