A INVENÇÃO DO MEDO



A INVENÇÃO DO MEDO

A CONFORTÁVEL BARREIRA DA DESCRENÇA

"O falso muro que nos separa da verdade pode ser a fé de que se trata de uma mentira"

INTRODUÇÃO

Somos nós cristãos que cremos e descrevemos com maior precisão a classe de seres criados entre os homens e o Criador. A humanidade mais inteligente os entendeu como enviados dos céus e nós os batizamos de anjos, arcanjos, querubins, serafins, etc., tudo integrante da ordem angélica da criação, como nos informam as grandes tradições religiosas do mundo.

Mas houve um problema na história da humanidade. Todos sabemos. A humanidade caiu, i.e, rebelou-se contra o Criador e, ao cair, além de perder alguns atributos próprios dos anjos, ganhou um inimigo invisível, um anjo rebelde, com nome, experiência, currículo e tudo. Ao ganhar esse inimigo, ganhamos também um outro inimigo, dentro de nós, e talvez tão terrível quanto o outro, porquanto paralisa e desintegra toda a nossa força, levando à agonia da alma.

Refiro-me ao medo. O medo é a antítese da confiança, e a confiança é a pedra angular da fé, que os cristãos crêem ser a mola-mestra da salvação. Todavia, contudo, não há cristão que não tenha medo, i.e, não há fé que não tremule, aniquilando a confiança e entristecendo a Deus.

De todos os medos que existem, há aquele que mais se aproxima da burrice e da inteligência, a um só tempo. É o medo dos anjos. CS Lewis o possuía, o enfrentou e o venceu. É disto que trataremos aqui, se o medo do leitor o permitir.

BURRICE E INTELIGÊNCIA

O medo é um sentimento próprio da inteligência porque se faz e refaz com argumentos lógicos, sendo o melhor e mais comum deles a revelação bíblica que diz que "o diabo pode se transformar até em anjo de luz". Mas é próprio da burrice acreditar que um anjo bom iria usar disfarces malignos ou aterradores, ou que Deus permitisse tal coisa. Também é próprio da burrice crer que a aproximação de um demônio iria se dar sem qualquer proteção de Deus, ou que Este não permitiria a aproximação de um anjo, atrapalhando as inúmeras missões que eles têm com cada um de nós.

Ora; se Deus não proibiria tal aproximação e muito menos atrapalharia tais missões, então a única barreira entre nós cristãos e os anjos é nosso pré-conceito, que é uma ótima palavra para disfarçar outra, o medo. E todo cristão conhece ou já ouviu falar de histórias de interferências angelicais em livramentos, socorro de vítimas e até em obras de caridade, não estranhando que em tais casos Deus permita a chegada e até a manifestação angélica.

Assim sendo, por que cargas d'água nós crentes não cremos na possibilidade da ocorrência do chamado "diálogo angélico" ou por que tememos que sejamos os escolhidos para tal fenômeno? Quem ou o quê afinal determinou que anjos ficassem calados, quietos ou "de fora" dos acontecimentos, só participando quando algum socorro precisasse de uma "mãozinha" extra? Não nos parece que um artigo de credo que proibisse ou negasse tal possibilidade seria muito mais produto do medo de quem o legislou do que por razão de indicação bíblica clara?... Pois é assim mesmo que cremos, ou melhor, que deveríamos passar a crer.

A BARREIRA INEXISTENTE

Aqui é que entra com extrema propriedade e se faz necessário o pensamento do grande mestre cristão CS Lewis*. Lewis tinha uma particular visão do assunto, e deixou registrado para a posteridade muito mais que um discurso teórico em torno da tão temida ocorrência. Na realidade Lewis teve uma experiência pessoal com anjos, e a primeira coisa que precisamos entender agora é que a expressão "experiência pessoal" não diz tudo ou não é adequada para explicar os fatos por ele vividos.

Um dos mais sintomáticos sinais que Lewis deixou de que a sua experiência é perfeitamente possível para outros cristãos ("anônimos ao redor do mundo"), foi o fato de sempre ter chamado a nossa atenção para personagens corajosos, louvando-os até o limite da honra dos grandes combatentes e do amor ao próximo que não se confunde com idolatria. Lembro-me agora particularmente de um de seus personagens, o qual foi feito por Deus propositalmente diminuto, leve e frágil, mas capaz de seguir sozinho e de peito aberto a enfrentar os piores perigos, a saber, o ratinho Ripichipi. Mas Lewis chega mesmo a louvar a própria coragem, como "virtude-alavanca", capaz de gerar outras virtudes morais no coração de um cristão. Chega a fazer apologia a soldados que, numa guerra, não tremiam nas trincheiras, e louva seu heroísmo como parte de uma bandeira cristã soterrada pela modernidade e até "desencorajada" pelo tal cristianismo-água-com-aúcar.

