Poupança volta a captar em junho



Segundo dados do Banco Central divulgados em 06 de julho, os depósitos somaram R$ 82,622 bilhões, ante retiradas de R$ 80,533 bilhões, o que resultou num saldo de R$ 2,089 bilhões. Em maio, a captação havia sido de R$ 1,88 bilhão e, em junho de 2008, de R$ 1,529 bilhão. O total no mês passado é o maior desde dezembro de 2008, quando os depósitos superaram os saques em R$ 5,387 bilhões.

Foi a terceira vez no ano em que há registro de captação líquida positiva. Em fevereiro, a captação líquida havia sido de R$ 751,395 milhões e em maio, de R$ 1,880 bilhão. Nos meses de janeiro (R$ 486,630 milhões), março (R$ 846,803 milhões) e abril (R$ 941,549 milhões) a captação líquida ficou negativa.

No mês passado, os depósitos somaram R$ 82,622 bilhões e as retiradas R$ 80,533 bilhões. Em junho, o saldo da poupança chegou a R$ 282,189 bilhões. O relatório do Banco Central tem por base dados do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que destina recursos ao setor imobiliário, e da poupança rural.

Apesar do forte impulso em junho, a captação acumulada no primeiro semestre caiu 35% na comparação com o mesmo período de 2008. Na primeira metade de 2008, o saldo foi de R$ 2,6 bilhões enquanto na primeira metade de 2009 atingiu R$ 1,7 bilhão.

Preocupação do Governo
Desde janeiro, quando o BC deu início ao processo de redução da taxa Selic, começou a ser discutido no governo o impacto que essa queda dos juros teria sobre os fundos de investimento. Boa parte do patrimônio desses fundos, especialmente os de renda fixa e DI, está aplicada em títulos públicos, que perdem rentabilidade a cada corte da Selic.

Além do efeito dos juros mais baixos, a rentabilidade dos fundos era afetada pela taxa de administração cobrada pelos fundos e pela alíquota de até 22,5% de Imposto de Renda a que são sujeitos os seus ganhos. A poupança não está sujeita a nenhuma dessas duas cobranças, o que aumenta o ganho líquido oferecido a seus aplicadores.

À medida que as discussões sobre possíveis medidas a serem adotadas pelo governo avançavam, os saques na caderneta aumentavam. Partidos de oposição chegaram até a comparar as possíveis mudanças com o confisco da poupança no governo de Fernando Collor. Entre janeiro e abril, os saques superaram os depósitos em R$ 1,52 bilhão.

Em maio, as mudanças foram anunciadas. O governo se comprometeu a cobrar Imposto de Renda das aplicações acima de R$ 50 mil da poupança e a reduzir a alíquota que incide sobre os fundos, mas não fixou uma data para a implantação das novas regras.

O anúncio da medida pode ter mudado os planos dos poupadores, e entre maio e junho a captação da caderneta voltou a ser positiva.

Reformulação à vista
No caso das aplicações nos fundos são cobrados taxa de administração e Imposto de Renda. O temor do governo é que o Tesouro Nacional tenha dificuldades de vender os títulos e, por conseqüência, de rolar a dívida pública. Pela nova regra para a poupança, será descontado Imposto de Renda do rendimento de poupança que exceder R$ 50 mil. De acordo com o governo, atualmente apenas 1% dos poupadores aplica mais do que R$ 50 mil na caderneta. Entretanto, o governo ainda não enviou a proposta para a análise do Congresso Nacional.

Em janeiro, a taxa Selic passou de 13,75% para 12,75% ao ano. Em março, caiu para 11,25% ao ano e em abril para 10,25% ao ano. Na última reunião, realizada em junho, os juros básicos foram reduzidos para 9,25%. A expectativa do mercado financeiro é de que a Selic ainda seja reduzida neste ano para 8,75% ao ano, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC neste ano.

Ainda é cedo
Mas o volume de depósitos ainda não é visto pela equipe econômica como um sinal de que esteja havendo uma migração de recursos dos fundos de investimento.

De acordo com a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), os saques nos fundos de renda fixa e DI superaram os depósitos em R$ 4,28 bilhões no mês passado (leia texto nesta página). Apesar de negativo, o saldo é relativamente pequeno perto dos mais de R$ 500 bilhões de saldo mantidos nessa aplicação.

Por enquanto, a avaliação do governo é que ainda há espaço para que os bancos reduzam as taxas de administração de seus fundos e possam oferecer aos investidores uma rentabilidade mais atraente do que a da poupança. Por isso, não há pressa para a implantação das novas regras -que, no caso da tributação da poupança, depende também de aprovação do Congresso. Além disso, o governo teme o desgaste da negociação sobre o tema com o Legislativo e os efeitos da cobrança de imposto sobre a poupança em ano eleitoral como 2010.

Números
R$ 82,62 bilhões foi o total de depósitos em poupança no mês passado
R$ 80,53 bilhões foi o total das retiradas em poupança no mês passado
R$ 2,089 bilhões foi a captação líquida da poupança no mês passado
R$ 1,529 bilhão foi a captação líquida da poupança em junho de 2008

Bibliografia
Jornal do Brasil de 07 de julho de 2009
Jornal Folha de S. Paulo de 07 de julho de 2009
Jornal O Estado de S. Paulo de 07 de julho de 2009

Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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