Aspectos Psicossociais e Emocionais que Envolvem a Gravidez Tardia



A gravidez é um momento muito especial no cotidiano feminino, contudo, a evolução social e tecnológica tem aberto um vasto campo de trabalho feminino, assim a mulher vem conquistando o seu espaço no mercado de trabalho. O processo gestacional é então desencadeado depois da formação profissional, da estabilização financeira, entre outras variáveis, ocorrendo normalmente após os trinta anos. A compreensão dos agravos a saúde da mulher foi sendo alvo da nossa investigação e curiosidade, principalmente sobre as conseqüências desta escolha, dessa forma fomos remetidos a um questionamento, porque há hoje um elevado índice de mulheres que engravidam tardiamente? Para tanto o objetivo desse estudo é identificar os aspectos psicossociais e emocionais que levam a mulher a uma concepção tardia. O estudo caracteriza como exploratório e descritivo, sendo a análise dos dados realizada por meio da abordagem qualitativa. O campo de pesquisa foi na cidade de Várzea Grande tendo como sujeitos cinco gestantes, por convergência dos dados. No perfil de identificação, a faixa foi dos trinta e quatro aos trinta e sete anos; quanto a idade gestacional todas as entrevistadas estavam no último trimestre de gestação. A coleta dos dados foi realizada no mês de fevereiro a abril de 2008. A analise qualitativa resultou em quatro categorias sendo elas: Gestação e planejamento familiar; Fatores relevantes da gestação tardia; Descobertas e modificações da gestação; Adversidades psicológicas da mãe frente a gestação, parto e ao bebê. Ao longo deste estudo pode-se perceber algumas respostas evasivas, evidenciando que a mulher relaciona a gravidez ao aspecto físico. E embora planejada, mesmo em um período de amadurecimento da mulher, os conflitos similares e outras situações como as mudanças fisiológicas podemos afirmar que a gestação tardia é uma opção acompanhada de realização de sonhos/objetivos individuais, porém, prevalecendo a opção de ter um companheiro ao seu lado neste momento especial. O medo natural que todas as mulheres têm da maternidade, é transformada em dor física, e a isto se adiciona o terror do desconhecido, por não saber se conseguirá dar conta dessa dádiva de Deus que é ser mãe.
PALAVRAS CHAVE: Gestação tardia – aspectos psicossociais – aspectos emocionais – fator de risco

1 - INTRODUÇÃO

A gravidez é um momento muito especial na vida da mulher é uma ocasião única e nova, neste sentido a mulher ao se descobrir grávida, mesmo sendo esta planejada, vivencia sensações indiscutíveis, as quais sendo bem esclarecidas podem desencadear conflitos que poderão interferir no núcleo social e familiar.

O processo gestacional é sempre uma expectativa da família e da própria sociedade, ou seja, o nascimento de uma criança do sexo feminino quase sempre vem acompanhado de sonhos da continuidade dos familiares, na expectativa da maternidade em si, muitas famílias enfatizam que a filha trará o tão esperado neto (a), e o bisneto (a).

Neste enfoque, a menina cresce brincando de boneca, reproduzindo os cuidados maternais. Porém, a evolução social e tecnológica tem aberto um vasto campo de trabalho feminino, assim a mulher vem conquistando o seu espaço no mercado de trabalho buscando sua formação profissional, pois muitas vezes, ela necessita trabalhar para ajudar os pais e depois a nova família. Com isso adia a maternidade e o processo gestacional é desencadeado depois da formação profissional, da estabilização financeira, entre outras variáveis. Assim, a gravidez normalmente está ocorrendo após os trinta anos.

Freitas (2002), enfatiza que a gestação é um fenômeno fisiológico e por isso sua evolução se dá na maior parte dos casos sem intercorrências, muitas constatações clínicas às estatísticas demonstram ao contrário e sempre há uma indicação da medicina quanto aos riscos vinculados ao fator idade.

Sendo assim e considerando todas as dimensões que envolvem o ser humano estudaremos os aspectos psicossociais e emocionais que envolvem a gravidez tardia.

2 - JUSTIFICATIVA

A gravidez é um episódio fisiológico na vida da mulher, onde o organismo se prepara lentamente desde a puberdade até a maturidade sexual através de modificações gerais em todo corpo da mulher.

Observa-se com freqüência que há um aumento crescente do número de mulheres que optam pela gestação tardia ou por determinadas circunstâncias são levadas a isso, supõem-se que isso se deva a razões como a falta de estabilidade conjugal; busca de autonomia profissional, instabilidade econômica, instabilidade emocional ou ainda a existência de métodos contraceptivos que permitem à mulher decidir o momento que acha apropriada para viver a maternidade, que muitas vezes torna-se tardia devido a tais motivos (MALDONADO, 1997).

Sabe-se que a gravidez tardia traz consigo alguns riscos, tanto a saúde da mãe como do feto, podendo ainda ser impossibilitada pela diminuição da fertilidade da mulher, levando a mulher a tentativas frustradas. Enfim, esses fatores que levam a mulher a adiar a gestação bem como os riscos relacionados à mesma tornam-se um sério problema para algumas mulheres.

A escolha do tema deu-se aos elevados índices de mulheres que optam pela gravidez tardia, quer pelas circunstâncias profissionais ou pessoais as quais são levadas a ela, submetendo-se assim a fatores de risco relacionados a essa opção. Nota-se que essa situação pode gerar uma série de sentimentos tanto na mulher que irá conceber tardiamente, quanto certa estigmatização dessa mulher pelas pessoas que a cercam.

Nesse sentido, o interesse em desenvolver esse estudo, reside em conhecer os fatores que levam a mulher a optar pela gestação tardia e os fatores de risco relacionados a ela e ainda como a enfermagem pode atuar nesse sentido.

3 - OBJETIVOS

3.1 - Objetivo geral:

ØIdentificar os aspectos psicossociais e emocionais que levam a mulher a uma concepção tardia.

