OS ELEMENTOS DO ENREDO EM NARRATIVAS LITERÁRIAS DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO: A Experiência no Município de Ocara - CE



OS ELEMENTOS DO ENREDO EM NARRATIVAS LITERÁRIAS DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO: a experiência no município de Ocara-CE.

¹Lisimere Cordeiro do Vale Xavier

Resumo: O presente artigo aborda a experiência de leitura e escrita com alunos do Ensino Médio a partir da escolha de projetos sobre gênero e enredo escolhidos pelos próprios alunos. No primeiro momento desenvolvemos o projeto "Ler e Crescer" pelo qual os alunos e alunas foram orientados a ler e a (re) produzir uma obra literária. No segundo momento efetivamos o projeto "Ensaio Literário" cujo objetivo foi orientar os alunos e alunas a produzir uma narrativa, criando-a à semelhança de uma obra literária. Pretendia-se observar nesses trabalhos se os alunos apropriar-se-iam dos elementos estruturais da narrativa. A experiência foi procedida com um total de 200 alunos do Ensino Médio no Município de Ocara-CE.

Palavras-chave: Leitura, escrita, gênero, enredo

Abstract: This article discusses the experience of reading and writing with the high school students from the choice of projects on gender and plot chosen by the students themselves. At first developed the project "Read and Grow" by which pupils and students were instructed to read and (re) produce a literary work. In effect the second time the project "Literary Essay" whose aim was to target pupils and students to produce a narrative, creating it like a literary work. The aim was to observe such work if the students ownership would be the structural elements of narrative. The experience was achieved with total of 200 students from high school in the city of Ocara-CE.

Keywords: Reading, writing, gender, plot

______________

¹ Professora Licenciada em Pedagogia e Letras pela Universidade Estadual do Ceará – UECE, Especialista em Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa: UECE, Professora de Lingüística Textual do Curso de Pós-Graduação Faculdade Vale do Jaguaribe e Tutora de Ensina a Distância – EAD da FVJ e professora de Educação Básica da Rede Pública Estadual e Municipal.

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente artigo se propõe a registrar trabalho realizado em nossa prática docente (Oficinas de Leitura e Escrita no Ensino Médio). A implantação de oficinas ocorre na Escola Almir Pinto em Ocara – Ce. As mesmas são desenvolvidas em dois semestres.

No primeiro semestre, desenvolvemos o projeto "Ler e Crescer" – fase em que cerca de 200 alunos da - 1º série foram orientados a ler e a (re) produzir uma obra literária. A escolha da obra foi realizada livremente e o critério foi tão somente a identificação pessoal com o gênero e o enredo.

No segundo semestre, desenvolvemos o projeto "Ensaio Literário". Neste momento os alunos foram orientados a produzir uma narrativa criando-a à semelhança de uma obra literária. Pretendia-se observar nesses trabalhos se os alunos apropriar-se-iam dos elementos estruturais da narrativa.

Considerando-se que a LDBEN/96 toma o ensino médio como etapa final da educação básica, esse período de estudos é considerado a fase em que se consolidam e aprofundam-se muitos dos conhecimentos construídos ao longo do ensino fundamental. Espera-se que nessa etapa de formação o aprendiz desenvolva capacidades que lhes permitam avançar em níveis de leitura e escrita mais complexos e é pensando nessa proposta que nos dedicamos a desenvolver os projetos acima citados. Pretendíamos também, a partir do desenvolvimento deste trabalho interpretarmos cientificamente os resultados dessa experiência e recolhermos subsídios técnicos pedagógicos que, uma vez discutidos, compreendidos e (re) significados no contexto de nossa ação docente nos orientassem nas abordagens utilizadas em nossa prática de ensino, especialmente a prática de leitura e escritura que necessariamente devem desenvolver-se sempre de forma imbricada.

Posto isso, analisaremos as narrativas produzidas nesse contexto, tendo em vista em que medida os alunos em interação com obras literárias empregam em suas produções os elementos que estruturam o enredo.

2. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE LEITURA E ESCRITA

O que é ler e escrever? Ler e escrever não é tão somente a decodificação e/ou codificação de símbolos gráficos, mas essencialmente a construção de significados. São processos analíticos que procedem do todo para as partes. O leitor/produtor usa habilidades que o ajudam a compreender e a construir significados. É interativo, o leitor/produtor usa conhecimentos diversos para processar as informações como o conhecimento prévio, conhecimento de mundo, conhecimento lingüístico, conhecimento textual e outros tipos de conhecimento que funcionam interativamente no contexto das relações e condições de produção; considerando-se inclusive o tempo, o espaço, os elementos e os sujeitos envolvidos nesse contexto. Portanto, precisamos considerar e refletir que os textos que lemos são, segundo Bronckart (1999, p. 35):

[p]rodutos da interação social (do uso), assim como os textos nos quais se organizam, os signos continuam perpetuamente sob a dependência desse uso e, portanto, os significados que veiculam não podem ser considerados estáveis senão momentaneamente, em um determinado estado sincrônico (artificialmente). Convém assinalar ainda que, desde que é através desses textos e desses signos com significações sempre moventes que se constroem os mundos representados definidores do contexto das atividades humanas, esses mundos, por sua vez, também se transformam permanentemente.

Ler e escrever são atividades comunicativas, envolvem uma relação cooperativa entre emissor e receptor, revelam intenções e conteúdos. O conhecimento de textos diz respeito ao domínio de estruturas textuais que se constroem a partir de signos lingüísticos que desencadeiam estruturas tipológicas narrativas, expositivas, injuntivas, descritivas, argumentativas, estas se desdobram em diferentes gêneros e o leitor/produtor assimila-os à medida que interage com esses diversificados tipos/gêneros no contexto social que este se insere. O trabalho com a literatura de um modo geral promove àquele que com ela interage a oportunidade de não só conhecer diferentes universos como também a oportunidade de conhecer vários tipos textuais que para Marcuschi (2008), "um gênero realiza seqüência de vários tipos textuais" (p.166). Obviamente que quanto mais o leitor interage com o texto narrativo literário, seja lendo ou escrevendo, mais oportunidade ele tem de vivenciar a intergenericidade de funções e formas deste fabuloso gênero. Para enxertarmos nossas reflexões veremos o que diz o Jornal Mundo Jovem que aborda o seguinte tema:

Machado de Assis: um gênio construído pela leitura. Gênio, sim, não por ter sido agraciado pela natureza com uma habilidade lingüística inata, mas porque conviveu assiduamente com as grandes obras literárias e, ao mesmo tempo, exercitou de forma permanente a escrita" (Setembro, 2008, p. 02).