Por tudo isso, podemos deduzir que Lewis visava outro fim com o louvor da coragem, e nada deve nos estranhar se este outro fim não era justamente "um fim que olhava para o fim", seja no sentido escatológico (do sofrimento das vésperas da parusia), seja no sentido de que o semi-pacifismo moderno iria erradicar dos cristãos aquele coração confiante no seu Deus (o qual não temeria qualquer desdobramentos dos fatos e muito menos um encontro com o Senhor, ainda que esse ocorresse nos moldes do Velho Testamento) que era comum na igreja primitiva.

Assim Lewis, na verdade, estava "preparando a consciência dos cristãos" para os eventos portentosos do apagar das luzes do Século XXI, os quais foram indicados como portadores de grandes dores e sofrimentos para a humanidade, como se deduz do sermão profético de Jesus.

A preparação da consciência teria que pressupor uma erradicação do medo ou pelo menos uma maior intensidade na confiança em Deus, para que os cristãos não figurassem entre aqueles que os evangelhos afirmaram "desmaiar de pavor pela expectativa das coisas que hão de vir". É sempre a pergunta essencial para nós crentes, cuja resposta pode mudar tudo: "O que pode fazer por Deus um cristão derrotado pelo medo?". Lembremos que me refiro a um medo universal... Não a um medo particular que o orgulho suplanta com prazer para exibir-se na igreja ou na sociedade. Refiro-me a um medo sempre inconfesso, por abalar a imagem da fé que queremos deixar perante outros crentes. É aquele da barreira inexistente entre nós e os anjos, "barreira" esta que tem se mantido tão somente pela misericórdia de Deus e que a aproximação da parusia a impedirá de proteger-nos.

CONCLUSÃO

Existem missões angélicas junto aos cristãos. Lewis as experimentou em carne e osso. E estes dois fatos, afinal, explicam TODA a obra de Lewis. São estes dois fatos que fizeram com que sempre houvesse um sinal estranho ou uma sensação de "além-sonho" em tudo o que ele escreveu, e deixasse a tocar junto de nossa alma o telefone de Deus a dizer: "Chegou a hora! Chegou a hora! Não demore mais porque seu atraso o impedirá de fazer qualquer coisa, e eu o quero agindo a meu favor quando as trevas dominarem tudo".

Quem tem coragem para confessar que já ouviu algo assim em sua consciência, ao captar as entrelinhas dos livros de Lewis? Quem tem coragem para traduzir o "hino militar" dos exércitos do Senhor que nos convoca com a melodia das harpas mais belas jamais tocadas?...

Então está claro o nosso chamado. E deve ser o momento derradeiro para precisarmos de uma convocação "tão "vip" no mestre CS Lewis". Ou estamos mesmo tão surdos que foi preciso o estrondo das trombetas do apocalipse?! Mas o nosso medo ainda está lá!... Nosso mestre só o "venceu" pessoalmente. Então é o caso de crermos que nosso medo só será destronado aos trancos e barrancos, e ainda teremos pernas a tremer na hora "H".

Nossos anjos – aqueles que estão escalados especificamente para cada um de nós – estão chegando. E nada os impedirá. Nem nossos pré-conceitos, nem nosso credo, nem nosso Cânon petrificado, nem nosso orgulho, nem nosso medo e muito menos uma proibição de Deus os deterá na última hora, porque na verdade a proibição era justamente a de ficar distante quando o sofrimento ameaçasse alcançar-nos. Então Glória a Deus nas Alturas! Louvemos ao nosso Deus com o mesmo espírito dos salmistas: "Quão bom é o Senhor dos Exércitos que não deixa o seu servo desamparado".

Prof. João Valente de Miranda.

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"O falso muro que nos separa de um encontro com anjos é a fé na falsa porta de entrada de um demônio".

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(*) = C.S. Lewis torna-se necessário aqui porque se recorrermos aos autores bíblicos, sempre alguém poderá dizer que aquilo pertencia a outro tempo, a outra dispensação e a uma época de autenticação da igreja primitiva, na qual isso era necessário e tal e tal. Se recorrermos a Lewis, podemos então saber com certeza que um grande cristão vivenciou tal coisa e por isso ela está autorizada para nós também. O resto se deduz, se o medo deixar...


Autor: João Valente


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