Quando Foi Que Viramos Adultos Chatos?



Esses dias, em um de meus momentos de reflexão, eu tive um momento de clareza enquanto olhava velhas lembranças de alguns amigos.
Em meio a muitos pensamentos vindos todos ao mesmo tempo, uma pergunta batia a porta do meu quarto, fechada para esse momento de introspecção. Não, não era minha sobrinha me chamando pra brincar, afinal ela não bate a porta, já vai entrando e ocupando o espaço que é dela.

A pergunta que me incomodou, mesclada às várias outras, era:
O que aconteceu com o “Mané Melão”?
Quem é esse tal de Manoel Armando?

“Mané Melão” era um cara meio maluco, desencanado de papos sérios, fã de Bob Marley e colecionador de latinha de cerveja, e o mais engraçado é que ele não bebia. Ele era o tipo de cara que, em viagens, fazia questão de levar uma única camiseta só pra ser mencionado nas fotos depois. Aliás, fazer uma foto dele era a melhor parte, nunca vi alguém se contorcer tanto apenas pra sair tosco para a prosperidade!
Ele adorava acordar cedo, ainda nas viagens, e ligar o som no último volume pra pentelhar os outros. Na verdade ele odiava acordar cedo normalmente, mas nessas horas era de se admirar o pique que ele acordava, diferente das segundas-feiras! Esse era o “Mane”, grande “Mane Melão”.

Mas olhando algumas fotos, encontrei uma recente de um tal de José Armando, todo engravatado, postura correta, meio envergonhado e com um ar de sensato. Caramba! É o “Mané Melão” 10 anos depois das nossas viagens!!

O que aconteceu?

Aquele cara gente boa, maluco beleza, amante da natureza, das mulheres e das boas e péssimas piadas tinha virado um cara sem graça, tímido e meio deslocado no meio da multidão. Ele nem teve muito sucesso profissional, embora andasse sempre engomado. Agora o Mané parecia ser um ser cara sem brilho, meio triste com a vida e sempre usando a palavra correria... “Ah, muita correria...” “Ah, não fosse a correria...” “Que correria essa semana...”

Deixei me levar pela pergunta sem bloquear pela simplicidade da resposta. Eu explico. Sempre que pensamos algo relacionado a mudanças de atitudes provocadas pelo tempo, logo somos direcionados a ser simplórios e responder-nos: Ah, isso é normal, as pessoas mudam.

Tudo bem, verdade simples e comum. Mas embora eu goste de me direcionar por respostas prontas, opa, foi exatamente na simplicidade da resposta que fui levado a outra questão: Porque mudar as qualidades? Não é possível se adaptar?

Não consigo entender como aquele o velho e bom “Melão”, que baixava as calças e colocava a bunda pra fora do carro hoje mal consegue dançar numa festa. Tudo bem, a bunda dele estar mais preservada aos nossos olhos é ótimo, mas cadê aquela irreverência assustadora, aquela alegria de viver?

Avaliando os fatos o que vejo é que ao passar dos anos, cada vez mais os “então ditos amigos” vão saindo do convívio comum uns dos outros. E de repente, quando damos a importância ao assunto achamos que foi de repente.
A resposta ou interrogação maior é que parece que essa distância ocorre ao mesmo tempo em que amadurecemos, ou nos tornamos adultos. Palavra estranha que só usamos quando não o somos, depois que aqui estamos, na fase adulta, parece que ela não significa mais nada.
Sim, antes parecia que havia nós, crianças, e os adultos. Agora é tanta classificação que nem sabemos mais onde entrar. Existem os velhos, as crianças, os adolescentes, os tiozinhos... epa, esse me incomoda, porque será?

Enfim, essa relação entre a fase e a distância dos amigos é o que realmente me deixa triste. Mas ela existe e eu mostro.

Basta lembrar de quando saíamos em bando, nunca menos de 02 malucos e nunca mais de... bom, não tinha limite, desde que coubesse nos carros dos pais e populares comprados a perder de vista estava tudo certo.
Só sei que nessa época tudo era mais simples, não havia frescuras ou pensamentos mesquinhos. Quando juntávamos alguns amigos em volta de uma piscina ou apenas na frente de uma casa era somente alegria, brincadeiras e bons papos.

Agora, quando começamos a amadurecer, parece que vamos nos refinando ou em outras palavras, ficando mais chatos. Talvez o processo seja de refinamento mesmo, talvez estejamos apenas aprendendo a separar os bons dos maus amigos. Mas o que faz as mesmas pessoas que se empurravam na piscina as duas da madrugada agora mal conseguirem ouvir uma piada sem achar que foi fora de hora?

Hoje vejo pessoas cheias de recatos e refinamentos de educação que geram muralhas enormes de aproximação aos velhos amigos. Hoje vejo amigos que eram puro sorriso andando pelas ruas, cheios de preocupações com o amanhã.

Ainda que eu entenda a necessidade de mudanças, ainda que eu conheça os efeitos do tempo na personalidade das pessoas, ainda fica a pergunta: Porque a seriedade do novo homem responsável não pode se somar a alegria de viver do garoto matreiro dos bons tempos?
Eu não acho que seja fácil encarar a nova fase, aos muitos desafios e as tantas complicações de se deixar de ser jovem, mas é impossível que eu não tente parafrasear os grandes pensadores que acreditam que jovem deve permanecer sua alma ainda que a pele insista em dar provas do contrário.

Autor: Reinaldo Luz Santos


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