Um cadáver à mostra
Ao longo da via dolorosa, prossigo
À minha esquerda, vejo corpos estendidos
À minha direita, um mar de lágrimas sem conforto...
O que me resta? Nada, só mais um ou outro inimigo,
As palavras frias, malignas e poemas despercebidos
É a vida de um homem que resta ser morto!
Morte! Cavar minha própria sepultura,
Frias ilusões de um mundo que se acaba
Percebo isso sentado numa catacumba!
A vida é uma tortura,
É uma ilusão que desaba
Ali ao lado, e aqui nessa tumba.
Buscava eu, o Sol, o calor,
Até outrora, não busco mais!
Perdi-me na noite da solidão...
Não me encontrou o amor,
Também já não o quero mais,
Muito mais me são lindas as trevas em sua imensidão.
Acima de mim, há uma mão que me bate
Abaixo, há uma lança que me fura!
Da minha boca, saem escorpiões...
A vida só me abate!
Viver só me tortura,
Morte e dor são minhas únicas paixões!
A escuridão só aumenta,
Estou num jardim!
Sinto agora o aroma de enxofre.
Só há flores negras, vejo agora, uma verdadeira tormenta.
São carnívoras as flores: aproximem-se de mim,
Devorem-me! Quero que em mim penetre o seu enxofre.
O caminho é longo e torto!
Não tenho coroa,
Nem mesmo uma de espinhos...
Carrego minha cruz, sem nenhum conforto.
Ainda não tenho a coroa, um pássaro negro me fere e voa.
Quero beber do meu sangue como um dos melhores vinhos.
O vento me carrega, eu não dormia
Eu, em dor me embebia
Cada palavra que eu digo soa incompreensível ao luar.
A morte, sobre mim descia,
A lua caia,
Serpentes começam a flutuar.
Sinto em minha boca imunda
O sangue azul que negro se torna.
O coração há tempos já não bate: demente!
Um espírito maligno, minha alma inunda,
Num lânguido sofrimento íntegro, mas sem forma.
A minha alma estremece nessa dor vigente.
Piso em facas fortemente,
Num ninho de cobras,
Num escuro sem fim...
A morte domina a minha mente,
Ódio, dor e sofrimento serão minhas obras
Ou antes, disso, a morte se aproximará ainda mais de mim?
Uma lágrima insiste em rolar...
Que uma chuva ácida caia sobre mim!
Que a besta me devore amargamente!
Não sei mais me amar
Quero cruelmente o meu fim
Isso se apossa de mim incessantemente.
Já cavo minha sepultura!
Para baixo estou indo,
Caindo para sempre, sinto uma espada em meu peito!
A vida é uma tortura!
A morte me buscará dormindo.
A sepultura será meu eterno leito.
Andando a passos curtos pelo cemitério
Um amigo me esfaqueia,
Outro um cianureto me oferece!
Esse é o meu império,
Aqui a morte vagueia,
Outro amigo um projétil para mim dispara e diz: você merece!
Os órgãos já estão à mostra,
Os vermes os consomem,
A morte demorou!
Uma caveira a mim se prostra
Será ela e outras que amanhã me comem
Os restos que ainda havia, um lobo devorou.
Agora, num último ato de suspirar,
Digo-vos, sem nenhum pesar,
Que se Ismália enlouqueceu,
E sua alma subiu ao céu e seu corpo desceu ao mar,
Eu louco não estou, a morte veio de tanto pensar,
Minha alma não subiu ao céu, paira no ar, mas meu corpo: desceu ao mar!
Autor: Caio Cézar Will Dias
Artigos Relacionados
Minha Mãe Não!
O Inferno Lírico De Badou Sarcass I
O Quarto Da Minha Mente
Poema Fúnebre
Minha Alma
SolidÃo
Vazio