3.2 - Objetivo específico:

ØAvaliar os fatores de risco da gestação após os trinta anos

4 – REVISÃO DE LITERATURA

4.1 – Aspectos gerais da gravidez

A gravidez é um estado de espírito na existência feminina, quase um destino, ou a revés uma opção de vida. Porém, ela não pode ocorrer isoladamente, ou seja, ela depende basicamente de dois seres, o homem e a mulher. Por mais avanços tecnológicos da medicina, ela está inserida em um contexto familiar e social, o qual influência diretamente no processo, beneficiando ou não os participantes desta escolha.

Gestação é a fase em que a mulher traz em seu ventre o resultado da fecundação e esta por sua vez ocorre no encontro de duas células (masculina e feminina), durante o ato sexual, no período fértil da mulher, que acontece entre o 14º e 16º dia do ciclo menstrual, resultando na formação do zigoto. De acordo com Guyton (1992) esta célula se divide progressivamente, enquanto transita pela trompa de falópio até atingir a cavidade uterina, se fixando na membrana endometrial.

Para que esta união se concretize e evolua há uma série de modificações no organismo feminino, principalmente, relacionado aos hormônios, os quais, auxiliam na implantação do ovo fecundado, cujo resultado final é o desenvolvimento de um novo ser.

A duração da gestação é de aproximadamente 270 a 280 dias, sendo que este período de tempo é calculado em meses de 28 dias, são chamados os meses lunares. Alguns autores como Rezende (2000), afirma que a duração da gestação se dá em torno de quarenta semanas, pois, não há como precisar o momento da fecundação, neste sentido, ocorre um erro de estimativa de aproximadamente duas semanas, por isso, coloca-se que um feto é a termo a partir de trinta e oito semanas de gestação.

A mulher ao engravidar, passa por transformações físicas e psicológicas normais do período gestacional, essas modificações adaptam o corpo feminino e o seu cotidiano para receber o novo ser. Contudo, nem sempre as alterações são conhecidas por quem vivencia esse processo (REZENDE, 2000).

4.2 - Alterações fisiológicas da gestação

Todas as alterações que ocorrem no organismo da mulher servem como preparação para o recebimento e sobrevivência do novo ser. Estas modificações que ocorrem durante a gravidez estão entre as mais significativas que o corpo humano pode sofrer. Presentes desde o momento da concepção até o pós-parto, essas alterações são essenciais para a manutenção da gestação, desenvolvimento do feto, parto, puerpério e para a lactação subseqüente (REZENDE, 2000).

Para Branden (2000), a medida que o feto cresce o perfil hormonal se modifica, há adaptações no físico da mulher e em todos os seus sistemas. As primeiras fases da gestação causam várias alterações fisiológicas, sendo estas visualizadas por meio de sinais, os quais, são chamados de: presuntivo, probabilidade e certeza.

Os primeiros sinais são indicativos percebidos pela mulher e ou pela equipe de saúde, servindo de diagnóstico primário para a solicitação da confirmação da gestação, sendo este último descrito como sinal de certeza da gravidez que são especificamente a ultra-sonogafia, Rx e pelos batimentos cardíacos fetais (BRANDEN, 2000).

Delascio & Guariento (1981), afirmam que a gravidezrepresenta um período de completo desenvolvimento funcional, do qual participa toda a economia materna e que põe à prova, todos os tecidos do organismo, incluindo sistema reprodutor, endócrino, respiratório, cardiovascular, urinário, gastrointestinal, músculo-esquelético, tegumentar, imune e neurológico.

Para a maioria das mulheres a percepção da gravidez vem por meio das náuseas e vômitos, os quais costuma aparecer pela manhã, sendo estes classificados por alguns autores como sinal presuntivo. Rezende (2000), enfatiza que estes desconfortos são quase sempre desencadeados por excitações sensoriais e mais especificamente olfativas.

Outros sintomas que também se somam a estes, chamando atenção da mulher, é a sensibilidade, ou seja, ela fica emotiva e chorosa. As mamas ficam doloridas e túrgidas, muda a coloração dos mamilos e a principal é a ausência da menstruação, levando assim a futura gestante a recorrer a exames laboratoriais e aos profissionais de saúde para confirmar a possível gravidez.O diagnóstico da gravidez é como um despertar para a mulher, ela começa a perceber as modificações no organismo gradativamente, sendo algumas visíveis, logo no início da gestação e outras que vão se transformando ao longo do tempo, como é o caso da mudança do centro gravitacional para a manutenção do equilíbrio corporal, da gestante, durante o processo gestacional (REZENDE, 2000).

A mulher passa a visualizar o seu corpo de forma diferenciada, isto porque a sua postura é modificada em função do acolhimento do novo ser em seu ventre. Rezende (2000), afirma que a matriz evadida da pelve se apóia à parede abdominal e as mamas dilatadas e engrandecidas, pesam no tórax, sendo necessário que o centro de gravidade se desvie para diante, neste sentido, todo o corpo se curva para trás, em um mecanismo de conservação postural.

Acentua-se assim a lordose, há um abertura da base de sustentação (pés) no intuito de prevenir a queda, além da ação provocada pelo hormônio chamado relaxina, o qual segundo Ziguel & Cranley (1985), provoca um relaxamento das articulações, fazendo com que a mulher passe a adotar um andar claudicante, característico desta fase.

As alterações cutâneas são para as mulheres encarada como descnfortos, porem, indicativos de confirmação da gravidez. Ziguel & Cranley (1985), há um aumento do fluxo sanguíneo, ocorre o aparecimento de tramas vasculares, intensificação da cor em algumas áreas pigmentadas, por vez desencadeando o chamado cloasma. Também pode ocorrer o desencadeamento de estrias (ZIGUEL & CRANLEY, 1985).

Há também um aumento da atividade das glândulas sebáceas, sudoríparas e dos folículos pilosos, o que deixa a pele da gestante mais oleosa e um suor mais intenso. Estas alterações segundo Branden (2000) ocorrem devido ao aumento dos níveis do hormônio estimulador melanócito e aumento do nível do estrogênio.

