COMBATENDO O MAL PELA RAIZ



Muito se discutiu sobre violência nos últimos meses, principalmente em função das avalanches de revoltas nos presídios de São Paulo. A corrupção corre frouxa no meio político e a população brasileira vê, a cada dia, o sonho de fazer parte de uma nação mais justa e próspera se esvaindo por entre os dedos, parecendo, a todos nós brasileiros, que a luz no fim do túnel está cada dia mais fraca, correndo o risco de se apagar definitivamente.

            O mundo está virado de cabeça para baixo; pessoas “vivendo para comer ao invés de comer para viver”; sedentas com o presente e seus prazeres materiais, o “ter” é hoje mais valorizado do que o “ser”, e a felicidade vai se tornando sinônimo de posses de bens materiais e dinheiro. Para “alguns muitos”, existe sim um mundo melhor, só que esse custa muito caro e só poucos tem o privilégio de viver nele.

            Quase nunca se vê idéias verdadeiramente capazes de acabar com o mal pela raiz. Se perguntar-mos para um homem do campo como acabar com as ervas daninhas de uma plantação, o mesmo, sem pestanejar, saberá responder que o jeito mais eficaz não é cortar “por cima” com a enxada, mas sim cavar mais fundo e expor as raízes da erva ao sol até que sequem, inibindo por completo a sua capacidade de germinação. Por analogia, perceberemos que quando realmente queremos, ou temos o interesse de resolver um problema definitivamente, temos que ir além, ou seja, combater os problemas pela raiz. Uma dúvida deixo no ar: será que é a mania do imediatismo, ou os interesses exclusos que impedem de serem resolvidos problemas tão anacrônicos, como o comportamento violento e/ou corrupto dos bandidos?

            Placebos são distribuídos aos montes entre os brasileiros enquanto a corrupção e a violência imperam soberanas. E o que pode ser feito? Endurecer as leis? Geração de mais emprego e renda? Mudança de regime político? Não. Creio que atender estes quesitos seria apenas um paliativo. O principal mesmo é a educação, e eu não estou falando só da educação que se aprende na escola, mas também àquela que deve acompanhar as crianças pelo menos até os 6 ou 7 anos de idade no seio familiar.

            A psicologia nos explica que o temperamento é nato, mas a personalidade e os conceitos morais e éticos são formados no dia-a-dia das pessoas, com a convivência no meio social. Até os seis ou sete anos de idade, é formada a personalidade do homem, e, a partir desta idade até os 16 ou 17 anos, começa a formação do caráter, da ética e da moral.

            Daí a necessidade de se preocupar mais com a criança. Ela vive basicamente no presente, quer dizer, sua vida se realiza no plano atual. Seus objetivos são imediatos e à medida que ela cresce, mais e mais é afetada pelo passado e pelo futuro. Importante é a criançada ter contato com os pais e principalmente com o afeto materno pelo menos até os sete anos de idade. O carinho que deve ser dado a uma criança começa dentro da barriga da mãe, seguindo até a amamentação e prosseguindo até sua adolescência.

            Como está sendo moldada a personalidade de nossas crianças até os sete anos de idade? O filho que está para nascer é fruto de um relacionamento amoroso? Pai e mãe estão preparados para servir a verdadeira educação a seus filhos? O governo vem dando apoio necessário para daí surgir um cidadão mais digno, pacífico e principalmente equilibrado?

            Todos nós somos responsáveis pela atual situação de nossa nação, principalmente no tocante a violência e a corrupção. Os pais precisam repensar as relações familiares, o governo tem a obrigação de fornecer meios para que possamos educar nossos filhos de forma mais digna melhorando escolas, criando creches, preparando e bem remunerando os professores das fases iniciais. Mães e pais estão tendo que abrir mão de acompanhar seus filhos na fase que mais precisam para abastecer os cofres palacianos, enquanto o Estado fica de braços cruzados sem perceber que está colocando lenha em um caldeirão que mais hora, menos hora, vai transbordar. Aliás, já está transbordando.

            Cientistas confirmam que a violência e a corrupção estão presentes mesmo nas populações mais ricas, elas mostram claramente que toda ação, tem uma reação. Qual educação e grau de afetividade que teria passado os violentos bandidos e os “inteligentes”       corruptos? A coisa é muito séria. Tem gente por aí que teve acesso a uma educação científica impecável, boa alimentação e tudo mais que o dinheiro pode comprar e, no entanto, são pessoas violentas e às vezes até cruéis, desonestas, eticamente e moralmente reprováveis para uma vida em sociedade.

            Precisamos repensar o ambiente familiar dos brasileiros; rever nossos valores, costumes e principalmente nossa educação. Só assim vamos conseguir combater o mal pela raiz, passando a ter orgulho de nosso Brasil, não só pela destreza futebolística, mas sim por ter a paz e a justiça imperando em nosso continental território.
Autor: HERÁCLITO NEY SUITER


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