Pegamos algumas idéias dessa matéria para ilustrar o nosso pensamento e a nossa análise no que diz respeito ao tema e ao trabalho aqui desenvolvido.

Assim como o exemplo de Machado de Assis, temos outros exemplos pelo Brasil e pelo mundo afora de pessoas que se construíram enquanto indivíduos e enquanto cidadãos através da leitura/literatura e, conseqüentemente através do domínio da prática de escritura e nada mais enriquecedor ao ser humano no contexto desse processo leitura/escritura do que o direito e o acesso à leitura, especialmente a literatura que para Cândido é um direito, pois conforme Cândido (1989, p. 169).

Primeiro, verifiquei que a literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza nos liberta do caos e, portanto nos humaniza. Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade.

Com efeito, a literatura é um direito, visto que todo ser humano em alguns momentos de sua vida cotidiana entrega-se espontaneamente a um universo fabulado. A fabulação é poderoso instrumento no que se refere à aquisição da instrução, conhecimento, letramento e educação em geral.

2.1. LEITURA E ESCRITURA: PROCESSO INTERATIVO, ESTRATÉGICO, ANALÍTICO E CONSTRUTIVO.

A propagação, difusão e divulgação de estudos desenvolvidos em disciplinas como a Sociolingüística, Psicolingüística, Lingüística textual, Lingüística aplicada, Análise do Discurso e outras categorias do gênero desencadeiam paradigmas conceituais que levam o conceito de leitura e escritura a serem revistos nos dias atuais, haja vista que o texto passa a ser considerado como uma totalidade, como um conjunto de construção de sentidos, no qual produtor e receptor atuam conjuntamente num dado contexto de produção, conforme Parâmetros Curriculares Nacionais (2008 p. 21-22):

(a) A lingüística, vinculada, portanto, aos recursos lingüísticos em uso ( fonológicos, morfológicos, sintáticos, e léxicas);

(b) textual, ligada, assim, á configuração do texto, em gêneros discursivos ou em seqüência textuais ( narrativa, argumentativa, descritiva, injuntiva, dialogal);

(c) Sociopragmática e discursiva, relacionada, por conseguinte:

•aos interlocutores

•a seus papéis sociais (por exemplo, pai/filho, professor/aluno, médico/paciente, namorado/namorada, irmãos, amigos, etc., que envolvem relações assimétricas e/ou simétrica);

• ás suas motivações e os seus propósitos na interação (como produtores e/ou receptores do texto);

• às restrições da situação (instituição em que ocorre, âmbito da interação (privado ou público), moralidade usada (escrita ou falada), tecnologia implicada etc.);

(d) cognitivo-conceitual, associada aos conhecimentos sobre o mundo – objetos, seres, fatos, fenômenos, acontecimentos, etc. – que envolvem os conceitos e suas inter-relações (sic).

Analisando-se o exposto acima, podemos dizer que temos uma compreensão mais clara das relações entre as dimensões que efetivamente interferem e norteiam o processo de leitura e escritura de um texto no contexto das suas inter-relações, dos recursos lingüísticos utilizados, dos objetos e formas textuais empregados e dos sujeitos espaciais e temporais que o significam e o (re) significam. O trabalho com a leitura e a escritura tem como finalidade principal a formação de leitores proficientes e consequentemente a formação de produtores de textos competentes, pois a possibilidade de produzir textos eficazes é oriunda da prática de leitura, já que a leitura oferece sempre os suportes necessários para a produção escrita. Entendemos também que o próprio escritor/produtor é responsável pelo bom desempenho de sua escrita ao passo que adota o exercício freqüente da escritura como estratégia corrente e necessária a esse bom desempenho e conseqüentemente aproveitam as oportunidades que lhe são oferecidas em todas as ocasiões, especialmente as que são ministradas de forma sistemática no espaço acadêmico escolar.

2.1.2. ASPECTOS COGNITIVOS E PSICOLÓGICOS DO PROCESSO DE REDIGIR

Aprender a redigir é atividade complexa, pois, na verdade, o ato de redigir implica operações mentais conflitantes, satisfazendo a um grande número de exigências simultaneamente. Por vezes é preciso ignorar determinadas imposições para priorizar outros aspectos, por exemplo – uma operação mais refinada de vocabulário pode ser feita posteriormente, enquanto se estrutura sintaticamente frases ou se organiza parágrafos do texto. Podemos escrever as idéias à medida que nos chegam à mente e só depois organizá-las em blocos significativos, pois conforme Rocha (1993, p. 37) "as operações mentais no processo de escrita são distintas bem como os componentes lingüísticos implicados na atividade de leitura e escrita".

Segundo Rocha, (op.cit.), o processo de redigir apresenta determinados "subprocessos" os quais os exporemos e comentaremos abaixo:

a)Ensaio, esboço, revisão e edição;

b)Ensaiar, escrever e passar a limpo;

c)Extrapolar e resumir;

d)Coletar e conectar;

e)Desenvoltura, coerência e precisão;

f)Gerar/organizar idéias, produzir texto e revisar.

Apesar de serem processos mentais recorrentes, para efeito didático, esses componentes podem ser trabalhados separadamente, isto é, podem-se realizar exercícios para treinar a geração, seleção, organização e revisão de idéias.

Partindo-se dessas premissas é que há a proposição de que seja mudado o foco das aulas de redação para aulas de produção escrita que leve o aluno a produzir textos que atendam a diferentes propósitos enunciativos.

