A influência do paradigma mecanicista na educação internacional - Estruturação por Artur Victoria dos príncipios básicos do CLIP - Colegio Luso Internacional do Porto



A influência do paradigma mecanicista na educação internacional reflecte-se na idéia de que estudos étnicos ou multi - culturais se resumem ao estudo das culturas exóticas ou minoritárias. A cultura maioritária, ou dominante, raramente é incluída no mesmo plano que as outras, e a noção de que pode ser influenciada pelas culturas minoritárias, ou dependentes, recebe pouca ou nenhuma consideração. Falamos da influência portuguesa em Africa e na Asia mais frequentemente do que falamos da maneira como a nossa cultura foi transformada por esse convívio. Paralelos semelhantes poderiam ser estabelecidos para as relações linguísticas entre povos.

Torna-se cada vez mais difícil ao homem e à mulher de hoje conceber todos os aspectos da realidade em que estão inseridos segundo os ditames do paradigma mecanicista. O fácil acesso à informação e o esforço despendido na democratização do ensino, deu origem a uma população capaz de compreender melhor aquilo que lhe convém, e cada vez mais consciente do seu direito de participar nas decisões que afectam a sua vida.

Se por um lado as pressões exercidas por uma sociedade cada vez mais distinta nos seus matizes multi - culturais e multi - linguísticos, pedem uma escola verdadeiramente internacional, o mundo do comércio, da indústria, e da função pública exige a formação de jovens capazes de funcionarem eficazmente num mundo em contínua e fulgurante evolução.

Não basta formar alunos nas habilidades específicas das diferentes profissões, uma vez que a revolução tecnológica em curso reduz à obsolência o que ontem era novidade. Por outro lado, tanto a fábrica como o escritório sofrem alterações de fundo. Uma mão de obra cada vez mais bem preparada já não tolera a desumanidade da linha de montagem tradicional, nem condições de trabalho que separem a actividade manual dos seus complementos espirituais e psíquicos. A necessidade da empresa de poder e de ter de decidir instantâneamente a todos os níveis, torna impraticável

o sistema de hierarquia rígida que até aqui tem funcionado. Taylor e Weber já não conseguem explicar essa nova manifestação de relações humanas. O mundo começa a ser percebido como uma realidade complexa, composta por elementos entreligados e cada vez mais interdependentes, em suma, como uma série de sistemas.

A teoria de sistemas teve a sua origem nas ciências biológicas, e foram biologistas, como Ludwig von Betalanffy, que primeiro a propuseram. Quando comparamos a vida de organismos físicos com a vida dum agregado social, é impossível deixar de encontrar semelhanças e de estabelecer paralelos em termos de estruturas e funções. primeiro que tudo, a interdependência e a interconexão de todos os seres é difícil de ignorar. No mais simples dos organismos, quer estes sejam biológicos ou sociais, cada elemento depende doutro, numa cadeia ininterrupta de  de interacção. Esta interacção, por sua vez, faz com que a influência de um organismo sobre outro ponha em movimento um processo de mudança que afecta todos os órgãos desse sistema. A mudança num sistema não é, todavia, o resultado cumulativo de todas as mudanças sofridas pelos seus elementos. O sistema transformado é em muitos aspectos um sistema novo e de maiores dimensões. O todo é assim maior que a soma das suas partes.

 O sistema transformado vai por sua vez influenciar outros sistemas, num ciclo interminável.

Esta interacção transformadora não pode ocorrer duma maneira casual. Os sistemas possuem mecanismos homeostáticos, capazes de manterem não só o equilíbrio, mas de regularem a intensidade e o ritmo do processo de mudança. Este equilíbrio, no entanto, é de natureza dinâmica e tende a promover o desenvolvimento do sistema, nunca a impedi-lo ou a contê-lo. Num sistema, as relações entre os diversos elementos não podem por sua vez estar baseadas no conceito de poder como poder-impositor, antes têm de ser influenciadas por uma outra manifestação de poder --o poder-cooperador.

Neste contexto, quanto mais distribuído for o poder, maior a sua influência. Enquanto que no modelo mecanicista o poder aumenta consoante a força com que é imposto, por um pequeno número sobre a maioria e para a manutenção da ordem, no modelo sistémico, o desenvolvimento em equilíbrio é conseguido através da distribuição de poder pelos diferentes componentes do sistema, permitindo-lhes uma autonomia interactiva que resulta na expansão das suas capacidades criadoras e no alargamento do seu potencial humano. A força do poder-cooperador não reside assim na intensidade com  que é exercido, mas na maneira como fortalece e desenvolve todo o sistema.

A noção de poder - cooperador não se coaduna, também, com o conceito de causalidade linear. É óbvio que a existência humana é demasiado complexa para poder ser explicada pelas tais super-simplificações deste conceito. Regra geral, simplificações desta natureza tendem a complicar tudo. Uma observação simples do mundo e do seu funcionamento leva-nos a uma compreensão mais coerente e convincente das suas funções e da natureza das suas inter-acções.

As teorias de sistemas têm inspirado pensadores a tentarem explicar o mundo por outros paradigmas.

Richard Katz, de Harvard, e Joanna Macy, têm nos últimos anos delineado a infra-estrutura de um novo paradigma, a que chamaram sinergético. Este modelo assenta numa percepção da realidade como um todo  interactivo, entreligado, e dinãmico. Enquanto que no modelo mecanicista a noção de objectividade era definida e baseada na separação existente entre observador e observado, no modelo sinergético, observador e observado estão entreligados de tal maneira que a noção velha de objectividade e de conhecimento não podem ser aplicadas. Esta maneira nova, óbvia, mas não menos revolucionária, de perceber a realidade tem sido precedida e influenciada por investigações científicas, sobretudo em biologia  (DNA) , na física (teorias quantum), e até na engenharia, com os neuro-sistemas.

No modelo sinergético, educação internacional implica a análise das diferentes culturas num mesmo plano, e em todo o seu entrelaçamento e dinâmicas próprias. Quer isto dizer, que numa escola internacional, desenhada para promover o desenvolvimento humano e social, e que assenta nos princípios de respeito por todas as culturas, e da reciprocidade das suas influências, as estruturas organizacionais devem fomentar a interacção de todos os seus elementos - alunos, professores e administradores - para a realização dos objectivos acordados. O respeito por culturas alheias passa, no entanto, pela afirmazão da cultura de cada aluno e de cada professor. Deste modo, evitam-se riscos de aculturações indevidas, ou mesmo até de invasões culturais desumanizantes. Em todo este processo convém manter viva a expressão da primazia do conceito de educação sobre o conceito de instrução . Interessa que os alunos cheguem ao conhecimento das realidades diferentes, não que recebam a versão dum conhecimento transmitido em segunda ou terceira mãos .


Autor: Artur Victoria


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