A Trindade de Deus



Falar sobre a Trindade de Deus não se constitui em uma tarefa de fácil execução. A causa dessa dificuldade descansa no fato de que a Trindade de Deus é uma realidade que não pode ser satisfatoriamente apreendida pela razão. Na verdade, esta é uma doutrina totalmente "ilógica"que contraria e “afronta” as ciências exatas, como a matemática, por exemplo.

Além da realidade (é evidente que uso a esta palavra não segundo demonstrações científicas – estamos no campo da metafísica – mas segundo uma convicção fideísta) trinitariana não poder corresponder de maneira justificável às exigências da razão humana, ela não é explicada pelas Escrituras Sagradas a fonte de onde a mesma se origina. Contudo, apesar destas verdade circundarem a doutrina da Trindade, o fato é que a Bíblia fala dEla e A admite.

O grande equívoco dos opositores da doutrina da Trindade de Deus, a meu ver, consiste em tentar captá-la pelo viés da razão. Não há dúvidas de que a Unidade de Deus pode ser admitida, sem resistências, pela razão humana, mas a Triunidade Divina só se assentará no coração humano por meio da revelação. Tentar pensar e falar sobre a Trindade à margem da revelação, se constituirá, para qualquer um, em um atentado homicida à fé que A aceita ou se constituirá em um rochedo intransponível para admití-lA.

A palavra “Trindade” não pode ser encontrada na Bíblia. Temos a informação de que ela foi usada, muito provavelmente, pela primeira vez, por Teófilo de Antioquia (181 d.C.) que a usou na forma grega, trias, e por Tertuliano (220 d.C.) que a usou na forma latina, trinitas.

É no Novo Testamento, independente da existência da designação em si, que temos a doutrina da Trindade de Deus tratada explicitamente. Todavia, ela é uma realidade mais antiga. No Antigo Testamento, mesmo de maneira rudimentar, ela pode ser detectada. E é usando o Antigo Testamento – mais precisamente Gênesis 1 – que quero demonstrar o fato da Trindade nesse momento.

Em primeiro lugar quero destacar Gênesis 1:1 para uma análise.

“No princípio criou Deus os céus e a terra.”

A palavra hebraica para Deus neste versículo é “Elohim”.

Os teológos tem visto a presença desta palavra neste texto como um indicador de uma pluralidade de pessoas na Divindade. Observando mais detidamente o verso em questão não é inaceitável admitirmos que eles estão corretos. Atentemos para o uso do verbo criar. Ele está na forma singular indicando que o sejeito da ação, “Elohim” (lembre-se que esta palavra é plural), fez “os céus e a terra” sozinho.

Gramaticalmente falando, o normal seria o uso do verbo criar no plural. Mas, não foi isso que fez o autor canônico. Por que será? Será que ele errou? Ou será que ele estava afirmando que o Plural Majestático (é assim que os teológos designam a palavra “Elohim”) indica a Triunidade de Deus e o uso do verbo criar no singular indica a Unidade de Deus? Em outras palavras, Elohim – pluralidade de pessoas na divindade, a partir da qual há a indicação da distinção de subsistência entre as pessoas da divindade – criou – esse indicativo singular sugere que não há distinção de substância entre estas pessoas. Apesar de subsistirem como personalidades distintas, são elas o único Deus  – “os céus e a terra”. Em assim sendo, ele, o autor, não cometeu nenhum erro gramatical.

Em segundo lugar, analisemos Gênesis 1:26.

“Então disse Deus (Elohim): Façamos o homem à nossa imagem…”

É interessante notarmos que nesta referência já encontramos o verbo que se segue ao sujeito no plural. Neste caso, encontramos Deus dialogando com mais alguém sobre o criar o homem. A questão que se levanta é: com quem Deus está conversando? Certamente não era com os anjos porque estes nunca atuam concomitantemente com Deus mas são sim sempre enviados por Ele para executarem alguma missão. Eu creio que a resposta a esta indagação está no versículo seguinte:

“Criou Deus (Elohim) o homem à sua imagem, à imagem de Deus (Elohim) o criou…” Gn 1:27.

Perceba que a proposta levantada por Deus para a criação do homem era a de criá-lo segundo à Sua imagem. Ele disse: “Façamos o homem à nossa imagem…” Depois desta proposta levantada, Ele, Deus, levou-a a efeito criando o homem unicamente à Sua própria imagem. Afirma o texto: “…À imagem de Deus o criou…”. Desta maneira, Deus só poderia estar conversando com Ele mesmo. O que estava acontecendo nos instantes eternos antes da criação do homem foi um dialógo entre a Trindade Divina. Esta é a única explicação plausível. A presença da palavra plural “Elohim” aqui indica isso.

Os teóricos judeus costumam dizer que com o uso da palavra “Elohim” o que se pode entender é que há aqui, na verdade, apenas uma evocação dos atributos divinos. Há intérpretes protestantes que afirmam que a idéia de poder pleno está por detrás desta palavra, mas isso sem negar a possibilidade da pluralização de pessoas.

No entanto, a interpretação dada pelo judaísmo labora em erro. O contexto não admite esta interpretação. Basta observar que no ato de criar as demais coisas Deus usa o Seu fiat (faça-se) objetivamente sem precisar evocar atributos. Deus os usa, é evidente, mas Ele não dirige-se a eles como que chamando-os para criar alguma coisa. Por dez vezes o autor declara que Deus “disse” (Gn 1:3, 6, 9, 11, 12, 14, 20, 24, 26, 28) e a criação foi adquirindo a vida objetivada por Deus sem necessidade de nenhuma ação subjetiva por parte dEle. O mais coerente é entendermos que Deus, a Trindade, está conversando entre Si com vistas à criação do homem. Por mais incompreensível que seja este fato, não há razões para duvidarmos de que Deus estava falando com pelo menos uma (mas eram duas outras) outra Pessoa idêntica a Ele, substancialmente falando.

Não é possível aqui expor outras referências indicativas da existência da Trindade que o Antigo Testamento nos oferece (eis algumas: Gn 3:22, 11:6-7, 20:13, 48:15, 19:24; Is 6:8). Também não pensei nisso em momento algum. Mas, o que acima foi dito pode perfeitamente fundamentar e legitimar a crença católica, ortodoxa, protestante e evangélica que afirma existir a Trindade de Deus.


Autor: zwinglio rodrigues


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