2.2.2. MODELOS NARRATIVOS (NARRATIVAS ORAIS)

Vejamos agora os elementos que governam e estruturam a narrativa na oralidade, mas que se assemelham aos usados em narrativas escritas, segundo Labov e Waletzky

•Resumo: constitui-se de uma ou duas cláusulas que resumem a história;

•Orientação: situa o leitor em relação á pessoa, lugar, tempo, situação comportamental;

•Complicação: É o corpo da narrativa, constituído por cláusulas ordenadas temporalmente e que desencadeiam o enredo;

•Avaliação: Revela a atitude do narrador em relação à narrativa, passando o mesmo (narrador) a priorizar algumas unidades do tipo, comentários com julgamento de valor;

•Resolução: apresenta o desenlace dos acontecimentos;

•Coda:Mecanismo funcional que faz com que a perspectiva verbal volte ao momento presente e também estabeleça uma espécie de moral da história (In: Bastos, 1994).

3. UM OUTRO MODELO DE ESTRUTURA NARRATIVA EM PAUL LARIVAILLE.

Esse modelo apresenta a narrativa como um modelo dinâmico, o qual foi utilizado por Fillol e Mouchon na análise de textos escolares escritos, que segundo os autores corresponde melhor ao modelo imposto pela escola. (introdução, desenvolvimento e conclusão).

Estrutura narrativa proposta por Larivaille:

•Estado inicial

•Detonador

•AçãoTransformação

•Sanção

•Estado final

•No estado inicial: apresentam-se os personagens, inserindo-os em um lugar preciso e em uma história ou cronologia;

•Na transformação: modifica-se a situação estática do estado inicial, e é, portanto dinâmica;

•O detonador: explicita a dinamicidade que surge a partir das transformações;

•Na ação e sanção: dá-se passagem para um novo estado estático;

•No estado final: um novo equilíbrio resultante das transformações define o estado final da narrativa (idem).

3.1. CORRESPONDÊNCIA ENTRE OS MODELOS TEÓRICOS DOS AUTORES ACIMA CITADOS

Analisando as teorias narrativas dos autores mencionados, observamos uma correspondência nas funções:

O resumo e a orientação apresentam uma situação similar ao estado inicial, pois estes elementos cumprem a função de situar o leitor no tempo e no espaço referente à história.

A complicação corresponde ao Detonador e a ação – partes da narrativa que movimentam e dinamizam a situação que se apresenta no enredo.

A resolução corresponde a Sanção e ao Estado Final – partes da história que apresentam o desenrolar dos acontecimentos na narrativa.

O elemento denominado avaliação, proposto no primeiro modelo correlaciona-se com o segundo, visto que toda narrativa explícita ou implicitamente, emite sempre juízos de valor. Também se pode correlacionar ao segundo modelo narrativo o elemento coda, visto que as narrativas de um modo geral apresentam sempre alguma moral. Posto isso, ao fazermos um quadro comparativo das idéias de Labov/Waletzky e Larivaille podemos detectar certa correspondência entre os elementos que estruturam e governam o enredo em narrativas escolares, a saber:

Labov/Waletzky

Larivaille

Resumo

Estado Inicial

Orientação

Estado Inicial

Complicação

Detonador/Ação

Avaliação

(...)

Resolução

Sanção/Estado final

Coda

(...)

Considerando os modelos narrativos apresentados, acreditamos que o aluno estimulado a reproduzir e produzir narrativas, tendo em vista, textos literários como modelos, pode reproduzir esses modelos e também produzir-los coerentemente, pois, "... contar é um comportamento humano característico. Ouvimos e contamos estórias desde pequenos, contamos o que nos rodeia, o que vemos acontecer..." (ibidem, p. 29).

Ao contar uma história a pessoa se orienta por um determinado esquema que tem internalizado a partir de narrativas a que está exposto. Estudos comprovam que esses esquemas narrativos usados na oralidade muito se assemelham aos usados em narrativas escritas.

Em suas narrativas os alunos são capazes de criar personagens caracterizando-os física e psicologicamente. São capazes também de partir de uma situação e através de cláusulas estabelecidas temporalmente, ordená-las, da complicação à resolução, ou seja, do começo ao fim da história.

Podemos considerar esses elementos teóricos como definidores de coerência narrativa, tanto no aspecto formal como no aspecto informal.

3.2. COERÊNCIA NARRATIVA EM TEXTOS ORAIS E ESCRITOS

As teorias do funcionamento narrativo de Labov e Waletzky (op. cit.) revelam que as narrativas orais e/ou escritas se estabelecem em dois níveis.

No nível do narrar como ato de fala, que é definido culturalmente, pois desde tenra infância ouvimos histórias e aprendemos a contar essas histórias. Através delas perpetuamos e reproduzimos nossos costumes, nossos valores, nossas crenças. E o nível do narrar como inserção do texto escritonuma situação de interlocução que pode ser mediada pela escola.

É certo que o individuou conhece os esquemas narrativos determinado por sua cultura e narra de acordo com esse esquema.

As narrativas orais definem que o indivíduo recapitula suas experiência passadas através da correspondência de uma seqüência verbal de cláusulas a uma seqüência de eventos onde o narrador conta os fatos reais ou imaginários numa perspectiva verbal presente, futura ou passada, e a seqüência dos acontecimentos vividos se organizam de forma semelhante as das narrativas escritas.

4. CONTEXTUALIZAÇÃO DO AMBIENTE DA PESQUISA

Apresentaremos nesta unidade de trabalho um breve histórico do município de Ocara, abordando como se inicia a povoação do município e o processo educacional, pois, acreditamos que essa informação é pertinente uma vez que o indivíduo é lingüísticamente fruto da sua história de vida.

Apresentaremos o contexto sócio-cultural em que vive nosso educando. Para tanto, recorremos a dados informativos qualitativos diversos à Secretaria da Educação do Município, a Secretaria da Escola Almir Pinto e a textos monográficos acadêmicos organizados por alguns colegas da comunidade. Tudo isso nos ajudou a gerar os dados apresentados em nossa pesquisa.

4.1.ORIGEM E HISTÓRIA DE OCARA

.

