ETNICIDADE E MEMÓRIA ENTRE QUILOMBOLAS EM IRARÁ- BAHIA



Jucélia Bispo dos Santos[1]

RESUMO:

Este trabalho faz uma apreciação do percurso histórico dos quilombolas da comunidade de Olaria, no município de Irará, no estado da Bahia. Esta região fica localizada a 6 km do distrito sede, foi fundada no final do século XIX por famílias de ex-escravos que resistiram à escravidão. A origem da ocupação inicial data de mais de cem anos, segundo a memória dos moradores mais antigos, as referidas terras, nas quais os atuais moradores residem, foram ocupadas num período anterior à Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888 pela princesa Isabel do Brasil. A recordação dos nativos mais velhos abaliza que os primeiros moradores desse lugar chagaram à região por volta de 1840. Assim sendo, apresenta-se uma análise que identifica as dinâmicas interétnicas que foram constituídas em torno da memória dos quilombolas, nos períodos que vão da origem do município, na segunda metade do século XVII, aos dias atuais, quando essas comunidades foram conhecidas como remanescentes de quilombos.  

Palavras-Chave: memória, etnicidade, quilombo, parentesco, resistência.

ABSTRACT

This paper aims at analyzing the historical trajectory of the quilombolas community of Olaria county, in Irará town. This region is 6 km distant from Olaria county. It was founded late in the nineteenth century by descendant families of slaves who resisted to the slavery system. The origin of the initial settlement is more than a hundred years old, according to the memory of the old residents, the referred lands, in which the current residents live, were settled beforeAurea Law had passed, signed in 13 of May of 1888 for the princess Isabel of Brazil. According to the elderly, the first settlers arrived there around 1840. This study shows an analysis which identifies the inter-ethinic dynamics which have been constituted about the memory of quilombola people whichis dated from the very beginning of the process of foundation of the county, in the middle of seventeenth century, to the present times, when these communities are known as remaining of quilombolas.

Key words: memory, ethicinity, quilombo, kinship, resistence.

INTRODUÇÃO

O locus desta pesquisa é a comunidade da Olaria a qual, portanto, faz parte do município de Irará-Bahia. O nome desse município tem origem tupi e designa uma espécie de formiga de asas brancas semelhante aos cupins: é uma alteração da palavra "arará", que por sua vez significa nascida na luz do dia, pois estas formigas surgem ao alvorecer do dia[2]. No entanto, antes de passar a ser chamada de Irará a localidade era conhecida como Purificação dos Campos. Essa denominação persistiu até o final do século XIX, quando foi criado o município, a 08 de agosto de 1895.

A colonização de Irará começou na segunda metade do século XVII, com as entradas de Antônio Guedes Brito, mestre de Casa da Ponte. A Casa da Ponte abrangia desde o Rio de Contas até os limites de Sergipe, incluindo a Cachoeira de Paulo Afonso[3]. Anteriormente à entrada desse sertanista, temos a vinda dos jesuítas para essa região, os quais chegaram com a missão de catequizar os indígenas. Dessa iniciativa surgiu o aldeamento da Purificação que, nos dias atuais, pode ser visualizado por meio dos sítios arqueológicos que estão presentes nas seguintes regiões: comunidade de Brotas, vila de Caroba, Bento Simões e o distrito sede, a cidade de Irará.

O Conde da Ponte, João de Saldanha da Gama Mello Torres Guedes de Brito e a Condessa da Ponte D. Maria Constança de Saldanha Oliveira e Souza, desmembraram, no dia 21 de fevereiro de 1807, a sua gigantesca propriedade. João Peixoto Veigas, um português que veio para a Bahia por volta de 1640, filho de Fernão Peixoto de Viana e de Barbara Fernandes,passou a comandar parte das terras da Casa da Ponte. Em 1652estas terras abrangiam as regiões do Paraguaçu, Itapororocase Água Fria, incluindo também o atual município de Irará, então pertencente à região de Vila de São João Batista de Água Fria[4], criada por força de Resolução Régia de 28 de abril 1727.

A colonização só se consolidou, de fato, nos solos do atual município de Irará a partir do avanço da pecuária no século XVIII, quando ocorreu a instalação de currais de gado em todo o sertão baiano, tais como o do capitão-mor, Antônio Homem de Afonseca e o de Diogo Alves Campos. Nesse período, os colonizadores ensejaram choques com as tribos dos Paiaiás, mas eles ofereceram resistência.

No decorrer dos anos, a região de Irará foi conquistando espaço político no projeto da colonização. Como exemplo desse sucesso ocorreu a criação da Vila da Purificação em 1842, com a mudança da vila de São João Batista da Água Fria (atual Água Fria). Com a implantação da vila ocorreu a ereção do Pelourinho, na atual Praça Pedro Nogueira, o qual era um poste de madeira com argolas de ferro em que os condenados pela justiça eram amarrados e chicoteados. Assim era exercida a justiça: através da aplicação das penas de açoite ou mutilação[5]. Naquele espaço, também eram afixados os editais, anúncios e outras ordens municipais de interesse público. A presença do pelourinho representou a efetivação e o reconhecimento da posse das terras, isto é, simbolizou o poder constituído.

» Baixe o artigo completo para continuar lendo.


Autor: Jucélia Bispo dos Santos


Artigos Relacionados


Coleta Seletiva: InstalaÇÃo, Problemas E SoluÇÕes

Desapropriação Da Propriedade

Roraima. Um Estado Em Desenvolvimento.

As Pontuais Mudanças Trazidas Pela Lei 11.689/08 = Júri

A Viagem

O Chão

Resumo Histórico Sobre Os Médicos Sem Fronteiras