O SACRAMENTO DA EUCARISTIA – PARTE I



 

O SACRAMENTO DA EUCARISTIA – PARTE I

(TERMOS E TEMAS DA TEOLOGIA EUCARÍSTICA)



Falar da Santíssima Eucaristia é algo por demais importante. O maior dos sacramentos não é apenas importante porque identifica os cristãos, mas porque identifica Cristãos e cristãos, devido à singularidade seletiva de suas exigências de fé. Logo, há seguidores de Cristo atuais que não crêem nele e outros que crêem. E esta distinção também é importante.

Para crer na Eucaristia é preciso ter outros exercícios de fé, a começar pela crença incondicional nos 3 atributos infinitos de Deus, a saber, a Onipotência, a Onisciência e a Onipresença. Porque nunca nenhum outro sinal de Deus exigiu tanto a relação direta com os 3 atributos quanto este. Com efeito, só um Deus que sabe tudo, que pode tudo e que está em toda parte pode ser O Autor intelectual e prático da Magna Graça. Assim, é só por conhecer tudo (os elementos atômicos e subatômicos do trigo, os meandros e veios da mente humana e as possibilidades infinitas do espírito), e só por estar presente em todo lugar (da menor florzinha do campo à maior galáxia), e só por ter todo o poder do universo é que o nosso Deus foi e é capaz de sinal tão arrebatador e tão estarrecedor quanto o sacrifício eucarístico!.

Neste espírito desta crença específica, também compreendemos outra vertente mais pungente da Eucaristia, que é aquela que se relaciona com a palavra “MISSÃO” [Aliás, o que vemos de especial na palavra MISSÃO? Retiremos o “O” do final e o “til” de cima do “A” e logo logo vemos a resposta. Na realidade, a Missão possui “MISSA” em seu seio exatamente porque a Santa Missa possui em seu seio a MISSÃO do Cristo ressuscitado entre nós! E é justamente aqui que reside o valor da Santa Missa]. É o único caso na linguagem humana onde a origem de um termo está na origem do outro e vice-versa, pois missa é missão e missão é missa. Interessante notar o seguinte: “Culto” significa Amor e “Missa” significa Paixão. Por isso, quando cultuamos a Deus na Santa Missa, demonstramos nosso amor a Deus na prática e Deus demonstra na prática a Paixão de Cristo por nós. Todavia, vamos compreender melhor tudo isto.

As 3 principais missões de Cristo são: (1a) A Missão dentro da psique humana (“Inside the brain”); (2a) A Missão dentro do Purgatório (“Inside the burner”); e (3a) A Missão dentro do pão (“Inside the bread”). Entendidas como colocadas pela fé e lógica cristãs, estas 3 missões quase resumem tudo o que é importante saber em matéria de Teologia, e provavelmente não haverá mais nada tão importante a conhecer, caso outros temas possam “desviar” – por mínimo que seja – a atenção que as 3 missões merecem.

Na 1a Missão, Cristo nos apela para que abramos o nosso coração para que Ele possa entrar em nossa “casa” e cear conosco (esta é a “Eucaristia Anímica”), como nos diz o Apocalipse (Ap 3,20). Nesta “invasão santa”, Ele lava os nossos pecados, purifica nossa mente e resgata nosso autocontrole, devolvendo-nos à condição de “filhos do Céu”. Na 2a Missão, Cristo faz outra “invasão santa” e desce à Mansão dos Mortos, novamente fazendo apelo para que sigamos a luz do Céu e retornemos à sensatez da paz com Deus (“Eucaristia Tanatológica”), como nos diz Isaías (Is 9,2). Na 3a Missão, Cristo faz outra “invasão santa” e se dá por inteiro a nós, repetindo o sacrifício da cruz para nossa salvação pela fé e pela humildade que tal gesto significa (“Eucaristia Litúrgica”), como nos diz são João (Jo 6,51-56). Ao final, trataremos da questão da humildade deste gesto.

Com os olhos bem abertos, veremos que todos os temas aqui tratados giram em torno ou perfazem a soma do número 3, como se o Tema Eterno da Trindade tivesse sido sutil e propositalmente “salpicado” por toda a Criação, como uma marca indelével das mãos do Criador, ou seu “estilo pessoal”, do qual nem mesmo a onipotência poderia completar a ocultação ou impedir a descoberta. E a burrice dos “homens inteligentes” O acusa de inexistência por Ele parecer antropomórfico demais! (Ora, como evitar o antropomorfismo, se há muito dEle em nós e muito de nós nEle?!).