Situada na região do Estado do Ceará, tem como limite: Aracoiaba, a Oeste; Quixadá, ao Sul; Morada Nova, a Leste; Cascavel e Chorozinho, ao Norte. Distante 100 km da cidade de Fortaleza. O clima é sempre quente, típico da região Nordestina. Apresenta uma temperatura que varia entre 27° a 30° graus. Com 10 anos de existência, ganhou o nome de Jurema, devido á vegetação típica do sertão (Dantas,1998)

Em 1942 foi elevada a categoria de vila. Passou a distrito em 1946. Pertencia ao município de Aracoiaba. A palavra Ocara significa palco ou terreno de taba, a mesma tem origem indígena (Idem).

A liberdade política de Ocara só veio em 1987, no dia 28 de setembro pelo governador em exercício Valdemar Alcântara.

Ocara tem uma população com cerca de 23.340 habitantes, segundo estimativa do IBGE. Possui uma área de 775,2 Km² que se distribui por seis distritos.

Não podemos deixar de citar o serrote de Ocara, uma pequena elevação com aproximadamente 350 m de altitude, localizado na sede onde foi construída uma pequena capela em louvor a São Francisco de Assis, onde segundo os contadores de história da região havia uma maldizença de almas penadas.

Ocara vive basicamente da agricultura, principalmente da cultura de subsistência, em que são cultivados o milho, o feijão e a mandioca. A castanha de caju é sua maior riqueza agrícola.

4.2. OCARA: RELIGIÃO E CULTURA

Uma das maiores festas populares de Ocara se realiza no dia 1º de novembro de cada ano. Nela há uma mistura de "profano e o sagrado". Enquanto uns acendem velas para seus mortos, outros se divertem nas festas dançantes, parques de diversão e outros. (Ibidem).

Ocara tem como membro enriquecedor de sua cultura o falecido, mas famoso "bonequeiro" – Pedro Boca Rica, um dos mais importantes bonequeiros do Brasil. Seus trabalhos podem ser encontrados no Museu popular de Fortaleza e no Memorial da América Latina em São Paulo.

Não podemos deixar de lembrar também o poeta Raimundo Raposo autor de vários folhetos de cordel que através dos quais muito expressa a cultura do povo ocarense.

O "bumba-meu-boi" é ainda personagem entre as manifestações folclóricas.

O povo de Ocara, é um povo que zela por seus valores, costumes, crenças e religião. Desta forma eles matem viva a memória de seu povo.

4.3. DADOS ESTATÍSTICOS DA EDUCAÇÃO DE OCARA

Atualmente Ocara possui vinte e três escolas municipais distribuídas pelos diferentes distritos e localidades. Uma estadual com três anexos distribuídos nos distritos de Serragem, Curupira e Bolas. Uma particular na sede do município e uma filantrópica, (mantida pelo CCF – Fundo Cristão para Crianças). Somando um total de 6.527 alunos, no Ensino Fundamental e Médio.

O município tem cerca de 274 professores em sala de aula, sendo que a grande maioria atualmente já possui instrução superior dada as permanentes capacitações a nível de graduação implementadas pelo município e/ou em parceria com o governo estadual . Os números precisos são191 com curso superior e 33 com nível médio.

A rede municipal dispõe ainda de 12 turmas de creche que somam um total de 234 alunos. Possui também 37 turmas de educação infantil, somando um total de 727 alunos. O total geral de crianças atendidas no município nas creches e educação infantil aponta um total geral de 961 crianças, segundo dados da Secretaria da Educação do Município de Ocara.

4.4. CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE DE REALIZAÇÃO DA PESQUISA

Esta pesquisa preocupou-se com a caracterização da Escola Almir Pinto, pois é nessa escola que se desenvolvem os projetos de leitura e escrita mencionados por esta pesquisadora.

Esta escola muito tem crescido, pois até 1997 atendia somente a alunos da 8º série do ensino fundamental. Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-(LDB/1996), passou a receber gradativamente as séries do Curso Médio. A escola além do sistema seriado trabalha também com o programa Tempo de Avançar e com diversificados projetos como o de Inclusão Digital, Universitário na Escola e Primeiro Aprender.

A escola possui em seu quadro atual cinqüenta professores e oito funcionários e, apesar dos recursos e dos esforços empreendidos nos últimos anos tem apresentado uma perda em valores qualitativos, pois as taxas de reprovação aumentaram muito, visto que em 2003 tínhamos uma taxa de 2,0% de alunos reprovados e em 2007 chegamos a uma taxa 19%, segundo dados estatísticos colhidos na secretaria da própria escola.

5. INSERÇÃO DOS TEXTOS DOS ALUNOS NO CONTEXTO DE SUAS PRODUÇÕES/ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Com o propósito de viabilizar os projetos "Ler e crescer" e "Ensaio Literário" fizemos um levantamento do acervo de obras literárias disponíveis nas três bibliotecas da cidade – Biblioteca Pública Municipal, Biblioteca do Colégio Municipal Luís Cândido de Oliveira e Biblioteca do Colégio Estadual Almir Pinto, pois considerada a situação sócio-econômica de nossos alunos entendemos que os mesmos não dispõem de recursos financeiros para a compra e aquisição de livros, especialmente os paradidáticos. Este procedimento viabilizou a realização dos projetos com relativo sucesso. Posteriormente selecionamos vinte narrativas entre os que foram produzidos pelos alunos e analisamo seis:

Narrativa 01.

TÍTULO: O Negão

Resumo

Orientação/Estado inicial

"Tudo começa na Jamaica quando um americano começa a traficar drogas no lugar. Os moradores da cidade se revoltam com o traficante e resolvem mata-lo. Mas...".

Complicação/Detonador/Ação

Pára de bater no cara! Agora! Ele é meu irmão de cor. Morou?! Cai fora, você não tem nada a ver com isso.

- Tira essa arma da minha cabeça!

Vai daí o..."

Desde que cheguei nessa cidade que estou sendo perseguido. Acho que já estou perto de vingar a morte de meus pais.

- Vou destruí-lo

- Não será fácil idiota!

