Festejos Juninos



Levante o dedo quem nunca participou de festejos juninos! Talvez essa abrangência tão grande seja uma das explicações para o fato de ano a ano crescer a empolgação das pessoas ao redor dos festejos juninos. Os "arraiás" já adentraram o mês de julho de modo que as festas "julhinas" estão sendo extensões das festas de junho. E aqueles folguedos que se realizavam de forma um tanto contrita e religiosa entraram pelos portões das escolas como formas de arrecadação de fundos para a manutenção em seu abandono; e vamos além: nos dias atuais estão expostas nos pátios e balcões e vitrines detodos os gêneros de comércio.

Explora-se a imagem, deturpada, do caipira e os produtos da roça. Exploram-se a linguagem e se vende de tudo: tudo vira comércio; e a gente já não sabe mais o que faz parte da cultura tradicional e folclórica e o que é produção comercial consumível e descartável. Hoje se fatura com as festas juninas tanto quanto se fatura com o natal ou o dia das mães e dos namorados e das crianças... O capitalismo que nos cerca tem transformado tudo em moeda de troca e fez isso, também coma as nossas tradicionais festas juninas. Dessa forma, os festejos populares também se transformaram em meios de comércio.

Nestas alturas seria bom recuperar um pouco da história dos festejos juninos. Principalmente porque até suas origens estão misturadas com as lendas e as explicações fantasiosas que, antes de embelezar o folclore, atiçam as relações comerciais. Será que seriamos capazes de nos lembrar os por quês desses festejos?

Como não conseguiríamos analisar todos os seus aspectos, vamos olhar para alguns elementos desses festejos: São juninos porque ocorrem no mês de junho; possuem um caráter religioso porque se comemoram alguns santos populares do catolicismo (Antônio-13, João-24 e Pedro e Paulo-29). Entretanto suas origens não se limitam a este ou àquele santo, mas ao caráter festivo do ser humano. Entre outras, o ser humano possui a característica da festividade. Aliás, como afirma Nietzsche, uma das coisas que mais caracteriza o ser humano é a capacidade de festejar o sofrimento ou a derrota do outro.

Uma das primeiras características desses festejos é sua dimensão acaipirada. Mas isso se explica porque os festejos juninos, em nosso país, se popularizaram a partir do ambiente rural, ao contrário de outras festividades ou comemorações que são essencialmente urbanas. Também por esse motivo os quitutes são do mundo rural (entre outras, várias iguarias de milho: canjica, cuscuz, bolo, pipoca; de mandioca e batata doce; e do pinhão, para quem é do sul!). Essa gastronomia tanto pode ser associada às festas pagãs que celebravam as colheitas como às divindades relacionadas à fertilidade. Todas de origem européia. Como também é européia a origem desses festejos. O aspecto religioso vem de Portugal e as danças – a quadrilha – da França. Tudo isso, evidentemente, se abrasileirou a partir do ambiente rural.

E a quadrilha ganha conotações bem específicas em solo brasileiro: desenvolve-se em ambiente rural e avança para o ambiente urbano, mantendo as características de suas origens: indumentária portuguesa, mas ruralizada; e paços de dança também de um francês ruralizado. Além dessas, a quadrilha brasileira desenvolve-se com mais uma característica importante: ela é regionalizada. Além do casamento caipira e dos passos tradicionais, o ritmo da melodia ganha feições típicas em diferentes regiões: do nordeste vem com o ritmo de um frenético forró, sendo que alguns grupos quadrilheiros tradicionais nordestinos desenvolvem passos que lembra o frevo; ao passo que no sul-sudeste os quadrilheiros são mais calmos e dançam ao ritmo de uma melódica marchina. Enquanto no nordeste se divulgam os festejos juninos como incremento turístico, em outras regiões os festejos são mais restritos, com forte presença no meio escolar, como aspecto cultural, mais que folclórico.

A popularização desses festejos, no Brasil, ocorreu não tanto por causa da fé dos colonizadores e senhores de engenho, mas como meio de diversão entre os negros das senzalas. Era uma forma de extravasar os horrores da escravidão, em pontos altos de festividade, tão ao gosto dos negros, em festas apoiadas pela igreja, uma vez que ligadas a santos tradicionais do catolicismo. Isso explica o porquê dos pratos típicos simples pois, simples era a gastronomia escrava. Essa, também, a razão da principal bebida junina ser o quentão, em que se junta a cachaça, o gengibre e outros condimentos. Bebida fácil de se preparar num ambiente de senzala onde não chegavam nem os ricos vinhos nem a espuma do champanhe, próprios do ambiente europeu e das casas grandes.

Nesse ambiente a música também assume características rurais com temática religiosa. Nos tempos coloniais, período em que se formou o folclore junino, o repertório religioso português – para a dimensão religiosa dos festejos juninos – e dos salões franceses – de onde vem a quadrilha – é clássico. Mas o repertório da cultura junina se fez com temas rurais: basta nos lembrarmos de "Capelinha de Melão", que "é de São João"; ou então a suplica apaixonada: "São João, São João, acende a fogueira do meu coração"

Outro símbolo junino é a fogueira. Na tradição européia, está associada à lenda de que Santa Isabel teria acendido uma para avisar Nossa Senhora sobre o nascimento de João Batista. Isso também nos leva ao ambiente rural em que, no Brasil a fogueira, serve não só para aquecer a noite junina, como para iluminar o ambiente em que se festeja os santos e a tradição cristã.

Em síntese, podemos dizer que raras vezes uma festividade oficial, ganhou tão largamente o gosto popular. E, como não podia ser diferente, uma vez que se popularizou, passou a ser atrativo comercial.

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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Autor: NERI P. CARNEIRO


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