A primeira escola "Dante Aleghieri"



Em 2011, o Colégio Dante Alighieri completará 100 anos. Provavelmente, as comemorações do centenário deste estabelecimento de ensino já devem estar sendo preparadas, pois, trata-se de um dos mais conceituados colégios desta cidade.
O Dante Alighieri foi fundado por pessoas da colônia italiana e teve investimentos do Banco Frances e Italliano, Ligth e da Estrada de Ferro Sorocabana, além de ajuda financeira enviada pela Societá Italiana "Dante Alighieri", que tinha sua sede em Roma.

Mas o que gostaria de me ater, é que muita gente desconhece a origem desta escola. Antes de 1911, já existia uma escola chamada "Escola Dante Alighieri", que funcionava no bairro do Braz, precisamente à Rua Monsenhor de Andrade com Rua Assumpção, num sobrado que existe ali até hoje e, mais tarde, transferiu-se para a Rua do Gasômetro.

O Proprietário e Diretor deste estabelecimento foi o Sr. Luigui Basile, natural de Cosenza, chamada de Capital da Calábria, onde também exerceu a presidência da "Unione Magistrale".

Professor Basile tinha idéias liberais, portanto era contra qualquer regime de opressão, tanto que adotara em seu colégio o livro "La Giovine Itália", livro este que exaltava os heróis do Risorgimento; Mazzini; Garibaldi e Cavour.

Basile veio para o Brasil por volta de 1890, digamos que "fugido" da velha bota, pois, não concordando com as ideias do prefeito de sua cidade, ideias estas ditatoriais, bateu no alcaide com um cabo de enchada, abrindo-lhe a cabeça.

Professor Luigui Basile era um homem enérgico, forte, de baixa estatura, barbas compridas e de olhos azuis, tipico dos habitantes do mediterrâneo. Sempre bem trajado, com fraque e chapéu, o que lhe dava um tom de nobreza, era admirado pelo seus conhecimentos múltiplos e por ser ambidestro.

Casado com a Senhora Cecília Tessari Basile, mulher clara, loura, de fala mansa e delicada, também professora, formada pela Faculdade de Filosofia de Verona, sua terra natal.

Dona Cecilia tinha uma verdadeira paixão pelo magistério, tanto que lecionou até seu último dia. Faleceu de um ataque cardíaco fulminante na própria sala de aula.

Os alunos, na sua maioria, eram descendentes de italianos radicados no Braz, sendo que a fama do bom ensino dessa escola trouxe crianças de outras regiões da cidade, como do centro e bairros arredores.

Os métodos de ensino eram eficazes. Nas aulas de geografia, por exemplo, estudava-se o Brasil nas páginas pares e, nas impares, a Itália. Os livros, sempre editados pela escola, eram bilingues: português e italiano.

A visão de aprendizado na Escola Dante Aleghieri era, para a época, muito avançada. O professor Luigui Basile adotara uma fórmula de associação de palavras: Taxito e Jupuma, para lembrar os afluentes do Rio Amazonas - TApajós, XIngú e TOcantins e JUruá, PUrús e MAmoré. Já para decorar as cidades, como por exemplo, da Toscana: Ar-fri-gro-li-lu-mas-pi-si, iniciais de ARezzo, FIrenze, GROsseto, LIvorno, LUcca, MASsa-Carrara, PIsa e SIena.

Em história, estudava-se os heróis do Risorgimento, nas páginas pares e a República e Inconfidência Mineira, nas impares.

A escola funcionava nos turnos vespertino e matutino, com matérias de Aritimética, História, Geografia, Caligrafia, Linguagem, Português e Italiano. Uma vez ao mês acontecia a tão temida Sabatina. Os alunos menos aplicados recebiam em suas provas o seguinte comentário: "Tartufo senza sale e senza sapore! Carota! asino orecchiuto!" ou " Sei grande, grosso e salame". Aos piores, eram submetidos ao vexame de ficarem junto à janela, com orelhas enormes de burro.

Nas vésperas de feriados nacionais, os alunos entoavam o Hino Nacional, e nas datas festivas italianas, os hinos referente àquele acontecimento, como por exemplo, ao que exaltava Garibaldi: "Si scopron le tombe, si levano i morti, I martiri nostri son tutti risorti..."

Em 1911, o velho "Maestro", já muito doente e debilitado, passou a Escola Dante Alighieri ao Professor Rodolfo Camurri, que a transferiu de local.

O Maestro Luigui Basile faleceu em 1912 e, em seu funeral, recebeu homenagens de toda a colônia italiana, alunos e ex-alunos, bem como reverenciado em todo o bairro do Braz.

Após a morte do professor Basile, seus filhos foram para a Itália. Somente o filho mais velho, Aristides Basile, regrassou a São Paulo. Trabalhou nos Correios e Telégrafos e, após sua aposentadoria foi Secretário da Associação Paulista de Imprensa, grande cronista e teatrólogo.

O velho sobradão que abrigou os primeiros anos da Escola Dante Alighieri, na esquinas das ruas Monsenhor de Andrade e Assumpção, ainda resiste e foi restaurado pela BOVESPA, abrigando, hoje, cursos de qualificação para jovens carentes.


Autor: Pedro Nastri


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