O útero, o grande acolhedor do feto, também sobre grandes modificações, ele pesa antes da gestação aproximadamente 60g e no decorrer do processo gestacional,Burrughs (1995), chega a aumentar cerca de 20 vezes o seu tamanho, passando a pesar em torno de 1.000 gramas até o nascimento, suas paredes ficam finas e há ação efetiva da ocitocina que provoca a contração das células do miométrio, as quais, começam no início da gestação e são chamadas de contrações de Braxton Hicks. Elas são indolores até o desencadeamento do processo de parto, onde essas se transformam efetivamente em contrações involuntárias e dolorosas, para então conduzir o feto ao mundo extra uterino (BURRUGHS, 1995).

Durante a gravidez, é comum o aparecimento de varizes ou microvarizes, principalmente após o quarto mês, em razão das alterações que acontecem no sistema circulatório e a dificuldade de retorno venoso pelo aumento de peso e compressão de alguns vasos. Na gestação, uma das causas para o surgimento das varizes está relacionada à ação de hormônios, necessária para a manutenção da gestação. Além disso, o útero cresce e comprime os vasos pélvicos, que se unem aos vasos das pernas. Todas essas alterações no sistema circulatório também são responsáveis pela sensação de cansaço e o inchaço nas pernas durante o processo gestacional (REZENDE, 2000).

4.3 – Alterações psicológicas da gestação

As alterações psicológicas da gestação aparecem simultaneamente com as mudanças físicas e, na maioria das vezes, não é possível diferenciar uma da outra, pois, elas aparecem uma como complemento da outra. Assim, o nível de ansiedade da mulher oscila durante toda a gestação, pois, suas ações podem ser refletidas em sensações visíveis ou desencadear alguns dos desconfortos mencionados anteriormente.

Maldonado (1997), afirma que a gravidez é uma fase de transição que faz parte do processo de desenvolvimento, onde entre outras coisas ocorre um processo de mudança tanto na identidade quanto no papel do homem e da mulher, podendo este fato trazer à tona antigos conflitos de relacionamento com pais, irmãos e outras figuras da família, bem como, do próprio casal. Também pode evidenciar experiências agradáveis vividas no núcleo familiar de origem ou no próprio casamento. As relações estabelecidas com amigos, colegas de trabalho e conhecidos também influenciam no processo gestacional.

Não é só o formato do corpo da mulher que muda durante a gravidez, mas a mente também sofre alterações, ou seja, a percepção do papel social que será assumido com a chegada de um bebê são também fatos que somam-se nas mudanças pelas quais a mulher está e irá vivenciar. A sensibilidade é o primeiro sintoma de que o comportamento da mulher está mudando em razão da gravidez. E uma maneira que a gestante tem para se defender de situações de estresse que não deveriam ser experimentadas durante o processo gestacional (MALDONADO, 1997).

Os distúrbios de sono também são freqüentes durante a gravidez. Existem diversos relatos na literatura sobre esse assunto, porém, a natureza exata e a incidência dos distúrbios de sono durante a gestação ainda são desconhecidas. Maldonado (1997) enfatiza que é como se o organismo se preparasse para as tensões fisiológicas adicionais aumentando a necessidade de repouso (MALDONADO, 1997).

Em geral, a primeira suspeita da gravidez recai sobre essa sintomatologia, a sonolência, a mulher sente que necessita dormir muito mais que o habitual. A percepção consciente e inconsciente da gestação faz por vezes com que a mulher não consiga definir a causa dessa defesa e comportamento. Nesse sentido, diante do suscitado, a mulher adota uma postura para solucionar esse conflito procurando afastar os estímulos, tanto internos como externos por via de repouso, a sonolência favorece a negação dos estímulos. (MALDONADO, 1997).

Segundo Soifer (1986) revela-se proveitoso, pois, além de constituir uma defesa biológica adequada proporciona ao organismo uma quota maior de energia a qual necessitará para o trabalho que inicia de manutenção do processo gestacional.

Embora todas as gestantes sintam-se mais limitadas, as reações do organismo à gestação difere de uma para outra, ou seja, umas descansam, ficando um tempo maior deitadas e inativas; outras continuam hiperativas como se não estivessem grávidas, isso muitas vezes podem ser vivenciadas em conjunto ou separadamente dependendo da fase da gestação. Essas reações devem ser entendidas pelo núcleo familiar e social (SOIFER, 1986).

Segundo Maldonato (1997), o conhecimento dos aspectos emocionais relacionados com a gravidez é muito importante, já que os estudos mostram que existem fases distintas durante a gestação e o conhecimento dessas fases são básicas para o bom desenvolvimento das relações familiares, da satisfação dos casais e de seus filhos.Durante a gestação, identificam-se períodos em que prevalecem determinados sentimentos. Alterações comportamentais podem ser verificadas inclusive nos dias que precedem a constatação da gravidez. A ansiedade e temores mobilizam instrumentos de defesa que se refletem no comportamento ou em manifestações psicossomáticas, algumas até facilmente identificáveis, como náuseas e vômitos.

4.4 – Gravidez tardia

A gravidez, muito embora, seja um fenômeno natural e comum no cotidiano feminino ainda hoje é permeada de conflitos, dúvidas e tabus. Mesmo que seja programada e desejada, quando confirmada pode gerar insegurança, medo e ansiedade.

Para Maldonado (1997), a gravidez é uma época fecunda em vários sentidos, pois não só um novo ser esta sendo formado, mas também na mulher está sendo consolidado uma nova parte de si próprio na capacidade de cuidar de uma criança. O que antes era tido como abstrato, torna-se concreto com a vida do novo ser, a responsabilidade torna-se fator imprescindível para que a vinda da criança se dê de forma gratificante.

Por diversos motivos, muitas mulheres adiam a gravidez, contudo, o relógio biológico que indica boas condições físicas para o processo gestacional reflete as dificuldades de uma gravidez tardia. Encaram a gestação em fase adiantada do ciclo biológico, onde a natureza não lhes é mais tão favorável podendo associar-se a muitos riscos, os quais, nem sempre são formatados para driblar as inseguranças e os fantasmas apontados na medicina e socialmente (CORRÊA, 1997).