- Já estou chegando perto daquele impostor assassino!

... Ai é que você se engana!

- Você a quer?

- Venha pegá-la! Socorro!

Resolução/Sanção/Estado final

O vilão foi preso. Esqueceu tudo e ficou maluco. Foi levado a um hospital para doidos.John e sua namorada casaram-se, tiveram filhos.

Nesta narrativa o uso da palavra "tudo" enquanto recurso anafórico indica uma espécie de resumo no início da narrativa.O autor desencadeia a história apresentando o elemento de orientação e a partir do mesmo desenrolam-se alguns fatos.

Algumas fases da narrativa serão melhor compreendidas se lermos o trabalho original, já que autor desenvolve seu trabalho utilizando também a linguagem não- verbal, ou seja, desenhos, pois temos uma história em quadrinhos, os quais mostram a habilidade e aptidão do seu produtor para as artes gráficas. Porém, os acontecimentos expostos não se encaminham para uma complicação maior e é o clímax que caracterizaria a narratividade. Deste modo, a narrativa chega a seu desfecho com poucos antecedentes. Todavia, podemos observar neste trabalho que os principais elementos da estrutura do enredo se faz presente, haja vista que podemos identificar os elementos de orientação, complicação e desenlace.

É preciso salientar que nesta narrativa o escritor revela uma história de violência e crime. A mídia de um modo geral parece estimular o jovem a gostar desses assuntos e eles de certo modo apreciam o gênero.

Narrativa 02.

TÍTULO: Pérola da Lei

Orientação/Estado inicial

"Trim... Trim... – O toque do telefone nas primeiras horas da manhã, faz com que Júlio Medeiros, já levante de mau humor...".

Complicação/Detonador/Ação

"... – Sabia Gabi que o anel de noivado que te dei ficou lindo em você"?

- É sobre isso que eu vim falar Júlio.

- Eu decidi que não podemos continuar

- O que Gabriela?

- É isso mesmo que você ouviu. Parei para pensar e tive que escolher entre você e minha futura carreira como advogada ..."

Arrasado Júlio sai do restaurante e em sua cabeça passava as mais diferentes idéias, desde suicidar-se a matar Gabi. Mas o seu ódio se transforma em vontade de matar e..."

Resolução/Sanção/Estado final

"... Júlio ergue uma faca, mas antes que ele pudesse ferir Gabi, um tiro é disparado por Manoel e, um corpo cai no chão, é Júlio. Nesse instante Manuel corre na direção de Gabriela e os dois se abraçam longamente".

- Você ta bem Gabi?

- Estou Manuel

- Gabi, eu quero te falar que estou perdidamente apaixonado por você e quero saber se quer casar comigo?

Esta história também, apresenta os elementos básicos da estrutura narrativa: orientação, complicação e resolução. A orientação situa o leitor em relação à situação comportamental da personagem que tem como característica básica o mau humor e conseqüentemente aponta possíveis distúrbios psicológicos da personagem, cumprindo assim uma função referencial no contexto do enredo.

A complicação leva o leitor ao clímax dos acontecimentos, pois nela percebe-se plenamente o transtorno mental que vive a personagem principal que desenvolve um comportamento criminoso e obsessivo em relação aos protagonistas da história.

A resolução apresenta o desenlace dos acontecimentos e define quando o mocinho elimina o criminoso psicopata. Deste modo desencadeia-se o final feliz entre os mocinhos que se casam e são felizes para sempre.

Narrativa 03.

TÍTULO: Meu amigo Pedro

Resumo

Em uma das costumeiras palestras Pedro falava de sexo e gravidez.

Orientação/Estado inicial

E dizia o seguinte: Na hora do sexo pense bastante, pois esse é o assunto em que às duas cabeças pensam juntas. A do homem e a da mulher.

Se a mulher for virgem e estiver com medo o que é normal, o homem deve prepará-la, conversar bastante sobre o assunto.

"... Tenha sempre um só parceiro ou uma só parceira, pois mais de um, pode lhe causar muitos danos... – DST, inclusive AIDS".

""... Até hoje, a melhor maneira de prevenir é a camisinha.

- Use sempre!

Em umas das palestras Pedro vê uma moça muito bonita, seu nome era Mônica.

Durante a palestra Pedro olhava a garota de modo estranho como quem queira alguma coisa.

Depois da palestra Pedro conversa com Mônica e ela decide ir com ele pra todas as outras palestras..."

O casamento ocorreu como o planejado e o casal parecia realmente apaixonado.

Complicação/Detonador/Ação

Passado algum tempo Pedro passou a desconfiar de Mônica. Achava que ele estava sendo traído por Mônica, enquanto viajava.

"Na verdade Mônica transava com vagabundos...".

Resolução/Sanção/ Estado final

De repente Mônica começa a perder peso, sem saber porque isso acontecia.

"Mônica morre e Pedro fica muito mal ...".

"A pior notícia veio depois, quando Pedro ouve do médico que Mônica morreu do vírus do HIV. O Médico pede que Pedro faça um exame de sangue. O Exame dá positivo. Imagine a reação de Pedro...".

Avaliação

Pedro se mata, pois não consegue andar nas ruas com vergonha de si próprio..."

Nesta narrativa o narrador usa o recurso visual, "quadrinhos" – o que torna a história um tanto atraente.

O resumo desta narrativa se caracteriza por uma situação de enunciação típica das redações escolares, pois a impressão que se tem é que o aluno, não tem definido seu interlocutor. O mesmo inicia o texto apresentando uma espécie de justificativa da narrativa, fazendo referência ao tema proposto e estabelecendo uma ligação entre esse tema e seu contexto.

Na orientação deste trabalho podemos perceber que os principais personagens se conhecem numa palestra onde o assunto é as doenças sexualmente transmissíveis, assunto o qual marca o protagonista da história e um dos temas transversais trabalhado no currículo escolar do Ensino Médio.

No desenvolvimento da complicação, o autor deixa claro como os episódios acontecem. O leitor pode inferir que Mônica, a esposa de Pedro retoma sua vida de drogas e matem relações sexuais com seus comparsas contraindo o vírus HIV e posteriormente contaminando Pedro, seu marido. Desta forma a narrativa chega a seu final sem muitos antecedentes.

