A Igreja Passará Pela Grande Tribulação



O embate teórico sobre as teorias pós e pré-tribulacionistas, posições escatológicas que ocupam-se em discutir sobre a relação Grande Tribulação e o Arrebatamento da Igreja, “não descansa em paz”, mas continua vivo, no estado que deve estar mesmo. Eu não penso que discutir tal temática seja discutir o “sexo dos anjos” porque o Texto Sagrado nos dá pistas claras quanto como será a relação entre os dois eventos já mencionados. O Novo Testamento é, pedagogicamente falando, explicitamente pós-tribulacionsta e essa é a linha teológica que adoto.

Eu escrevi dois artigos sobre esse tema: Arrebatamento Pós-Tribulacionista: Uma Exegese de 2 Tessalonicenses 2:1-3 e 2 Tessalonicenses 2:1-3: Uma Pedra no Sapato (?), exatamente com o intuito de expor minhas convicções e de demonstrar, em pequena escala, a debilidade da teoria pré-tribulacionista. Agora, com esse artigo, quero, respeitosamente, dar uma reposta a um irmão e colega de ministério que ao escrever o artigo A Igreja passará pela Grande Tribulação? disse ser essa a [pré-tribulacionista] “escola de interpretação que honra as Escrituras”. Pra ser sincero, foi essa vaidade teológica que me motivou a refutá-lo nesse instante. Buscarei fazer isso demonstrando o quanto é superficial e sofismável a teorização do meu irmão. Me acompanhem.

No segundo parágrafo de seu texto, o autor evoca uma suposta autoridade argumentativa quando “aconselha” os seus leitores a não irem além do que está escrito (1 Co 4:6). É necessário dizer que é exatamente isso o que a escola pré-tribulacionista não faz. Por exemplo, quando os aderentes dessa escola desconsideram ou negligenciam 2 Tessalonicenses 2:1-3 em seu contexto, eles vão além do que está escrito em sua teorização e fazem pior, voltam as costas para o princípio da perspicuidade das Escrituras.

A referência de 2 Tessalonicenses 2:1-3 é [um]a chave para a ação hermenêutica do explícito interpretando o implícito. Portanto, não se pode argumentar criteriosa e responsavelmente sobre se o Arrebatamento será pré ou pós-tribulacionista. Tenho notado com frequência como os intérpretes pré-tribulacionistas se esquivam em incluir e articular 2 Tessalonicenses 2:1-3 junto à sua arranjada e impositiva teoria.

No terceiro parágrafo, o autor sustenta que “não há dúvidas de que a Igreja será arrebatada antes da Grande Tribulação”. Para fundamentar essa sua assertiva ele destaca 1 Tessalonicenses 1:10 que diz: “e esperardes dos céus a seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira vindoura”. Essa frase em destaque é a que parece fundamentar um arrebatamento pré-tribulacional. Observe que eu disse parace. Na verdade, só usei tal verbo por causa do que passa na cabeça dos pré-tribulacionistas. A rigor, o texto fala do escape de um tipo de ira sem dizer como será esse escape. Se o próprio texto não diz que ação divina produzirá esse livramento qual posição de autoridade ocupa o autor para afirmar que estamos diante de uma base escriturística que depõe favoravelmente a um arrebatamento pré-tribulacional?

O que precisa ser observado aqui com muita seriedade é o saber sobre qual ira está falando o apóstolo Paulo. É sabido que a Grande Tribulação é chamada de ira em Apocalipse 6:16-17. Mas nem sempre o uso de tal vocábulo no Novo Testamento está vinculado à Grande Tribulação. É o que ocorre com 1Ts 1:10. No capítulo 5:9 Paulo fala novamente do livramento de uma ira, e, nesse caso, ele deixa claro que sua intenção é contrastar a ira com a vida eterna: “porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançarmos a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo”. Frequentemente, nos escritos paulinos, a vida eterna é contrastada com a ira (1Ts 2:16; Rm 2:5, 5:9), ou seja, é mais natural e mais saudável, hermenêuticamente falando, compreender que a ira vindoura é a condenação eterna. É característica da teoria pré-tribulacionista impor sobre os Textos Sagrados suas intenções…

Sobre Apocalipse 3:10 e sua expressão “te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro” o autor faz um uso da mesma de maneira incorreta e sem aprofundamento.

O contexto histórico fala de uma Igreja que recebe a promessa de um livramento, mas que experimenta as raivosas perseguições e agitações sociais do tempo do Império. Ora, como pode ser isso? A promessa de livramento tem que implicar em remoção da situação? Não! Pode-se livrar em meio a. Basta nos lembrarmos das 10 Pragas do Egito e o que não acontecia na terra de Gósen.

Esse texto apocalíptico de maneira alguma decreta um livramento por rapto. Fala de “guardar”, mas isso pode se dar de várias maneiras. Logo, chega a ser perigosa a defesa pré-tribulacionista de um Arrebatamento antes da Grande Tribulação com base em uma promessa objetiva sim, mas nada detalhista quanto à maneira como isso se dará.

No sétimo parágrafo de seu texto, o autor diz que os 24 anciãos representam a totalidade da Igreja e que esta, por ser vista no céu antes do primeiro selo ser desatado (Ap 6), não estará na Grande Tribulação. Será?

