A Grande Mentira do Turismo



Enquanto lia um dos artigos de opinião de Cristovam Buarque, uma relação de fatos e pensamentos me vinha à cabeça confirmando tudo que já li sobre o turismo e tudo que presenciei recentemente na Praia do Forte, Bahia.

Para Buarque, a grande mentira do Brasil foi prometer que a riqueza se distribuiria e erradicaria a pobreza. Assim, os dirigentes brasileiros fizeram com que o povo trabalhasse e produzisse para os ricos na esperança de que, um dia, seriam todos ricos também.

Essa grande mentira é usada, ainda hoje, por muitos defensores do turismo que o trazem apenas como multiplicador de renda, gerador de empregos e protetor patrimonial, afirmando que os benefícios da atividade pra a comunidade receptora são inquestionáveis.

Iludidos com esse discurso, os autóctones trabalham para servir bem o turista em todos os detalhes: na limpeza do quarto, no café da manhã, nos postos de informações, nas lojinhas de souvenir e nos restaurantes, servindo e produzindo produtos com os quais, muitas vezes, não tem contato na sua realidade. São pessoas que vivem em subúrbios, excluídas da área turística, sem conforto algum em casa, sem uma alimentação digna e com o padrão de consumo bastante diferente dos turistas. Mesmo assim, eles procuram servir sempre com um sorriso no rosto e mantém a esperança de que um dia possam ser turistas também.

O tempo passa, os investimentos em infra-estrutura hoteleira crescem, a especulação imobiliária aparece e a comunidade, que já não consegue mais sobreviver com o alto custo de vida, acaba tendo que vender seu espaço.

A prometida riqueza não é alcançada porque a concentração de renda prevalece entre os empresários, e os investimentos, que já possuem isenção fiscal, preferem importar produtos a movimentar a economia local. Surgem então as drogas, a prostituição e as ondas de violência contra os turistas. Apenas essa aversão aos visitantes é o que ainda não acontece na Praia do Forte.

É fato que o turismo tem um grande potencial para gerar renda para a comunidade, podendo também servir como instrumento de preservação cultural e ambiental. Mas para que isso aconteça é necessário um planejamento sério que beneficie primeiramente a sociedade receptora, capacitando-a para decisões, profissionalizando-a para os cargos operacionais e de comando, respeitando suas opiniões, incentivando suas manifestações culturais e preparando-a para minimizar os impactos ambientais e sociais a que estão expostas.

Os inúmeros benefícios do turismo só serão sentidos pela comunidade se ela participar de todo o seu desenvolvimento, ajudando a minimizar todos os seus malefícios. Pensar nela é pensar no sucesso constante da atividade turística local, pois como dizem: um local não será bom o suficiente para os turistas se não o for para a sua comunidade.

Luana A. Silva.


Autor: Luana Silva


Artigos Relacionados


PolÍtica ComunitÁria

Leitura: Aliada Da Vida Profissional

O Chão

Conscientização E Valorização Da Cultura Local Com Base Numa Política Sustentável

Preconceito No Brasil: Ele Existe

As Pontuais Mudanças Trazidas Pela Lei 11.689/08 = Júri

A Paz Como Realidade