A mulher atual participa plenamente na vida familiar, profissional e social. Cabe a ela cuidar da casa, do relacionamento conjugal, social e, muitas vezes, ser a provedora do sustento familiar ou contribuir ativamente para este fim. Em função de todos estes afazeres da vida moderna, o desejo da maternidade tem se postergado para fases mais avançadas, onde, nem sempre, a capacidade reprodutiva contribui com o desejo do casal (CORRÊA, 1997).

Hoje é crescente o número de mulheres que escolhem por adiar a maternidade, ou não querem ter filhos. Segundo Corrêa (1997), a norma da maternidade vem mudando de contornos:

"O normal numa mulher hoje, é um estado de não concepção medicalizada pelo uso de meios contraceptivos, até a determinação do momento adequado de procriar. Ter um filho deve ser objeto de uma decisão deliberada, que envolve um projeto voluntarista devidamente controlado, no qual pesam fatores como colocação no mercado de trabalho, a estabilidade (do casal ou da mulher solteira), o desejo de concluir os estudos, a preocupação com os meios disponíveis para proporcionar uma boa educação para os filhos, etc."

O mesmo autor relata que ser mãe pela primeira vez após os trinta anos é um fato corriqueiro nos dias atuais, desencadeados pela vida moderna, onde outros objetivos são traçados anteriormente para garantir qualidade de vida aos pais e ao novo ser, uma estabilidade emocional e financeira da mulher, normalmente é um fator decisivo para esta fase. Contudo, esta escolha só é possível graça aos avanços da medicina, que traduz os cuidados com a saúde da cidadã e do futuro ser, os quais, são permeados por cuidados especiais a este ciclo.

A medicina classifica a gestação tardia com grau de risco, principalmente quando está é a primeira gestação da mulher. Pesquisas recentes apontam que as chances da futura mamãe desenvolver doenças como diabetes e pressão alta são maiores.

Para Knuppel (1996), a partir dos 37 anos de idade acontece uma queda inevitável da fertilidade feminina. A mulher nasce com todos os seus óvulos e vai liberado estas células no decorrer de sua vida reprodutiva, com o passar dos anos, além da diminuição do número de células, ocorre uma queda na qualidade dos óvulos, mesmo não tendo a sua capacidade integral, ainda mantém seu potencial de fertilização, gerando por vezes embriões geneticamente comprometidos. Fatores que podem contribuir para aumentar a chance de abortos e de nascimento de bebês com síndrome de down.

Ao analisarmos o contexto histórico da mulher podemos perceber que a mulher que tinha filhos com idade mais avançada provinha, geralmente, das classes menos favorecidas, sobretudo porque não fazia a prevenção nem se preocupava com o planejamento familiar, além de muitas vezes ser opção de ter uma família numerosa para que estas ajudassem na mão-de-obra no campo, provendo assim o sustento familiar e dando continuidade no trabalho do progenitor.

Hoje, porém, o objetivo da vida de muitas famílias é garantir o estudo e uma profissão aos filhos, não se tendo mais a preocupação ou necessidade da continuidade do trabalho familiar. Neste sentido, muitas mulheres optam por se profissionalizarem e deixam ou melhor, adiam a maternidade, carregando consigo as conseqüências dessa escolha.

Observando a evolução da sociedade, na qual o ingresso feminino está cada vez maior no mercado de trabalho vemos que pouco tem explorado no que se refere a maternidade, como avançar da idade evidencia-se os riscos que estas mulheres e o fetoestão expostos. Entretanto, a medicina tem buscado modificar alguns conceitos e tem trabalhado no sentido de prevenir agravos a saúde feminina, ou seja, busca-se uma melhor qualidade de saúde antes da gestação e ainda se debruça a estudos de doenças do feto, as quais, possam ser prevenidas ou corrigidas ainda no ventre materno.

As transformações políticas, econômicas e sociais ocorridas nesta última metade do século, principalmente no período após a segunda guerra mundial contribuíram para um avanço expressivo da participação da mulher em vários setores da vida pública, principalmente, na economia e nas atividades científicas e tecnológicas. Sendo esse um dos vários motivos que levaram a ampliação da participação das mulheres no mercado de trabalho. A atual geração de mulheres começou a projeta-se, agora não apenas como esposa ou mãe, mas, no mundo do trabalho, passando a ocupar posições de destaque no âmbito profissional.

5 –METODOLÓGIA

5.1 – Tipo de estudo

Este estudo caracteriza-se como exploratório e descritivo, sendo a análise dos dados por meio da abordagem qualitativa, tendo como caminho metodológico a pesquisa de campo por meio da entrevista individualizada. A classificação como exploratório e descritivo se caracteriza por ser um assunto de muita evidência da atualidade com um enfoque interessante e real para o trabalho dentro das ações do enfermeiro que trabalha com essa população.

É compreendido como exploratório pelas suas características de explorar esta temática discutida amplamente. Este tipo de pesquisa permite um maior conhecimento do problema levantado, de modo a torná-lo mais claro. Segundo Gil (1996), pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições.

5.2 – Análise dos dados

A análise dos dados será realizada qualitativamente, pois desta forma pode se investigar aspectos como atitudes e opiniões, não simplesmente quantificar dados e fatos de números de mulheres que optam pela gravidez tardia. Mas, proporcionar ao pesquisador compreender a realidade da vivência feminina dentro do processo gestacional tardio, podendo com isso trazer a tona fatores que influenciam ou influenciaram na concepção tardia.

Segundo Minayo (1994), a análise qualitativa é

uma espécie de pesquisa voltada para a resposta de questões particulares, pesquisa esta que se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantitativo. Trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

5.3 – Aspectos éticos

Este estudo não trata de experimento com seres humanos, mas com mulheres que tiveram ou estão passando pela experiência da gestação tardia. As mesmas serão entrevistadas seguindo os procedimentos relativos á ética em pesquisa.

