Jovens sofrem com o desemprego



O mercado de trabalho para os jovens brasileiros é marcado por altos índices de informalidade e de desemprego, de acordo com estudo divulgado ontem pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). De acordo com o relatório "Trabalho Decente e Juventude no Brasil", 67,5% dos jovens entre 15 e 24 anos estavam desempregados ou na informalidade em 2006.

Os dados, que têm como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 1992 a 2006, apontam que o déficit era maior entre mulheres jovens (70,1%) do que entre homens jovens (65,6%).

O índice também era mais acentuado entre jovens negros (74,7%) do que para jovens brancos (59,6%). As jovens mulheres negras vivem o que a OIT considera "situação de dupla discriminação" - de gênero e raça. O desemprego e a informalidade alcançavam 77,9% das integrantes desse grupo.

O fato é que a taxa de desemprego entre jovens de 15 a 24 anos cresceu 51% — de 11,9% para 18% — entre 1992 e 2006 no Brasil, evidenciando a ineficácia das políticas públicas existentes para aumentar as oportunidades dos brasileiros desta faixa etária.

O Brasil tem 34,7 milhões de jovens entre 15 e 24 anos. Destes, 22,2 milhões são economicamente ativos — ou seja, estão empregados ou procuram uma vaga. Para a OIT, é alarmante que 3,9 milhões deles estejam desempregados e outros 11 milhões, ocupados no setor informal, sem carteira assinada.

Informalidade
Além da maior incidência de desemprego entre os jovens, o relatório constatou que quase um terço dos profissionais da faixa etária entre 15 e 24 anos não têm carteira de trabalho assinada (31,4%).

A informalidade entre a mão de obra jovem é mais de duas vezes superior à registrada entre os adultos (14,1%).

A maior frequência de emprego sem carteira assinada entre os jovens se deve ao fato da maior parte estar empregada em micro e pequenas empresas, onde é maior a informalidade.

Dados preocupantes
Em relação a dados anteriores do IBGE, colhidos desde 1992, a taxa de desemprego tem apresentado elevação entre os jovens de 15 a 24 anos.

De 1992 a 2008, a desocupação saltou de 11,9% para 17,8%, depois de ter atingido pico de 19,6% em 2005. No mesmo período de análise, também houve aumento, ainda que menor, do desemprego entre adultos, que passou de 4,3% para 5,6%. O relatório observa que a taxa de desemprego entre os jovens é agravada por variáveis como sexo e raça. Entre as mulheres, a desocupação chega a 23%, porcentagem superior aos 13,8% observados entre os homens.

Já entre os homens que se reconhecem como brancos a taxa é de 18,7%, inferior à observada entre os que se dizem negros (23%).

Quando sobrepostos esses dois fatores, a desigualdade é ainda maior. A porcentagem de desemprego entre homens brancos chega a 12,6%, quase a metade da observada entre mulheres negras (24,7%) Os pesquisadores da OIT apontam que o maior déficit de emprego entre essa população é justificado pela discriminação social de que as mulheres e os negros são vítimas.

Os analistas ainda observam que as maiores taxas de desocupação entre jovens estão nas regiões Sudeste (20,3%), Centro-Oeste (17,7%) e Nordeste (16,7%). Quando levadas em conta as unidades da Federação, o desemprego juvenil é mais elevado no Rio de Janeiro (26%). As menores taxas foram registradas no Piauí (8,6%) e em Santa Catarina (11,3%).

Visão da OIT
Para a diretora do escritório da OIT no Brasil, Laís Abramo, os números podem se agravar ainda mais diante da crise econômica. Ela lembra que o Brasil vive, atualmente, um processo de geração de empregos formais, mas em ritmo muito inferior ao que vinha sendo registrado nos últimos anos.

Segundo a OIT  o país vive um processo de geração de empregos formais, mas em ritmo muito inferior ao que foi registrado nos últimos anos. Segundo a diretora, os avanços na agenda de emprego para a juventude foram importantes, mas as desigualdades permanecem.

Abramo acredita que o desafio consiste não apenas em elevar os graus de escolaridade no país, mas em melhorar a qualidade da educação. A pesquisa indica que 7% dos jovens brancos tinham baixa escolaridade e que o número mais do que dobrava, para 16%, quando o recorte era para jovens negros.

Em relação à jornada de trabalho praticada pelos 22 milhões de jovens economicamente ativos, 30% trabalhavam mais de 20 horas semanais, o que, em muitos casos, prejudicava o desempenho escolar. – Há uma espécie de círculo vicioso: o jovem não entra no mercado porque não tem experiência, mas para ter experiência ele precisa estar dentro do mercado. Medidas de aprendizagem, por exemplo, são importantes para romper essa barreira de entrada – avaliou Laís.

Idade adequada
Na maioria dos países, informa o estudo, os jovens apresentam uma taxa de desemprego muito elevada e superior a de adultos, fato que também é uma realidade no mercado de trabalho brasileiro.

Embora o nível de escolaridade dos jovens seja superior ao dos adultos no Brasil, a frequência ao ensino médio na considerada "idade adequada" abrange atualmente menos da metade dos jovens de 15 a 17 anos, tendo em vista que cerca de um terço ainda está no ensino fundamental e cerca de 18% estão fora da escola, informa a OIT.

Segundo a entidade, a análise sugere a definição de prioridades para as políticas voltadas para a juventude: fortalecer as ações de elevação da escolaridade; investir em ações de combate à evasão escolar precoce; considerar como elemento central nas políticas públicas a redução de desigualdades educacionais que atingem jovens pobres, negros e habitantes de zonas rurais; melhorar a qualidade do ensino e ampliar oportunidades de educação profissional, técnica e tecnológica, entre outros.
 
Causas e soluções
Para a OIT, a maior incidência de desemprego entre os jovens se deve às transformações econômicas e sociais pelas quais o País passou nas décadas de 80 e 90, como o baixo ritmo de crescimento econômico e a desestruturação do mercado de trabalho.

O relatório ainda observou que a tendência à demissão é mais comum entre os jovens pelo hábito da faixa etária de deixar seus postos de trabalho com mais frequência do que os adultos, uma vez que costumam ter menos responsabilidades a cumprir com família e agregados.

Ele ainda mostra que, embora o crescimento econômico seja uma condição necessária para a redução do desemprego juvenil, não é condição suficiente. São necessárias também políticas específicas voltadas para melhorar o padrão de inserção dos jovens no mundo do trabalho.

O estudo propõe como solução para o problema maior investimento na escolarização e qualificação dos jovens por meio de programas governamentais. Ele cita como exemplo o ProJovem Urbano e o ProJovem Trabalhador, ambos do governo federal.

Bibliografia
Jornal Valor Econômico de 02 de julho de 2009
Jornal O Globo de 02 de julho de 2009
Jornal do Brasil de 02 de julho de 2009
Jornal de Brasília de 02 de julho de 2009

Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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