Vocabulário, verbo e argumentação: o rendimento dos candidatos na redação do ENEM/2008



Eliane da Silva (1)
Márcio Roberto da S. Oliveira (2)

Resumo

Este trabalho pretende demonstrar, por meio de dados recolhidos em redações do ENEM do ano de 2008, os desafios que os candidatos enfrentam paraconseguir chegar à harmônica construção da linguagem e do pensamento. Alunos que têm características semelhantes quando se trata de expressar-se sobre um determinado tópico, se deparam com a dificuldade de construir textos bem fundamentados e consistentes. Verifica-se que uma grande parcela de estudantes que pleiteiam uma vaga na universidade pública apresentam relutâncias para desenvolver temas corriqueiros, onde acabam por distorcer dados e fazer considerações puramente vagas sobre a temática dada . O uso de um vocabulário esmerado e sem digressões fará com que o desenvolvimento de textos dissertativos sejam menos prolixos. Uma argumentação bem fundamentada também é exigida e desejável, sabendo-se que para desenvolver parágrafos coerentes propõe-se fazer etapas de organização da escrita, esmerar o uso dos verbos e principalmente polir o vocabulário que irá ser utilizado.

Palavras-chave: vocabulário, verbo, argumentação, conteúdo, desempenho

O real impulso para acriação deste artigo vem de uma extensa observação dos textos produzidos por alunos que concluíram o ensino médio e estão pleiteando vagas em universidades públicas e privadas do Brasil. As instituições de ensino superior exigem um universo de conhecimentos que o aluno, na maioria das situações, não vivenciou ou aprendeu parcamente no caminhar de sua formação intelectual.

É importante que saibamos os resultados das provas anteriores para que possamos pensar juntos em uma estratégia para melhorar o desempenho dos alunos na construção de textos dissertativos e até mesmo no processo de decodificação da prova objetiva do ENEM.

Qual foi o rendimento dos alunos nas redações de 2008? Foi melhor que 2007? Ao longo dos 10 anos de ENEM os alunos melhoraram o desempenho?

Neste sentido, o gráfico 1 apresentaas notas de redação e prova objetiva em função do tempo/anos de execução do exame. Podemos observar que embora haja flutuações estatísticas nos dados disponíveis, ao longo dos anos as notas se mantiveram próximas de um valor médio que corresponde a 55,04 pontos para a redação e 45,38 para a prova objetiva. Assim podemos afirmar que houve, em 2008, uma tímida melhora das notas em relação a nota média do ENEM verificada nos últimos oito anos.


Gráfico SEQ "Gráfico" 1: Histórico das médias nacionais das notas de redação e prova objetiva do ENEM.

Por meio do gráfico exposto é relevante que reconfiguremos a aprendizagem para que o estudante consiga manifestar todo o potencial para a interpretação e produção de bons textos. É de muita importância que o candidato consiga, inicialmente, entender o verdadeiro significado das palavras antes mesmo de iniciar o parágrafo [1] . O vocabulário? Sim, este rol de palavras que nos rodeiam são as chaves secretas que nossos candidatos possuem dificuldades para identificar, na maioria das vezes brincam de "jogar palavras" no papel, como se fossem simplesmente penas jogadas de uma montanha e espalhadas pelos ventos, dificultando oportunamente uma coleta de frases organizadas.

Nada melhor que o remoto e conhecido dicionário para abrir as portas da confecção de bons textos; observar também bons escritores como Cruz e Souza, Machado de Assis e outros mais que não cabem nestas linhas farão dos momentos de redator mais vantajosos, onde o aluno poderá se apoderar de uma caneta para desenvolver um dado tema sem divagar na seleção do melhor léxico [2] .

Segundo Thais Nicoleti, consultora de Língua Portuguesa do jornal Folha de São Paulo, vocabulário é o conjunto das palavras de uma língua em que cada falante, no entanto, detém apenas uma parte dele. Assim, o falante que possuir uma camada maior de palavras e souber inseri-las em sua produção textual terá, sem refutações, um melhor desempenho na inserção das informações no texto. Sendo o ideal quanto ao emprego das palavras, buscar aquelas que exprimem as idéias com maior eficácia.

