PRODUÇÃO DE TEXTOS: ASPECTOS ORTOGRÁFICOS X ASPECTOS LINGUÍSTICOS



Tarciana Pereira da Silva Almeida

RESUMO:

O presente artigo trata da preocupação dos professores com dois aspectos da produção escrita: a ortografia e a função comunicativa. Fala também da necessidade de ampliar o repertório de gêneros textuais de texto, levando os alunos a uma maior capacidade dialógica e de atuação social.

Palavras chave: produção, ortografia, gêneros textuais, comunicação.

Ao propor atividades de escrita de textos pelos alunos, os professores geralmente focam o seu olhar nas dissidências às regras ortográficas e de pontuação do texto, de modo à utilizá-las para realizar tarefas posteriores, com o intuito de sanar esses desvios da norma padrão.

Segundo Val (2006, p. 108) "A ortografia e a pontuação nada têm a ver com a essência, a substância do texto, com o texto em si. Têm a ver apenas com a maneira de representá-lo através do código escrito".

Essa preocupação do docente se relaciona com a higienização da escrita, a considerada operação limpeza que, apesar de importante, não deve orientar o trabalho de produção textual. Morais (2007, p. 18) afirma que:

[...] a competência textual do aluno é confundida com seu rendimento ortográfico: deixando-se impressionar pelos erros que o aprendiz comete, muitos professores ignoram os avanços que ele apresenta em sua capacidade de compor textos. (grifo do autor)

Muitas vezes, por conta dessa visão higienista da escrita, os professores deixam em segundo plano o que seria o que seria de mais urgência: ajudar o aluno a tornar-se um escritor/falante competente.

Para que o aluno torne-se competente do ponto de vista lingüístico, ele deve ser conhecedor da funcionalidade dos diversos gêneros textuais, para que, reconhecendo as características de cada um, faça opção pelo gênero que melhor se adeqüe à sua intenção comunicativa.

Como foi dito anteriormente, o aluno deve optar pelo gênero textual que assegure que a sua mensagem seja compreendida de forma eficaz. Para isso, a escola deve ofertar a maior variedade de gêneros textuais possível para seus alunos, destacando suas características e favorecendo o aparecimento de situações reais ou fictícias para a produção de textos.

Quando falamos em situações fictícias, estamos propondo que o professor, a partir de outros textos ou atividades, estimule o aluno a produzir textos em situações que, para ele, façam sentido.

Brandão e Leal (2005, p. 40) defendem que: "[...] quanto maior o acesso e a exploração de bons modelos escritos nos diferentes gêneros trabalhados em sala de aula, maiores as chances das crianças se apropriarem da estrutura correspondente a esses diversos gêneros textuais".

Devemos proporcionar ao aluno oportunidades múltiplas de escrever, para que exercite sua capacidade comunicativa. Fiorin (2008, p. 18) citando Baktin, afirma que "[...] o enunciador, para constituir um discurso, leva em conta o discurso de outrem, que está presente no seu". Sendo assim, a capacidade comunicativa implica em diálogo, em troca com o outro, em negociação.

Bazerman (2006) afirma que a escrita é uma forma de agência, pois ampliando seu repertório discursivo estamos contribuindo para que passe a atuar de forma mais eficaz na vida em sociedade. Para ele, a oferta de deferentes gêneros textuais pode "[...] ajudar a introduzir os alunos em novos territórios discursivos, um pouco mais além dos limites de seu habitat lingüístico atual" (p.31)

Podemos então concluir que, apesar da questão ortográfica ter sua importância no processo de produção escrita, deve-se garantir ao aluno diversas possibilidades de leitura e escrita para que se torne um usuário competente de sua língua, fazendo escolhas de gêneros textuais adequados para a transmissão de suas mensagens e inserindo-o assim, na vida social, de forma dialógica.

REFERÊNCIAS

- BAZERMAN, Charles. Org. por HOFFNAGEL, Judith Chambliss e DIONÌSIO, Ângela Paiva. Gênero, Agência e Escrita. São Paulo: Cortez, 2006.

- BRANDÃO, Ana Carolina Perrusi e LEAL, Telma Ferraz. Em busca da construção de sentidos: o trabalho de leitura e produção de textos na alfabetização. In: BRANDÃO, Ana Carolina Perrusi e ROSA, Ester Calland de Sousa. (Org). Leitura e produção de textos na alfabetização. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

- FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Baktin. São Paulo: Ática, 2008.

-MORAIS, Artur Gomes de. Ortografia: ensinar e aprender. -4 ed. -São Paulo: Ática, 2007.

- VAL, Maria da Graça Costa. Redação e textualidade. -3.ed – São Paulo, Martins Fontes, 2006.


Autor: Tarciana Pereira da Silva Almeida


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