Por que (não) Ensinar Gramática na Escola



Por Wasley Santos

POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras, 1996.

 

O livro de Sírio Possenti, professor titular do Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP, escritor e autor de várias obras nessa área, é composto de duas partes interdependentes completas em 95 páginas. Ao final da segunda parte do livro, encontra-se um esboço prático onde o autor reúne os pontos relevantes da obra como as concepções de gramática, língua, regra e erro, classificando-as e reafirmando sua linha de defesa disposta no livro.

 

O ensino de Língua Portuguesa tem por objetivo o desenvolvimento da competência comunicativa. Entretanto, ao se avaliar o desempenho da expressão oral e escrita – esta última, principalmente – dos discentes, constata-se que a escola não tem conseguido atingir esse objetivo. No livro, Sírio Possenti afirma que a escola tem o papel de ensinar a língua padrão e, ainda, que a língua portuguesa não é o que está nas gramáticas normativas, isso permite ao professor Possenti defender, sem contradição, que a escola deve ensiná-la (língua portuguesa) sem ensinar gramática ou sem ensinar principalmente gramática. Tomando alguma distancia em relação à linha argumentativa, sempre clara, de cada capitulo da obra, pode-se verificar que eles se referem aos três ingredientes essenciais da situação pedagógica vivida pelo professor de português: a língua, o educando e o professor, considerados no mais das vezes em suas relações recíprocas – é sobre este tripé que Sírio Possenti edifica sua obra.

 

A primeira parte do livro é formada por uma espécie de decálogo, uma vez que são dez princípios que podem clarificar as concepções de estudo e ensino da língua materna. E esses capítulos têm ainda outro caráter: ora evocam uma reflexão, ora nomeiam uma das tantas opções com que se defronta o professor de língua materna, ora denunciam o caráter preconceituoso de uma tese corrente. É com uma sintonia incomparável que Possenti consegue atar os capítulos da obra, deixando-os coesos e interdependentes. O primeiro e o último capítulo intitulam-se respectivamente “O papel da escola é ensinar a língua padrão” e “Ensinar língua ou ensinar gramática?” e são os que mais explicitamente respondem à pergunta que se faz no titulo do livro. Quatro dos oito capítulos têm significadamente por titulo uma sentença negativa (“Não existem línguas fáceis ou difíceis”, “Não existem línguas uniformes”, “Não existem línguas imutáveis”, “Língua não se ensina, aprende-se”); e a disposição de argumentar contra mitos errôneos que prejudicam o ensino da língua está igualmente exposta nos outros quatro (“Damos aula de que a quem?”, “Todos os que falam sabem falar”, “Falamos mais corretamente do que pensamos”, “Sabemos o que os alunos ainda não sabem?”).

 

Na segunda parte da obra, o autor apresenta os conceitos de gramática: normativa, descritiva e internalizada, lançando-se com uma posição crítica em relação ao tipo de gramática predominante nas escolas brasileiras. O professor recomenda que, dentre as possíveis concepções de gramática, se escolha para aplicação no ensino a mais rica de todas, ou seja, a gramática internalizada, pois é esta que o falante naturalmente reconhece e domina. Diante de tais concepções, a metodologia adotada para o ensino da língua é de inteira autonomia do professor, sendo assim, ensinar ou não gramática na escola pode ser oportuno ou inútil, dependendo do que se entenda por gramática e da escolha que se faça desta, que é muito importante. Sírio Possenti deixa bem claro na obra que o livro não foi escrito para fomentar uma improvisão pedagógica, nem para radicalmente substituir a gramática normativa por qual quer outra inconscientemente, não. O próprio título pode ser lido com ou sem o não, valendo os parênteses por uma indicação de opcionalidade, fazendo refletir o que deve e o que pode ser ensinado na escola quanto à língua.

 

Por que (não) ensinar gramática na escola é oferecido, dentre outros, em especial, aos mestres e educadores deste país, para que, após a introspecção causada pela leitura do livro, possam reciclar suas práticas de ensino da língua e, a partir de então, contribuir para a formação de cidadãos conscientes e falantes racionais defensores de sua história e cultura lingüísticas. 


Autor: Wasley Santos


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