A resolução desta história, ou seja, o desenlace é trágico principalmente porque Pedro, um dos protagonistas tem como profissão dar palestras preventivas contra doenças sexualmente transmissíveis, inclusive sobre HIV. Ele acaba sendo vítima dessa doença fatal. Isso desperta e mexe com o leitor e certamente atribui certa criatividade e originalidade ao desfecho do enredo.

A coda que também pode explicitar a idéia de moral da história não aparece claramente, ou seja, não podemos apontar uma cláusula específica muito embora, tenhamos no desfecho da narrativa um alerta que nos traz uma lição de vida e conseqüentemente uma moral.

Narrativa 04.

TÍTULO: Que droga de amor!

Orientação/Estado inicial

Numa grande fazenda na cidade de Sertanópoles, havia um grande desenvolvimento através do cultivo de legumes, criação de animais, com uma importância reparável para a população que ali vivia.

"Os donos da fazenda, José e Antônia, sempre andaram com muito carinho trabalhando e derramando muito suor...".

A partir do ano de 1984, a situação começou a mudar em conseqüência de uma terrível seca.

A seca afligia o coração dos agricultores que ali viviam e viram-se obrigados a procurar outra terra.

Na cidade de Campinas, em São Paulo, foi morar Pedro e Júlia que tinham uma única filha, Joana. Uma garota inteligente, mas com a ingenuidade e simplicidade das pessoas que moram no sertão.

Joana agora era adolescente, 15 anos, Cursava a 8ª série e sonhava se formar em direito.

Avaliação

O tempo passou muito rápido e aquela menina estava tornando-se uma mulher, bonita, educada, simpática, mas ainda ingênua e tímida.

Complicação/ Detonador/Ação

Mais tarde, Joana sentada á mesa, foi surpreendida por um rapaz, que parecendo sem querer, atropelou-a no exato momento em que levantava.

- Cara! Você está bêbado? Perguntou Joana muito nervosa.

- Calma gata, foi mal, foi realmente sem querer...

Ao ver aquele rapaz bonito e simpático, Joana sentiu algo estranho por ele, mesmo sem conhecê-lo. Não sabia explicar o que, mas, nunca havia sentido algo igual por alguém. Seus pensamentos a confundem e seu coração batia forte...

- Bem eu conheci sua filha e estou gostando dela, gostaria de ter a permissão de vocês para namorá-la.

"... Enquanto isso, no clube, júnior já estava drogado, mas Joana ainda não. Ele começou a paquerar outras garotas e os namorados ficaram loucos de ciúmes".

"... O cara com raiva de Júnior, por ele ter beijado sua namorada, começou a lhe bater."

- Aí cara, isso é pra tu não se meter com a mulher dos outros, sacô?

Júnior reagiu..."

Um tiro disparou da arma do cara acertando a cabeça de Júnior. – Joana correu e o pegou pelos braços e, chorando muito exclamou: meu amor!

Resolução/Sanção/Estado final

No dia de seu aniversário, dois anos depois, Joana saiu da clínica. Agora com dezoito anos, sabia o queria da vida.

Voltou a ser aquela Joana religiosa, estudiosa, não tão ingênua. Aprendeu muito Estava mais consciente e madura.

"Se sentiu pronta enfrentar a vida e ajudar outros jovens...".

A orientação desta narrativa situa as personagens da história em princípio no interior, ou seja, no sertão. O autor dá seqüência ao seu relato, fazendo uma espécie de resumo, pois, apresenta sucintamente a trajetória da família de Joana que sai do campo para a cidade grande. Esse recurso desperta o interesse do ouvinte para o discurso que se segue.

Depois do resumo, percebemos um elemento de orientação que se apresenta não só no início da narrativa, mas na verdade permeia a produção á medida que aparecem novas personagens que dinamizam a história.

Percebemos num dado momento que o narrador enfatiza e timidez e ingenuidade da protagonista, caracterizando assim uma forma de avaliação que incide mais tarde na complicação que posteriormente vivencia a personagem.

A avaliação se configura exatamente através do uso dos elementos lingüísticos "mas/ainda". Sem isto, as referências a Joana se constituíram apenas em descrição. No entanto o elemento "mas" é portador de um caráter argumentativo muito forte, indicando semanticamente uma oposição. E o vocábulo "ainda" é um elemento de coesão indicativo de continuidade. Assim, os dois contribuem para preparar a complicação.

Deste modo, os acontecimentos transcorrem apresentando os principais elementos que dão sustentação à história, porém há momentos em que o autor se coloca de forma confusa por conta dos episódios que comprometem a coerência textual. Há confusão de informações em alguns trechos, os quais serão claramente percebidos se lermos o trabalho original do começo ao fim.

Narrativa 05.

TÍTULO: A dor da traição

Orientação/Estado inicial

Começo de fevereiro de 1980 inicia-se as aulas no colégio de Educação Infantil Santo anjo, que funcionava ao lado..., em São José dos Campos, na cidade de São Paulo.

Complicação/Detonador/Ação

"... Ana Cristina era uma menina de cor clara e cabelos longos, meiga e simpática de origem humilde ...".

- Ana Cristina, acorde filha1 Já está na hora de ir para a escola.

- Sim mamãe, já estou me aprontando.

- Mamãe, tenho um grande sonho!

- Qual meu amor? Perguntou dona Fátima.

- Meu sonho é de estudar naquele colégio pertinho do meu e quero me tornar médica.

Dona Fátima ficou espantada com a idéia da filha, ficou constrangida, pois não sabia o que responder, porque afinal de contas não tinha condições de pagar um colégio particular. O ganho de costureira era pouco e, além de Ana, tinha mais dois filhos para cuidar. – mas não queria desestimular a filha.

Ana Cristina agora deixava de ser aquela garotinha e ganhava as mais belas formas femininas. Ficou um tipo de mulher alta, cintura fina, pernas grossas, cabelos longos e lisos que brilhavam a luz do sol... Ana Cristina se sente observada. Olha para o lado e vê um lindo rapaz que inacreditavelmente parece com seu amigo Pedro Higor.