No Brasil, os aspectos éticos envolvidos em atividades de pesquisa que envolvam seres humanos estão regulados pelas diretrizes e normas de pesquisa em seres humanos, através da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, estabelecida em outro de 1996. O objetivo maior da avaliação ética dos projetos de pesquisa é garantir três princípios básicos: a beneficiência, o respeito á pessoa e a justiça. Nesta garantia devem ser incluídas todas as pessoas que possam vir a ter alguma relação com a pesquisa, seja o sujeito da pesquisa, o pesquisador, o trabalhador das áreas onde a mesma se desenvolve e, em ultima analise, a sociedade como um todo.

Diante do exposto antes da entrada em campo será seguidas às normas estabelecidas para desenvolvimento de pesquisa de acordo com o consentimento informado as mulheres á serem entrevistadas.

5.4 – Orçamento

O presente orçamento encontra-se no apêndice

5.5 – Cronograma

O orçamento deste relatório encontra-se no apêndice

5.6 – Coleta dos dados

O instrumento de coleta de dados foi desenvolvido a partir da formulação do problema de pesquisa e posterior fundamentação teórica, sendo este proposto após teste piloto com uma gestante. O roteiro da entrevista foi elaborado em duas partes, sendo a primeira vinculada aos dados de identificação e a segunda sobre o tema proposto considerado então como questões norteadoras da entrevista. Sendo este composto por itens, a saber:

I – Dados de identificação (06 questões);

II – Dados norteadores (04 questões);

As entrevistas foram realizadas dentro da Unidade Mista de Saúde e em domicílios da região com abrangência do PSF – Programa Saúde da Familia.

Para a coleta dos dados foi utilizada a entrevista individualizada, para que além das respostas se avaliasse o contexto em que está inserida a gestante entrevistada. De acordo com Minayo (1994, p. 59) trata-se de uma das mais importantes técnicas para a realização de uma pesquisa qualitativa e a mesma define-a como:

Procedimento mais usual no trabalho de campo. Através dela, o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais. Não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta de fatos relatados pelos autores, enquanto sujeitos objetos da pesquisa, que vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada (pág.57).

Neste sentido, o intuito é compreender o universo feminino além das palavras, por meio dos atos e ações manifestadas ao longo da entrevista, buscando sintonizar a fala expressa com a não verbal.

A coleta foi realizada no mês de fevereiro a abril de 2008, sendo que as participantes foram esclarecidas de todo o processo do estudo. As entrevistadas garantiram sua participação por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, tendo como garantia o anonimato e o sigilo pessoal, dentro da ética, sendo as mesmas informadas da divulgação dos resultados em congressos, eventos e periódicos da área.

5.7 – Local do estudo

O campo de pesquisa foi na cidade de Várzea Grande, na Unidade Mista de Saúde Manoel Bernardo de Barros – Programa Saúde da Família UNIPARK cito a rua 31 de março Região Sudeste e em domicílios próximos a esta unidade.

5.8 – População

A população foi constituída por cinco gestantes com idade gestacional acima de vinte e oito semanas, ou seja, no último trimestre de gestação. Como critério para seleção as mesmas deveriam ter mais de trinta anos de idade, preferencialmente sendo a primeira gestação, porém, dentro dos preceitos bibliográficos uma gestação com intervalo maior de dez anos é considerado como sendo primigesta. Neste sentido, foi realizado entrevista com uma gestante que havia tido sua primeira gestação aonze anos atrás.

A delimitação da idade gestacional acima de doze semanas foi outro critério de seleção para as entrevistas, pois, este episódio baseou-se no fato de que a gestante precisa de um mínimo de vivencia deste processo para que possa estabelecer conceitos subjetivos que permita avaliar as suas experiências no processo gestacional. Deste modo foi possível trabalhar o universo das gestantes com crenças e aspirações, buscando entender as relações entre os fenômenos de acordo com os preceitos de Minayo (1994).

6 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste estudo, foram entrevistadas cinco gestantes que se encontravam no último trimestre da gravidez. As entrevistas foram realizadas dentro da Unidade Mista de Saúde e em domicílios da região com abrangência do PSF – Programa Saúde da Família, após contato prévio com as mesmas. O período de seleção e entrevista ocorreu nos meses de fevereiro a abril de 2008. O critério de escolha para participação da pesquisa concentrou-se em três itens, sendo estes vinculados à idade cronológica da mulher, acima dos trinta anos, estar gestante e ser preferencialmente a primeira gestação. A escolha das entrevistadas se deu aleatoriamente, diferente do que previa as pesquisadoras o número de mulheres gestantes acima dos trinta anos nesse campo eram poucas, sendo assim a finalização ocorreu com um número de cinco gestantes.

Os dados serão apresentados em consonância com o instrumento de investigação, se caracterizando primeiramente em uma fase quantitativa de informações, evidenciando o perfil das entrevistadas. Posteriormente a etapa qualitativa de análise, onde foi ressaltado o planejamento da gestação, o motivo da gestação tardia, o desenvolvimento desta e os conflitos gerados por este período gestacional, sendo possível o agrupamento em quatro categorias que serão discutidas a seguir:

No perfil de identificação, foram utilizadas as seguintes variáveis: faixa etária, idade gestacional, escolaridade, profissão e estado civil. Para identificar as entrevistadas e respeitando o anonimato, foi utilizado nome de flores sendo estas: Lírio, Rosa, Orquídea, Girassol e Flor.

Segundo Knuppel (1996), os diversos fatores que colocam uma gestante e seu feto em risco estão inter-relacionados. A pobreza e a baixa condição educacional estão na raiz desses problemas. Com o aumento da instrução materna, reduzem-se significativamente as taxas de morbidade e mortalidade perinatal. Porém, essa associação não se deve a redução dos problemas gestacionais devido à educação, mas porque a instrução é um bom indicador das condições socioeconômicas. Há muito tempo se conhece a relação entre a idade materna e o resultado gestacional.

