Bendito Dia



Bendito dia

Zidelmar Alves Santos[1]

Bendito dia, aquele em que quebrei um braço numa partida de futebol. Comprei, graças a esse episodio ocorrido em 1999, as minhas primeiras revistas de história em quadrinhos: A Teia do Aranha, números 111 e 112, em fevereiro e março respectivamente. Na época tinha 11 anos e, como não podia jogar futebol com os amigos devido a fratura, ficava em casa completamente entediado. Entediado até o dia em que vi, numa banca de revistas, aquela revista do Homem-Aranha.

Recentemente, após ter lido num período de 10 anos centenas de HQs, incluindo clássicos como O Cavaleiro das Trevas (de Frank Miller) e A Piada Mortal (de Alan Moore e Brian Bolland), leio um artigo em que seus autores, ao analisar o a obra "Batman - O Cavaleiro das Trevas" afirmam que este deve ser compreendido no contexto do "estilo de vida americano" , visto que as personagens centrais da história defendem-no[2].

Não quero negar que os quadrinhos sejam um veiculo propicio a divulgação ideológica, tampouco ao "estilo de vida estadunidense" (e não americano). Contudo, não acredito que estava alienado quando comprei aquele exemplar da revista "A Teia do Aranha". Pelo contrário, a leitura dos populares gibis me fez evoluir enquanto leitor, pois a partir deles, passei a ler gradativamente obras de literatura, jornais, entre outras.

Hoje, conjecturo sobre o que teria acontecido se no lugar daquele "gibi do aranha", eu tivesse lido uma obra de Guimarães Rosa ou Machado de Assis, por exemplo. Não quero minimizar a importância destes (e também outros) autores para a literatura brasileira, visto que foram grandes escritores. No entanto, acredito que para uma pessoa se tornar um adulto leitor, é preciso que este comece a ler desde muito cedo.

Os quadrinhos, a meu ver, são de grande relevância, posto que, ao proporcionar uma leitura que para o jovem é mais agradável, devido à interação entre texto e imagem, inserem os mesmos no público leitor. Penso que a leitura dos quadrinhos é uma ferramenta útil para que as pessoas desenvolvam o gosto pela leitura. O que teria acontecido se eu tivesse lido, com 11 anos de idade, livros dos autores acima citados? Será que hoje teria gosto pela leitura? Será que seria um acadêmico? Ou apenas um leitor de rótulos de garrafas de cerveja? A resposta é uma incógnita. Tenho apenas uma certeza: bendito dia, aquele em que quebrei um braço numa partida de futebol.



Autor: Zidelmar Alves Santos


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