BRICS buscam seu lugar ao sol



As quatro maiores economias emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China (os Brics), vão atuar de forma coordenada na reforma do sistema financeiro e exigem mais poderes para os países em desenvolvimento nas instituições financeiras internacionais e na Organização das Nações Unidas (ONU). A decisão foi tomada na noite de ontem, ao término da primeira cúpula dos Brics, em Ecaterimburgo, na Rússia.

O objetivo da estratégia é reforçar a posição dos quatro países, em especial para a próxima reunião do G-20 (grupo dos 20 países mais industrializados), marcada para Pittsburgh, nos Estados Unidos, em setembro. Antes, será aplicada no encontro dos sete países mais ricos e a Rússia (G-8), no mês que vem, na Itália.

A cúpula do Bric, termo criado em 2001 pelo economista-chefe do banco de investimentos Goldman Sachs, Jim O"Neill, em referência a Brasil, Rússia, Índia e China, terminou com breves comentários do presidente russo, Dmitri Medvedev, e um comunicado que exigiu mais poderes para os países em desenvolvimento em instituições financeiras internacionais e na Organização das Nações Unidas (ONU).

“Estamos comprometidos em avançar na reforma das instituições financeiras internacionais para refletir as mudanças na economia mundial”, disseram os países no comunicado conjunto. “Os países emergentes e em desenvolvimento precisam ter voz e representação maiores nas instituições financeiras internacionais”.

O anúncio da cooperação foi formalizado na declaração oficial do evento e reafirmado em entrevistas dos líderes políticos do bloco. O texto, com 16 itens, é conclusivo sobre as pretensões dos Brics em relação aos parceiros industrializados. "As economias emergentes e em desenvolvimento devem ter mais voz e representação nas instituições financeiras internacionais e seus líderes e diretores devem ser designados por meio de processos seletivos abertos, transparentes e baseados no mérito."

Nos demais tópicos, os Brics pedem uma arquitetura econômica amparada na democracia, em bases sólidas e reguladas e clamam pela reabertura das negociações da Rodada Doha. Pedem, ainda, apoio aos países pobres e o suporte às energias renováveis. Em declaração anexa sobre segurança alimentar, os Brics defenderam a transferência de tecnologia para a produção de biocombustíveis e o desenvolvimento técnico da produção agrícola.

A ênfase, contudo, foi voltada para a cooperação para a reforma do sistema financeiro. O documento, porém, deixou de fora duas importantes iniciativas de Moscou: um papel menor para o dólar e uma moeda supranacional como reserva de valor .

Os países do Bric representam 15% dos US$ 60,7 trilhões da economia global, mas o Goldman Sachs prevê que, em 20 anos, não só os quatro países podem superar o G-7, como a China pode ter uma economia maior que a dos Estados Unidos.

O principal assessor econômico de Medvedev, Arkady Dvorkovich, pediu que o Fundo Monetário Internacional (FMI) amplie a cesta dos Direitos Especiais de Saque (SDR, na sigla em inglês) para incluir o iuan e moedas ligadas a commodities, como o rublo russo e os dólares australiano e canadense, além do ouro. Criado em 1969 pelo FMI, o SDR é formado por quatro moedas (dólar, euro, iene e libra).

Analistas afirmam que a semelhança entre os quatro países do Bric praticamente se resume ao robusto crescimento econômico dos últimos anos. Suas posições políticas e prioridades globais diferem muito e diplomatas se perguntam se o fórum poderia impulsionar posições fortes e unidas.

Questões ausentes
Não foram mencionadas duas importantes iniciativas de Moscou: um papel menor para o dólar e uma moeda supranacional como reserva de valor.

– Não foi mencionada uma moeda comum ou uma nova moeda neste momento. Houve menções como "não podemos ficar sujeitos a flutuações de uma moeda de um único país", mas também a compreensão de que essas coisas ocorrem muito gradualmente e que mudanças no sistema monetário, de maneira brusca, criariam outra crise. Mas isso foi parte indireta da discussão – disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Em artigo publicado terça-feira no jornal espanhol El País, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que os países do Bric chegaram à maioridade: “Os países ricos estão dispostos a aceitar uma supervisão e controle supranacionais do sistema financeiro internacional a fim de evitar o risco de outra crise econômica mundial?”, escreveu Lula. “Estão dispostos a renunciar ao seu controle sobre as decisões do Banco Mundial e do FMI? (...) Eliminarão os subsídios que tornam a agricultura moderna inviável em muitos países em vias de desenvolvimento e deixam os camponeses pobres a mercê dos especuladores de matérias primas e doadores generosos? (...) Essas são as perguntas para as quais os países do Bric querem resposta.”

Já uma análise publicada pelo diário britânico Financial Times disse que o bloco representa um quarteto “definido pelas diferenças”, e que trata-se do “primeiro grupo multilateral criado por analistas de um banco de investimento e sua equipe de vendas”.

Próxima reunião no Brasil
Os líderes dos quatro países concluíram sua primeira cúpula com a promessa de uma maior cooperação em diferentes áreas e o anúncio de que o Brasil sediará o próximo encontro do grupo, em 2010.

A segunda cúpula, ainda sem data, é reflexo de um avanço na formalização do bloco. Estão previstos ainda encontros entre ministros de áreas como Fazenda e também de integrantes dos bancos centrais.

O documento final deixa claro também que o Bric, como grupo, apoia as aspirações da Índia e do Brasil de desempenhar um papel maior na Organização das Nações Unidas (ONU).
 
Fraqueza
A cúpula dos Brics também confirmou a preocupação crescente dos emergentes em traduzir sua força econômica em influência política, lançando-se como contrapeso às posições dos sete países mais ricos. Amorim afirmou que o presidente Lula manifestou aos colegas preocupação com o suposto esvaziamento do G-20.

Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, discordara de Amorim ao dizer que o "G-8 não morreu", que a cooperação é crescente e "o G-5 será um parceiro integral do G-8". Mas demonstrou sintonia sobre a falta de força dos emergentes entre as maiores economias.

Futuro
Após dar os primeiros passos retóricos em Ecaterimburgo, o Bric agora tentará se institucionalizar, com encontros regulares. O Brasil se ofereceu para sediar a próxima cúpula, que deve ocorrer em 2010, e já estão previstas reuniões dos presidentes dos bancos centrais e ministros da Fazenda.

No lado político, o novo bloco já tem pelo menos uma divisão, logo de saída. Brasil e Índia reivindicam assentos permanentes num Conselho de Segurança da ONU ampliado, no que são apoiados pela Rússia. Mas a China rejeita a ampliação, por temer a inclusão de seu maior rival regional, o Japão.

Bibliografia
Jornal do Brasil de 17 de junho de 2009
Jornal Folha de S. Paulo de 17 de junho de 2009
Jornal O Estado de S. Paulo de 17 de junho de 2009
JornalO Globo de 17 de junho de 2009

Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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