Muros



199 - MUROS

 

Vi outro dia um  velhinho de cabelos brancos, vestindo uma longa túnica branca, - aproximar-se de um antigo muro  de pedras grandes e esburacadas, em Jerusalém;  tive receio que o muro pudesse vir abaixo naquela hora.

Acho que ele também teve a mesma impressão que eu, porque parou um pouco, a uma distância segura. Mas o muro não caiu; nem depois que o bom velhinho  empurrou sua mensagem numa das fendas, como qualquer bom judeu; mas ele era alemão.

 

Muros  me metem muito medo. 

O das Lamentações, o de Berlim, o da fronteira do México, o da faixa de Gaza,  os das favelas do Rio, até a grande muralha da China.

Porque todos eles só separam, dividem, diferenciam; e estes são tempos de juntar, aceitar, aproximar.

 

Olhando para o velhinho, fiquei matutando o quanto tem de humildade verdadeira, nas suas atitudes. O mundo espera de  cada um,  não só que se mostre humilde, mas que o seja, de fato; e que com suas ações prove a sua vontade.

    

O que nos torna melhores ou piores são as tentativas de realizar os ideais que temos na alma, não o que tentamos mostrar ou parecer.

Seria um ato de humildade comungar com os pobres, os abandonados, os doentes, os infelizes que não tem futuro,  nem para si, nem para seus filhos.

Levar-lhes pão e conforto, principalmente pão, no sentido mais amplo.

E entregá-lo com carinho, com um amor profundo, sentindo suas dores e sua fome e partilhando delas. Sentar com eles e participar. Ouvir sua voz, em respeitoso silêncio.

A luta na retaguarda, longe dos casebres, das barracas, das tendas e dos buracos, em que ainda vive uma grande parte  desta humanidade infeliz,  é apenas uma atitude  cômoda, hipócrita e prejudicial.

 

Ele diria que é uma luta inglória, uma gota de água num deserto sem fim. Mas os dois peixes de Cristo saciaram milhares de pobres famintos e ainda sobrou.

Cabe aos que se intitulam representantes de Cristo, praticar diariamente os ensinamentos de Cristo; sob pena de serem julgados por traição.

Sua consciência, diante da morte diária de milhares de  crianças não os deixaria comer  e os faria morrer de desgosto e de remorso,

Ou será que não estão sabendo?   

Ou será que ninguém lhes comunicou que isto está ocorrendo no mundo todo?

Ou não viram as fotos daqueles esqueletinhos, de olhos esbugalhados e implorantes?

O que querem dar-lhes: uma hóstia, uma benção, um óleo santo?

Duas asinhas e a recomendação de se comportarem direito?

Ou estas atitudes de humildade e de tristeza são meramente uma falsa, hipócrita montagem?

Enquanto houver um pobre passando fome, não teremos o direito de nos esbaldar com os ricos dons que Deus pôs na Terra para o nosso uso, numa distribuição justa..

Ah, como estou aguardando, com uma fé ilimitada, que chegue o Dies Irae!.

O dia em que Jeová, Deus dos exércitos, virá vingar, de uma só vez,  os pobres, os oprimidos, as vítimas da maldade dos outros,  esses que se dizem homens, mas não o são, nunca o foram. 

  

 

 


Autor: Romano Dazzi


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