Estudos demonstram que os filhos das mulheres com mais de 35 anos apresentam um maior risco de prematuridade e de outras complicações da gestação como hipertensão e anomalias congênitas, bem como, a profissão da mãe, com reflexo da condição socioeconômica, esta relacionada com as profundas diferenças da incidência de prematuridade e mortalidade infantil (KNUPPEL, 1996).

Outro fator apontado foi o estado civil, este nem sempre é um indicador de risco em potencial para a gestante e o feto, embora muitas vezes pode ser um indicativo de uma gravidez não desejada ou não planejada. Conforme Knuppel (1996), estatisticamente, são mais freqüentes as complicações da gestação nas solteiras do que nas casadas.

Quanto ao fator idade as gestantes encontrava-se na faixa dos 34 aos 37 anos. Relacionado a idade gestacionaltodas as entrevistadas estavam no último trimestre de gestação na ocasião das entrevistas. E importante ressaltar que pelos critérios de seleção o fator relevante foi apenas estar gestante, contudo, coincidentemente todas se encontravam no último trimestre de gestação.

No tocante a escolaridade duas entrevistadas tinham o primeiro grau incompleto, duas tinham o nível técnico e uma o nível superior completo. Relacionado a profissão quatro trabalhavam fora do domicílio, apenas uma estava desempregada, informando que nesse momento decidiu dedicar-se a maternidade novamente pois a mesma já tem uma filha com 10 anos relatou que sempre trabalhou como empregada doméstica para ajudar na renda familiar. Com relação ao estado civil quatro das entrevistadas eram casadas, sendo que apenas uma não tinha relação estável.

6.2 – Dados da Análise Qualitativa

Nesta etapa será apresentada a análise qualitativa do estudo, a qual resultou em quatro categorias, a saber: planejamento da gestação, o motivo da gestação tardia, o desenvolvimento desta e os conflitos gerados por este período gestacional.

Gestação e planejamento familiar

 

Ao serem questionadas sobre o planejamento da gravidez três gestantes afirmaram que a mesma foi planejada, e duas relataram o não planejamento, porém o período gestacional foi bem aceito e desejado. Isto pode ser observado nas falas abaixo:

Lírio: "Sim, fiquei por vários anos me cuidando para a concepção".

Rosa: "Sim, é o meu sonho ser mãe, estava programando isso há muito tempo, mais primeiro queria me estabilizar financeiramente, terminar a faculdade e só depois ser mãe".

Orquídea: "Sim, era tudo que faltava para realizar meu sonho".

A gravidez produz normalmente significativa mudança e muitas alterações na vida da mulher, portanto, salienta-se a importância do planejamento da gravidez para que estas alterações sejam minimizadas e a mulher tenha satisfação em sua gestação.

Para Maldonado (1997), a decisão de engravidar pode nem sempre ser consciente, contudo, se bem averiguada ela foi de alguma maneira desejada no subconsciente.

O Planejamento familiar tem uma ampla conotação, está diretamente ligado aconsideração de fatores físicos, sociais, psicológicos, econômicos e teológicos que afetam a família e influenciam as decisões relacionadas com o planejamento de filhos e a utilização de vários métodos anticoncepcionais empregados a fim de realizar uma prevenção temporária a gravidez (ZIEGEL & CRANLEY, 1985).

Neste planejamento pressupõe que cada cidadão deve gozar de plena liberdade para planejar o tipo de família que deseja constituir inclusive no que diz respeito ao numero de filhos. A assistência ao planejamento familiar deve prever o acompanhamento tanto dos casais que desejam evitar a gravidez, quanto daqueles que desejam engravidar mas que por algumas razões não conseguem (BRASIL, 2001).

BRASIL (2001), recomenda que a atuação dos profissionais de saúde esteja pautado pelos princípios da integralidade, equidade e, no que se refere a questão do planejamento familiar o pressuposto básico éque todas as pessoas têm o direito a livre escolha dos padrões de reprodução que lhes convenham como indivíduos ou casais.

Portanto, para muitas mulheres planejar a gravidez, significa vida, esperança, felicidade entre outros sentimentos positivos, porém a gestação não planejada pode não despertar tais sentimentos.

Este fato fica claro nas falas da Girassol e Flor quando as mesmas relatam:

 

Girassol: "Não, eu não planejei, foi praticamente um acidente".

Flor: "Não, foi por acaso, não estava me cuidando".

 

Podemos constatar através das entrevistas que as gestantes mostram-se entusiasmadas com a gestação, cada uma em sua particularidade, de uma forma ou de outra estão curtindo a gestação.

As mulheres de todas as idades usam os meses da gestação para adaptar-se ao papel materno, um processo complexo de aprendizado social e cognitivo. Portanto a gestação é uma crise maturacional que pode ser estressante, mas compensadora, pois prepara a mulher para um novo nível de cuidados e de responsabilidades, seu autoconceito modifica-se aprontando-se para a maternidade, enquanto ela se prepara para assumir um novo papel (LOWDERMILK, 2002).

Torna-se inegável admitir que a gravidez produz vários efeitos sobre a família, pois as transições e as mudanças são elementos centrais na experiência familiar. Segundo Ziegel & Cranley (1985), a família está em interação dinâmica e contínua entre seus membros e com a comunidade fora da família; o acréscimo de um novo membro aumenta geometricamente o número de relações intrafamiliares, vindo a trazer sentimentos de ansiedade e responsabilização para os pais, já que para os avós o nascimento faz com que eles percebam a passagem do tempo trazendo reflexões e afeto integral para o neto e os filhos (pais).

É necessário ressaltar que havia um complemento da gestação relacionada ao planejamento da gravidez para que as entrevistadas esboçassem um relato importante relacionado a esta gravidez. Todas as gestantes se calaram por alguns instantes. Mesmo após a interferência das pesquisadoras tentando auxiliar com algum fato, as respostas não ocorreram. Sendo então esta análise prejudicada neste estudo.