Idéias que precisam necessariamente estar em total ligação com as outras informações expostas nos parágrafos. Quando o aluno diz que "a Amazônia está se acabando porque a população não cuida dela", mesmo que a argumentação seja simplista, precisa manter a idéia central do texto e não prosseguir com a seguinte refutação "...assim sendo o país pode sofrer trágicos problemas e a sociedade, principalmente em São Paulo, terão seus dias contados por causa da poluição que está grande", onde o redator não desenvolve uma argumentação geograficamente concisa, embora não completamente falsa.

Observando estes parâmetros da construção do texto escrito, foram analisadas 300 redações do ENEM/2008, um número relevante de trabalhos que nos auxiliarão na construção de trabalhos futuros que poderão mostrar onde os alunos menos se desenvolveram e seus cruciais pontos fracos, que se desencadeiam ao concretizar elaborações de textos.

Estas produções relatam que os candidatos ainda possuem imensas dificuldades para escrever sobre tópicos usuais, neste caso, o tema da redação: A Máquina de chuva na Amazônia, como mantê-la funcionando, exigiu que o aluno tivesse um entendimento remediado sobre a Amazônia, a região e os problemas ali identificados, sabendo isto já seria possível produzir uma dissertação que não se esgotasseapenas em pequenas considerações retiradas de textos estímulo inseridos nas partes da prova.

Pequenos fragmentos de textos já existentes no exame foramreagrupadospara se construir a dissertação, o aluno não se importou com a clareza e objetividade que um material escrito e bem fundamentadoprecisapossuir. Quando o candidato escreve:

"... imagens obtidas por sensoriamento remoto mostram que o ciclo hidrológico não apenas é essencial para a manutenção da grande floresta, quando a umidade do ciclo, que se desloca em direção ocidental em São Paulo, Mato Grosso e Argentina, sendo que na época em que Chico Mendes lutava para assegurar o futuro dos seringueiros e da floresta, o cientista brasileiro, Enéas Salati, analisava proporções também de isótopos de oxigênio."

Percebe-se aqui um emaranhado de fragmentos do texto base, o vestibulando tentou, de maneira íngreme, criar um texto, com idéias já expostas e fundamentadas, tendo ele o "cuidado" de fazer recortes em parágrafos diferenciados, dificultando também a análise do corretor, que, se não estiver preparado, acaba por aprovar os argumentos em exposição.

Em outra situação (problema verificado em 20 redações) que corresponde a aproximadamente 7% dos textos, os educandos simplesmente escolhem algumas palavrasrelacionadas ao tema e as jogam no texto: "...A floresta, imagens sensoriamento remoto e ciclo hidrológico significativa chuva que caiu sul Amazônia", (O problema destes alunos não seria a dislexia?) [3] demonstrando tamanha dificuldade para até mesmo usar verbos e elementos de ligação que sustentam o texto.

Que faltafazem os verbos! Assim como a tabuada ou as 4 operações aritméticas são cobradas no início da escolarização, os sonoros verbos, que entrelaçam, rodeiam, limam e formam os bons discursos, deveriam ser lembrados pelo menos em um semestre de cadaciclo, já dizia o professor de Língua portuguesa Arlindo Epifânio [4] : "Quem não comparecer na próxima semana com todos os verbos na ponta da língua irá paraa recuperação, chamarei cada um aqui na frente e terão que conjugar os verbos que eu indicar". Os finais de semana daquele semestre eram tomados pela aflição, no bom sentido; estudava e envolvia a família na questão, ora um dizia o verbo, ora outro respondia, assim, o aprendizado acontecia em coletivo. Fez diferença, e como fez...

As diferenças se exibemcom o tempo, com o chegar das necessidades diárias para se construirtextos, os quais retratam a vida e a trajetória de cada um, é possível sim, saber pela produção escrita do aluno, se este teve um bom aproveitamento escolar ou familiar quando falamos de conhecimentos, métodos de estudos e organização do pensamento.

No rol destes alunos que realizaram a prova do ENEM,é possível destacar que mais de 70%, dentro das três centenas de redações analisadas, não conseguem seguir um padrão de mediana produção textual, se intimidamno momento de organizar as frases e parágrafos. Os verbos, os argumentos, soam como um sino tímido no meio do nada, as palavras, que poderiam mergulhar em mares azuis e imensos, passam a nadar em riozinhos sem mata ciliar.




Autor: Eliane Silva


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