Primeiramente, precisamos entender quem são esses 24 anciãos. Seriam eles uma representação total dos crentes no céu? Eu tenho dúvidas. Intérpretes como Russel P. Shedd sugerem que tais anciãos podem ser anjos que participam no governo do universo (Sl 89:7,Is 24:23; Ex 24:11). Russel N. Champlin, sugere que os mesmos podem ser anjos que representam os 12 patriarcas de Israel e os 12 apóstolos de Cristo. Eu sou simpatizante dessa abordagem que vê os 24 anciãos como anjos e não como vê os pré-tribulacionistas. Vou dar duas razões para isso:

1°) Em 5:11 está escrito: “Vi, e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares”.
Observe que os anciãos junto com os demais seres redundam em um número incalculável de entidades. Em Deuteronômio 7:10 temos a mesma indicação de um número formidável de seres celestias que se assemelha a usada por João. Lá diz: “… milhares de milhares o serviam, e miríade de miríades estavam diante dele…” É muito mais provável que os 24 anciãos sejam uma ordem de seres angelicais que se ajunta a outras ordens para dizer “Digno é o Cordeiro…” (Ap 5:12).

2°) No verso 8 desse mesmo capítulo, encontramos os 24 anciãos, juntamente com os 4 seres viventes, segurando taças repletas das orações dos santos. Aqui entramos em um ponto por demais controverso. É inadmissível, pelo menos é assim que pensa a maioria esmagadora dos evangélicos, que seres humanos atuem no céu como mediadores de pessoas daqui da terra. O fato dos 24 anciãos estarem com “taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos” aponta para uma mediação em favor desses últimos. Como o pré-tribulacionismo resolve essa questão? Se os 24 anciãos tratam da Igreja no céu, como pode ela ser mediadora em favor dos que estão na terra? Esse é um papel da Igreja arrebatada?

Por outro lado, a pergunta pode ser feita a mim mesmo quanto ser ou não esse um papel angelical visto que sou favorável à compreensão de serem os 24 anciãos uma categoria angelical. Respondo a essa indagação silenciando-me, pois para mim estou diante de um mistério. Hebreus 1:14 e Apocalipse 8:3 poderiam dizer alguma coisa? Não sei.

O fato é que a articulação de textos (Ap 6 – 4 – 5) não prova nada do que pretende o autor do texto que hora contesto. Ele trata como líquida e certa uma questão que quando observada em seu contexto mediato parece dizer exatamente o contrário do que ele diz.

Um outro pecado interpretativo podemos encontrar no oitavo parágrafo.

Nele, o autor faz distinção entre os santos perseguidos na Grande Tribulação e mortos pelo anticristo, e a Igreja. Quem são esses santos perseguidos (Ap 13:7, 15)? Em uma conta superficial que fiz, cheguei ao número de 50 referências neotestamentárias onde os crentes e a Igreja são denominados de santos. Há muito mais, pois minha contagem não foi exaustiva. Por que razão em Apocalipse pós capítulo 4 os designados santos não são a Igreja? Só porque até certo ponto no Apocalipse não aparece mais a palavra Igreja? Só porque assim fica mais fácil remover a Igreja da Grande Tribulação? Isso é primar por uma boa hermenêutica? Isso seria honrar as Escrituras?

Uma ponto que parece estar esquecido quando se diz que aqueles mártires santos não são os santos-Igreja é que, historicamente, os santos dos quais fala João eram os santos-Igreja de seu tempo que penaram debaixo da mão de ferro de cruéis imperadores romanos como Trajano. Profeticamente, estamos diante do mesmo “tipo” de santos, pois não há nada que subsidie de maneira irretorquível o contrário. Dizer que esses santos não são a Igreja não Arrebatada não passa de uma imposição acadêmica sobre o Texto.

Tudo o que é dito nos parágrafos 9, 10 e 11 do artigo que hora analiso de alguma maneira já foi rebatido anteriormente.

Mas, chegando no parágrafo seguinte, encontramos referência à 2 epístola aos Tessalonicenses e, mais uma vez, temos um total descaso para com a passagem de 2:1-3 [leia 2 Tessalonicenses 2:1-3: Uma Pedra no Sapato (?)]. Ele faz uma citação dos versículos 6-8 e, de maneira subjetiva, afirma, assim como fez com os textos anteriores, que ela é uma atestação de que a Igreja não estará no período da Grande Tribulação. O fato é que, no contexto mais imediato, 2 Tessalonicenses 2 diz exatamente o oposto. Basta um a leitura cuidadosa para se chegar a essa conclusão.

Sobre “o que o detém [detém o anticristo]”, acredito que essa seja uma referência ao Espírito Santo como um restringidor. A maneira como Ele franqueará a passagem para o anticristo não é revelada no texto. Apenas por dedução pode-se dizer que isso se dará pelo Arrebatamento da Igreja com a qual Ele “sairá” da terra. Mas escatologia não pode ser pensada por dedução como faz constantemente os pré-tribulacionistas. Ela já é complexa em muitos pontos e ainda alguns intérpretes se aventuram pelo campo da “advinhação”. Isso…

Uma proposta alternativa perfeitamente cabível para se tentar pensar como se dará essa abertura é dizendo que, sem “sair” da terra junto com a Igreja, o Espírito Santo deixará de ser um restringidor para que o anticristo inicie sua ação contra os santos e etc. Uma porta trancada que impede o ladrão de entrar em uma casa não precisa ser removida das dobradiças para que isso ocorra, basta que o proprietário da casa, caso queira, a destranque.

Concluindo, o que mais encontramos no texto que diz “honrar as Escrituras” são deduções e não labor exegético. Elementos estranhos aos Textos são impostos a eles. Uma confusa conexão de textos evidencia-se ao longo do artigo preterido por mim… Pela perspicuidade das Escrituras e pela analogia da fé é muito mais fácil se chegar à solidez da posição pós-tribulacionista do que chegar a insensatez da posição pré-tribulacionista.

Quantos podem glorificar a Deus por isso?

Pr. Zwinglio Rodrigues


Autor: zwinglio rodrigues


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