Fatores relevantes da gestação tardia

A questão sobre os motivos que levaram as gestantes a engravidarem tardiamente, vários relatos foram evidenciados, motivos particulares conforme podemos observar nas falas abaixo:

Lírio: "Opção mesmo, tenho a vida agitada e agora estou me desvinculando de um serviço para me dedicar a maternidade".

Orquídea: "Em primeiro lugar já casei um pouco velha, sempre trabalhei de domestica para ajudar meu marido a construir nossa casinha e ai senti que já estava na hora de arrumar nosso primeiro filho que já esta para chegar".

Flor: "Essa e a minha segunda gestação, meu primeiro filho esta hoje com dez anos, se chama Lívia, tive ela com 24 anos e vi que é muito complicado ser mãe, por isso fiquei evitando por alguns anos e agora deixei de tomar o remédio para ir a ginecologista porque o remédio estava me engordando e ai fiquei grávida novamente".

Ressalta-se que uma das entrevistadas havia tido a experiência de ser mãe anteriormente, porém, como as bibliografias consultadas mencionam que quando há uma diferença acima de dez anos a gestação é classificada como primeira, neste estudo esta entrevistada não foi descartada, pois se enquadrava nos critérios estabelecidos. A colocação em sua fala retrata os motivos que a levaram ao distanciamento acima de dez anos entre as gestações.

Flor: "A gravidez foi adiada porque não queria ser mãe solteira novamente, pois sofri muito com isso, então me cuidei, logo me casei e continuei me cuidando, tínhamos várias coisas para fazer como reformar nossa casa, estudar e com isso o tempo foi passando e só agora vi que estava engordando muito com o remédio por isso deixei de tomar para ir na ginecologista e então fiquei grávida, mas eu não queria ficar grávida agora, estava pensando em fazer uma dieta e só depois ficar grávida".

Podemos observar na fala acima que cada ser humano tem o direito a escolha. No caso da Rosa a mesma encontrou dificuldades para engravidar por ter problemas no aparelho reprodutivo, porém a mesma paralela ao sonho em ser mãe foi realizou tratamento, terminou a faculdade e estabilizou-se financeiramente.

Se o desejo de ter filhos não pode ser considerado propriamente uma novidade, o ideal de "ser mãe por opção" implica numa ruptura com as aspirações fundadas em ideais arcaicos - de dedicação materna exclusiva e obrigação da maternidade. É a singularidade frente a esse desejo que legitima a reedição do exercício da função materna, hoje harmonizado com as mudanças nos papéis femininos. Contudo, se a definição do papel materno vem mudando, esta mudança não se dá sem restrições. Algumas mulheres percebem a convivência dos novos papéis - o de mãe e o de mulher trabalhadora de maneira ambígua, em virtude do que consideram ser "deveres maternais" - maior dedicação à família e aos filhos, em detrimento das atividades fora do lar, mesmo se provisoriamente.

Afim de compreender as particularidades que envolvem cada ser humano, cabe ao profissional de saúde saber orientar, buscar e oferecer a melhor assistência, colocando os riscos que a paciente se enquadra, contudo, sem interferir na sua opção.

Brasil (2001), ressalta a importância do enfermeiro no atendimento a uma gestante para a futura mãe, onde esta poderá encontrar-se em situação difícil, com momento de confusão e perturbação, cabendo a este profissional explicar qual melhor caminho que ela poderá seguir, minimizando suas angústias e dúvidas além de proporcionar uma assistência individual e coletiva com acompanhamento diferenciado junto a equipe de saúde.

Descobertas e modificações da gestação

 

A questão sobre como esta sendo a gravidez para você, ou seja como esta o desenvolvimento da gestação. Observamos que nas entrevistadas que tinha planejado a gestação obtivemos as seguintes falas:

Rosa: "Divina, estou muito feliz estava esperando por muito tempo a maternidade, para você ter uma idéia eu tenho 10 anos de casada;

Lírio: Prazerosa, tudo para mim e novidade".

Orquídea: "Ótimo, estou sendo muito paparicada pelo meu marido e pelos meus familiares".

Já as entrevistadas que não tiveram a gravidezplanejada obtivemos as seguintes falas:

Girassol: "Um pouco difícil, por eu ter feito a cirurgia de redução de estomago, tudo que eu como acabo vomitando, sinto dores lombares, muito sono".

Flor: "Esta tudo ótimo, eu gosto de ser mãe, mais estou sentindo muitas náuseas, tudo eu me alimento passo mal, mais entendo que são sintomas da gravidez né, então vou superar".

Observamos nessas falas que o ser humano não esta preparado para quantificar e qualificar suas emoções, falar de sentimentos, de si mesmo, sem transformar a fala em algo físico, com náuseas, dores lombares, sono. O sentimento não se aprende, não se ensina, como se ensinam as técnicas a mãe deve receber dos profissionais e dos familiares esclarecimentos e conhecimentos que irão beneficiá-la durante todo o processo de gestação parto e pós-parto.

Segundo Largura (2000), esta preparação fará com que a emoção negativa causada pelo medo seja substituída pela emoção positiva e pelo entusiasmo favoráveis aos esforços concentrados com o objetivo de concretizar e completar em toda a simplicidade fisiológica a mais bela das aventuras humanas.

Adversidades psicológicas da mãe frente a gestação, parto e ao bebê

A questão sobre se a gestante possui algum medo ou receio em relação a gestação, parto ou ao bebê. Os conflitos que mais apareceram foram ansiedade, insegurança, medo e preocupação, relacionados com o parto e a saúde do bebê. Podendo ser verificados nas falas abaixo:

Girassol: "Sim, sei que o pai do meu filho não estará do meu lado na hora do parto, apesar de ter essa idade não me sinto capaz de cuidar do meu filho, fico com medo também do bebe nascer com algum problema devido a minha idade, mas minha mãe me tranqüiliza dizendo que estará ao meu lado e do bebê o tempo todo".

