Antes mal acompanhada do que só



Apego
Durante a primeira fase da paixão, repleta de atração física e entusiasmo pelo novo, as pessoas vivem um estado emocional de exclusividade e tendem a se isolar um pouco do mundo.

No transcorrer do relacionamento as turbulências iniciais são substituídas por um sentimento caloroso e seguro, um estado afetivo mais tranqüilo e que é referido como amor calmo.

Nessa fase calma da relação o organismo de ambos recebe constantemente doses de endorfina – substâncias naturais semelhantes à morfina – que acalmam a mente causando a sensação de segurança e paz que está na raiz do sentimento de apego.

O fim do relacionamento na fase calma, sobretudo quando um dos parceiros sente o apego com maior intensidade, faz com que se viva uma espécie de luto ligado ao fato de ser privado da segurança emocional que representava o relacionamento. O sentimento de luto gera ansiedade e renova o desejo de reviver o período de paz e tranqüilidade experimentado. Se nessa busca por reencontrar o amor e o conforto afetivo ocorrem muitas desilusões surgem idéias de desajuste, em si ou no outro, e sensações de fracasso.

Além disso, precisarão aprender a lidar com as sensações de perda que vêm acompanhadas de uma tristeza, um vazio, pois o rompimento pode se estender à parte da família, à convivência com alguns amigos comuns, à sensação que tínhamos de pertencer a um grupo que já não se configura como antes. Quando vivemos o luto pelo fim de um relacionamento sentimos falta do que foi e tristeza pelo que poderia ser.

Negar o fim até o final
O fato é que não nos preparamos para o fim de um período de convivência. Queremos salientar que se as pessoas sentem que podem, juntos, superar a crise e que vale a pena manter o relacionamento, perseverança e paciência farão toda a diferença, de fato não se pode desistir de algo ao primeiro sinal de crise, mas, por outro lado é importante compreender os sinais emitidos pelo outro, ou por nós mesmos, de que aquela fase da vida terminou e assumir isso, pois por mais que retardemos haverá um momento que será necessário encarar que o casamento ou o namoro, enfim aquela relação acabou e que agora precisamos seguir adiante.

Outras circunstâncias podem se somar à situação já tão difícil. No caso particular de algumas mulheres muitas se sentem culpadas por terem deixado para trás suas profissões para se dedicar totalmente ao casamento e à família. Passam a ter dificuldades com a própria identidade, pois sentem que abandonaram partes de si e agora se sentem ansiosas para recupera-las. De um modo geral, após a experiência de separação, sobretudo as dolorosas, homens e mulheres dizem ficar com uma impressão de desperdício de tempo e não sabem por onde começar a reconstruir a vida nessa solteirice forçada, ao mesmo tempo em que vivenciam todo o tumulto da separação. Isso dificulta ainda mais a aceitação do fim.

A confusão é compreensível. "Como acreditar que ele (ou ela) não me quer mais se passamos a ter orgasmos depois de um tempo em que sequer nos beijávamos", é a pergunta que muitos se fazem. E não raro o sexo melhora mesmo quando um relacionamento se aproxima do fim, esse e outros comportamentos geram uma ambigüidade que, por um lado, permite que vivamos com esperanças de restaurar o afeto de nossos parceiros e, por outro, gera muita ansiedade e alguns dissabores. Nessas circunstâncias, às vezes, a única saída é protelar o momento da separação.

Quando estamos tomados pelo estado de negação de que nosso romance acabou evitamos falar, ver e ouvir qualquer coisa que nos tire dele, mesmo quando os sinais são claros.

Outro aspecto que influencia muito na atitude de negar que o relacionamento acabou é o fato de que um convívio prolongado gera, além da amizade entre os dois, a convivência com pessoas que se tornam muito importantes e com quem sentimos prazer de compartilhar a vida, por isso, parece lógico optarmos por manter a relação, isso garantiria as amizades, o convívio com o grupo que se formou no entorno, a criação dos filhos, mesmo que essa opção represente sentimentos de vazios para ambos.

