Autismo - Uma síndrome do desenvolvimento infantil



A primeira descrição do autismo foi apresentada por Leo Kanner, em 1943, com base em onze casos de crianças acompanhadas por ele e que possuíam algumas características em comum, como a incapacidade de se relacionarem com outras pessoas, severos distúrbios de linguagem, pouco ou nenhuma comunicação verbal, uma preocupação obsessiva pelo que é imutável e apego excessivo a rotina. Esse conjunto de características foi denominado por ele de autismo infantil precoce.

Três critérios básicos devem ser considerados para o seu diagnóstico: 1) prejuízo qualitativo na interação social; 2) prejuízo qualitativo na comunicação verbal e não-verbal, e no brinquedo imaginativo da criança; e, 3) comportamentos e interesses restritivos e repetitivos; assim descrevem Bosa e Callias (2000). Esse diagnóstico é feito basicamente através da avaliação do quadro clínico, não existem testes ou exames específicos para a detecção do autismo.

O autismo não é uma doença única, é uma síndrome caracterizada por um distúrbio do desenvolvimento infantil, com múltiplas etiologias e graus variáveis de afetamento. É tratado como um transtorno invasivo do desenvolvimento pela psiquiatria, e para o seu diagnóstico uma séria anormalidade no processo de desenvolvimento deve se manifestar desde cedo na vida da criança, as evidência dessa desordem deve ser aparente desde os três primeiros anos de vida da criança.

Mello (2001) aponta que normalmente o que chama atenção dos pais é que o bebê é excessivamente calmo, sonolento, chora sem consolo durante um tempo prolongado, rejeita o colo ou outros aconchegos e tem problemas no sono. Mais tarde, percebe-se que a criança não imita sons ou gestos, não demonstra compartilhar sentimentos ou sensações, não aprende a se comunicar por gestos, como por exemplo, acenar com as mãos para se despedir, rejeita alimentação ou tem gosto restrito a certos alimentos.Nota-se também, desde bebê, que a criança não estabelece contato visual ou quando estabelece é por um curto espaço de tempo, fixa o olhar nas mãos por longo tempo, costuma ter o hábito de morder-se ou morde roupas, objetos e de puxar os cabelos.

As dificuldades na interação social podem manifestar-se com uma inapropriação do comportamento e das manifestações de afeto, um isolamento, uma esquiva do contato visual, uma completa falta de interação com o outro, uma indiferença afetiva e uma falta de empatia social, assim descreve Gadia e Tuchman (2004). Distúrbios do humor e do afeto são comuns na síndrome do autismo, se manifestam através de crises de risos ou de choros aparentemente desmotivados, falta de percepção de perigo ou medo exagerado, ansiedade generalizada e pouca ou nenhuma reação emocional. Essas dificuldades incluem hiperatividade, agressividade, desatenção e comportamento de automutilação, e interferem muito na interação das crianças autistas dentro da família, da escola, da comunidade. Os distúrbios de linguagem ocorrem em diferentes graus, algumas crianças não desenvolvem nenhuma habilidade de comunicação verbal, outras têm uma comunicação imatura caracterizadas por jargão, ecolalias, entonação monótona etc. As crianças autistas apresentam padrões de comportamento repetitivos e estereotipados relacionados à forte resistência a mudanças, apego excessivo a rotina e a objetos e fascínio por movimentos circulares.

Segundo Assunção e Pimentel (2000), a prevalência da síndrome do autismo é quatro vezes maior em meninos do que em meninas. Sua epidemiologia corresponde a aproximadamente 1 a 5 casos em cada 10.000 crianças, numa proporção de 2 a 3 homens para 1 mulher.

Existe grande ligação entre autismo e deficiência mental, uma vez que cerca de 70-86% dos autistas são deficientes mentais. Sua diferenciação dos quadros de deficiência mental é complicada, muitas vezes é realizada através da presença ou não, de comprometimento qualitativo no desenvolvimento das interações sociais e nas habilidades comunicacionais que, nas deficiências mentais, mesmo quando presente, não é a característica mais importante como no autismo.

Em primeiro lugar, é fundamental que seja feito um diagnóstico diferencial entre a síndrome do autismo clássico como descreveu Kanner, de outras síndromes como, por exemplo, a síndrome de Asperger e a síndrome de Rett, que trazem pautas autísticas em seus quadros, e de um episodio autístico que pode vir afetar um sujeito.