Flor: "Não, isso para mim não e mais novidade, terei um menino dessa vez, estou ansiosa para ver o rostinho dele, mais ainda não escolhemos o nome, eu e meu esposo ainda não entramos em um acordo".

Lírio: "Não, estou estudando tudo sobre isso, mais claro que o novo assusta né, fico preocupada com a hora do parto e com o bebê devido a minha idade, mais não tenho nenhuma doença, não estou engordando muito, faço caminhada sempre que possível, estou tranqüila nesse momento".

Rosa: "Não, tudo tranqüilo, estou sendo muito bem cuidada por todos a minha volta, meu marido esta super feliz com a chegada da Ana Vitória".

Observamos que a maioria das mulheres relataram um aumento da ansiedade frente ao parto, principalmente nos últimos meses da gestação, quando ele se transforma numa situação irreversível, mais concreta e próxima, da qual não se pode escapar, devendo ser enfrentada de uma forma ou de outra (BRUGGEMANN et al, 2001).

7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o questionamento dos padrões preestabelecidos, as transformações das experiências cotidianas, das relações afetivas e familiares se tornaram possíveis. A substituição progressiva das relações tradicionais entre os sexos, de um modelo de relacionamento afetivo conjugal mais fluente guarda estreita relação com a expansão do processo de destradicionalização social. Na medida em que os próprios relacionamentos amorosos assumem um novo perfil - mais democrático, com papéis e funções sociais menos rígidos - imprimem suas marcas também na experiência da maternidade. Se no passado o exercício da sexualidade feminina e de ser mãe se baseavam nas estritas normas da homogamia, hoje um crescente número de mulheres escolhem não ter filhos, ou adiar a maternidade para o momento que julgam mais adequado, independente da idade PROCURAR A BIBLIO NA NET

Nessa perspectiva, o processo de "revisão de valores" deslocou a centralidade do papel materno, no sentido de integrá-lo a outros investimentos. Pode-se dizer que, em grande parte as transformações, os valores familiares acompanham a incorporação da mulher ao sistema produtivo, o crescente peso da escolarização e a dissociação entre o exercício da sexualidade e reprodução.

Cabe acrescentar que essas mudanças presentes e marcantes na família brasileiraampliaram a autonomia feminina, não obstante tenham levado a um "acúmulo de funções", pois as mulheres passaram a dividir com o homem o sustento da casa e a maternidade. Conforme vimos um número maior de mulheres brasileiras vem escolhendo exercer alguma atividade profissional independente do nível de escolaridade.

Constatamos através da pesquisa, que justamente por ter possibilitado a autonomia feminina, o trabalho tende a ser muito valorizado pelas mulheres. Ainda que não possamos "generalizar" os resultados da pesquisa, sublinhamos que todo o grupo apresentou uma visão positiva de sua atividade profissional. Como vimos, as mulheres brasileiras passaram a dividir com os homens a responsabilidade pela manutenção da família, em especial, nas camadas médias e populares.

Acrescentamos que para algumas mulheres o trabalho pode ser considerado como "um dos aspectos definidores da identidade feminina", já que tem contribuído para a redefinição do papel da mulher frente à família e a própria sociedade. Sob nosso ponto de vista, a novidade reside no fato de que a busca da felicidade e da auto-realização não se restringe mais ao binômio casamento-maternidade, mas inclui o desejo de investir na profissão, mesmo se desacompanhado de um investimento na formação escolar principalmente entre as classes populares.

É oportuno lembrar que em todas as áreas da vida pessoal, é acentuado o processo de destradicionalização. O amor, o casamento, a constituição da família e a maternidade antes vivenciados segundo os moldes preestabelecidos, passaram a conviver com outros projetos individuais, criando assim, novas demandas e novas ansiedades. Partindo dessas mudanças no "estilo de vida", parece-nos ser comum a mulher não desejar ser mãe. E embora o "ser mãe" não figure mais como o único objetivo das mulheres, a maternidade continua tendo um peso considerável no imaginário social. Cabe sublinhar que as transformações na cultura reprodutiva contribuíram no sentido de reduzir o "peso" dessa experiência, antes quase obrigatória.

As transformações socioculturais imprimem suas marcas no desejo de ser mãe, em especial, após os trinta e cinco anos. Por outro lado, todos os processos que envolvem a reprodução humana continuam sendo alvo da regulação médica. Assim, as gestações acima de trinta e cinco anos ainda são consideradas "tardias". Com seu discurso terapêutico, o perito define o "normal" e o "anormal" nos comportamentos reprodutivos, define como e quando se deve ter filhos. Embora o objetivo da intervenção médica seja a prevenção dos "possíveis riscos", nem sempre esse objetivo suplanta a tendência normatizante da medicina. Conforme vimos, através dos índices de mortalidade materna, a medicalização do processo reprodutivo não garante à mulher o direito à saúde, mesmo quando a gravidez cabe na visão de risco.

As gestações após os trinta e cinco anos continuam sendo consideradas de alto risco. Entretanto, essas gestações podem ser vivenciadas com menos angústias e ansiedades, na medida em que se desmistifiquem para as mulheres, a gravidez, o parto e o puerpério, e lhes ofereça uma assistência digna.

Cada vez as mulheres vêm adiando a maternidade, pois hoje é comum decidir o tempo para se ter filhos. Decisão na qual pesam a situação social e econômica, a maturidade e a criação de relações afetivas mais estáveis. Por outro lado, as idealizações das novas funções femininas e das relações amorosas geram de expectativas mais intensas e contribuem para que algumas mulheres julguem necessário adiar a realização do desejo de ser mãe para um momento ideal.

Se as mudanças aceleradas nos contextos familiares e nos papéis sociais exigem transformações no plano da subjetividade e das identidades pessoais, a idade e o critério de riscos, não devem ser barreiras para o investimento em novos projetos de vida.

Acreditamos que o acesso à assistência à saúde carece ser ampliado de forma a atender as demandas femininas, e possibilitar a vivência da gravidez após os trinta e cinco anos em sua plenitude.

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Autor: Kenia santos oliveira


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