Inevitavelmente, descemos ao nível da Eucaristia propriamente dita, a qual já sabemos constituir um outro tipo de trindade invisível, materializada no rito da Comunhão. E aqui tratamos novamente de outros 3 temas: (1) A Consubstanciação; (2) A Transubstanciação; e (3) A Transcendentalização. Na verdade os três temas também são 3 formas de entender e perceber a Eucaristia, e nenhuma delas é 100% prejudicial à fé cristã. A bem da didática, façamos jus, há uma 4a forma de ver a questão (a forma protestante menos profunda), chamada “Simbolização”, na qual os elementos do pão e do vinho são apenas pão e vinho e por isso não merece maiores comentários, pois comporta prejuízos à fé que une os cristãos ao longo da História.

Na Consubstanciação, dois, três ou mais corpos distintos se unem numa mesma substância, como no processo conhecido por “simbiose”. Assim, no Pão Eucarístico, os elementos do corpo de Cristo estariam tão “unidos” aos elementos mantidos do pão-trigo que ocorreria 3 situações: (1) Poder-se-ia dizer que o poder do trigo de certa forma “supera” o poder de seu Criador, pois Este não pôde impedir a manutenção da substância trigo, “apesar” de sua presença; (2) Poder-se-ia dizer que o Poder do Criador não atuou por completo, pois lhe foi impossível tornar-se 100% presente no trigo; e (3) Poder-se-ia dizer que a substância do próprio Criador é trigo, já que o trigo se manteve.

Na Transubstanciação, ocorre o seguinte, embora o termo “transmutação” explique melhor o que ocorre de fato, podendo ser usado pelos cristãos sem nenhum prejuízo à doutrina. É a mudança pura e simples de uma substância em outra, embora isto não tenha nada de simples e tenha tudo de pura. Assim, o milagre eucarístico estaria em que os elementos intrínsecos do trigo (tudo sobre átomos e moléculas) seriam mudados ou transmutados para os elementos intrínsecos do corpo de Cristo, de tal modo que o pão consagrado não é mais pão, mas o corpo ressuscitado do próprio Cristo (tecnicamente: o conjunto completo dos elementos do Corpus Christi, tudo sobre átomos e moléculas ressuscitadas Deste). O Aurélio explica assim: “1. Mudança duma substância em outra. 2. Rel. Palavra adotada na Igreja Católica, sobretudo a partir da filosofia escolástica, para explicar a presença real de Jesus Cristo no sacramento da Eucaristia [q. v.] pela mudança da substância do pão e do vinho na de seu corpo e de seu sangue”. Isto é a forma oficial adotada, embora as outras duas, como dissemos, não prejudicam a fé e a doutrina cristã.

Na Transcendentalização, ocorre o seguinte: (1) Há quem a entenda como a presença do Espírito de Cristo nas substâncias do pão consagrado; (2) Há quem a entenda como a intrínseca espiritualização dos átomos e moléculas do trigo, isto é, que cada átomo passou a ser elemento espiritual intrínseco, formando um pão ao mesmo tempo físico e espiritual; e (3) Há quem a entenda como a “simples” presença do Espírito de Deus dentro do pão consagrado, sem que qualquer de seus elementos sejam transmutados noutra substância, mantendo-se todos os seus átomos/moléculas como simples trigo.

Finalmente, não podemos deixar de lembrar o fato de que todas as formas de entendimento do milagre eucarístico – enquanto entendido como milagre – concordam em que o pão da Ceia do Senhor, a partir de sua consagração gloriosa, passa a ser também um MULTIPLICADOR do Corpo de Cristo, pois qualquer pedaço da Hóstia ou do Pão Consagrado também contém todo o corpo do Senhor, da mesma forma como em cada cristão reside toda a Igreja do Senhor. O Milagre, portanto, e como sempre, vai muito mais longe do que pode supor a nossa vã filosofia e, neste caso, vai também muito mais longe do que pode enxergar a nossa vista. [JV].


Autor: João Valente


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