A síndrome de Asperger é reconhecida antes dos dois primeiros anos de vida da criança, apresenta maior ocorrência no sexo masculino, é caracterizada por inteligência acima da normalidade, déficit na sociabilidade, interesses específicos e bizarros por cálculo, astrologia, física, química etc.

A síndrome de Rett ocorrem preferencialmente no sexo feminino, sendo reconhecidos entre 5 e 30 meses e apresentando marcado déficit no desenvolvimento, com desaceleração do crescimento craniano, retardo intelectual marcado e forte associação com quadros convulsivos.

Os sintomas autísticos podem estão ligados a uma resposta a trauma emocional, ou seja, diante de uma situação traumática, como acidente, violência sexual, morte, doença, amputação etc., a criança ou até mesmo o adulto, pode desenvolver sintomas autístico como uma reação a esse trauma, mas com tratamento esses sintomas são curados. Mello (2001) descreve que é comum observar através do relato dos pais que após um evento familiar, doença, até mesmo o nascimento de outro filho, a criança começar apresentar regressões no seu comportamento.

O tratamento da síndrome do autismo é complexo, centrando em uma abordagem medicamentosa destinada a redução de sintomas-alvo, representados principalmente por agitação, agressividade e irritabilidade, que impedem o encaminhamento dos pacientes a programas de estimulação e educacionais e intervenções terapêuticas. Por isso, quanto mais precoce o diagnóstico melhor.

O método TEACCH, o sistema de comunicação através de trocas de figuras e a analise aplicada do comportamento são as formas mais usuais de intervenção com crianças autistas, como descreve Mello (2001). O TEACCH – Tratamento e educação para crianças autistas e com distúrbios correlatos da comunicação foram desenvolvidos para organizar o ambiente físico através da rotina e facilitar a compreensão e a adaptação da criança, promovendo uma maior independência. A análise aplicada do comportamento visa ensinar à criança habilidades que ela não possui através de estímulos e reforçamentos, que também permitiram sua maior aprendizagem e independência. O sistema de comunicação através de trocas de figuras visar ajudar a criança a se comunicar através de cartões com figuras e a organizar sua linguagem verbal.

A família do indivíduo autistas se vê frente à necessidade e ao desafio de ajustar seus planos, suas expectativas e seu cotidiano, na adaptação do membro que possui limitações e necessidades especificas, como acredita. As características da síndrome afetam as condições físicas e mentais do sujeito, o que aumenta a sua demanda por cuidados e, assim seu nível de dependência doa pais e/ou dos cuidadores. Essa situação pode constituir um estressor em potencial para familiares, por isso é importantíssimo o acompanhamento dessa família também.

O autismo infantil é um quadro de extrema complexidade que exige que abordagens multidisciplinares, como psicoterapia, fonoaudiologia, equoterapia, musicoterapia e outros que visem à questão educacional e da socialização, a questão médica e a tentativa de estabelecer etiologias e quadros clínicos bem definidos, passíveis de prognósticos precisos, mas, principalmente, na questão terapêutica da síndrome. As bases do tratamento envolvem técnicas de mudança de comportamento, programas educacionais e a analise funcional do comportamento, que vem apresentando bom resultados na reabilitação de crianças autistas. 


Referências Bibliograficas:

BOSA, Cleonice; CALLIAS, Maria. Autismo: Breve revisão de diferentes abordagens.Psicologia: Reflexão e Crítica, 2000, v.13, n. 1.

ASSUMPCAO JR, Francisco B, PIMENTEL, Ana Cristina M.Autismo infantil.Revista Brasileira de Psiquiatria, 2000, v.22 , n.2, p.37-39.

GADIA, Carlos A.; TUCHMAN, Roberto e ROTTA, Newra T.Autismo e doenças invasivas de desenvolvimento.Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, Abril, 2004, v.80, n.2, p.83-94.

MELLO, Ana Maria S. R. Autismo Guia Pratico. 2ª edição: São Paulo. 2001

Schmidt C, Bosa C. A investigação do impacto do autismo na família: revisão crítica de literatura e proposta de um novo modelo. Interação em Psicologia, v.7, n.2, p.111-120, 2003.


Autor: Débora Tolentino


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