Nesse meio tempo pode ocorrer de aceitarmos que tudo acabou e não querermos mais negar esse fato. Escolhemos então romper a relação para iniciar uma nova ou passar algum tempo sozinhos. A decisão não chega a causar alívio, pois dependendo do tipo de vínculo que foi estabelecido, e do tempo de permanência com o outro, podemos sentir muita dificuldade em lhe comunicar que não é mais possível continuarmos juntos. Divididos entre a afeição que temos por quem passou parte de sua vida conosco e nosso desejo de começar de novo passamos a experimentar um conflito interno.

Para tentar romper da melhor maneira que conseguirmos, podemos nos tornar mais amistosos para que a outra pessoa compreenda que podemos continuar amigos após a separação. Mas aí percebemos que nossas atitudes não estão sendo compreendidas como gostaríamos e mal entendidos são gerados. As discussões entre nós ficam mais freqüentes e a convivência torna-se insuportável. Nesse processo passamos, quase sem perceber, do convívio negociado e amistoso à indiferença mútua.

Também pode ocorrer o contrário. A pessoa com a qual vivemos está pronta para terminar, mas nós não. Quando somos surpreendidos por um pedido de rompimento passamos o dia sem entender porque a pessoa nos quer abandonar, ficamos ruminando os bons tempos ou o modo insensível como se propôs o fim. E, repentinamente, toda a afeição que tínhamos pode se diluir ou transformar em sentimentos muitos menos agradáveis.

Mesmo assim, se houver oportunidade, tentaremos reatar, pois precisamos continuar negando que tudo acabou. Fazemos qualquer coisa para não perder a pessoa. Não conseguimos ser diferentes. Não ainda! Precisamos de um pouco mais de tempo. O sofrimento é muito grande e não suportamos ouvir de quem esteve conosco nos últimos anos que, agora, tenha desejos e necessidades diferentes dos nossos. Fica a impressão de que o fim é prematuro, que poderíamos recuperar a paixão se nos derem outra chance.

Permutas e barganhas
Se o estado de negação for muito persistente durante um processo de rompimento, o casal pode fazer, inconscientemente, acordos secretos para retardar o fim. Desde o sexo morno passar a ser estupendo até a esperança de ser recompensado se nos mantivermos compreensivos com o que o outro nos diz, mesmo quando não concordamos com nada. Fechamos olhos e ouvidos à realidade e aceitamos coisas que não aceitaríamos noutras circunstâncias. Tanto um como outro pode confundir demonstrações de amizade como sinais de uma possível volta e esperamos.

Esperamos que o outro compreenda que não queremos mais continuar ou esperamos que nossos esforços surtam efeito e a situação seja revertida. No primeiro caso ficamos cansados e frustrados, podemos nos tornar impacientes e irritadiços. No segundo, se interpretamos errado as intenções do outro terminamos por pensar que fomos enganados, pois, por mais que esperemos e nos esforcemos, a relação não volta a ser como nos bons tempos. Seja qual for o caso, sob a condição de negação não conseguimos definir se estamos juntos ou separados e ficamos ainda mais confusos e frustrados com o tipo de convivência que mantemos.

Desapegar-se
Quando as pessoas relatam suas dificuldades com a separação sugerem algo que lembra uma crise de abstinência, muito parecida com a sentida por pessoas que estão abandonando o uso de alguma droga – elevam-se os níveis de ansiedade e angústia; o pensamento fica obsessivo; comete-se atos impulsivos; surgem descompensações emocionais ora desaba-se no choro ora os nervos ficam à flor da pele e ocorrem explosões raivosas; perde-se a fome e o desejo sexual etc.

Quando estamos muito tristes nem sempre conseguimos parar para pensar, sentimos que precisamos voltar a estar com alguém e é nesse de movimento de seguir adiante a qualquer preço que podemos nos perder de nós mesmos.

Não existe um modo mais tranqüilo de se separar, mas separações gradativas podem ser mais fáceis de suportar. Tal qual o apego o processo de desapegar-se deve ter seus prazos respeitados, é preciso se desacostumar aos poucos com a convivência prolongada.

Também não há garantias de que um novo relacionamento vai dar certo. O mais importante, para quem resolve começar de novo, é refletir sobre seus modos de se relacionar e que possam tratar-se com a mesma dignidade, respeito e amor que esperam com que os outros os tratem, incluindo a energia e coragem necessárias para terminar um relacionamento tóxico.


Autor: Sueli Nascimento


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