- Meu Deus. Exclamou Ana Cristina – Será que é Pedro?

Resolução/Sanção/Estado final

Tudo que Ana Cristina mais desejava, finalmente acontecia. Já era médica, e o homem a quem amou desde infância estava ao seu lado e desta vez para sempre.

A dor da traição é um romance vivido entre adolescentes que se conhecem ainda na infância. Esta trama desenrola-se a partir de uma orientação que situa claramente tempo, lugar, personagem. O autor insere nesse contexto algumas informações desnecessárias, pouco pertinentes para o desenlace da trama, embora trace um perfil da personagem, preparando o leitor para entender mais tarde a complicação e a resolução.

A complicação inicia-se quando a protagonista realiza seu sonho que era o ingresso numa escola particular.

O relacionamento iniciado com um rapaz de condição social superior a dela dá início propriamente a complicação. No entanto os fatos chegam ao ápice da ação quando Ana Cristina acredita que está sendo traída por seu namorado, Pedro Higor. Porém a situação é esclarecida satisfatoriamente e a personagem realiza completamente seu sonho formando-se e cansando-se com Pedro Higor. É uma produção simplificada no que diz respeito à presença da superestrutura narrativa por esta razão, dispensa maiores comentários.

Narrativa 06.

TÍTULO: Os crimes

Orientação/Estado inicial

"Em uma grande cidade chamada São Paulo... moravam Lucas e sua mãe. Lucas era filho adotivo, pois seus verdadeiros pais haviam morrido num acidente de carro".

Depois da morte de seus pais Lucas foi mandado para um orfanato onde passou dois anos antes de ser adotado por Dona Lúcia. ...Lucas teve um sonho. Ele sonhou que sua mãe adotiva, Dona Lúcia de 52 anos estava assistindo televisão e ele encostava o fio da televisão que estava descascado na perna dela e dona Lúcia simplesmente ria para ele.

Complicação/Detonador/Ação

No dia seguinte ao acordar Lucas se deparou com a mesma cena, só que dessa vez era real. – então Lucas já estava com 16 anos, sentiu uma grande vontade de fazer a mesma coisa que fizera no seu sonho.

Lucas encostou o fio em sua mãe e ao tomar uma grande descarga elétrica, morreu na hora.

Depois de matar sua mãe Lucas ficou muito triste e por um instante chegou a se arrepender. ... André não acreditava que a morte de Dona Lúcia fora um acidente e procurou Lucas querendo a verdade.

Lucas ficou muito zangado com André e resolveu contar toda a verdade, mas Lucas já tinha planos para o amigo curioso.

"... Lucas não desperdiçou a primeira chance que teve e quando o seu amigo estava de joelhos... puxou um canivete do bolso e cravou no peito de André ...".

Sempre que cruzava com seu Manoel, Lucas ficava meio sem jeito, pois Lucas sabia que seu Manoel era a pessoa que viu ele e o André no cemitério.

"... Seu Manoel entrou. Lucas pegou um porrete que estava atrás do balcão, o acompanhou e deu várias porradas..."

Depois de seis mortes suspeitas o delegado já estava cismado e decidiu investigar as mortes de maneira direta. Depois de algumas investigações o delegado Souza resolveu interrogar Lucas pelo fato de sua mãe e seu amigo estarem no meio dos mortos.

Dias depois, Lucas estava meio desapontado porque tinha matado Souza em um dia que não era 13, mas ao mesmo tempo estava contende porque tinha se apoderado da amar do delegado.

Resolução/Sanção/Estado final

Douglas um policial amigo do delegado Souza no Rio de Janeiro. Ele vinha de São Paulo á procura de Lucas, pois ele suspeitava que Lucas fosse o autor de vários crimes.

De volta a São Paulo Lucas foi julgado e condenado 75 anos em regime fechado.

Coda

"... Nós esperamos que Lucas seja realmente punido e cumpra todos os anos que lhes foram sentenciados, pois como nós sabemos muito bem, no Brasil, infelizmente nem sempre as leis são cumpridas e acabam realmente ficando apenas no papel...".

Neste episódio a orientação se confunde com o resumo, pois ao mesmo tempo em que o escritor situa o leitor em relação ao lugar onde ocorrem os acontecimentos, ele apresenta uma espécie de sumário do que se propõe a contar.

Neste mesmo tópico o escritor evidencia uma situação de regressão cronológica, contando por que Lucas foi adotado pela senhora Dona Lúcia, tentando certamente inserir elementos que contribuam significativamente com o entendimento e desenrolar dos fatos narrados. Em seguida o escritor dispõe os episódios numa dada seqüência, porém essa cronologia não ocorre de forma satisfatória, havendo quebras no relato.

Em função desses vazios há necessidade de uma grande contribuição do interlocutor no sentido de preencher as lacunas deixadas pelo narrador na progressão dos eventos contados. Mas enfim, a orientação fornece pistas valiosas sobre a pessoa de Lucas e o enredo em geral.

A complicação se desenrola revelando ser o personagem (Lucas) um assassino em série.

Como condicionante da resolução entra em cena o personagem Douglas, praticamente no final da história. Essa entrada deixa o interlocutor um tanto desorientado, já que costumeiramente o leitor acompanha a trajetória heróica do mocinho e envolve-se com sua luta.

O elemento coda tem a função de dar por encerrada a narrativa e chamar a atenção para o desejo de justiça que expressa o narrador mediante a insatisfação quanto ao cumprimento das leis no Brasil.

5.1. QUADRO DE DESEMPENHO QUANTITATIVO E QUALITATIVO RELATIVO Á SUPERESTRUTURA NARRATIVA.

NARRATIVAS

MODELOS – LABOV/WALETZKY E LARIVAILLE

 

 

RES.

ORIENT.

COMP.

AVALI.

RESOL.

CODA

01. O negão

X

X

X

 

X

X

02. Pérolas da lei

 

X

X

 

X

 

03. Meu amigo Pedro

X

X

X

X

X

 

04. Que droga de amor!

X

X

X

X

X

 

05. A dor da traição

 

X

X

 

X

 

06. Os crimes

 

X

X

 

X

X

Os textos analisados podem ser divididos diferentemente, os que por vezes, começam com o resumo e os que imprescindivelmente começam com a orientação.

A orientação se faz presente em todos os textos analisados, assim como os elementos estruturais de complicação e resolução. Os elementos narrativos de avaliação e coda aparecem apenas em alguns textos.

Constatamos em nossas análises um percentual de desenvolvimento dos elementos de orientação, complicação e resolução em torno de 100% ficando os demais elementos; resumo, avaliação e coda num percentual mais reduzido.

É importante observar que as narrativas 1,3 e 4 apresentam maior número de elementos estruturais, no entanto são superadas pela narrativa 5, que apesar de apresentar somente três elementos estruturais se expõe mais consistente e completa, dada a ordenação lógica e temporal das cláusulas e outros elementos como os de coesão e coerência narrativas.

As funções que governam a estrutura narrativa se incorporam as histórias analisadas distintamente, o que nos leva a crer que os modelos narrativos que ora se apresentam não se estabelecem nos eventos contados de forma uniforme uma vez que a realidade que origina os episódios é dinâmica.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos dizer seguramente que este trabalho contribuiu substancialmente para que pudéssemos observar em que medida os alunos podem assimilar os elementos necessários à estrutura narrativa e usá-los em suas produções escritas básicas. Podemos concluir ainda que a prática de leitura fornece ao aluno a matéria prima para a escritura e certamente ajuda também na formação de hábitos e atitudes favoráveis a essa prática tão necessáriaem nossa comunidade escolar.

Consideramos os resultados deste trabalho satisfatórios, pois, podemos constatar que o aluno lendo, reproduzindo e produzindo textos narrativos literários, desenvolve as habilidades de narrador tornando-se capaz de apresentar em suas narrativas escritas os elementos essenciais que as estruturam e as governam como os elementos de orientação, complicação e resolução. Deste modo, concordamos com os Parâmetros Curriculares Nacionais, (2008):

[o] processo de ensino e de aprendizagem deve levar o aluno à construção gradativa de saberes sobre os textos que circulam socialmente, recorrendo a diferentes universos semióticos, pode-se dizer que ações realizadas na disciplina Língua Portuguesa, no contexto do ensino médio, devem propiciar ao aluno o refinamento de habilidades de leitura e de escrita... (p. 18).

É importante, portanto, que a escola e o professor desenvolvam projetos nos quais trabalhem em parceria com a escola e a comunidade em geral no sentido de promover sempre o bom desempenho de seus alunos principalmente em relação a questões que urgem, posto que seja o caso da leitura e da na escritura no ensino médio. Podemos observar durante e depois da realização das oficinas que alguns alunos retornavam à biblioteca da escola com o propósito de pegar livros para lerem. Isso pode evidenciar o desenvolvimento de hábitos e atitudes favoráveis à leitura e conseqüentemente a escritura. Acreditamos que essa prática seja também conseqüência e reflexo do nosso projeto de ação pedagógicos aqui analisados e avaliados.

Na verdade a pesquisa realizada apresenta um pequeno universo dos sujeitos envolvidos, porém o que pretendíamos era apenas ter uma pequena amostra dos fatos investigados, até para podermos constituir subsídios para trabalhos posteriores que objetivem avaliar além dos elementos da narrativa, outros de natureza lingüística, o que certamente trará benefícios para alunos e professores no contexto das relações sócio-educativas.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKHTIN, Mikhail M. Dialogismo e construção do sentido / Beth Brait (orgs.). Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1997.

BASTOS, Lúcia Kopschitz. Coesão e Coerência em Narrativas Escolares. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1994.

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria da Educação Básica. Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: 2008 (Orientações curriculares para o ensino médio; volume 1).

__. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997.

__. Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional. Brasília: 1996.

BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos. Por um interacionismo sociodiscursivo / trad. Anna Rachel Machado Péricles Cunha. – São Paulo: EDUC, 1999.

CÂNDIDO, Antonio. Vários Escritos. 4. ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Duas Cidades/Ouro sobre Azul, 2004.

DANTAS, Elânia Cosme da Silva. Quais os Processos Psicossociais que Ocorrem na Criança que lhe Permite Aprender Ler e a Escrever? (Monografia de Graduação apresentada ao Programa de Graduação da Faculdade de Ciências e Letras do Sertão Central: Quixadá, 1998). Mimeo.

KATO, Mary A. No Mundo da Escrita. Uma perspectiva Psicolingüística. 3ª Edição. São Paulo. Editora Ática, 1990.

KLEIMAN, Ângela. Texto e Leitor. Aspectos Cognitivos da Leitura. 2. ed. Campinas - SP: Pontes, 1989.

MARCUSCHI, Luiz Antonio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

M.ARIA, de Luzia. Machado de Assis: um gênio construído pela leitura. Jornal Mundo Jovem, ano 46, nº. 390. Setembro 2008.

ROCHA, Iúta Lerche Vieira. (Orgs.) "Laboratório de Leitura e Escrita: Atividade de Compreensão e Produção de Textos": CAEP/NELM/UFC, 1989.

TRAVAGLIA, Luís. Carlos. Superestruturas Textuais. In: TRAVAGLIA, Luís Carlos. Um Estudo Textual-discursivo do Verbo no Português do Brasil. Campinas. Tese de Doutorado. UNICAMP/IEL. Exceto do Cap. 6.

VARGAS, Suzana. O prazer da leitura. Jornal Mundo Jovem, ano 37, nº. 296. Maio, 1999.


Autor: Lisimere Cordeiro


Artigos Relacionados


A Logística Como Diferencial Competitivo

Seguir Com FÉ

A Formiga E O Elefante

10 Poderosas Palavras Que Vendem Valor

A Raposa E A Ovelha

O Sexo é Sagrado...

Mensagem De Papai Noel Aos Pais E AvÓs